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10 discos favoritos em 10 dias: Dia 9

O pequeno Martín só chega em dezembro, mas já começou a mudar não só a rotina da casa, como também a própria casa. Na busca por criar um ambiente especial para ele, mudamos o toca-discos que ficava no “quartinho” (que será dele) para a sala, e isso alterou radicalmente a rotina de ouvir música em casa, pois o vinil voltou a ser inserido no dia-a-dia (Lili agora chega à noite, deita no sofá com Martín na barriga e fica ouvindo discos), já que antes, com o toca-discos no quarto, eventualmente ouvíamos vinil lá (eu sempre mantive um toca-discos fuleiro – tipo Crosley – do lado do computador pra ouvir algum material que chega ou matar a saudade de algo que não se encontra na rede). Dai que nesse exercício de escolher 10 discos favoritos (atendendo a um convite do Otávio), eu quis fugir dos discos óbvios evitando falar, mais uma vez, de The Clash, Echo and The Bunnymen, R.E.M., Pixies e Wilco, por exemplo, e centrando foco em discos e artistas que eu amo, mas que na maioria das vezes não tem o devido respeito que merecem.

Como é o caso do grupo carioca João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, que lançou cinco discos fenomenais nos anos 80 (que, juntos, devem ter vendido quase 1 milhão de cópias), cravou no mínimo uns 10 grandes hits em rádios nacionais (e em novelas da Globo), mas tem quase nada de sua discografia encontrável em streaming, o formato “da moda” (apenas a coleta “Hot 20”, lançada em 2000, encontra-se online, sendo que das 20 músicas, só 12 estão disponíveis). O disco de estreia deles, “Os Maiores Sucessos de João Penca & Seus Miquinhos Amestrados”, foi lançado em 1983 pela RCA e vendeu 100 mil cópias no embalo do sucesso da paródia “Calúnias (Telma Eu Não Sou Gay)”, cantada no álbum por Ney Matogrosso.

Eles entraram na minha vida, porém, com o segundo álbum, “Okay My Gay” (1986), que traz um caminhão de hits (“Popstar”, “Lágrimas de Crocodilo”, “Romance em Alto Mar” e “Universotário”, que traz Lulu Santos, um Miquinho eventual, na guitarra solo) e outras faixas que mereciam ter sido (a versão de “Heartbreak Hotel”, vertida para “Cachet”, e a atualização da jovemguardiana “Festa de Arromba” para “Lual de Arromba” é um achado: “E de sarongue, Gretchen botava lenha na fogueira / Não dava bola pro Lobão falando pelos cotovelos… a noite inteira”). E ainda tem “Escrava Sexual” e “Menino Prodígio”. Esse álbum vendeu 250 mil cópias no ano do Cruzado.

“Além da Alienação” (1988), o terceiro álbum, é meu menos favorito deles, e mesmo assim muitas faixas ecoaram no meu quartinho em Taubaté, principalmente “A Louca do Humaitá”, o single “Banana Split” e “Jazz Jazz”. Dai surge meu álbum favorito deles, “Sucessos do Inconsciente”, que cravou nas rádios “Matinê no Rian” (com participação de Paula Toller) e, principalmente, “S.O.S. Miquinhos”, um “merdley” que sacaneava praticamente toda a Jovem Guarda, mas na parada de casa foi praticamente o disco todo número 1: “Menino Justiceiro”, “Larga Meu Pé”, “A Surra”, “O Par”, “O Velho Tubarão”, “Johnny Pirou” e “Cozinho de Noite” estão mais no meu inconsciente do que muitos hits massivos daquele final de década.

O disco derradeiro, “Cem Anos de Rock’n Roll” (1990), repetiu o êxito dos álbuns anteriores (com os hits: “Papa Umama”, “Suga Suga”, “Esse Meu Cabelo Rock”) e inclui mais algumas faixas no meu “the best” pessoal da banda (“Ma Beibe, Beibe” e “O Bom e Velho Rock and Roll”). Passei a década final do século passado indo e voltando aos discos do Miquinhos, e quando o novo século surgiu, tratei de gravar um CDR com mais 25 músicas que não estavam na coletânea “Hot 20” (lançada em 2000) para deixar a mão quando a saudade batesse. Curiosamente, nunca os vi ao vivo (uma resenha antiga na revista Bizz era só elogios). A banda ficou inativa quase todos os anos 90 e voltou para shows esporádicos em 2007, pendurando a chuteira logo na sequencia. Porém, ainda hoje eles soam rockabilly, doo-wop e surf music para ouvir, dançar e se divertir (e os vinis são bem encontráveis por ai! Procure!).

