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Category — Europa 2009

Arte sacra, Bernini, Caravaggio e tiramisu

Romanos na frente do Pantheon em Roma

Sao 10 horas da manha em Roma, e os relogios ja estao marcando 31 graus. Roma ferve, e esta é nossa ultima manha na cidade. Jah estamos com as passagens de trem compradas para o aeroporto Leonardo Da Vinci, e no fim da tarde estaremos em Veneza para descansar e muito das longas caminhadas que a cidade de Roma nos exigiu. Mesmo assim sera dificil esquecer Roma. Eita cidade linda! Seguindo de onde paramos…

Na terca a noite fomos visitar a Fontana de Trevi, local eternizado por Fellini em “A Doce Vida”, com Anita Ekberg bebada entrando na fonte sob o olhar embasbacado de Marcello Mastroianni. Mesmo superlotada de turistas, a Fontana de Trevi é um charme. Ela é a maior e mais ambiciona fonte barroca romana e seu fundo é um cofre repleto de moedinhas que os turistas jogam desejando voltar a cidade (passeie por ela aqui).

Caminhamos de volta para casa descobrindo uma série de igrejas, pequenas joias de arte sacra, que anotamos para visitar no dia seguinte. A quarta comecou na enorme Santa Maria Degli Angeli,  local que antes abrigava as Termas de Diocleciano, e que o Papa encomendou em 1561 a Michelangelo transforma-la em uma igreja. O local é amplo e majestoso, e o destaque é o enorme orgao.

A Fontana de Trevi, mesmo sem a Anita, completamente lotada

Nossa proxima parada foi em Santa Maria Della Vitoria, uma interessante extravagancia barroca de Bernini e seus alunos. Aqui se encontra uma das obras maximas de Bernini, “O Extase de Santa Teresa”. Na mesma rua encontramos a lindinha San Carlo Alle Quatro Fontane, obra prima de Borromini, com quatro fontes na rua demarcando o lugar, e uma cupula oval branca e pequena que conquista o olhar.

Um pouco mais a frente, paramos na Igreja Sant’Andrea de Quirinale, outra bela obra de Bernini, mais limpa e delicada, mas ainda assim com detalhes barrocos que valorizam as bonitas esculturas do artista. Mais uma pernada e chegamos a Piazza Rotonda, local que abriga o magnifico Pantheon (de 118 d.c.), com alguns “romanos caracterizados” na frente fazendo a festa dos turistas que queriam uma lembranca mais divertida.

Atravessamos a Piazza Navona (com belas fontes desenhadas por Bernini e a bandeira brasileira indicando nossa embaixada), pegamos um gelato (bem mais barato que em Florenca) e seguimos para o Campo Del Fiori, outra pracinha fofa que durante o dia é agitada por uma feira e a noite vira balada. Almocamos no Sabys atendidos pelo Bruno, um brasileiro de Vitoria que vive a dois anos e meio em Roma, e pelo jeito ama a cidade.

Uma tarde no Parque Borguese em Roma

Entendemos perfeitamente apos devorarmos um spaguetti al pesto o sentido da palavra “siesta”. Nao tem como caminhar ao sol da tarde em Roma. Sabe-se la quantos 30 e poucos graus estavam fazendo, entao decidimos conhecer a Villa Borguese, o maior parque da cidade, que abriga um museu em um imenso espaco verde (lembre-se que as pracas em Roma, assim como na Espanha, nao tem arvores, diferente de Londres e Paris).

Assim como varios turistas e alguns romanos cedemos a siesta e tiramos um cochilo na grama do parque, e fomos conhecer o acervo da Galleria Borghese, pequeno, mas muito impressionante. Ha uma sala toda de Caravaggio com destaque para o arrepiante “San Girolamo” (veja aqui), otimos quadros de Ticiano (incluindo o historico “Amor Sagrado e Profano”) e obras primas de Bernini de fazer o coracao parar por alguns segundos.

Em “Apolo e Dafne”, Bernini congela no marmore o momento em que os deuses piedosos a transformam em um loureiro para tira-la de Apolo. Galhos saem de seus dedos e o detalhe de seus cabelos sao arrepiantes (mais aqui). “O Rapto de Persephone” é brutal. O musculoso Hades ri enquanto Persephone chora tentando fugir de seus bracos. Os detalhes de sua mao musculosa apertandando as pernas da moca sao sensacionais (saiba mais aqui e veja detalhes da obra aqui).

Obras de Bernini na Piazza Navona em Roma

Deixamos a Galleria Borghese e seguimos para o Galleria Nazionale de Arte Moderna, que fica quase dentro do parque, e destaca uma colecao impressionante de italianos da segunda metade do século 19 (mestres como Domenico Morelli, Giovani Carnovali e Antonio Mancini – veja obras aqui) além de Van Gogh, Cezanne, Klimt, Miró, Kandinski, Modigliani e Duchamp (a bicicleta, a latrina e o sensacional “50 Miligramas do Ar de Paris”).

Pegamos um trem, voltamos pro hostel para um banho e partimos em busca de um bom Tiramisu. Fomos até a Escadaria da Espanha, que nada mais é do que uma escadaria em que todo mundo fica sentando “vendo e sendo visto” e caminhamos novamente até o Campo del Fiori para terminar a noite com Pizza de Spicy Salami, brusqueta, vinho e uma boa cerveja ruiva italiana, a Moretti. E o Tiramisu, logico, o melhor que Lili comeu na vida.

Roma definitivamente nos conquistou. Obras de arte estao soltas para o prazer dos transeuntes nas ruas em dezenas de fontes em cada canto da cidade (eita gente para gostar de fonte, viu). Muitas igrejas guardam riquesas de arte sacra (esqueci de falar de “A Ressureicao de Cristo”, de Michelangelo, escultura polemica exposta na Igreja Santa Maria Sopra Minerva) e os italianos convivem muito bem com seu passado. Jogamos moedinhas na Fontana de Trevi. Queremos voltar.

Ps. Nao rolou ir ao Rock in Roma. A grana esta curta, mas ainda cruzo o Nine Inch Nails em Madri… aguarde.

