O Conde
de Monte Cristo
por
Angélica Bito
A chegada de "O Conde de Monte
Cristo" aos cinemas brasileiros acende a dúvida: como adaptar
ao cinema um grande clássico da literatura? Há dois tipos
de adaptações de livros levados ao cinema. O primeiro tipo
é aquele que consegue ficar "redondo", acompanhando e retratando
todas as passagens do livro de forma honesta. O outro acontece quando o
diretor resolve utilizar o enredo básico da história trazida
pelo livro e, através dos seus olhos, enxergar a obra escrita de
forma diferente, peculiar.
Um exemplo que podemos dar é
a memorável leitura que fez Baz Luhrman sobre um clássico
de Shakespeare. Muito antes de "Moulin Rouge",
o diretor fez um filme cheio de música e cores, além da edição
frenética, tendo como base uma das mais clássicas histórias
de amor de todos os tempos: "Romeu + Julieta". E, como ilustração
para o primeiro modelo de adaptação citado – o honesto, literal
– está a versão de Kevin Reynolds para "O Conde de Monte
Cristo", um dos romances mais famosos escritos pelo escritor francês
Alexandre Dumas.
Talvez depois do fracasso de "Waterworld",
Reynolds preferiu não inovar muito e resolveu adaptar a história
de Dumas às telonas do modo mais previsível e sincero possível.
Como adaptação, é um trabalho honesto; a reconstituição
de época é fiel e as performances dos atores - com destaque
para Guy Pearce no papel do vilão cheio de inveja – são convincentes.
No entanto, vale pensar o quê,
afinal, o espectador espera de uma adaptação. Claro que fazer
uma leitura fiel de uma obra clássica como esta de Dumas e, principalmente,
transpor às telas tudo o que o autor escreveu e idealizou, não
é mole. Muitos pontos para Reynolds por ter conseguido a proeza.
Reproduzir a época e as tramas existentes em um livro, de forma
coesa e honesta, é difícil, sim, mas não seria um
desafio maior para o diretor transpassar essa barreira do escrito e levar
sua visão, pessoal e intransferível, da obra? Algo como o
que fez Baz Luhrman em "Romeu + Julieta" que, apesar de ter sido criticado
e visto com péssimos olhos, tem seus méritos por se propor
a mexer e apresentar uma obra tão clássica em roupagens novas.
A história é notória
e conhecida – do homem honesto que, alvo da inveja destrutiva do "melhor
amigo", fica preso injustamente por treze anos e, quando foge da prisão,
encontra um tesouro e busca vingança. No caso de livros nunca antes
levados ao cinema, uma adaptação fiel é quase que
obrigatória para que o diretor não pise em falso e, talvez,
leve um enredo deturpado às telas. No caso deste "O Conde de Monte
Cristo", falta um toque que o diferencie das outras adaptações
cinematográficas baseadas no mesmo romance de Alexandre Dumas -
já foram produzidos 13 filmes (dois deles para a televisão),
duas séries de TV e uma minissérie.
Como adaptação fiel,
"O Conde de Monte Cristo" funciona muito bem, mas não consegue se
destacar dentre as outras produções já feitas sobre
esta história movida pela inveja, pela vingança e, acima
de tudo, pelo amor.
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