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agosto 22, 2018   No Comments

10 discos favoritos em 10 dias: Dia 8

Quando o Scream & Yell surgiu online, no segundo semestre de 2000, eu ouvia alt country no café da manhã, no almoço e no jantar, muito por “Being There” (1996) e “Summerteeth” (1999), que eu tinha “descoberto” juntos no final do século. Comecei a ir atrás de outras coisas, e logo cheguei primeiro ao bonito “Strangers Almanac” (1997) e depois a “Faithless Street” (1995), os dois discos de estúdio do Whiskeytown, e consequentemente ao maravilhoso “Heartbreaker” (2000), estreia solo de Ryan Adams, que seria um dos grandes nomes de 2001 com o álbum “Gold”. Quando “Love is Hell” (2004) voltou a me fazer prestar atenção em Ryan Adams, junto a ele veio este “Pneumonia”, e fiquei “doente” novamente. Gravado em uma antiga igreja em Woodstock convertida em estúdio (o Dreamland) em 1999 por Ethan Johns (filho da lenda Glyn Johns, que ainda produziria os dois primeiros solos de Ryan), “Pneumonia” foi engavetado assim que a gravadora Outpost Records deixou de existir em meio à fusão das majors Polygram e Universal. Após dois discos elogiados, mas de vendagem tímida, o Whiskeytown queria fugir do gueto alt country produzindo um disco duplo de pop songs clássicas que os distanciasse da combinação Uncle Tupelo + Replacements (principalmente do disco de estreia). Com Ryan Adams no piano, a entrada do multi-instrumentista Mike Daly na banda (que divide 7 das 15 canções do álbum com Ryan) e participações de James Iha (Smashing Pumpkins) e Tommy Stinson (Replacements), “Pneumonia” flagra um Whiskeytown já despedaçado (só dois integrantes da formação original permaneceram após a malfadada turnê de divulgação de “Strangers Almanac”: Ryan e Caitlin Cary) que começava a abrir caminho para a carreira solo de Adams num disco pungente e melancólico cujo titulo buscava algo que simbolizasse se apaixonar e sucumbir ao amor. Lançado em 2001 (a banda havia terminado em 1999) como uma esquenta (que passou meio batido) para o segundo solo de Ryan, o platinado “Gold”, este “Pneumonia” merecia sorte melhor, mas resiste brilhantemente à passagem do tempo com faixas bonitas como “Don’t Be Sad”, “Crazy About You”, “Mirror Mirror”, “Don’t Wanna Know Why”, a havaiana “Paper Moon” e a baladaça “What the Devil Wanted” partindo corações.

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agosto 19, 2018   No Comments

10 discos favoritos em 10 dias: Dia 7

Acho que os portugueses do Deolinda foram a minha última paixão musical avassaladora. A primeira vez que ouvir falar deles foi quando o amigo e jornalista lisboeta Pedro Salgado resenhou o show que o grupo fez em 2011 no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para o Scream & Yell. Ler a emoção do Pedro presenciando este concerto de 25 canções, que seria lançado numa versão luxuosa em CD duplo e DVD (no centro da foto), me fez ir atrás do som desses tugas. Comecei a pesquisar mais e quanto mais lia, mais me apaixonava por essa banda que havia surgido nos intensos anos de crise econômica portuguesa, e que tinha algumas de suas músicas entoadas por manifestantes em passeatas contra o governo (notadamente os hinos “Um Contra o Outro” com seu refrão instigante – “Sai de casa e vem comigo para a rua” – e, principalmente, “Movimento Perpetuo Associativo” além de “Parva Que Sou”, inédita presente no disco ao vivo).

A popissima “Mal por Mal”, que abre o disco de estreia (“Canção ao Lado”, de 2008) virou o primeiro hit deles em casa, e depois vieram “Fon Fon Fon”, “Movimento” e a maravilhosa “Garçonete na Casa de Fado” (um dos grandes momentos das duas passagens deles pelo Brasil, São Paulo em 2013, Rio em 2016) mais algumas pérolas do segundo disco, “Dois Selos e Um Carimbo” (2010), notadamente mais “português” (e basta ouvir a hilária “A Problemática Colocação de um Mastro” para entender). Por volta dessa época (2011/2012) eu já tinha criado um elo de ligação pessoal entre uma das bandas que mais amo no Brasil, o Pato Fu, com o Deolinda, duas bandas com compositores letristas brilhantes (Pedro da Silva Martins e John Ulhoa) que escrevem letras com sacadas humoradas geniais que encontraram em duas mulheres poderosas a melhor maneira de passar a mensagem (Ana Bacalhau e Fernanda Takai).