 O por-do-sol na Piazza Quirinale em Roma

Fotos da viagem:
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
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julho 23, 2009   No Comments

Vinho, massas, calor e ruínas históricas

O impressionante Coliseu de Roma 

Sem acentuacao hoje, ok. (teclado romano):Acho que a ficha de Roma ainda nao caiu. Jah andamos por diversos lugares, visitamos alguns pontos turisticos, batemos perna sob o sol de 30 graus que abraca essa cidade no verao, e tudo que podemos dizer é: Roma impressiona. Muito. Mas muito mesmo. A primeira comparacao que me vem à cabeca é Paris. As duas cidades estao ali, lado a lado, cabeca a cabeca querendo conquistar coracao, alma e olhos da gente.

Ainda no domingo, antes do show de Bruce Springsteen, visitamos a Basilica de Santa Maria Maggore, que fica pertinho do “bed and breakfast” que alugamos. Fundada por volta de 431 pelo papa Sisto III, é uma das maiores basilicas de Roma ricamente decorada, com algumas obras de Bernini e padres atendendo todo o tempo fieis no confessionario, um deles falava oito lingua (saiba mais sobre ela aqui).

Rememorando meus tempos de coroinha da Igreja do Alto de Sao Pedro, em Taubaté, nao consigo lembrar o nome daquele casticario de velas que os fieis acendem para os santos. O fato é que em Santa Maria Maggore, as velas foram substituidas por um casticario de luzes que representam velas. A pessoa vai lah, deposita 1 euro, e a vela de luz acende. Pra mim é picaretagem. E das grandes. 

O aconchegante bairro de Trastevere em Roma

Ja na segunda comecamos nosso trajeto de turistas embasbacos pelo Coliseu, que é de cair o queixo. Mesmo. Tirei umas duas dezenas de fotos. Dali fomos até as Termas de Caracala, que na Roma Antiga (ali pelo ano de 217 d.c.) era um complexo de lazer (canhestramente falando) em que os romanos iam se banhar nas termas. O local tinha centros sociais, galerias de arte, biblioteca, bordéis e areas de exercicios. Ruínas povoam o lugar.

Continuamos nosso dia de turismo arqueologico passando pelo impressionante Forum Romano e tambem por alguns foruns imperiais. Eh uma caminhada e tanto, mas vale muito a pena. A visao é de tirar o folego. Chegamos até a porta do Museu Capitolino, que estava fechado, e entao partimos para o Parque Oppio, que fica sobre a famosa e enorme Casa Dourada de Nero, que esta fechada para reformas (uma pena).

Almocamos por ali, em uma ruazinha qualquer, uma boa Bucatini All’Matriciana, belo spaghetti com molho de tomate, bacon e bastante queijo pecorino ralado. O que nos conquistou foi a entrada: uma salada caprese simples com um pedaco de mussarela de bufala que derretia na boca de tao leve e fresco. Também saiu daqui a frase do dia. Um cliente perguntou: “Esse vinho da casa é bom?”, o dono respondeu: “Claro, é romano”.

A Praça de São Pedro no Vaticano

A parte da tarde foi dedicada à Igreja de Sao Clemente, um tesouro arqueologico impressionante. No nivel mais profundo escavado existe uma casa de culto cristao e um templo dedicado ao deus Mitra, tudo do século 1. Um nivel acima existe pode-se ver uma basilica intacta do século 4. Incendiada em 1084 por um ataque normando, uma nova Igreja foi construida sobre a velha basilica, que foi redescoberta em 1857.

Nossa dia terminou com uma visita ao delicioso bairro de Trastevere, que é tudo que eu sonharia que o bairro do Bixiga, em Sao Paulo, fosse. Dezenas de tratorias e pizzarias se espalham pelas varias piazzas do bairro, que mantém intacto seu charme. Uma placa em um restaurante dava a deixa: “Somos contra a guerra e o menu turistico”. Comemos uma boa pizza e Lili ficou bebada (mais uma vez) com apenas uma taca de vinho.

Roma é uma cidade muitissimo especial. Sinceramente, sinto-me em casa aqui. O problema é o pouco tempo para se aproveitar uma cidade repleta de encantos. Paciencia. O melhor é relaxar e admirar. E atirar uma moedinha na Fontana de Trevi (ah, Anita) desejando voltar para a cidade. Vamos fazer isso hoje à noite depois de termos passado a manha e a tarde no Vaticano, impressionados com a Basilica de Sao Pedro e a Capela Sistina. 

A Capela Sistina, pra variar, lotada

A Capela Sistina é algo simples e belo. Voce caminha por dezenas de salas ricamente ornamentadas e quando cai na Capela toma um choque com a pintura delicada e simples de Michelangelo. A ficha demora alguns segundos pra cair. Basta ignorar a multidao e se concentrar no teto, observar a genialidade do pintor, o relevo em terceira dimensao, os afrescos delicados e se emocionar. Vale o cansaco das mil e uma salas anteriores. Mesmo.

Ainda temos muita coisa pra ver, e a completa nocao de que nao vamos ter tempo de ver tudo. Ou seja: pretendemos voltar. Temos a quarta ainda, e na quinta partimos para  Veneza, e entao a ultima semana em Barcelona e Madri, os dois pontos finais da viagem. Estamos bastante cansados, tanto que cedemos à siesta nesta terca. Amanha tem Rock in Roma com NIN, Tv on The Radio e Animal Collective, mas a grana ta curta. Quem sabe…

Ps. Fez 33 graus em Roma hoje.

Ps 2. Momento Gloria Kalil em Roma: os soldados da Guarda Suica do Vaticano ainda estao na moda com suas roupas desenhadas por Michelangelo? Veja aqui e opine (hehe)

Fotos da viagem:
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Detalhe da Capela Sistina, no Vaticano

julho 21, 2009   No Comments

Três horas de Bruce Springsteen em Roma

Bruce Springsteen em Roma

Ok, ok, melhor falar a verdade: não foram três horas exatas de show, e sim duas horas e cincoenta e nove minutos. Mas foram 179 minutos ininterruptos de apresentação sem saída para o bis. Bruce ficou no palco o tempo inteiro correndo de lá pra cá enquando a sua E Street Band descia o sarrafo com músicas de altíssima qualidade. Nem parece que ele está para fazer 60 anos…

Os portões do Stadio Olimpico foram abertos às 16hs e uma multidão já esperava debaixo do forte sol buscando um lugar pertinho do palco. Os 42 mil ingressos colocados à venda já estavam esgotados, e cambistas faturavam em cima daqueles que deixaram para a última hora. Dezenas de barraquinhas de camisetas mostravam que o lugar já era dominio de Bruce, mesmo com o Mundial de Natação acontecendo ao lado do estádio.

