Category — Europa 2008
E as férias comecaram…
Na teoria, as férias comecaram ontem. Acordei descansado, andei de chinelos na praia de Málaga, caminhei horrores pela cidade e quase comi uma paella. Quase, mas nao tenho coragem. Na prática, só encaro os shows que esbarrarem em mim em Paris e Londres. Nada de Tom Waits em Dublin nem de Leonard Cohen em Roma (Carlos, eu cogitei), pois já fiz as contas e a grana está contada. Como era de se esperar, gastei mais do que devia, claro, mas está tudo sob controle. Dá para ver algo sem se deslocar muito. Ou de graca. E olhe lá.
Definitivamente, a Espanha é a minha cara. Amei Málaga também, mas preciso dizer que esse sol constante de 30 graus está castigando a minha pele branca. Já estou quase terminando um frasco de protetor solar, e isso nunca tinha acontecido comigo. A cidade é uma graca. Traz tracos romanos e foi território fenício no século VIII. Há escavacoes de um teatro romano (do século I depois de Cristo) no meio da cidade, e debaixo do Museu Picasso há ruínas de construcoes fenícias e romanas. A cidade é uma graca, com um centro bonito e boêmio, e uma igreja tao imensa que toda populacao da cidade deve caber dentro dela.
Isso tudo fora o Castelo de Gibralfaro, que fica no alto da cidade, data do século XIV, e brilha todas as noites sob a luz da lua. De dentro dele é possível ter uam vista maravilhosa da cidade, da Plaza de Toros abaixo e até de montanhas do estreito de Gibraltar. Aliás, lembra que eu tinha deixado um dia vago para pensar em ir a Gibraltar ou Sevilha? Desisti. Muito peso pra carregar. O problema é que o albergue que estou nao tem mais vaga, e estou indo pra outro agora, mais no centro da cidade.
Também passei pelo Museu Picasso, o primeiro museu da viagem. Como devo voltar para uma viagem mais leve e sem tantos festivais no ano que vem com a Lili (quem sabe o Fib), e sei que ela irá querer ir a muitos museus e que vamos ter um belo tour arquitetônico pelas cidades, estou focando em outras coisas. Mas como nao devemos vir a Málaga, passei no Museu do filho famoso da cidade para dar risada com suas obras hilarias. E tem uma exposicao de fotos sobre o artista que achei bem bacana.
A parte cubista tem coisas sensacionais – e divertidas – como “A Mulher com Bracos Levantados” (1936) e “A Mulher Desnuda com Gato” (1964). Das minhas preferidas, duas: “Claude em Marron e Branco” (1950) e “Menina com sua Boneca” (1952). É possível ver a maioria da colecao no site oficial do Museu Picasso Málaga (aqui). Ainda quero ver o “Guernica” em Madri e passar um dia inteiro no Louvre, vamos ver. Agora sao 10h aqui, 5h no Brasil. Sol forte. Vou trocar de albergue agora, voltar pra praia e conferir a agenda de shows em Paris de 27 a 30 de julho, e Londres de 01 a 06 de agosto. Passagens devidamente compradas. 🙂
Cervejas
01- Duvel (Bélgica) 8,5%
02- Leffe (Bélgica) 6,5%
03- Voll-Damm (Espanha) 7,2%
04- Mahou (Espanha) 5,5%
05- Kostriker (Alemanha) 4,9%
06- Orval (Bélgica) 6,2%
07- Amstel (Espanha) 5,0%
08- San Miguel (Espanha) 5,0%
09- CruzCampo (Espanha) 4,8%
10- Tennents (Escócia) 4,5%
Cidades
01- Barcelona (Espanha)
02- Leuven (Bélgica)
03- Berlim (Alemanha)
04- Málaga (Espanha)
05- Glasgow (Escócia), Bruxelas (Bélgica) e Bournemouth (Inglaterra)
Shows
01- Leonard Cohen (Benicàssim)
02- Radiohead (Berlim)
03- Lou Reed (Málaga)
04- Morrissey (Benicàssim)
05- R.E.M. (T In The Park)
06- Pogues (T In The Park)
07- Sigur Ros (Benicàssim)
08- Neil Young (Werchter)
09- The National (Werchter)
10- Spiritualized (Benicasim)
11- Grinderman (Werchter)
12- Vampire Weekend (Werchter)
13- American Music Club (Benicàssim)
14- Raconteurs (Benicàssim)
15- The Hives (Werchter)
16- Babyshambles (Benicàssim)
17- British Sea Power (T In The Park)
18- Richard Hawley (Benicàssim)
19- Sons and Daughters (T In The Park)
20- The Verve (Werchter), Gossip (Werchter), Nada Surf (Benicàssim), Ben Folds (Wertcher), The Kills (Benicàssim), The Ting Tings (T In The Park)
Fotos da viagem e dos shows:
http://www.flickr.com/photos/maccosta
julho 23, 2008 No Comments
Lou Reed em Málaga
Acordei na segunda-feira destruído. Fisicamente e emocionalmente, afinal ver The National, Morrissey e Leonard Cohen (aqui) seguidos é um teste para qualquer coração, mas o tempo é curto e haja correria. Dez quilos de bagagem nos braços mais 18 quilos nas costas, e lá vamos nós para a estação de trens. A viagem de Castellon para Barcelona foi ok. Lembra que eu tinha só seis minutos entre desembarque, comprar passagem e embarcar em outro trem? Então, rolou. Mas eu não contava era com um congestionamento de malas de rodinhas no El Prat, o aeroporto internacional de Barcelona!
Era uma multidão de gente querendo sair do trem e entrar no aeroporto e uma multidão de gente querendo entrar no trem, que a muvuca causou um “congestionamento”. Sério. Agora imagina: você tem 15 minutos pra fazer o check in, e fica quase 10 parado numa situação surreal dessas? Assim que o congestionamento se desfez, fui procurar o guichê da Vueling, companhia barateira que faz voos nacionais na Espanha. Claro: o guichê ficava no quinto dos infernos do aeroporto, e lá vou eu correndo com quase 30 quilos de bagagem. Cheguei quando já anunciavam: “Última chamada para Málaga”.