Os discos seguintes do Deolinda, aguardados da mesma maneira que eu aguardava um disco novo da Legião nos anos 80, apenas corroboraram a genialidade do quarteto: “Mundo Pequenino” (2013) é um disco menos tuga e mais mundial, e traz consigo talvez as melhores letras da banda: “Concordância” (“Sou um sujeito, procuro um verbo e um bom complemento direto / Quero frases afirmativas e não viver em voz passiva”, crava Ana no refrão), “Gente Torta”, as brilhantes “Há de Passar” (“Tenho vontade de dizer aquilo que penso, mas tenho medo / Tenho vontade de exigir o que mereço, mas nem me atrevo”), os hits “Musiquinha” e “Seja Agora”, as divertidas “Doidos” (se Lou Reed tivesse gravado “Goodnight Ladies” em Sintra ela soaria assim) e “Semáforo da João XXI” (que narra o romance inevitável entre uma garota que ouvia Bach e um garoto que ouvia The Clash) e, minha favorita, “Pois Foi” (e vale assistir ao vídeo que o Bruno Capelas fez do show em São Paulo para sacar a beleza da letra e da interpretação de Ana – assim como ler a entrevista que ele fez com a banda em 2013).

No disco seguinte, a banda pisou no freio, e lançou o seu “Daqui pro Futuro” (o disco de 2007 do Pato Fu, e não impressiona a coincidência das duas vocalistas estarem gestando um bebê durante as gravações), o delicado “Outras Histórias” (2016), que me cativou ainda mais (e ganhou uma posterior edição deluxe dupla) tornando-os um dos cinco artistas que mais ouvi nos últimos cinco anos, segundo minha LastFM (à frente deles apenas Manics, Bruce Springsteen, Wilco e Dylan) e meu disco favorito deles hoje em dia. Em 2017, após 10 anos de atividades, o grupo anunciou uma pausa na carreira. Ana Bacalhau saiu em carreira solo e os outros músicos se envolveram em outros projetos. E enquanto eles não voltam, você tem tempo de se apaixonar por estes quatro discos… como eu me apaixonei sete anos atrás. Arrisque.

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agosto 16, 2018   No Comments

10 álbuns favoritos em 10 dias: Dia 6

Capa da segunda edição do fanzine em papel Scream & Yell de 1999, quando Chris Isaak chegou a este “Baja Sessions” (1996) ele já contava com cinco discos elogiados na carreira, um big hit mundial (o single “Wicked Game”, presente no álbum “Heart Shaped World”, de 1989), músicas em filmes de David Lynch (“Gone Ridin’” e “Livin’ for Your Lover” foram inclusas em “Veludo Azul” enquanto uma versão instrumental de “Wicked Game” aparece em “Coração Selvagem”) e uma hilária e rápida participação em “Friends” (Phoebe sacaneando seu falsete a lá Roy Orbison é demais) quando a série estava no topo do topo (não à toa, um dos episódios, que além de Isaak contou ainda com Julia Roberts e Jean-Claude Van Damme, leva o nome de “The One After the Superbowl” e passou exatamente após o evento de maior audiência no ano da TV norte-americana).

Ou seja, Isaak estava de bem com a vida, se dedicando ao surf e a sua paixão pela música antiga, e esse clima delicado e ensolarado paira sobre as 13 canções deste emocional “Baja Sessions”, um disco que reúne covers de artistas que Isaak admira além de regravações distintas de material próprio. Roy Orbison, claro, está representado por “Only The Lonely” enquanto dos filmes “Amor Havaiano” (1937) e “South Of The Border” (1939) foram retiradas, respectivamente, a singela “Sweet Leilani” e a mariachi “South Of The Border (Down Mexico Way)”. Já “Yellow Bird” é uma versão da versão em inglês de 1957 de um clássico haitiano de 1893, “Choucoune”. Fechando em alta a sessão de covers dos outros, “Return To Me”, gravada em 1958 por Dean Martin.