Por causa do Mundial de Natação, inclusive, a produção avisou por email um mês antes que o show atrasaria meia hora, inicio previsto para às 22h30. Bruce entrou às 22h27, e em poucos segundos já havia conquistado o público com os primeiros acordes de “Badlands”. A audiência deu um show à parte estendendo-se ainda para “Out In The Street”, com seu coro do refrão sendo cantado desde os primeiros segundos.

Bruce ao violão canta “Working on a Dream”

A épica e nova “Outlaw Pete” trouxe belas imagens no telão enorme. Seguiram-se “No Surrender”, “She’s The One”, uma versão fofa de “Working On A Dream” (com estrelas brilhando no telão), “Seeds” (com dezenas de imagens da E Street Band) e uma estupenda versão de “Johnny 99” seguida de “Atlantic City”, as duas do álbum “Nebraska”. O primeiro bloco foi fechado por “Raise Your Hand”, que fez a cama para um dos grandes momentos do show.

É o seguinte: se você quer muito, mas muito mesmo que Bruce toque a sua música preferida, ajuda e muito escrever o nome dela em um cartaz, chegar cedo, e passar o pedido para o chefão no meio do show. Ele pega vários pedidos, lê, mostra para a banda, e se for aprovado, coloca na frente do pedestal e manda brasa. Acontece sempre no meio do show, mas no fim ele sempre escolhe mais um ou dois cartazes, dependendo do humor.

Nesta noite, a festa começou com “Hungry Heart”, em versão de chorar (até uma menininha de uns cinco anos participou do coro quando Bruce desceu até a galera). “Eu casei na semana passada e estou pegando fogo”, dizia outro cartaz com a deixa para Bruce tocar “I’m on Fire”. Vieram ainda “escolhidas pelo público” outras duas surpresas: “Pink Cadillac” e “Surprise, Surprise”.

Pelo telão comandando 50 mil pessoas

A terceira parte do show começou com “Prove It All Night”, seguiu-se com uma versão linda de “Waiting On A Sunny Day” (que contou com a participação de um garotinho retirado da platéia que cantou o refrão no maior embromation – hehe), “The Promised Land”, “American Skin (41 Shots)”, “Lonesome Day”, “The Rising” e… “Born To Run”, com todo o estádio aceso e gritando a letra da canção. Momento para não esquecer.

Ao final do número, Bruce agradeceu a todos, a E Street Band começou a deixar o palco, mas o chefão pegou o violão e mandou uma bonita  versão de “My City Of Ruins”, que serviu a perfeição como introdução de “Thunder Road”, clássico maior (assista a um trechinho aqui). O “bis” ainda teve “You Can’t Sit Down” e “American Land” (com a mãe do compositor, Adele Zirilli, nascida no sul da Itália, subindo ao palco para abraçar o filho).

Acabou? Não. Bruce pegou mais um cartaz da galera e mandou “Bobby Jean”. Uma companheira do disco “Born In The USA” veio em seguida, o megahit “Dancing In The Dark”, com Bruce puxando uma garota da platéia para dançar com ele. Finito. Ou quase. Estatelado no centro do palco, e ensopado de suor e água, o chefão mandou: “Não dá mais, Roma”, mas a galera insistiu, e ele fechou a noite com uma cover de “Twist and Shout” (com citação de “La Bamba”).

bruce_piano.jpg

A impressão final é de uma noite perfeita. Bruce fez valer a grana que todo mundo pagou com suor, entrega e uma apresentação majestosa, dessas que mesmo os italianos que já estão acostumados a ver Bruce todos os anos (o desfile de camisetas de turnê é impressionante) saem surpresos e felizes. O jornal gratuito do Metro italiano cravava na manhã desta segunda-feira: “The Boss conquista Roma”. Impossível discordar, impossível.

Fotos da viagem:
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julho 20, 2009   No Comments

Obras primas de Michelangelo em Florença

O Palácio Pitti em Firenze

Na minha imaginação, Florença seria um caos no sábado, mas o dia foi ótimo com menos calor do que os dias anteriores (só fez quase 30 graus, quase) e muito menos turistas superlotando o compacto e lindo centro antigo da cidade. Também nos organizamos. Compramos as entradas para a Galeria Degli Uffizi e para a Academia com hora de entrada reservada e marcada, assim pudemos aproveitar com mais calma a cidade. E valeu muito a pena.

O dia começou com uma caminhada pela Ponte Vecchio, que pelas fotos pode parecer uma favelinha sobre uma ponte, mas na verdade são lojas de jóias. Na verdade mesmo, ali pelo século 15, a ponte (e todas as pontes da cidade) tinham comércio. Na Ponte Vecchio ficavam os açougues da cidade, que jogavam os restos de carne no rio, mas os manda-chuvas da área, a familia Medici, que morava ali do lado, incomodada com o cheiro, tirou os açougues e colocou joalherias no local. Todas as outras pontes sucumbiram na segunda guerra, restando apenas a Vecchio para contar a história).

A familia Medici patrocinou praticamente todos os artistas da cidade, de Michelangelo a Donatelo, de Leonardo Da Vinci a Rafael entre muitos outros. Algumas obras do acervo da familia estão na Galeria Uffizi, que até tem um acervo bacana, que sucumbe diante da má iluminação de algumas salas. Gostamos muito da sala Niobe (veja aqui), reafirmei minha admiração pelos retratos densos de Tiziano e, de quadro mesmo, gostei de “Primavera”, de Botticelli (veja aqui) e de “San Jacobo con Due Fanutti”, de Andrea Del Sarto, mas como um todo o museu não me impressionou tanto como outros da viagem. 

