O diário de Bridget Jones
Uma comédia romântica sem melado. Ainda bem 
por Alexandre Petillo
 
Dizer que o filme O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones's Diary) é um Alta Fidelidade para mulheres seria rasteiro e superficial. Mas as comparações entre ambos são inevitáveis. Primeiro, que os dois filmes baseiam-se em dois dos principais (e homônimos) best-sellers da chamada "literatura pop", dos últimos anos. "Alta Fidelidade", do inglês Nick Hornby causou um impacto fulminante entre os jovens consumidores de cultura pop. "O Diário de Bridget Jones", da também escritora inglesa Helen Fielding, virou livro de cabeceira de todas as mulheres ao redor do mundo, que não são anoréxicas ou fabricadas em photoshop e adoram os prazeres da vida (sexo, fast-food e bebedeiras). Fielding declarou recentemente que está cansada de ir a festas e ser cercada por mulheres gritando: "Eu sou Bridget Jones! Eu sou Bridget  Jones". Efeito igual teve o livro de Hornby: dez entre dez leitores se identificaram com o paranóico Rob Fleming.   

Também em ambos os casos, quando o público tomou conhecimento que os livros estavam sendo adaptados para o cinema, choveram críticas negativas, a tudo e todos. Mas quando "Alta Fidelidade" chegou às telas, todo mundo se rendeu. Assim como todo mundo vai gostar de "O Diário de Bridget Jones". Com ótimos diálogos, um roteiro enxuto e esperto e ótimas sequências, o filme é uma comédia romântica sem melado ao excesso, capaz de te deixar com um enorme sorriso no rosto enquanto levanta-se da seção e procura a saída.   

Logo no seu primeiro fim-de-semana de estréia, o filme foi direto para o topo dos mais vistos na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Já faturou mais de US$ 30 milhões (o custo da produção foi pouco mais de US$ 20 milhões). No papel de Bridget Jones, impecavelmente está a loirinha Renée Zellweger (de "Jerry Maguire" e "Eu, Eu Mesmo e Irene"). Assim como o livro, o filme conta a história de uma mulher independente (leia-se, sozinha e solitária) de trinta e poucos anos, obcecada pela quantidade de calorias, cigarros e bebidas que ingere e acima de tudo, com a sua condição de solteira. O que se vê nas telas (e na vida, facilmente), é uma heroína gorda, preocupada com as suas coxas e traseiro fora da medida, correndo sempre atrás dos homens errados. O fato de não conseguir levá-los para o altar faz com que ela caia em depressão, se entupindo, sem culpa, de barras de chocolate e vinho Chardonnay, que a deixa ainda mais gorda, deprimida e com a pele e a auto-estima ainda mais arrasada.   

Em um determinado momento, Bridget decide que está na hora de controlar o seu destino e começa a escrever o seu diário. Escaldada pelos tropeços do acaso, Bridget transforma-se numa divertida aventureira da vida, destilando deliciosamente nas linhas de seu diário, sua formada opinião sobre tudo, principalmente aos assuntos relativos às suas amigas casadas, homens, ginástica, comida e sexo. Mesmo determinada a virar uma página da sua vida, Bridget vê-se dividida entre dois homens: um que é bom demais para ser verdade (Colin Firth, de "Apartamento Zero") e o outro que é  
todo errado (Hugh Grant, você sabe quem é), mas é o que ela acha ser o mais certo para si.   

Grant está espetacular no papel desse canalha que seduz Bridget apenas porque ela é fácil, por ser gordinha e complexada. Há tempos não se via o ator fazendo um "bad guy".  

O roteiro é da própria Helen Fielding, aliada a Richard Curtis ("Um Lugar Chamado Notting Hill" e "Quatro Casamentos e Um Funeral"). A direção coube à estreante Sharon Maguire, ex-documentarista da BBC de Londres. A diretora conseguiu extrair vida do livro, com seus cortes rápidos e piadas sutís (o velho e sagaz humor inglês), além de manter-se distante das  
baboseiras psicológicas, comportamentais e feministas das mulheres modernas.  

O filme ainda tem a maravilhosa canção "Someone Like You", do mestre Van Morrisson (toca duas vezes). Também tem a melhor sequência de luta dos últimos anos.  

Ao lado de tudo isso, brilha a interpretação perfeita da gatinha Renée Zellweger, a já nova queridinha de Hollywood. Não se assuste, a partir de agora as mulheres sairão do cinema querendo ser Zellweger (na atitude, e não com os oito quilos a mais que a atriz ganhou para fazer o papel). E os homens ficarão hipnotizados pela sua sexy vulnerabilidade e pelo seu lindo sorriso. Todos vão querer levá-la para casa. No colo.