Em Málaga, os termômetros do aeroporto Pablo Ruiz Picasso, ilustre filho da cidade, marcavam 32 graus. Pela primeira vez na viagem tive que recorrer a um táxi, após vagar a esmo tentando encontrar o albergue, sem sucesso. Detalhe: nem os taxistas sabiam onde ficava o lugar. Liga pra cá, pergunta ali, e encontramos (e nem é fora de mão nem nada, vá entender). Tentei achar uma internet, mas só há “peluquerias” na região. Quando achei um locutório, um e-mail da produção do show de Lou Reed avisava que haveria um atraso:
“Estimado Usuario: el concierto de LOU REED previsto para hoy día 21 de julio de 2008 a las 21.30 horas ha sido retrasado por necesidades de producción, dada la complejidad del montaje, el espectáculo comenzará a las 22.00 horas, media hora más tarde de lo previsto inicialmente. Si tiene alguna duda adicional, por favor póngase de nuevo en contacto con nosotros.”
Não tem jeito, primeiro mundo é outra coisa…
Fui caminhando do albergue até o Teatro Cervantes para observar a paisagem e me apaixonar pela cidade, e cheguei ao teatro cinco minutos antes do show. Pessoalmente, não achava que esse show iria me abalar tanto quanto o fim de semana em Benicassim com Leonard Cohen, Morrissey e Spiritualized, mas então eu entro no teatro, lindo (lembra o Theatro Municipal de São Paulo, mas é menor, com 1104 lugares, e mais charmoso), datado de 1870, e vejo que o meu lugar, fila 1, cadeira 18, é realmente de frente ao palco: não dava para acreditar. Precisei beber uma cerveja no saguão para ajustar os ânimos.
Quando a organização mandou o e-mail falando da “complexidade da montagem”, não estava brincando. O cenário é belo, com um sofá de três lugares pendurado no teto simbolizando um decadente quarto de hotel, a New London Childrens Choir (coral infantil com doze crianças) do lado esquerdo do palco, sete membros da London Metropolitan Orchestra do lado direito, mais a banda com sete integrantes – incluindo Steve Hunter, guitarrista original do álbum “Berlin” – e, claro, o próprio Lou Reed. Não se engane: estamos diante de uma ópera rock!
“Berlin”, lancado em 1973, foi o terceiro disco solo de Lou Reed após sua saída do Velvet Underground, e vinha na seqüência do sucesso conquistado pelo single “Walk On The Wild Side” e pelo disco “Transformer”, um ano antes. Seguindo a mesma temática de seu principal hit, porém, afundando as canções num dramático lodo orquestral, Lou fotografa a depressão romântica de um casal drogado na Berlim (Oriental) ainda dividida pelo muro. Ela (Caroline) acaba, por fim, cortando os pulsos. Ele (Jim) lamenta a perda daquela que ele acreditava ser a sua Rainha da Escócia.
O show que comemora 35 anos de lançamento do disco começa com Bob Ezrin, produtor do disco, subindo ao palco. Ele fala um pouco da apresentação, lembra que Málaga é o encerramento da turnê, e chama Lou Reed ao palco. Lou entra de camiseta qualquer nota vermelha. Ele está aparentemente bem mais velho do que da última vez que o vi, em 2001, no Credicard Hall (resenha aqui), mas ostenta ainda aquela cara de poucos amigos que fez sua fama. Ele pega sua Fender, olha para o coral e as crianças começam o show cantando a melodia de “Sad Song”. Arrepia.
“Berlin”, a música, começa suave com seus clássicos dedilhados de piano que contemplam a felicidade do casal. Guitarradas marcam a entrada de “Lady Day”, e o coral de crianças e a orquestração encantam. “Men of Good Fortune” (aquela que diz que “os homens de sorte, muitas vezes, provocam a queda de impérios”) surge com Steve Hunter estraçalhando na guitarra e o bom backing de Jeni Muldaur se destacando. “Caroline Says (I)” causa o primeiro momento de histeria na plateia, mas é com a linha de baixo de “How Do You Think It Feels” – numa versão chapante – que o teatro quase vem abaixo.
Lou Reed não se dirige ao público em nenhum momento. Ele sorri para Steve Hunter e para o baixista Fernando Saunders após alguma boa passagem instrumental e e só. Quando, em “Oh, Jim”, ele leva a base da canção sozinho na guitarra (com Steve fazendo pequenos solos), o público tenta acompanhar nas palmas, mas ele muda o andamento, quebra o ritmo, e o público se perde. A versão, no entanto, é poderosa, e marca a passagem do disco (lado b) e do show para a parte trágica da história do casal.
“Caroline Says (II)” surge numa versão fantasmagórica, com Saunders tocando violino enquanto Lou narra a degradação do romance. Jim bate em Caroline, que não para de se drogar, e é apelidada pelos amigos como Alaska. “Está tão frio no Alaska”, canta Lou acompanhado do coral infantil. “The Kids” é… foda. Foda. Lou repete o verso inicial várias vezes aumentando a tensão sob uma base limpa de violão: “Eles tiraram os filhos dela, porque, dizem, ela não é uma boa mãe”. Jim está cansado e não está mais feliz.
“The Bed” é de chorar. Canta Lou: “Este é o lugar onde ela deitava a cabeça quando ia para a cama à noite / Este é o lugar onde concebemos os nossos filhos, velas acesas iluminavam o quarto / Este é o lugar onde ela cortou os pulsos naquela estranha e fatídica noite”. O coral de crianças intervém no trecho “oh, oh, oh, oh, oh, oh, what a feeling” e é preciso ter muito sangue frio para não se deixar levar e se emocionar. “Sad Song” retorna para fechar o show com toda sua tristeza em forma de orquestração rock and roll.
Após mais de 10 minutos de incessantes pedidos de bis, Lou retorna ao palco e fala sobre o disco, apresenta as mais de 30 pessoas envolvidas, e começa um improviso de guitarra que se transforma em “Satellite of Love”. “Rock and Roll”, do Velvet, vem na sequência. E “Power Of The Heart”, canção inédita disponibilizada no site Cartier. Love, encerra a noite de gala. Passa da meia noite, mas volto para o albergue caminhando, admirando a beleza da cidade sob a luz da lua. Esse show me trará sempre a Málaga. Durmo feliz.