A Ponte Vecchio em Firenze

Dali saimos para almoçar perto do Mercado Central. Acabamos parando em uma Tratoria, pois fui fisgado pelo cartaz que oferecia a Bisteca a La Fiorentina, um delicioso e enorme bife de corte diferente e feito com os mandamentos toscanos. A garçonete recomendou: “Prove sem azeite, para sentir o gosto da carne”. Resultado: melhor prato da viagem até agora. Lili pegou um ótimo gnochi ao pesto e assim nos preparamos para mais uma caminhada pela arte: ir a Academia.

O acervo da Galleria Academia é pequeno, porém de fazer chorar. Voce entra em uma sala e encontra os quatro escravos não terminados de Michelangelo, mais São Matheus (que é divino, na mesma linha dos Escravos) e também Pietà, outra obra magnifica do homem.

No fim do corredor está David, imponente, gigasteco, meditando sobre sua vitória contra Golias. Simplesmente uma sala de arrepiar a alma. Lili é apaixonada pela simbologia dos Escravos, que Michelangelo fez para o túmulo do Papa Júlio II, mas nunca terminou. Ou como dizem muitos, não quis terminar, deixando-os encravados na pedra com ar de sofrimento e gestos de dor.

Ficamos pelo menos umas duas horas dentro da Academia indo pra cá e pra lá entre as obras de Michelangelo. Aproveitamos para ver uma exposição interessante de Robert Mapplethorpe, o fotógrafo e amigo de Patti Smith que a fotografou para a capa do mitico “Horses”. Uma foto da mesma sessão está exposta nesta mostra temporária.

E ainda obras de Bartolini, um cara que eu adoro. Havia, inclusive, uma cópia da Dirce, que vimos no Louvre. Deixamos a Academia flutuando, passamos por uma passeata contra o ditador iraniano, e voltamos para casa antes de escurecer para arrumar as malas. Neste domingo partimos para Roma e Bruce Springsteen. Dia agitado, meus amigos, dia agitado.

 A Sala Michelangelo na Academia em Firenze

Fotos da viagem:
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julho 20, 2009   No Comments

Perdido em Firenze e o inferno do Mogwai

Detalhe do Batistério em Firenze

Florença é uma cidade cara, uma das mais caras de toda a viagem. Um gelato aqui pode custar 9 euros (quase R$ 30) e um almoço simples pode sair por quase R$ 50. Refrigerantes são um assalto. Uma coca-cola lata não sai por menos de R$ 10 no centro histórico, que é deslumbrante, mas pode derrubar muitas economias claudicantes, como a nossa.

Na Galeria Degli Uffizi, o mais significativo museu da Renascença, por exemplo, a entrada é mais cara do que a do Louvre, e não aceita cartões nem dá desconto para estudantes (só para integrantes da Comunidade Europeia). E, ainda assim, as filas são enormes, uma das maiores que encontramos em toda a viagem. Agendamos um horário para o dia seguinte, e fomos descansar.

A Ponte Vecchio em Firenze

Na verdade, Lili foi descansar. Eu fui fazer a grande aventura da viagem até o momento: ir a show do Mogwai em um lugar que eu só sabia onde era pelo mapa, mas não tinha a mínima ideia de como chegar por ônibus, que não são lá tão explicativos como em outras cidades europeias que visitamos. O lance era pé na estrada, e vou te dizer que foi beeeeem divertido.

Li sobre o show em um jornal, e não sabia o horário, então parti às cegas com o mapa na mão atrás da Fortezza da Basso, uma antiga e enorme fortaleza datada do século 14 que hoje em dia é sede de inúmeras conferências, reuniões, concertos e iniciativas nacionais e internacionais, como o show do Motorhead, que tocou um dia antes do Mogwai.

Descobri por cartazes no caminho que o show estava agendado para às 21h30, e eu já estava bem perto do lugar às 19h30. Bacana. Era torcer para o lugar não ser monótono, pois eu teria duas horas para matar ali. Monótono? Nestes dias de julho a Fortezza da Basso está recebendo uma Feira Latina com comidas, bebidas, grupos e tudo mais o que você pode imaginar.

É um feirão com barracas de churrascarias gaúchas, “picanharias” argentinas tocando tango, quiosques de comida colombiana, tequilas e petiscos mexicanos, e tudo o mais. Deu uma puta vontade de encarar um churrasco brasileiro, mas acabei optando por um básico kebab acompanhando de uma cerveja dinamarquesa.

Mogwai em Firenze

E tô eu ali, convite do show no bolso, tomando a minha cerveja, quando o cara da mesa ao lado (com um amigo e outra amiga) elogia a minha camiseta com estampa de Miles Davis. Retribui elogiando a dele, do Jimi Hendrix Experience, e a garota da mesa comenta que falei em espanhol (portunhol, na verdade), e começamos, cada um de sua mesa, a falar de shows e tal.

Em dois minutos já estávamos amigos. Ele se chama Leonardo, tem 29 anos, mãe carioca (ele mesmo nasceu no Rio de Janeiro), mas veio para Roma aos 9 anos e hoje em dia trabalha com jornalismo e marketing no site EcologiaInViaggio. O diálogo rolava mais ou menos em portunhol da minha parte, com o italiano misturado com o carioca da dele, com a menina (que eu não entendi o nome) queridíssima traduzindo no bom espanhol. Foi hilário.

mogwai3.jpg

Tomamos uma boa leva de birras os quatro, e eles (que são de Roma) contaram que estavam em Firenze para ver o Mogwai, e partiam na mesma noite para a cidade praieira de Livorno para ver, no dia seguinte, Kraftwerk e Aphex Twin. Ele tentou arranjar um espaço para mim e para Lili na casa em que eles iriam ficar em Livorno, mas não rolou. Mesmo assim estamos cogitando ir.

