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Category — Europa 2008

Onde comprar CDs na Europa

Título extremamente pretensioso, mas tudo bem. O fato é que assim que voltei pra terrinha, dois amigos me escreveram pedindo dicas de lojas de CDs em Londres. Escrevi para um, dei um “control c control v” para o outro e tudo lindo. Hoje, outro amigo pediu dicas, e já está na hora de socializar essas informações. Ainda mais porque você vai ler e perceber que eu deixei de fora aquela loja sensacional que só você conhece, e que dá próxima vez eu irei (risos). Ou seja, é mais para compilar infos mesmo. Seguem dicas de Londres, Paris, Barcelona, Glasgow, Atenas, Bruxelas, Luxemburgo e Berlim.

Em Paris tem a FNAC (em todos os cantos da cidade) e a Virgin, ambas na Champs Élysées. Bons preços, mas só compra o que estiver na promo! Eles costumam fazer uma promo de CDs por 7 euros, quatro por 20, mas só pra quem tem carteirinha da FNAC ou da Virgin. Mesmo assim, 7 euros compensa muito (comprei Jam, três Sigur Ros diferentes, os três boxes com três CDs cada – com preço de um – do Django Reinhardt mais uns Cohen e Lou Reed que me faltavam). Assim, tudo que não for lançamento geralmente tem um preço bem bom. Quer duas lojinhas bacana em Paris? Vá a Paralleles no número 47 da Saint-Honore (do ladinho do Forum Les Halles) ou na Rue de la Montagne-Sainte-Geneviève, 64 (abaixo do Pantheon), na Crocodisc. Excelentes e com vasto material em CDs e vinis.

Em Londres tem: as megastore e as lojinhas de usados (que não achei em Paris). Nas megas, mesma coisa: bons preços, com a vantagem que em Londres não tem essa de carteirinha de associado, então aproveita as promos de dois CDs por 10 pounds (às vezes quatro). Tem muuuuuita coisa foda. Os lançamentos são caríssimos, então esquece. Muitas coisas do ano passado e de catálogo já estão nas promos de dois por 10 pounds, quando não em uma parte que vai de 3 pounds (como o Secret Machines) até 10 pounds (uma edição especial do último do Snow Patrol). São duas as megas: HMV e Fopp.

A HMV é fácil de achar: está na Oxford Street, principal rua de compras de Londres. Faz pesquisa. Tem coisas que você vê por 15 pounds em uma que está na promo de dois CDs por 10 pounds na Fopp, que fica em Covent Garden e é sensacional. Fica na 1 Earlham Street. Estando perto do metro é mole achar. Aliás, tem a Rough Trade, que merece uma visita (embora eu tenha achado os preços salgados). Fica no 91 da Brick Lane.

Já as lojinhas existem em três pontos distintos: na Berwick Street no Soho (a rua da capa do disco do Oasis), que na verdade é uma travessa da Oxford Street. Tem duas lojas fodas nessa rua: a Sister Ray (número 34/35), que não tem usados, mas tem coisas ótimas em ótimos preços (comprei o Rated R, do Queens, edição dupla, por 7 pounds e o novo da Cat Power, edição dupla em capinha de vinil, por 9 pounds) e a MVE (95), loja de usados que você irá deixar seu salário (risos). Eles expõe apenas a capa do álbum em envelopes. Você separa o que quer e leva no balcão. Os preços seguem uma rotina semanal: eles vão abaixando toda semana se não vender. Então, o que vale é sempre o último preço. Tem CD que chegou lá por 10 pounds que eu peguei por 4. Fica no final da rua.

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Além dela tem as lojinhas de usados da avenida Notting Hill. Você desce no metro Notting Hill Gate, e sai na própria Notting Hill Gate. Vai no número 38 (acho), que é a Rock and Pop. Passa direto pelo térreo e segue para o porão. Meu amigo, lá você vai passar mal. Coisas de 1, 2 pounds. CDs ótimos! Revire o lugar (a parede principalmente) e só depois suba para o térreo, onde você ainda vai encontrar muita coisa boa. No número 42 tem a Soul and Dance, mais focada em jazz, electro, eletrônico e vinis. Entra só por curiosidade. Você vai acabar levando algo. O terceiro lugar é Camden Town, que eu não fui por absoluto medo de gastar muito. O pessoal do Alto Falante pirou lá!