Leia também:
– Dois vídeos: Lou Reed em São Paulo, 2010 (aqui)
– Três vídeos: Lou Reed e Metallica (aqui)
– Lou Reed ao vivo em Luxemburgo, 2012 (aqui)
– Lou Reed explica pq não canta as “velhas canções” (aqui)
– Lou Reed ao vivo em São Paulo, 2000 (aqui)
– Diário de Viagem: Europa 2008, por Marcelo Costa (aqui)
julho 22, 2008 No Comments
FIB 2008, Domingo
Texto e fotos: Marcelo Costa
Eu juro que não estava preparado emocionalmente para o que iria acontecer no último dia do Festival Internacional de Benicàssim, edição 2008. Juro. Se eu conseguisse ter imaginado que tudo que aconteceu fosse realmente acontecer, talvez até tivesse medo de ter um infarto fulminante em meio ao público, sacumé, tem coisas que o coração pode não aguentar mais. O coração, neste momento, ainda bate. O corpo está um caco e não sei se me recuperei emocionalmente ainda. Vamos ver…
Acordei às 13h para postar o texto do sábado e ir tentar almoçar com o pessoal do Alto Falante. Cheguei no hotel e ainda deu tempo de ver Nelsinho Piquet subir ao podium com Felipe Massa (vou ter que falar que o Galvão Bueno espanhol fala muuuito mais do que o nosso), se preparar para o almoço (hamburguer, fritas, salada e cerveza) e rir das histórias dos mineiros (“Esse pueblo de Lula es muy confuso”). Os próximos programas prometem, especialmente o gravado em Abbey Road.
Uns quinze minutos de caminhada e um sprint de 200 metros pra não perder o começo do show e lá estou eu novamente frente ao The National, que numa tenda sob um sol de sabe se lá quantos graus (muitos) apresentou suas pérolas românticas doloridas movidas a guitarradas, teclados atmosféricos e violino. O show foi um repeteco da brilhante apresentação no Werchter, semanas atrás, com “Baby, We’ll Be Fine”, “Fake Empire”, “Mistaken For Strangers” e uma estraçalhante versão de “Mr. November” fechando a noite de sol. A “noite” só estava começando.
Pontualmente às 20h, Leonard Cohen adentrou ao palco do festival com os dez personagens que transformam em música suas letras/poesias. Olha, é difícil demais falar sobre esse show. Uma senhora emprestou um lenço para a Juliana enxugar as lágrimas no show de Edinburgh, na quarta anterior. Alguns dias antes, o Carlos falou sobre a apresentação que ele viu em Amsterdã “O Carlos que você conheceu no Rock Werchter não existe mais, agora existe o Carlos pós show do Cohen”. Esses sentimentos são muito mais do que música, transcendem algo que não sei dizer ao certo o que é.
Pra você ter uma ideia, 20 minutos após o show terminado eu ainda estava chorando. A Carol falava: “Calma, respira fundo”. E as lágrimas vinham. Fora os flashbacks horas depois quando eu lembrava do show: “Vou ligar pra Lili pra contar” (e da-lhe lágrimas). “Como vou explicar o que foi “Hallelujah” ao vivo?” (mais lágrimas). Sinceramente: eu nunca tinha sentido o que senti ontem na frente de Leonard Cohen, e depois que ele saiu saltitando do palco após apenas uma hora de clássicos.
Começou com “Dance Me To The End Of Love”, e algumas senhoras presentes murmuravam: “Essa é a música do meu primeiro amor”. Depois veio “The Future”, valsa do disco homônimo apropriada para apresentar o poeta aos incautos com versos como “I’ve seen the future, brother: it is murder”. E o que falar de coisas como “Bird on a Wire”, “Everybody Knows”, “Who by Fire”, “Suzanne” (com Cohen ao violão), “I’m Your Man” e “First We Take Manhattan”? Nao se fala. Se ouve. Chora. E eu chorei.
O dia já estava ganho, o ano já estava ganho, mas o FIB 2008 ainda reservava surpresas guardando como “brinde” shows de Richard Hawley e Morrissey (que festival é esse em que um show de Morrissey vem como brinde?????). O guitarrista britânico Richard Hawley, que já tocou com o Pulp de Jarvis Cocker no álbum “We Love Life”, levou para a tenda Vodafone todo charme e bom gosto dos fifties, com baladas encantadoras e rockabillys contagiantes. O visual não deixava dúvidas numa mistura de Roy Orbison e Elvis Presley, e o show foi ovacionado pelo público que lotou a tenda.
Já Morrissey, você sabe. Ninguém vai para um show dele esperando ouvir essa ou aquela música. As pessoas até gostariam de ouvir os hits, mas elas vão mesmo a um show de Morrissey para ver Morrissey. Simples assim. O que ele tocar, está valendo. Então comparar o repertório do show no FIB com aquele que vi em Buenos Aires quatro anos atrás é uma tremenda bobagem. Morrissey é o show.
Quer ver: ele entra no palco (com os cinco integrantes de sua banda sem camisa e com jeans preto colado no corpo) e sacaneia: “Spanish eyes, olhem para mim. Vocês querem que eu fale espanhol? Eu vou falar argentino (sic), português, francês, mas não vou falar espanhol”. Ele abre com “Last Of The Famous International Playboys” e finada a canção tenta convencer o público: “Benicàssim, eu estou aqui”. A música na sequência faz todo mundo duvidar: “Ask”, dos Smiths, aquele riff mastigado, aquela bateria galopante. Será mesmo?
Seguem-se “First Of The Gang To Die”, “That’s How People Grow Up” (“a” música de 2008) e “Irish Blood, English Heart”. Ele volta ao microfone: “Eu sei que as bandas pop espanholas são um lixo, mas tudo bem, as bandas pop inglesas também são, e isso não importa pois.. “The World Is Full Of Crashing Bores””. Ataca o consumo de “animais mortos” no festival, e filosofa: “Garoto namorando garota, garota namorando garoto, garota namorando garota, garoto namorando garoto: tudo é possível”.
Dos Smiths ainda marcaram presença “Vicar In A Tutu”, “What She Said”, “Stretch Out And Wait”, uma versão fodaça de “Death of a Disco Dancer” e “How Soon Is Now?”, fechando a noite após um cover dos Buzzcooks (“You Say You Don’t Love Me”) e “Life Is A Pigsty”, um dos melhores números do álbum “Ringleader Of The Tormentors”. Faltou um mundo de músicas, mas ele próprio, mais do que ninguém, sabe que suas duas camisas arremessadas ao público vão se transformar em centenas de pedacinhos que vão ser guardados como um prêmio por cada uma daquelas pessoas. Ele é Morrissey, e pode tudo.