No fim, combinamos de trocar informações de bandas e artistas de cada país. Falei para ele da ótima cena independente nacional, ele contou que o cenário mainstream italiano está “una mierda”, tal qual o nosso. Todos na mesa reclamaram, e muito, do governo Berlusconi, e todos me ofereceram abrigo em Roma, caso eu e Lili ainda não tivéssemos reservado algum lugar.

mogwai2.jpg

Dali, partimos para o show do Mogwai, que ficava em uma tenda aberta no centro da festa. Tente você imaginar a orgia de guitarras altíssimas dos escoceses tendo como fundo uma festa latina? Foi assim que aconteceu. O show foi absurdamente bom, daquele nível Mogwai de ser. As canções começam lentas e vão até o inferno tentar salvar anjos caídos.

A primeira do set list (em foto mais abaixo) foi “Friend of The Night”, do álbum “Mr. Beast”. Do último disco, “The Hawk Is Howling”, marcaram presença “I’m Jim Morrison,  I’m Dead” e o hit “Batcat”, mas o set list caprichado abriu espaço para os hinos infernais “Mogwai Fear Satan”, “Summer” e “You Don’t Know Jesus”.

mogwai3.jpg

Na volta do bis, o aviso: “Essa é a última canção”. Nos primeiros acordes, sorrisos no meio do público, afinal não é sempre que a última canção de um show dura mais de 20 minutos. Desta forma, “My Father, My King” fechou o show de forma absolutamente ensurdecedora. Show finito, despedidas e e-mais trocados, hora de ir embora. E não é que eu me perdi em Florença…

Foram duas horas e pouco de show – acabou bem perto da meia noite. Com os ouvindos zunindo, saio por outro portão numa praça que já havia passado de ônibus. Procuro um ponto e caminho até lugar nenhum. As ruas raramente tem placas, então sigo o instinto (inseguro). Ali pelas 00h40 encontro o Rio Arno, e o rumo de casa. Compro um panino, uma coca e vou encontrar Lili, que estava preocupada. Sem problemas, a noite em Florença é bela.

mogwai4.jpg

Leia o diário de viagem Europa 2009 completo aqui

julho 20, 2009   No Comments

O rádio acaba de avisar: 35 graus

A Torre Pendente em Pisa

Vou te contar: não é mole não. Descemos em Pisa, na Itália, ontem com um senhor sol às 14h. Não perdemos tempo. Deixamos nossas mochilas (a minha já está pesando 19 kilos) no guarda-volumes da Estação Central da cidade e fomos caminhando até a Torre Pendente, mundialmente conhecida como Torre de Pisa. E ela é uma graça. Mesmo.

A Torre começou a ser construída em 1174 para abrigar o sino da catedral da cidade, mas terminado o terceiro andar, notou-se uma leve inclinação em razão de um afundamento do terreno. Tentou-se compensar a falha fazendo os outros andares maiores do lado mais baixo, só que a estrutura afundou ainda mais pelo excesso de peso.

A torre acabou de ser erguida, inclinada, em 1350, atingindo 56 metros de altura, e permaneceu fechada durante toda a década de 90 para que arquitetos tentassem recuperá-la. Houve uma estabilização na inclinação, e ela foi reaberta ao público em 2001, que pode subir até o topo em pequenos grupos e observar a cidade (como na foto acima).

Não subimos por falta de tempo (embora duvido que Lili fosse topar subir os 294 degraus), mas aproveitamos a sombra da torre, tomamos um gelato e curtimos a visão da praça dos milagres (do século 12), local em que fica a belíssima catedral, a torre pendente (leia mais sobre ela aqui) e um cemitério que compreendem o complexo arquitetônico da Escola Toscana.

Vista da Piazzale Michelangelo em Firenze

Falando em Toscana. A região é uma bagunça, mas é bela. Já em Florença, sofremos para nos localizar mesmo com várias informações detalhadas do Hostel que avisou por email em letras garrafais: FECHAMOS ÀS 19h30. Com muito sufoco conseguimos chegar às 19h27 (culpa do trem, que atrasou quase 20 minutos, do trânsito absurdo e da falta de placas de informações).

Florença é uma cidade linda. Ok, estou sendo um pouco condescendente, pois eu e Lili discutimos muito a noite passada sobre modos de ver o mundo. Florença, em um primeiro momento, não me seduziu. Achei a cidade toscana… tosca (com o perdão do trocadilho infame). Mas depois de subir para a Piazzale Michelangelo, onde se tem uma vista absurdamente linda da cidade, não tem como endurecer o coração sem perder a ternura.

E hoje, caminhando, pelo centro histórico, belíssimo, entendo a paixão do mundo por esta cidade, que já ditou moda e arte para o mundo (função que Londres e Nova York são responsáveis hoje em dia), e permite olhar obras magníficas em seus museus. Ainda não fomos ao principal museu da cidade, mas já passamos pelo Museu del Bargello, que tem o “Davi”, de Donatello e o sensacional e junkaço “Baco“, de Michelangelo (mais aqui).

Uma das grandes atrações de Florença é a impressionante Catedral Di Santa Maria Del Fiore, com uma fachada de deixar a alma sem ar, e um interior mais modesto, que perde em pompa e acabamento para igrejas britânicas e francesas. Em frente há o Batistério di San Giovanni, construido entre os séculos 5 e 9, local em que Dante Alighieri foi batizado e que inspirou detalhes de sua “Divina Comédia”.

Bem, não sei pq, mas os sinais que estavam todos funcionando no teclado, começaram a dar pau (estou voltando ao control c control v). A felicidade durou pouco (hehe), mas já comemos uma pasta, uma bruschetta e tiramos esse tempo de internet para descansarmos. Queremos ver o grande museu da cidade na parte da tarde, e espero ter forças para ir ao Mogwai, que toca aqui hoje à noite. Espero conseguir. Agora, ao sol.

 Firenze

Fotos da viagem:
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julho 17, 2009   No Comments

Pensamentos movidos à base de cerveja

Berlim, Berlim, Berlim. Eis uma cidade que mexe bastante comigo. Na primeira vez que estive aqui, ano passado, passei bastante mal. O ar pesado, as lembrancas de guerra em cada esquina, Berlim parece uma cicatriz viva que nao consegue se fechar. Tenho amigos que amam essa cidade, e nao posso negar, ela mexe comigo. Muito embora, desta vez, parece que a dor tenha sido menor. Parece que estou me acostumando à cidade, aceitando seu passado, que me incomoda demais.