Da própria lavra marcam presença as maravilhosas versões de “Pretty Girls Don’t Cry”, “Back on Your Side” e “Dancin’”, três canções de seu álbum de estreia, “Silvertone”, recriadas com leveza, falsete e emoção 11 anos depois; do platinado “Heart Shaped World” é pescada “Wrong to Love You” enquanto o quarto álbum, “San Francisco Days” (1993) cede “Two Hearts” (que havia sido usada para fechar o grande filme indie “Amor à Queima Roupa”, de Tony Scott com roteiro de Tarantino) e “Waiting” além das inéditas “Waiting for a Lucky Day” e “I Wonder” – a segunda iria embalar o romance de Kevin Costner e Rene Russo em “Jogo da Paixão” (1996). Bonito, romântico e delicado, “Baja Sessions” é daqueles discos para ficar ouvindo o dia todo no repeat e lembrando que, sim, a vida pode ser boa.

Ps. Sim, a cena inicial de Nicole Kidman e Tom Cruise em “De Olhos Bem Fechados” é embalada por uma música de Chris Isaak, “Baby Did a Bad, Bad Thing”…

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agosto 9, 2018   No Comments

10 álbuns favoritos em 10 dias: Dia 5

Dentre tudo que ouço e gosto, algumas bandas rendem alguns momentos de bullying de amigos que, por exemplo, dizem que “é fácil ter 10 mil discos quando se tem a coleção completa do Biquíni Cavadão e do Nenhum de Nós” – aliás, me falta o “Cardume” (1989) em CD, e descobri dia desses que está sendo vendido a R$ 999,99 no Mercado Livre e por R$ 2.174,25 no Discogs (assustou? “Tomate”, do Kid Abelha, em CD tá R$ 160 o mais barato, R$ 300 o mais caro; e “Lulu”, do Lulu Santos, variando de R$ 185 a R$ 450). Bem, aproveitando essa onda de discos favoritos decidi recuperar a primeira fase da discografia do Biquíni, uma improvável banda pop carioca, para eleger um favorito e, assim, lançar milhos aos pombos do bullying.

Apesar da masterização precária do vinil da época, “Cidades em Torrente” (1985) traz três baita big hits (“No Mundo da Lua”, “Timidez” e “Tédio”, com a batidinha deliciosamente safada da guitarra de Herbert Vianna, três canções que são a cara dos anos 80, e que são ótimas) e uma faixa que passou batido na época (a ótima “Múmias”, com Renato Russo no dueto vocal com Bruno Gouveia), mas que foi abusada e virada do avesso pós morte do legionário. Uma pena. Minha favorita: a divertidíssima “Inseguro da Vida”, mas gosto também de “Hotel”, “Caso” e “Reco”. No disco seguinte, “A Era da Incerteza” (1987), a banda começou um processo de amadurecimento, que não rendeu tantos hits (“Ida e Volta” tocou, mas nem tanto), mas ouvi esse disco quase até furar, principalmente o lado A do vinil (com “1/4”, “Tormenta”, “Inocências” e mais a faixa 1 do lado B, “Catedral”, que iria incomodar muita gente hoje em dia). Ainda tenho ele em vinil aqui…

Dai veio o terceiro disco, “Zé” (1989), meu favorito, porque soa um rompimento com os sonhos de sucesso ainda que “Teoria” tenha tocado nas rádios e tanto “Meu Reino” quanto “Bem-Vindo ao Mundo Adulto” ganhado sobrevida no quarto álbum, “Descivilização” (de 1991, que traz as bonitas faixa título, “Arcos” e “Vesúvio” além dos mega-hits “Impossível” e “Vento Ventania”). O tédio que era tema dos discos anteriores aqui se transforma em raiva e turbina canções como “Brincando com Fogo” e “Certas Pessoas”, ganha força irônica em “Samba de Branco” e na rancheira “Meus Dois Amores” e pinta de clássico torto no bluezaço “Direto Pro Inferno” (que, inclusive, já inclui em mixtape).

Dai em diante, perdi conexão com a banda. O disco de covers “80” é terrível (conforme resenha no Scream & Yell em 2001), “Escuta Aqui” (2000) é bacaninha, mas não me lembro de nada dos discos “Agora” (1994) e “biquini.com.br” (1998) – na verdade, eu já estava em outra, e o rock nacional havia ficado nos anos 80. A banda segue na ativa com público cativo e discos novos, mas mesmo esses quatro primeiros, que saíram num box com edições caprichadas em 2001, pouco retornam ao meu som (como pouco retornam os quatro primeiros da Legião), ainda que façam parte da minha história com a música. Bora aproveitar e mandar um #nowplaying para matar saudade.