Eram duas da madrugada e ainda tinha Siouxsie e Viva La Fete no palco principal, mas eu não tinha as mínimas condições físicas e emocionais para seguir em frente. The National, Leonard Cohen, Richard Hawley e Morrissey numa mesma noite e em seqüência arrebenta com o coração de qualquer um. Até ouvi, de longe, “Hong Kong Garden”, mas o festival já tinha acabado – ao menos para mim. Lágrimas ainda escorriam vez em quando pelo rosto. A lembrança do dia perfeito já comecava a se cristalizar na memória. Nunca fui tão feliz após um show. Agora é dancar até o fim do amor pois é assim que as pessoas crescem.
julho 21, 2008 1 Comment
FIB 2008, Sábado
O dia em Benicàssim começa depois das 14h. É quando a comunidade branquela do mundo (eu incluso) e alguns poucos morenos acorda e abarrota as praias do balneário procurando um lugar para… dormir (e as meninas, fazer topless). Perdi o trem das 14h30 de Castellon para Benicàssim (assim, cheguei até a entrar no vagão, mas estava na dúvida se era aquele mesmo ou se eu estava pegando um trem para o sentido contrário. Era aquele) e tive que encarar a viagem de ônibus, que geralmente derruba o freguês de sono. Me desencontrei do pessoal do Alto Falante, encostei em um bar na orla, estiquei as pernas na cadeira e… três Amstel de um litro (cerveja de Sevilha) e eu já estava pronto para o ritual: capotar na praia.
Arranjei um lugar “limpinho”, fiz da mochila e dos chinelos meu travesseiro, coloquei o relógio para despertar às 18h e sonhei com anjos. Acordei às 18h20 e só não perdi o The Ting Tings pois o show atrasou. Quando coloquei o pé direito na tenda, Katie White e Jules De Martino entraram no palco. Era um dos primeiros shows do dia, 18h40, solzão no alto, e o local estava abarrotado (repetindo a loucura do T In The Park). O duo novamente fez uma boa apresentação, com algumas criancas na plateia e clima de festa adolescente. “That’s Not My Name” (que bateu no número 1 da parada britânica), “Shut Up And Let Me Go” e “Great DJ” incendiaram a tenda.
Primeira grande comida de bola da viagem: finado o show do Ting Tings, eu, Renata e Carol procuramos um lugar pra armar o boteco e esperar o próximo show. Enquanto isso, para uma tenda com 1/4 de sua lotação (ou seja, vazia), Jon Spencer levava ao FIB seu projeto paralelo de rockabilly Heavy Trash. Eu bebendo cerveja na grama e Jon Spencer – sem barba e de terninho – mandando ver no barulho na tenda FiberFib. Das coisas que acontece quando o line-up tem mais de 110 nomes confirmados. Pena. Mas vi meia hora de José González (aquele show bonito que a gente já conhece) e três músicas do Brian Jonestown Massacre (eu esperava mais do Anton; acho que o ótimo documentário “Dig!” superestimou a banda).
De volta a tenda FiberFib, novamente com pouca gente, estirei-me no chão a dez passos da grade e vi a performance do American Music Club inteirinha jogado. O vocalista e guitarrista Mark Eitzel (foto abaixo) tira um faca cravada no peito a cada novo número trazendo as canções lá do fundo do âmago, onde você não acredita que alguém consiga buscar emoção. Eitzel é daqueles caras que poderia ficar rico vendendo honestidade em frasquinhos de 5ml, e o reconhecimento veio no pedido de bis, o primeiro que vi neste festival, mas que o pequeno público fez questão de pedir, e ganhou como presente a pungente e arrepiante “All My Love”, em versão comovente, de congelar a espinha. Puta show.
Por falta do que ver, tive que encarar um show inteiro do My Morning Jacket. O Thiago, do Alto Falante, definiu bem: “Eles são até legais em disco, mas em show abusam do rock burrão”. Tem até guitarra Flying V. Era isso ou ver Tricky. Fiquei matando tempo até à meia noite, quando Alison VV Mosshart e Jamie Hince entraram no palco do Main Stage. Assumo: se eu não fosse casado (e ela também), eu pediria a Alison em casamento. Fácil. Ao contrário de Paula Toller, Alison é daquelas mulheres que solos de guitarra podem conquista-la. Ok, não são os solos do Kid Abelha, mas sim do The Kills, uma usina de barulho movida a bateria eletrônica e guitarradas. O show, no entanto, foi inferior ao do Campari Rock 2005, e terminou de forma abrupta como um coito interrompido. Alison gosta de partir corações e ir embora sem dizer adeus.
Depois de troca-los por Grinderman, na Bélgica, e por The Pogues, na Escócia, finalmente me vi frente a frente com o Raconteurs. Jack White conseguiu montar uma banda de garagem com todos os clichês do gênero (para o bem e para o mal). Tem longos improvisos e jams que na maioria dos momentos enchem o saco, mas quando a banda engata a quinta marcha, sai debaixo.
Nenhuma música surge tal qual foi gravada em álbum. Eles recriam tudo, e em várias passagens se superam, caso da versão arrasa-quarteirão de “Steady, As She Goes”, mas não é “o” show. São simplesmente quatro bons músicos declarando paixão e devoção pelo barulho. “Many Shades of Black”, com Brendan Benson comandando, foi um dos grandes momentos, mas muita coisa boa do primeiro disco ficou de fora em favorecimento de faixas medianas do segundo. E vamos combinar: Jack White e Michael Jackson podem sair de mãos dadas no quesito brancura.
A noite ainda teve Gnarls Barkley (que abriu o show com a festejada cover dos Violent Femmes, “Gone Daddy Gone”) tocando seu álbum de reggae dos anos 2000 (com direito a cover do Radiohead, “Reckoner”, do “In Rainbows”) e sanduíche de bacon com chouriço (aprovado) acompanhado de duas Jake and Coke. Quando cheguei no hotel, o relógio marcava quase sete da manhã, e eu precisava descansar, afinal este domingo é o grande dia do FIB 2008: na agenda Leonard Cohen e Morrissey. Segunda, correria: às 9h embarco de trem para Barcelona. Chego às 11h42 e saio correndo do vagão para comprar uma passagem de trem para o aeroporto (11h55), onde preciso estar até 12h35, horário final do check in do voo para Malága, na Andaluzia, onde tenho encontro marcado com Lou Reed às 21h. Torce por mim. Vai ser correria.
julho 20, 2008 No Comments
FIB 2008, Viernes
Almocei cerveja na sexta-feira, segundo dia do Festival Internacional de Benicàssim. Fui encontrar o pessoal do Alto Falante, que está em um hotel de frente para o mar – e para as europeias de topless – na própria Benicàssim (invejaaaaa), e quando cheguei eles tinham acabado de almoçar. Fomos para um bar ao lado que vendia cerveja (Heineken) a 1 euro. Chamei pelo garçom duas vezes, para pedir uma tortilla de jamon (omelete de presunto), e ele não veio, então tive que me contentar com a cerveja como almoço.