Imagino que deve ser mais ou menos essa aceitacao que um berlinense (em particular, e o povo alemao no geral) sinta em relacao a esta cidade e ao seu país. Por mais que eu quisesse (e deus, eu nao quero mesmo – risos), eu nunca poderia negar a brasilidade que circula pelo meu sangue. No fundo, amamos o nosos país (cada um o seu) e o aceitamos como ele é, mas sentimos as dores de sua história (passada e presente) vez em quando como uma dor de cabeca que nos acompanha a vida toda.

Para Lili, Berlim é pop e eficiente, mas logo que chegamos ela sentiu o peso do humor das pessoas. Enquanto em Londres, Paris, Bruxelas ou mesmo Bruges há música na rua, pessoas sorrindo nos cartoes postais da cidade, clima de festa, em Berlim nao. Aqui se ouve o barulho dos carros durante o dia, e talvez seja mesmo o que amigos já me disseram: Berlim é noturna, cidade de festas, baladas e dos anjos de Win Wenders em “Asas do Desejo” observando a multidao do alto da Coluna da Vitória.

Nossos dois dias em Berlim foram agitadíssimos. Visitamos a East Side Galery, um longo trecho de 1.300 metros do Muro de Berlim às margens do Rio Spree que teve sua face pintada por diversos artistas criando uma sensacional galeria à céu aberto. Dali fomos para o Museu do Judaíco, obra espetaculosa (mas que nao me comoveu) do arquiteto Daniel Libeskind repleta de simbolismos, alguns óbvios e tolos, outros bem interessantes, mas que peca como acervo. Vale a visita ao prédio (aqui).

Nossa próxima parada foi em um boteco turco para comermos a segunda pizza ruim da viagem, passarmos pelo Checkpoint Charlie, pelo Topografia do Terror (outro museu à céu aberto, localizado no local onde era o QG de Hitler e perto de um pedaco em pé do muro). Os vendedores ambulantes que tanto me enojaram ano passado vendendo de fardas  até máscaras de gás continuam lá, e o item capitalista do momento sao carimbos da antiga RDA no passaporte. :/

Dali passamos na Postdamer Platz e pegamos a linha 100 (que quase parece um onibus de turismo, pois passa por diversos pontos históricos da cidade) e fomos até Alexanderplatz, admirar a Fernsehturn, a Torre de Televisao que era orgulho da RDA, e que Lili achou tremendamente Jetsons, e passar pela regiao dos museus, da belíssima catedral, da Bebelplatz (local em que os nazistas queimaram livros) até chegar ao Portao de Brandemburgo e ao Parlamento Alemao. Claro, subimos para conhecer a cúpula de vidro do bambambam Norman Foster (uma bela vista da cidade, viu).

Para relaxar, uma pausa no Tiergarten (o imenso jardim da cidade) para 500 ml de Paulaner de trigo para mim, e um sorvete para Lili. Passamos ainda no Memorial do Holocausto e cometemos o segundo erro de pegar a conducao errada na viagem, pelo mesmo motivo. Na Bélgica, queriamos ir para Leuven (ou Louvain) e pegamos um trem para Louvain, mas fomos parar quase na Holanda. Em Berlim, estamos na Grunewald Straße, e pegamos um onibus para a Grunewald… bairro. Achamos estranho quando saimos do mapa, mas voltamos salvos para o apartamento. hehe

Ainda visitamos as ruinas da Catedral Kaiser Wilhelm Gedäcgtniskirche, um dos simbolos locais, que fica ali pertinho do Europa Center e do Zoológico, e que impressiona bastante. Severamente bombardeada durante a segunda guerra mundial, a catedral foi mantida tal qual ficou após os ataques, e uma maquete “antes e depois” compara a regiao e as duas versoes da catedral. Por fim, visitei a minha loja de CDs predileta na cidade, mas sai frustrado: eles nao aceitam mais cartoes de crédito, e a essa altura da viagem, nada de compras à vista.

Porém, encontrei uma loja extremamente sensacional ali perto do Europa Center (esqueca a enorme megastore Saturn) chamada Cover Music, com um acervo sensacional de CDs e, principalmente, vinis, muitos deles piratas. Agora sou um feliz possuidor de um exemplar do raríssimo bootleg em vinil “On Strike… Or Songs The Lord Taught Us”, do Echo and The Bunnymen. E tinha tanta coisa lá (de piratas do Sonic Youth, Bob Dylan e Bruce até todos os singles do Radiohead em vinil 7 polegadas) que até cogito visitar essa cidade um dia só para voltar na Cover Music.

Essa é nossa última noite em Berlim, e apesar de me sentir um pouco mal aqui, parte o coracao partir. Minha visao mudou um pouco, o que me comforta, mas ainda nao sei se, um dia, eu moraria aqui. Nao sei, mas já acendeu a vontade de pesquisar outros cantos da Alemanha como Dresden, Hamburgo, Dusseldorf, Colonia, a Bavária e, claro, Aachen, a cidade em que mora o grande Carlos, companheiro de viagem e fonte inesgotável de boas dicas (de lugares e shows). Meu sangue alemao ainda visitará esse país novamente. Com certeza.

Nesta quinta comeca a parte italiana de nossa viagem. Acordamos cedo e partimos para o aeroporto de Schönefeld   para mais um voo Easyjet (já perdi a conta de quantos foram). Descemos de aviao na Toscana ali pela hora do almoco, mais precisamente em Pisa, para olharmos a torre torta, comermos alguma massa e partimos na mesma tarde para Florenca, nossa casa por tres dias. Dali, Roma (com Bruce, Trent Reznor e Tv On The Radio) e Veneza e entao o trecho espanhol, com Barcelona e Madri fechando o mochilao.

Meu tenis Adidas, que comprei para o mochilao do ano passado, abriu o bico. A idéia era passar em uma loja da própria marca, que é alema, e comprar um novo, mas os precos estao proibitivos. Os modelos bacanas estao entre 80 e 120 euros. Os mais ou menos saem por 50, 60 euros. Recorri a uma Second Hand (nossos populares brechos, que existem aos montes na regiao de Warschauer Strasse) e achei um tenis ótimo por 23 euros. Agora, pé na estrada e mochila (de quase 2o quilos nas costas). Parlamos mais amanha, ok.