Em Glasgow existem filiais da HMV e da Fopp nas avenidas principais, mas a loja mais bacana da cidade é a Avalanche Records (que também tem uma filial em Edinburgh). Em Glasgow ela fica na Dundas Street, número 34 (foto acima). Achei por acaso, andando para descobrir onde ficava a estação central de ônibus. É uma lojinha especial, daquelas para se revirar toda e encontrar preciosidades.

Em Barcelona, a grande rua se chama Calle Tallers, e começa exatamente nas badaladas Ramblas. São várias lojinhas de CDs umas grudadas nas outras (cinco ou seis). Entre na Revolver Records (número 11) e na Castelló (número 7). Além de muitas coisas em bom preço, eles também tem bootlegs excelentes em áudio (comprei um do R.E.M. tour 2008) e vídeo. Só do Bruce Springsteen tinha uns 15 DVDs não oficiais extremamente caprichados (com shows de 1975 até este ano). Fiquei com medo e pulei Beatles e Rolling Stones na prateleira. Era muuuita coisa. Em Atenas vale conferir a Zacharias (ou Zaxapiae), paraiso de usados e bootlegs no número 20 da Ifestou (ou Ifaistiou). Melhor: desce no metrô Monastiraki, entra na praça e vá com fé no Athens Flea Market (foto da entrada aqui). É por ali.

Na Escandinávia, por mais que a moeda diferente assuste, vale muito conferir duas muito interessantes: em Oslo, a Rakk & Ralls (Rock & Roll) reúne vinis e CDs usados e novos em Oslo e merece o título de Amoeba norueguesa. De compactos de época dos Beatles, Stones, Clash e Sex Pistols, a boxes e CDs raros novos, a loja (que oferta bons preços) pode falir economias claudicantes. Espetacular. Já em Estocolmo, não deixe, mas não deixe mesmo de passar na Pet Sounds, no  distrito de Södermalm. Vinis e CDs, usados e novos. Sensacional.

Já a lojinha bacana de Berlim fica no número 77 da Warschauer Strasse (mesmo metrô) e se chama Warschauer Music Store. Lá tinha umas dez versões de bootlegs do Joy Division (comprei a edição alemã dupla do “Era Vulgaris”, do Queens, mais um bootleg do Radiohead tour 2008). E tem uma loja de livros e CDs perto da Alexander Platz que é meio saldão que quase me levou a falência. Quando vi, estava com dez boxes de CDs nas mãos. Trouxe só quatro, mas volto um dia para pegar os outros seis.

E, imperdível na capital alemã, tem a sensacional Cover Music, no número 11 da Kurfürstendamm, na praça do Europa Center, metrô Zoologischer Garten (impossível não vê-la com seu toldo amarelo cobrindo boa parte da praça). Foi ali que achei o raríssimo vinil “On Strike”, do Echo and The Bunnymen. Muita coisa de vinil e CDs com preços ótimos. Por fim, uma lojinha bacana em Bruxelas: Arlequin. São dois endereços: Rue du chêne 7 e Rue de l’Athénée, 7-8.  O primeiro fica a cinco minutos a pé da Grote Markt, a histórica grande praça da cidade. Foi a que passei e vale conhecer. Na cidade de Luxemburgo tem a CD Buttek From Palais, Rue do Marche Aux Herbes, 16, simplesmente excelente.  Boa sorte.

Leia também:
– Sebos e lojas bacanas de CDs e DVDs em SP (aqui)
– Alta Fidelidade (aqui)
– Comprando vinis com Robert Crumb (aqui)
– Onde comprar CDs em Buenos Aires (aqui)
– Lojas bacanas de CDs e vinis em Nova York e Chicago (aqui)
– Sete lojas de CDs e vinis na Europa (aqui)

agosto 11, 2008   No Comments

Resumão de idéias confusas

 Não sei, mas acho que esse post tem tudo para ser enorme. Sinta-se desobrigado de ler tudo, e perdoe a confusão de idéias que devo tentar transformar em palavras, mas meu coração, neste momento, arde em chamas. Foi absurdamente inebriante fazer essa viagem. É impossível não falar o óbvio, e eu tenho que me juntar ao coro dos contentes: a Europa é… foda. Foda, foda, foda.

Ok, você já sabia disso, né. Eu também, mas a coisa toda é de uma proporção que eu não imaginava ser. Nos meus planos pessoais sempre me imaginei morando fora do Brasil em um certo período da minha vida, e após passar 40 dias vivendo um choque cultural – que mais aproxima do que afasta – a vontade é juntar as coisas e se mandar. Sério.