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agosto 8, 2018   No Comments

10 álbuns favoritos em 10 dias: Dia 4

um texto de 12 anos atrás

Qual o prazer em ainda ouvir um disco novo? O prazer é esbarrar com uma pequena obra prima de delicadeza e lirismo como este “My Secret Is My Silence”, estreia solo de Roddy Woomble, vocalista e guitarrista da banda escocesa Idlewild. Formado na segunda metade dos anos 90, o Idlewild soava – nos primeiros discos – como um Smiths passado pelo furacão grunge, nada que chamasse tanta atenção até o quarteto parir o terceiro disco, “The Remote Part”, sinal de maturidade dos escoceses. O single “American English” dava o recado: “The good songs weren’t written for you, they’ll never be about you”.

Então o peso da idade bateu. Roddy chegou aos 30 anos, achou que era hora de ser pessoal e pariu um conjunto de canções que não caberiam no Idlewild, mas são parte dele. O resultado é um que versa sobre “os espaços entre as palavras, a língua do silêncio, que é algo que se vê muito na Escócia, particularmente com os povos mais velhos nas montanhas”, explica Roddy. É sobre o que nós não dizemos. Sonoridades celtas, melodias de fazendeiros, o country que se junta ao alternativo. Para quem não se lembra, um dos grandes discos deste século, “Yankee Hotel Foxtrot” do Wilco, também versava sobre a comunicação entre as pessoas. Saudável coincidência.

“I Came From The Mountain” abre o álbum escorrendo lirismo. A acelerada “As Still As I Watch Your Grave” é comandada por flauta, acordeom e violino. A belíssima faixa título fala de prédios que foram construídos com sangue e chuva além de tristeza com gosto de uísque enquanto “If I Could Name Any Name” praticamente resume todo o pensamento de Roddy transformado num maravilhoso dueto com a cantora folk Kate Rusby. Em “Waverley Steps” quem brilha é Karine Polwart, outra folk singer. Um dos motivos deste álbum soar mágico é a boa companhia de que se cercou o líder do Idlewild, gravando o disco em duas semanas acompanhado dos conterrâneos do Sons and Daughters (o baterista David Gow e a baixista Ailidh Lennon, sua esposa) e do violino de John McCusker (produtor do álbum, e marido de Kate Rusby), entre outros. O resultado: um disco atemporal para ser ouvido… eternamente.

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agosto 6, 2018   No Comments

10 álbuns favoritos em 10 dias: Dia 3

Entre outras coisas (sequestro da liberdade, tortura, assassinatos, corrupção), a Ditadura Militar Brasileira enfraqueceu a MPB com censura, extradições e ameaças. No fim do regime, já nos anos 80, a MPB não tinha forças nem para jogar uma pá de cal numa Ditadura moribunda, e coube ao rock, notadamente anglo-saxão (e “inspirado” em Smiths, U2, Gang of Four, The Jam, The Police, Buzzcocks), cantar que a gente era inútil para escolher presidente (e parece que ainda somos), mandar coelhinhos peludos se foderem enquanto a questão central permanecia sem resposta: que país é este? Em 1988, porém, um disco reconectou o Brasil com seu passado mirando um futuro carnavalesco e psicodélico ao juntar Jimi Hendrix e Noel Rosa, o Gil de “Pega a Voga, Cabeludo” (1968), o Led Zeppelin de “Whole Lotta Love” e a batida suingante de Jorge Ben, estandartes em plena avenida, pierrots apaixonados, Wolverine e navegantes aflitos, tudo isso de uma maneira… “Supercarioca”.

Uma obra prima daqueles anos em que “enquanto perdíamos tudo, a tragédia vira festa de um calor quente e tropical”, o segundo disco dos Picassos Falsos soava muito, mas muito à frente de seu tempo ao tentar reconectar um Brasil que os anos de chumbo haviam soterrado utilizando o mantra de um pós punk que encontra um samba torto perto do Cristo Redentor e o entorpece de riffs de guitarra, batidas nervosas de violão e microfonia decorando-o com a mais bela poesia das ruas. Ouvindo hoje, “Supercarioca” é praticamente um retrato de um Rio, em primeiro plano, e de um novo Brasil que desembocaria, anos depois, nos saques a supermercados do triste final do governo de Fernando Collor, e no Brasil que vemos hoje. “Chamam de pátria nossa miséria, tanta folia”, canta Humberto Effe em “Fevereiro 2”. Já em “Fevereiro 1”, ele avisa: “Um navegante pronunciou aflito com seus escritos e só / Que uma cidade julgada a mais bela em poucos dias viraria pó”.