Ps. Mais de mil fotos nos flickrs meu e de Lili. Olha lá. 🙂

Fotos da viagem:
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/

julho 15, 2009   No Comments

Correndo e pedalando daqui pra lá

De Berlim (Ocidental):

As coisas no supermercado ao lado do hotel sao tao baratas que até nos assustamos. E a internet, na esquina, rápida, com teclado parecido com o nosso e alguns acentos, meus amigos, voltaram (só alguns). Bem, vou direto rememorar tudo o que aconteceu no domingo e hoje e zerar o diário para comecarmos novinhos amanha.

Domingo

Acordamos cedo com o propósito de fazermos uma aventura: alugar uma bike cada um e ir para Damme, cidade que fica a 5 km de Bruges, tomar um dos melhores chocolates quentes da Europa. Claro que nao só para isso, mas também para curtir o passeio e fazer como os belgas: andar de bicicleta.

O dia amanheceu nublado, mas nao desistimos do plano. Alugamos nossas bikes e lá fomos nós margear o rio até pegar a auto-estrada. No caminho passamos por uma feirinha, dessas de tralhas e trecos, e parei em uma barraquinha que tinha uns CDs à venda. Sou um feliz possuidor do “Live 81-82” do Birthday Party que custou… 4 euros.

Lili acha que fizemos os 5 km entre uma cidade e outra em menos de meia-hora, mas nao sei. O tempo ficou estável, caiu uma garoinha, e depois abriu o sol. O trecho entre as cidades era bucólico: o rio ao lado, vaquinhas pastando com moinhos de vento ao fundo, algumas casinhas e muito, mas muito verde.

Entramos em Damme, que merece a sua visita caso voce vá um dia para Bruges, pela avenida principal e logo achamos o Tante Maria, o tal local do chocolate quente. Chegamos com fome, entao abracamos o menu de 16 euros por pessoa. Escolhi o menu Lorraine (quiche com bacon, saladinha e e focaccia de presunto parma – veja aqui) enquanto Lili foi de menu fish (croquete de camarao, quiche de salmao e tomate recheado com camarao – veja aqui).

Vou contar: passei as últimas 30 e poucas horas ouvindo Lili falar o quao bom era o tal do croquete de camarao. O argumento dela é que croquete é algo tao normal, que a gente nao espera nada, e o tal que ela comeu era surpreendente bom, algo que ela nunca esperava que pudesse acontecer. Tudo bem, saiba que ela já tomou, em Paris, a melhor sopa de cebola da vida dela…

Bem, almoco terminado, o bom chocolate quente tomado (vale a sua ida até o lugar), e hora de pedalar de volta para Bruges. Trocamos os 5 km de pedaladas por uma volta de barco bebendo cerveja belga e admirando a paisagem. Passeio bucólico e delicioso para revigorar para a última noite do Cactus Festival.

O passeio de bike fez com que perdessemos o show do !!! e, quase, Magic Numbers. Pegamos as tres últimas músicas da banda fofinha mais bacana sobre um palco do planeta. Nao gosto deles em disco, mas o show é bastante divertido e animou muito o público do festival.

Na sequencia foi a vez do septeto Calexico tentar fazer o público gingar, no que eles podem até se dar por satisfeitos: umas dez ou doze pessoas chacoalharam enquanto a multidao assistia impassível (e apluadia efusivamente no final). Parece que eles nao estao gostando, e quando a música termina eles vibram e aplaudem. O ponto alto foi a já costumeira e empolgante versao de “Alone Again Or”, do Love. De fazer chorar, viu. O show tem altos e baixos, mas é de responsa.

Hora de comer no Cactus Festival, mas o que escolher? A variedade é imensa. Tem desde de barraquinhas de comida tibetana, japonesa, italiana, senegalesa, arabe, indiana, francesa, vegetariana até os famosos pratos locais sem contar as barracas de cerveja, refrigerante, narguilé, crepes, waffles, sucos de frutas e o escambau. Acabamos no final optando pelas tradicionais fritas com maionese, mas dá dó de lembrar como passamos fome nos festivais brasileiros.

Já tinhamos planejado no dia anterior deixar de lado Joss Stone, que iria fechar a noite de domingo, mas até que fiquei com uma vontadezinha de ver a garota, no entanto, ela cancelou de última hora, e Jamie Lidel foi escalado para substitui-la. Preferimos nos despedir da cidade fotografando-a durante a noite (até esbarramos com o pessoal do Calexico, encantando com a beleza medieval da cidade).

Segunda

Acordamos às 8h30, arrumamos a mala e fomos tomar o café que a Maria havia feito para nós. Pecado: ainda nao falei da Maria. Bem, ela é a dona da casa que alugamos o quarto para ficarmos em Bruges (via Hostelword), e é uma mama estilo italiano que comeca falando em ingles, no meio da frase está em italiano e termina com coisas em espanhol, holandes ou todo junto. Uma jóia de pessoa.

Assim que chegamos no sábado, ela nos levou até a mesa e nos deu dicas de onde comer a melhor comida por precos justos (fugindo dos restaurantes caca-turistas), onde encontrar a melhor cerveja da regiao e onde devorar os melhores chocolates. E ainda escreveu em um papel um recado para o cara do barco nos dar um desconto. Querida demais.

Nos despedimos dela e… comecou a correria. Chegamos na hora na estacao de Bruges, compramos passagens para Bruxelas, entramos no trem e… esquecemos uma sacola com um vinil raro (que comprei a pedido do Wagner), os posters da Shakespeare em Co, presentes e todas as passagens e reservas de hotel e albergues impressas. Falamos com o cobrador e ele foi ironico e sacana: “Nao posso parar o trem. Voces descem em Bruxelas e voltam”.