A primeira coisa que fiz ao entrar no FIB foi ir direto comer um taco numa barraquinha de comida mexicana. Facada: 10 euros, mas valeu, estava bem bom. E estou eu lá, no meio do prato, quando cola uma menina ao lado: “Você fala inglês ou espanhol?”. E eu: “Nem um nem outro, mas diga”. Ela: “Cara, estou com muita fome, você pode me dar um pouco da sua comida?”. O nome dela era Roxanne, era francesa e depois de duas garfadas – cujo sabor deu para perceber em seus olhos – se despediu: “Como se diz bon appetite em português?”
Já tinha acontecido algo assim no primeiro dia, antes mesmo de eu pegar a pulseira do festival. Do lado de fora, uma barraca vendia copos de cerveja de 1 litro por 6 euros. Com o sol a pino, decidi encarar. Uma inglesa colou em mim no balcão e desembestou a falar. E eu: “Calma, calma, devagar”. E ela: “Você é alemão? Fala inglês?”. E eu: “Mais ou menos”. E ela: “Legal, você me entende. Me empresta 2 euros para eu comprar um kebab?”. O atendente, espanhol, comentou: “Você devia ter dito que não sabia falar inglês”. (risos)
Roxanne, a francesa, estava ali para ver Pete Doherty. Os portões para o palco principal foram abertos quinze minutos antes do show, e assim que cheguei perto a vi colada na grade. É interessante observar o fascínio que esse moleque provoca em seu público. Ele preferiu trocar uma das bandas britânicas mais fodas do anos 00 pelo vício em drogas. Depois, deixou uma das modelos mais cool do mundo ir embora. Mas ele continua, chapéu enfiado na cabeça, batida na guitarra marca Mick Jones e pose blasé. Para a infelicidade dos detratores, Pete Doherty está bem vivo.
O show é correto no jeito Pete Doherty de ser: ele emenda uma canção na outra através de riffs clashianos preguiçosos que parecem que vão se desmanchar no ar, mas de repente embalam e revelam uma grande canção. Ao vivo, as músicas do fraquíssimo primeiro álbum crescem e empolgam e as poucas canções boas do segundo álbum, “Shotter’s Nation”, ficam de fora, com exceção da ótima “Delivery”. O show não dura nem 40 minutos, mas a banda sai ovacionada após uma versão incendiária de “Fuck Forever”, num daqueles momentos pra não se esquecer.
O New York Dolls vem na sequência abrindo, de cara, com “Looking For a Kiss” para incendiar a galera. O show, no entanto, é calcado muito mais no repertório do álbum de 2006, “One Day It Will Please Us to Remember Even This”, do que na dobradinha clássica “New York Dolls”/”Too Much Too Soon” (1973 e 1974, respectivamente). E não é só David Johansen que está igualzinho ao Mick Jagger: a própria banda escarra Rolling Stones por todos os poros. Bom show, e só.
Enquanto o Hot Chip abria a noite na tenda FiberFib, o público começava a dolorosa separação: uma parcela para o Vodafone Club que iria receber o Spiritualized e outra (maior) para o Escenário Verde, dito palco principal, que iria abrigar as loucuras guitarreiras de Kevin Shields e seu My Bloody Valentine. Apesar do jornal valenciano El Mundo definir o show do My Bloody como “os setenta minutos mais intensos dos 14 anos do FIB” (leia aqui), só consegui ver o número final, “Soon”, fodido, e um casal tapando os ouvidos criando uma cena divertidíssima.
Só vi o número final pois, enquanto Kevin Shields tocava seus clássicos do inferno, eu estava ajoelhado frente a Jason Pierce, que estava convertendo novas almas com seu Spiritualized. A espinha central do show são as canções do sensacional “Songs In Accident and Emergency” (traduzindo: “Canções de UTI”) que formam um núcleo de fazer o corpo levitar: “Soul On Fire”, “Sweet Talk” e “Sitting On Fire” são de chorar. Mas é com a versão arrepiante da clássica “Come Together” que Pierce faz um estrago violento no coração dos presentes. Daqueles momentos que você pensa: “Eu nunca mais vou ser o mesmo depois disso!”.
O show foi curto, quarenta minutos, mas serviu para me deixar completamente descoordenado. Sai da tenda Vodafone em estado de transe e embora a noite ainda prometesse com Róisín Murphy e Mika, o único destino após um show do Spiritualized é o céu, que para mim pôde ser transferido para um banho de três horas na banheira do hotel, tentando entender o que tinha acontecido. Assim, melhor não falar mais nada. Mesmo porque não tenho mais palavras. Foi foda. Basta.
O terceiro dia do FIB promete: tem o Ting Tings, José González, The Brian Jonestown Massacre, American Music Club, My Morning Jacket, The Kills, Tricky, Raconteurs e Gnarls Barkley às 3 da manhã. Vou ali pegar uma praia, beber alguns litros de cerveja e tentar comer uma paella, mas eu volto. Eu acho…
julho 19, 2008 No Comments
FIB 2008, Jueves
A XIV edição do Festival Internacional de Benicàsssim começou sob um sol escaldante às 19h da quinta-feira. Muita gente ainda chegava com dezenas de sacolas de comida, pilhas e pilhas de caixas de cerveja e barracas em direção ao acampamento. A praça central do balneário virou campo de guerra: ingleses nadavam no chafariz para fugirem do calor, alemãs comiam baguetes enormes e espanhóis observação a babel com interesse.
Primeira “decepção”: eu tinha pra mim que o festival acontecia na areia da praia, mas não, toda a estrutura é montada ao lado de uma estrada que separa o festival do mar. No entanto, a organização é de primeira. Ao contrário do Werchter e T In The Park, a maior parte da área ocupada é asfaltada, o que aumenta o calor, mas evita o lamaçal em caso de chuva (e choveu anteontem de manhã aqui).