Nada contra o Brasil. Eu amo esse país com todas as forças que tenho. Lembro sempre do tempo em que servi o exército, companhia de infantaria, pelotão de metralhadoras, no Batalhão de Aviação do Exército, em Taubaté. Cantávamos o hino nacional todos os dias de manhã, e todos os dias de manhã eu me pegava cantando arrepiado. Um ano, um mês e quatro dias assim.

Sempre lembro, também, de uma velha entrevista da Legião na Bizz. A repórter abre perguntando: “Que Pais é Este?”. O Bonfá, afoito, diz: “É um país jóia, maravilhoso, as pessoas são legais pra cacete, não saio daqui por nada. Putz, as pessoas falam a mesma língua que eu”.  O Renato, sempre ele, corta: “Não sei. Às vezes fico achando que as pessoas falam uma outra língua que não a minha”.

Essas realidades são bem palpáveis. Tenho muitos amigos no Brasil, minha família é daqui. Nasci em São Paulo, a alguns poucos quilômetros de onde moro. Fui registrado em um cartório na rua Augusta (que se mudou para a Frei Caneca), pertinho daqui, mas muitas vezes sinto que não entendo o que acontece com essa cidade, com esse país.

Ian McCulloch, quando perguntei sobre o que ele achava do Brasil, respondeu: “Acho que gosto das pessoas daqui porque elas sempre estão felizes, apesar de todos os problemas. É bem diferente do que acontece na Inglaterra”. Sinceramente, não sei se isso é bom ou ruim. Temos o dom da felicidade, e parece que por isso não lutamos por um mundo melhor. Já somos felizes.

Somos felizes apesar de todos os problemas. Apesar das milhares de pessoas dormindo ao relento e passando fome na rua. Apesar do clima tenso de possíveis assaltos a qualquer momento, em qualquer lugar. Apesar dos políticos que elegemos sabendo que eles vão nos roubar sem nos dar, em troca, o mínimo: a esperança de um país melhor.

Vivemos uma condição terceiro-mundista que marca forte na pele – como ferro em brasa – quando você está no exterior. E não é que não haja mendigos, assaltos e políticos corruptos na Espanha, na França ou na Inglaterra. Existem, claro. Como diria um amigo, gente de má índole nasce em qualquer lugar do mundo, não é privilégio nosso.

Também não é que eles sejam melhores que nós. Não são. Há, apenas, um acesso maior aos bens de primeira necessidade: educação, saúde e segurança. Apenas. E é um “apenas” que faz toda a diferença, caros amigos. O choque cultural é imenso, mas no mínimo do mínimo do mínimo, o que faz a diferença são os bens de primeira necessidade.

Em termos culturais, o Brasil é uma ilha. Na minha inocência, eu acreditava que a internet havia nos aproximado do velho mundo, mas não. Continuamos na América do Sul, praticamente inacessíveis a shows de pequeno e/ou grande porte (os que chegam aqui são os médios) sonhando o dia em que o Radiohead fará apenas uma apresentação aqui, num país de 8.514.876.599 km².

O mais engraçado é que passamos uma imagem – inspirada logicamente pelo carnaval – de sermos pessoas liberais, mas estranhamos o top less (nas praias espanholas, nas margens do Sena) e o mictórios ao ar livre e ao lado do palco nos grandes festivais. Aliás, grandes festivais na Europa são sinônimos de sujeira. Existem lixeiras, mas todo mundo joga tudo no chão. Assusta.

Mesmo assim, os museus sensacionais, a história escrita em cada rua, praça e avenida, e as cidades encantadoras com sua beleza antiga ganham o coração da gente de uma forma que eu não imaginava ser possível. São o tipo de coisa que a gente conhece de livros, revistas e fotos, e que não deviam impressionar, mas impressionam, e muito.

É difícil falar das diferenças, do que encanta tanto que faz a gente não querer voltar para a terrinha. Eu me devia essa viagem desde os 29 anos, quando voltei para São Paulo após um longo exílio em Taubaté. O certo teria ter ido aos 19, mas parecia um sonho grande demais e impossível para um filho de classe média baixa. Na verdade, acredito agora que fui na hora certa, e vou voltar.