No fim, nao descemos em Bruxelas, e sim em Gent, a parada seguinte. Acabamos voltando para Bruges mais cedo que imaginavamos, mas deu tudo certo. O senhor que nos vendeu a passagem avisou que a sacola estava no “Achados e Perdidos” da estacao, e conseguimos pegar o próximo trem para Bruxelas tendo como prejuizo uma hora perdida e 25 euros de passagens.

Em Bruxelas, mais correria. Almocamos ao lado da Grande Praca, babamos nos waffles, andamos na rua que cheira a chocolate, olhei e comprei CDs em uma loja bacana (veja aqui) e… nos atrasamos para o voo. Ainda mais que o guiche da Easyjet ficava nos cafundos do aeroporto, mas o voo atrasou e chegamos em tempo. Preciso urgentemente de uma cerveja. E cama. Amanha volto com impressoes sobre a Alemanha, ok.

Fotos da viagem:
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http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/

julho 13, 2009   No Comments

Adeus Belgica, oi Alemanha

De Brussels, ou Bruxelles, ou Bruxelas:Passamos na Grande Praca para nos despedir, encontrei uma lojinha de vinis e CDs sensacional na rua do boneco mijao e, agora, soh voltamos a dar noticias de Berlim, onde chegaremos hoje a noite. Muitas coisas bacanas sobre o dia de ontem para contar desde passeios de bicicletas ate a cidadezinha de Damme, a noite em Bruges, mais cervejas, mais shows (a fofura de sempre do Magic Numbers e a festa texmex do Calexico) e sacolas esquecidas na estacao de trem. A Easyjet nos espera, jah nos falamos novamente.

Ps. Jah dissemos, mas nao custa lembrar: as ruas ao lado da grande praca de Bruxelas cheiram chocolate.

Ps 1. Parto deixando para tras centenas de cervejas sensacionais. Lutei muito comigo mesmo para combater a vontade de levar um pack com seis Duvel para o Brasil, mas temos tantos aeroportos pela frente ainda que seria um transtorno carrega-lo. Paciencia.

Ps 2. Alexandre, nao subimos na torre de Bruges (perdi a hora, mas tambem, um puta sol as sete da noite), vai ficar para a proxima, mas passeamos de barco na volta de Damme para Bruges.

julho 13, 2009   No Comments

Uma festa do interior… na Belgica

Bruges é uma cidadezinha a 97Km de Bruxelas cujo charme medieval é seu maior atrativo. Seu centro do século 13 é o mais bem preservado de toda a Europa e é uma volta no tempo, muito embora a quantidade de turistas superlote suas pequenas ruas. É uma mistura de Gramado com Ouro Preto (com cervejas e chocolates melhores).

A cidade esta lotada. Turistas ficam embasbacados nas vitrines das lojas de chocolate e cerveja enquanto se entopem de batatas fritas, que os belgas defendem serem os pais. Rapazes da cidade pedalam vestidos de freira pelas ruas medievais. O clima é o melhor possivel.

É no principal jardim da cidade, o Minnewater, que acontece o Cactus Festival, um dos cinco festivais mais bacanas da Bélgica (entre os mais de 50 que eles devem promover no verao), cujos mais famosos sao o Rock Werchter (eleito pela liga dos festivais europeus o melhor festival do verao quatro vezes nesta década), o Pukkelpop e o Lokerse Fest (que neste ano terá Manics em agosto).

cactus.jpg

O Cactus lembra, e muito, uma festa de cidadezinha do interior com criancas andando pelo parque, senhoras e senhores conversando em bancos e uma variedade de comida surpreendente (além, claro, da boa cerveja belga em tres versoes: Pilsen; de trigo e de cereja) destacando-se os waffles de nutella, as fritas e os sanduiches de braadworst.

A criancada passa o tempo todo recolhendo copos de plástico de cerveja e garrafas de refrigerante para trocar em um posto de reciclagem que paga 0,10 cents de euro por cada item. Os portoes abrem às 11h da manha, e o primeiro show comeca 12h30, mas o publico está no festival nao só para ver os shows, mas pq o lugar é um ponto de encontro da cidade.

A grande diferenca em relacao ao Brasil (além da organizacao impecável, dos banheiros masculinos ao ar livre, da cerveja e da variedade de comida) é que aqui nao tocam duplas sertanejas, heróis da Jovem Guarda e da época de nossos tataravos, mas sim bandas novas como o Cold War Kids, lendas do cenário independente como Greg Dulli e Mark Lanegan e genios como Paul Weller. Bem, talvez seja a mesma coisa, né mesmo.

Ah, e eles falam o flamengo, uma mistura de holandes, frances e alemao que dá a perfeita sensacao que todo mundo ao seu redor está falando ao contrário. Panico total (risos). E tambem andam de bicicleta: mais de mil ficam “encostadas” do lado de fora do parque. Jo Gideon and The Shark, Black Box Revelation e Joan As Police Woman abrem o dia, mas só chegamos para a quarta atracao.

O Cold War Kids surgiu mostrando as músicas excelentes de seu álbum de estréia mais as fracotes do segundo disco – que cresceram ao vivo. Bom trabalho de guitarras, boa performance de palco, e “We Used to Vacation” é uma graaaaande cancao. É bom ficar de olho no terceiro disco desses caras, pois deve vir coisa boa.

gutter.jpg

Na sequencia, Gutter Twins em momento acústico: Greg Dulli em um violao (e teclados e gaita), Mark Lanegan impassível no centro e Dave Rosser no outro violao. Único problema do show: foi curto demais (veja o set list aqui). Mas vou dizer que quase chorei em “Sworn and Broken”, do álbum “Dust”, último do Screaming Trees. E “Summer Kiss”, do Afghan Whigs, arrepiou.

Intervalo, show do Novastar (banda da casa que parece uma mistura de Fito Paez com Coldplay e levou mais público para frente do palco do que qualquer outra atracao do dia) e… Paul Weller. No palco, o ex-líder do The Jam parecia um menino de tao feliz e agitado. O show – centrado no excelente “22 Dreams” – de duas horas foi impecavel, daqueles de fazer muita bandinha inglesa nova voltar pra garagem. A garoazinha, jah no bis, terminou de lavar a alma.

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Fotos da viagem:
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julho 12, 2009   No Comments