Novamente, o shopping rocker junta tudo: tem barraca da Elephant Records vendendo o último CD do Júpiter Maca, as famosas sandálias havaianas, uma tenda convidando o público a assistir a um jogo beneficente entre artistas e jornalistas (será que o Cohen está escalado?), comida de diversas procedências e, claro, cerveja, aqui Heineken, patrocinadora do festival. O copo pequeno custa 2,50 euros. O de um litro sai por 7,50. Vou te dizer: é lindo!
Fui encontrado pela Carol e pela Renata (que não é a Honorato) no meio do show do Krakovia, que eu nem sei bem o que é, mas sei que é ruim pacas. No comecinho do show do Nada Surf encontrei a comitiva mineira do Alto Falante: James, Thiago e Terence. Atualizamos os papos de shows, trocamos infos sobre bandas novas que vão se apresentar no FIB e marcamos de nos encontrarmos na frente do hotel deles, de frente pra praia em Benicassim. Chato. Ah, claro, brindamos com copos de um litro de cerveja.
O show do Nada Surf (Honorato, você iria amar) foi uma entrega do vocalista e guitarrista Matthew Caws, que aumentou o volume do seu instrumento (mais comportado nos últimos álbuns) e falou em espanhol mais do que o próprio baixista da banda, que é espanhol. Power pop para as massas espanholas, que estava assistindo ao grupo pela quarta vez no festival, e sabia todas as cancoes de cor – mesmo as novas, do bom álbum “Lucky”. Show bonito e competente.
Na sequência, o Sigur Rós voltou a embalar sonhos roqueiros com uma apresentação tão irretocável que até a lua – absurdamente cheia – parou para assistir ao grupo. O show foi um repeteco daquele que assisti semanas atrás no Rock Werchter, na Bélgica, com a diferença de que o público belga era distante e contemplativo enquanto o espanhol “entra” mais no clima, canta (quando é possível cantar) e, mesmo após a canção terminada, continua fazendo coro com a melodia criando um momento de rara beleza. Seria comum se fosse uma banda comum, mas normal é um adjetivo que nao se encaixa ao Sigur Rós. Eles merecem mais.
Hora de se jogar na grama e tirar um cochilo comendo fritas (muito melhores que as da Bélgica) e se abastecer de coca-cola. Deu para ouvir, de longe, o Mates of State e encarar boa parte do show do Black Lips, grupo norte-americano que mistura o clima flower power com a crueza do punk e empolga ao vivo – principalmente nos rockabillys. O Battles abarrotou a tenda FIB Club e três da manha já era um bom horário para voltar ao hotel e se preparar para a maratona dos próximos dias em que os shows comecam as 17h30 e terminam às 07h45.
Hoje tem Babyshambles – se o Tim Maia britânico nao der cano em mais um festival, e eu tô bem afim de ver Pete Doherty ao vivo – New York Dolls, My Bloody Valentine e Spiritualized tocando no mesmo horário, Róisín Murphy, Hot Chip e Mika. Leonard Cohen toca às 20h do domingao, mas será um show de festival, com uma hora, e nao o show completo que a Juliana viu em Edinburgh na quarta-feira, e que fez ela chorar tanto a ponto da senhora velhinha que estava na cadeira ao lado lhe emprestar um lenco. Vou a praia, mas volto com fotos e histórias.
Ps. Aliás, quase voltei pra casa mais cedo. Acordei e fui para a estacao de trem sacar grana, e dois policiais civis me pararam e pediram o passaporte. Disse a eles que nao ando com o passaporte, para nao perde-lo e tal, e os caras pegaram meu RG, fizeram várias ligacoes, e me questionaram uns dez minutos. Me dispensaram uns 15 minutos depois com o aviso: “Você precisa andar com o passaporte para mostrar que está legal aqui na comunidade européia. Da próxima vez, levamos você para a comissaria e… Brasil”. Aceitei o conselho e fui pega-lo. Mas antes do Cohen e do Lou Reed eu nao volto!
julho 18, 2008 No Comments
Um litro de cerveja
Ok, estou bêbado. É bom dizer isso antes de escrever, assim vocês relevem qualquer erro ortográfico ou filosófico, ok. (hehe). Bem, estou em Benicassim, fervendo sob um sol de sei lá quantos graus. A viagem de Barcelona pra cá foi tranquilissima, com cerveja Mahou (uma das top 5 da viagem) e a costa da Espanha pela janela. Cheguei em Castellon, e eu tinha certeza que o hotel duas estrelas que reservei em cima da hora seria tosco, mas… grande engano.
Estou pagando, em média, 20 euros por noite em albergue. Este hotel em Castellon, cidade vizinha a Benicassim, está me custando 40 euros o dia, mas nada como chegar de doze dias em albergue e tomar um banho decente de uma hora em uma banheira. O hotel é fofo, mas é bem longe de Benicassim. Precisei tomar dois ônibus até chegar aqui, e foi um tempao. Minha preocupacao era pegar logo a pulseira do festival, e entao relaxar.
No caminho da entrada do FIB havia uma barraca vendendo cerveja, copos de 300 ml ou 1 litro. Optei pelo segundo, e se estou bêbado agora, nao foi só por essa opcao. É que, também, para estar escrevendo isso aqui, tive que esperar mais ou menos três horas. Nesse tempo, almocei (omelete de batatas e salada), bebi mais três Estrellas e tentei procurar uma amiga, que estava em alguma praia perto do festival, mas nem sequer na praia eu consegui chegar.
O FIB, hoje, comeca as 19h. Neste momento, 18h23. Nada Surf toca às 22h, Sigur Ros às 23h, Mates of State à 1h e… lembra aquela banda que eu tinha dito umas semanas atrás que estava pronta pra sair da sombra do White Stripes… Black Keys às 2 da manha (bêbado é uma m****! Nao era o Black Keys e sim o Black Lips). Ainda tem Battles às 3h e o festival segue até as 6h. O que me deixou puto, no entanto, foi o fato de colocarem My Bloody Valentine e Spiritualized no MESMO HORÁRIO. Tremenda sacanagem. ://// Bem, vou lá beber mais algo. Descobri uma internet do lado do hotel em Castellon, entao deve rolar atualizacao. Só depende da minha ressaca… a gente se vê.
julho 17, 2008 No Comments
Bye, bye, Barcelona
Eu sei, é de partir o coracao, mas está chegando a hora de ir (“venho aqui me despedir e dizer que o meu coracao vou deixar nao ligue se acaso eu chorar, mas agora, adeus”… ahhh, o Rei Roberto). Bem, amanha de manha acordo e vou para a estacao Barcelona Sans para pegar um trem em direcao a Castellon, onde na praia vizinha, Benicassim, acontece o badalado Fiber nos próximos quatro dias. Este último dia útil em Barcelona foi o mais calmo e mais gostoso de toda a viagem, com cara de férias mesmo, e banco de praca, sorvete e caminhada de chinelo.