Um clássico subestimado, “Supercarioca” é um disco de hinos carnavalescos roqueiros. Mais do que “Bora Bora” (apesar de “Sanfona” <3), mais do que Mauro e Quitéria em “Miséria”, mais do que “O Estrangeiro”, esse é o disco que me reconectou com o Brasil numa época em que todo mundo queria soar inglês para, talvez, esquecer um país que, durante anos, havia nos maltratado, com paus de arara, choques elétricos e afogamentos, um Brasil que havia nos traído. “Estou feliz por quem já não existe”, define a letra de “Bolero”, uma das grandes canções de um álbum repleto de grandes canções. Pode parecer estranho que um paulistano morador da Moóca e nascido no bairro do Belenzinho, que viveu quase duas décadas no interior paulista tenha sido tão tocado por um disco supercarioca, mas aconteceu. Felizmente.

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agosto 5, 2018   No Comments

10 álbuns favoritos em 10 dias: Dia 2

Não me lembro direito como o Cinerama entrou na minha vida, mas suspeito que foi através da indicação de algum fanzine bacana do final do século passado (provavelmente o da Velvet, do seu André Fiori). Eu tinha alguns CDs do Wedding Present, e gostava (sem tanta emoção), mas não sabia o que esperar de David Gedge quando ele decidiu dar uma pausa na banda e se dedicar a este novo projeto com sua então namorada, Sally Murrel. “Va Va Voom”, o disco de estreia do Cinerama, bateu forte e rodou durante meses em 1998/1999 em casa com a baladaça “Hard, Fast and Beautiful” se transformando em hino passional. Em um informativo do Scream & Yell impresso de julho de 1999, eu contava que a paixão por este disco tinha me tomado (leia aqui) e não tinha mais volta: hoje na minha estante repousam “Va Va Voom” e outros seis álbuns do Cinerama, e ainda um single. Amor define. Em 2004, David e Sally se separaram e quando ele começou a gravar o novo disco, percebeu que as canções haviam se distanciado da sonoridade Cinerama e se aproximado do guitar indie passional do Wedding Present, e decidiu retomar sua primeira banda (com o discaço “Take Fountain”, de 2005). Por essa época, o Cinerama já havia me feito fazer uma reavaliação do Wedding Present, e eles se tornaram uma das bandas favoritas aqui de casa (felizmente os vi em 2012, no Arco do Triunfo, em Barcelona, tocando o clássico “Seamonsters” na integra) com cada novo disco, desde então, sendo aguardado com a ansiedade. E tudo isso é culpa de “Va va Voom”…

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agosto 3, 2018   No Comments

10 álbuns favoritos em 10 dias: Dia 1

Se CDs “gastassem” com o uso continuo, esse daqui já estaria no osso. Lançado em 1995 pelo selo Rock It, criado pelos músicos Dado Villa-Lobos (Legião) e André X (Plebe Rude), “Mondo Passionale”, o segundo álbum do Sex Beatles, me conquistou logo nas duas primeiras músicas: “Essa é a Sua Vida” é uma parceria do baita letrista e guitarrista Alvin L (que eu já admirava por salvar o Capital Inicial a partir do disco “Todos os Lados”, de 1989) com Leoni Oficial, e principalmente por “Péssima”, um rock glam acelerado delicioso, com a voz de Cris Braun valorizando a grande letra de Alvin, cujo refrão entrega: “Pode ser bem pior, quando eu sou péssima eu sou muito melhor”. O jogo já estava ganho, mas esse disco ainda traz “Stromboli” (“O mundo se divide nos bons, nos maus e nos 10 mais elegantes”, provoca Alvin), a baladaça acústica “Cary Grant”, a noise guitar faixa título e, claro, “Viva Miami” e “Eu Nunca Te Amei Idiota” (que já entrou em tantas mixtapes que perdi a conta). Eu ainda morava em Taubaté numa época pré-Internet, MP3 e P2P, por isso passei anos sonhando em encontrar o primeiro álbum do Sex Beatles depois de ter me apaixonado por “Mondo Passionale”, o que só foi acontecer quando eu já morava em São Paulo, neste novo século, e a Sensorial Discos abriu, em sua primeira encarnação, na Galeria Presidente, e pude encontra-lo. O coração deu um salto, afinal, nove entre dez maus elementos preferem as más companhias.

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agosto 2, 2018   No Comments