Acordei cedo para ir conhecer a Casa Milà, de Gaudi, popularmente chamada de La Pedrera, que fica aqui ao lado do hostel. Era para eu ser um dos primeiros a entrar, mas eis que chega junto comigo uma excursao de escola. Pô, bem legal levarem os estudantes franceses para conhecer Gaudi, mas tinha que ser no meu horário (risos). A Casa Milà è… putz, sem palavras. Meu queixo caiu várias vezes. Gaudi a construiu entre 1906 e 1910, e só um louco poderia construir uma casa bizarra dessas naquele tempo… e deslumbrante.
Na verdade, a Casa Milà eram vários apartamentos e hoje em dia é um centro cultural que abriga histórias das obras do arquiteto e o visual sensacional da casa. E, ainda, tem o “jardim” mais descolado de todos os tempos, no terraco, que você pode ter visto em “Profissao: Repórter¨, do Antonioni (valeu, meu querido Carlos Freitas), mas que nem mil fotos vao impedir que você deixe o queixo estatelado no chao. Bati muuuitas fotos. Esta, com o casal sentado sobre um dos arcos do terraco olhando a Sagrada Familia, demorou um tempo. Eu queria bater só dos arcos e da igreja, mas o casal sentou ali… (risos)
Na seqüência fui encarar o Parque Güell, que Gaudi fez entre 1910 e 1914, a pedido do dono da propriedade, Eusebi Güell. Conta a história que o resultado final do parque ficou muito aquém do ambicioso projeto original, mas olha, se ficou aquém, meu deus, o que deveria ser o projeto original! O Parque é uma pequena obra de arte. Assim que desci na estacao de metrô, e fui olhar o mapa, uma senhora perguntou: “Parque Güell? Siga reto”. Fomos conversando até o fim da escada rolante, quando ela disse que eu amaria o parque. “Me gusta mucho”, ela disse antes de ir.
Caminhei por horas pelo parque, deslumbrado com todos os seus detalhes, e lamentando nao estar com Lili para fazermos um piquinique (fica para o ano que vem). Subi e desci mais de 500 degraus (quando parei de contar), bati uma centena de fotos (mas fiz uma selecao para o flickr) e fiquei pensando o quao genial era esse homem, que fazia coisas realmente diferentes e inovadoras. É completamente chapante, completamente. Andei tanto que acabei com um tênis leve que eu tinha comprado em Parati, meses atrás, e que nao devia esperar tanto trabalho.
Voltei pro hostel de havaianas genéricas, tomei um banho e fui cortar as unhas na praca. E por lá fiquei sentado observando o movimento, descansando as pernas, acalmando a mente e sentindo o cheiro da cidade. Depois sai, olhei a Casa Battló, fui tomar um sorvete na sorveteria que fica embaixo da Casa Milà, e fiquei pensando no quanto essa cidade é encantadora. No hostel, novamente, arrumei as malas e deixei tudo pronto para amanha de manha acordar e partir, mas precisava registrar esse adeus. Nao sei como vao ser as coisas em Benicassim, mas se houver uma internet por perto (o que tem acontecido bastante nessa viagem), apareco para falar dos shows, ok.
Fotos da viagem e dos shows: http://www.flickr.com/photos/maccosta
julho 17, 2008 No Comments
“Medio millón de almas en marcha”
O titulo do post foi a manchete de capa do jornal Publico, de Barcelona, ontem, que ainda dizia: “Mas de 500.000 personas asistiran a un concierto en nuestro pais desde hoy hasta el domingo, en medio de la guerra de festivales por conseguir mas publico”. O bafafa todo eh devido ao classico do fim de semana: Barcelona x Benicassim.
Em Barcelona acontece nos dias 18 e 19 de julho a segunda edicao do Summercase, cujo principal nome do line-up sao os Sex Pistols (que, acreditem, estará tocando pela primeira vez na Espanha!). Mas segura o resto: Blondie, Grinderman, Interpol, Maximo Park, Primal Scream, The Verve, Ian Brown, Sons and Daughters, Breeders, Kaiser Chiefs, Mogwai (tocando o “Young Team” inteirinho), CSS, Kooks, Raveonettes, Mystery Jets, 2Many Djs e, ufa, muito mais.
Em Benicassim, voce já sabe (hehe), acontece do dia 17 ao dia 20 mais uma edicao do Fiber que destaca Leonard Cohen, Morrissey, My Bloody Valentine, Babyshambles, Mika, Siouxsie, The Raconteurs, Death Cab For Cutie, American Music Club, José González, The New Pornographers, Spiritualized, Vive La Fête, Justice, The National , Sigur Ros, The Kills, Gnarls Barkley, Róisin Murphy, The Brian Jonestown Massacre e, ulala, Nada Surf, entre outros. De quebra, no fim de semana tem Bruce Springsteen com sua E. Street Band dia 17 em Madri e 19/20 em Barcelona.
Existe público para tantos shows? Essa é a pergunta que o jornal propoe, e embora a pauta esteja fraca (falta o básico: comparacao e informacao de line-ups), uma boa frase me saltou aos olhos:
“Como la venta de CDs sigue bajando, hay quién defiende que lo que antes se gastaba en discos, ahora se invierte en conciertos. Una teoría más razonable apunta a la accesibilidad de la música. La llegada de Internet y las nuevas tecnologías ha provocado que el público llegue a las canciones más fácilmente y, en especial gracias a las redes P2P, de forma gratuita. Ético o no, legal o ilegal, la realidad es que hoy en día, cuando se vende menos música que nunca, se escucha más música que nunca y se va a más conciertos.” por Jesus Miguel Marcos (leia mais aqui).
Quatro futuros jornalistas me procuraram dias antes da viagem para pequenas entrevistas para seus projetos de conclusao de curso que sempre resvalavam no assunto MP3, música na internet, redes P2P, direitos autorais e o escambau. Acho que essa frase negritada do páragrafo acima é perfeita para simbolizar que a queda nas vendas nao significa a morte da música, e sim o momento agonizante da indústria. A indústria nao é a música, isso precisa ser dito. Meio milhao de pessoas nao marcham de bobeira, pode ter certeza. Mas vamos lá, diz ae: em qual dos dois festivais você iria?
julho 16, 2008 No Comments
Antoni Gaudi, Tom Waits e Barri Gotic
Andei, andei, andei. E andei. Andei pra cacete ontem. Assim que cheguei em Barcelona, na segunda, comprei um passe de metro/tram para tres dias (algo que compensa muito em qualquer grande cidade europeia). Acordei ontem, e fui pra estacao Diagonal pegar o metro pra estacao Sagrada Familia. Pro meu “azar”, a estacao Diagonal esta em obras, e algumas conexoes estao fora de servico temporariamente. Olhei no mapa, achei perto, e fui caminhando. Meus joelhos estao um caco, mas valeu a pena.
Valeu a pena pois a Sagrada Familia eh… deslumbrante. Na verdade, eh muito dificil achar um adjetivo para descreve-la. Mesmo deslumbrante eh pouco. Seria como a coisa mais foda que eu ja vi na minha vida, ou algo assim. Imagina: a igreja ainda nem esta terminada e ainda assim atrai 1 milhao de visitantes por ano! O arquiteto Antoni Gaudi assumiu o projeto em 1883 e dedicou-se a ele nos 40 anos seguintes (chegando ate a morar dentro do canteiro de obras). Ele morreu em 1926, tres dias apos ser atropelado perto da igreja, 43 anos apos ter assumido o projeto. E la se vao 125 anos.
Otimistas acreditam que a igreja estara terminada em 2030. Outros apontam para 2080. Eh fascinante demais imaginar quantas pessoas se dedicaram a obra e nao vao ve-la finalizada. Mesmo em construcao, no entanto, a igreja pode ser visitada. Ha um museu no subsolo que conta a historia de Gaudi (cujo corpo esta em uma cripta, ali mesmo), o visitante pode admirar a obra em construcao e, ainda, subir aos campanarios ja prontos. A escadinha eh sinistra, mas a visao dos detalhes da igreja e de Barcelona valem o susto. A Sagrada Familia eh para a arquitetura o que o “Smile”, dos Beach Boys, eh pra musica pop. Coisas de genios.
Dali fui para a Vila Olimpica (namorar uma arquiteta rende passeios assim) e, em seguida, para o Barri Gotic, um bairro que um dia foi um vilarejo romano, e cujas ruas estreitas sao completamente apaixonantes. O guia sobre a cidade que estou acompanhando apontava varios lugares bacanas no bairro, mas pedia para andar a esmo, deixando-se levar pelas ruas estreitas e por sua beleza. Nao pensei duas vezes: comprei uma San Miguel (cerveja espanhola, de Alicante) e segui caminho. Cinco cervejas depois eu ja estava amando o lugar. (risos)
Decidi comer por ali, e gastar um pouco mais (ja fazia mais de tres dias desde o bom almoco em Glasgow) e escolhi a Plaza Real para desfrutar um filet iberic amb salsa de pebre verd acompanhado de arroz, salada e um copo de vinho. No fim das contas, nem saiu tao caro. O menu do dia estava por 8,75 euros. A conta ficou em 16 euros (aproximadamente R$ 42). Voltei a caminhar feliz pelo lugar e, quando ja estava anoitecendo, passei no hostel, tomei um banho rapido (fez 35 graus o dia todo em Barcelona – o sol se foi as 21h) e fui tentar encontrar com Tom Waits. Mas…
Bem, Tom Waits iria fazer dois shows em Barcelona, no enorme Forum, capacidade para 2200 pessoas. Os ingressos estavam entre R$ 290 (o mais barato) e R$ 350 (o mais caro). Pra mim, nunca iria esgotar. Cheguei a tentar, ao menos tres vezes, comprar os ingressos ainda no Brasil, mas nao rolou. Ontem, apos ter saido da Sagrada Familia, foi ao Forum, mas a bilheteria soh iria abrir as 17h. Quando cheguei, as 21h, ja estava sold out. Sabe que deu um alivio? Pagar R$ 300 em um show eh muuuuuito dinheiro, e em economia de viagem, seria uma extravagancia e tanto.
Na parte da tarde, no Barri Gotic, passei em umas lojinhas bacanas de CDs da Calle Tallers. Namorei uma caixa das Supremes com quatro CDs que estava com 20% de desconto sobre os 34 euros da capa (e vamos combinar, R$ 18 eh um grande desconto), mas acabei levando pelo mesmo preco um box com seis CDs que flagram as BBC Sessions completas do Wedding Present, mais um Cinerama (“BBC Sessions”), um Black Box Recorder (“The Facts of Life”), uma coletanea dupla de raridades do Superchunk e um EP de covers do Los Lobos, e tudo isso saiu por 4o euros (pouco mais de R$ 100), e eu iria pagar 125 euros no show… foda.
Lembro que paguei R$ 250 para ver o Dylan, e olha que eu e Lili precisamos debater muito se valeria a pena. Sei que teria valido a pena ter visto o Tom Waits, e ainda vou tentar ve-lo em Dublin, dia 31 de julho, quando terei uma ideia da situacao catastrofica da minha conta bancaria, mas ontem soh me restou pegar uma Estrella (cerveja de Barcelona, bem boa) na porta do show (em que nao haviam cambistas, ja que a Teleentrada vendeu os ingressos por telefone e os mesmos eram nominais) e partir, novamente, para a Sagrada Familia, e jantar um sanduiche baratinho de bacon com queijo admirando a obra de Gaudi.
Hoje o roteiro eh totalmente Gaudi: vou a Pedrera e ao Parc Guell. Acordei cedo e fui para a Barcelona Sans, estacao central de trens, para tentar simular a confusao que sera a volta de Benicassim na segunda. Meu trem esta marcado para chegar em Barcelona as 11h49. Tenho que sair do vagao correndo, comprar a passagem para o trem para o aeroporto, e voltar correndo para pega-lo as 11h55. Se perde-lo, vou morrer com uns 30 euros de taxi, pois meu horario limite para embarcar para Malaga eh 12h45, no aeroporto. Dedos cruzados ae.
Fotos da viagem e dos shows: http://www.flickr.com/photos/maccosta
julho 16, 2008 No Comments