Uma viagem dessas pressupõe grandes amizades pelo caminho, e agradeço ao Carlos que me apresentou ao Werchter e me ambientou muito bem com bons papos e cervejas na chegada a Europa; à Odile que me abrigou em Leuven e nos recebeu – a mim e o Carlos – com um jantar caprichado; à comitiva recifense (Augusto, Sandro e Rafael) que rendeu boas risadas em Leuven e Bruxelas.

Ao Pepe, companheiro de cervejas alemãs e do show do Radiohead em Berlim; à Ju e a Re que conseguiram o impossível: fizeram de Glasgow um lugar legal; à Carol, Renata e ao pessoal do Alto Falante (James, Machado, Thiago) pelo excelente astral em Benicassim; e ao Daniel, Beth, Luciana e Samuel (e a Coco) por fazerem eu me sentir em casa em Londres.

À você que leu, comentou, deu dicas oportunas e fez com que eu me animasse em escrever esse “diário de viagem maluco” contando as aventuras em cada uma das cidades que passei: Leuven, Bruxelas, Berlim, Glasgow, Bournemouth, Barcelona, Benicassim, Málaga, Madri, Paris e Londres. E, claro, a Leonard Cohen, Lou Reed, Thom Yorke, Michael Stipe, Jason Pierce, Neil Young, Nick Cave e Morrissey, por tudo.

Ainda vou fazer um ranking detalhado do top 10 das cervejas, e segue abaixo um top 30 de shows e um top 10 de cidades, discos comprados e lugares, ok.

Distâncias aproximadas da viagem
São Paulo para Madrid – 8137km
Madrid para Bruxelas – 1572km
Bruxelas para Berlim – 766km
Berlim para Glasgow – 1759km
Glasgow para Bournemouth – 732km
Bournemouth para Barcelona – 1654km
Barcelona para Benicassim – 265km
Benicassim para Malaga – 746km
Malaga para Madri – 535km
Madri para Paris – 1271km
Paris para Londres – 456km
Londres para Madri – 1071km
Madri para São Paulo – 8137km

Dez Cidades
01- Paris (França)  (foto)
02- Barcelona (Espanha)  (foto)
03- Londres (Inglaterra)  (foto)
04- Leuven (Bélgica)  (foto)
05- Berlim (Alemanha)  (foto)
06- Málaga (Espanha)  (foto)
07- Madri (Espanha)  (foto)
08- Bruxelas (Bélgica)  (foto)
09- Bournemouth (Inglaterra)
10- Glasgow (Escócia)  (foto

Dez Lugares
A Casa Milá, em Barcelona (foto)
A margem do Sena e a Torre Eiffel brilhando, em Paris (foto)
A margem do Tamisa, em Londres (foto)
O Palácio Real, em Madri (foto)
A Grande Praça, em Bruxelas (foto)
A Unter den Linder, em Berlim (foto)
A Abadia de Westminster, em Londres (foto)
A Prefeitura Gótica, em Leuven  (foto)
A Catedral, em Glasgow (foto)
O Museu do Louvre, em Paris (foto)

Dez CDs comprados
– Live At Royal Albert Hall 2008, R.E.M. (mais)
– Secret Rainbows, Live in London 2008, Radiohead
– Live in San Francisco 1978, Neil Young and Crazy Horse (mais)
– The Vogue Years, Francoise Hardy (mais)
– Here Comes That Weird Chill, Mark Lanegan (mais)
– Era Vulgaris Tour Edition, Queens of The Stone Age (mais)
– His ‘n’ Hers Deluxe Edition, Pulp (mais)
– Collection Vol 1, 2 e 3, Django Reinhardt
– The Complete Pell Sessions, Wedding Present (mais)
– Volume I, Billy Bragg (mais)

Ps. Beeem mais baratos que esses preços da Amazon….

Trinta Shows
01- Leonard Cohen (Benicàssim)  (foto)
02- Lou Reed (Málaga)  (foto)
03- Radiohead (Berlim)  (foto)
04- Morrissey (Benicàssim)  (foto)
05- R.E.M. (T In The Park)  (foto)
06- Pogues (T In The Park)  (foto)
07- Sigur Ros (Benicàssim)  (foto)
08- Neil Young (Werchter)  (foto)
09- The National (Werchter)  (foto)
10- Spiritualized (Benicasim)  (foto)
11- Grinderman (Werchter)  (foto)
12- Vampire Weekend (Werchter)  (foto)
13- American Music Club (Benicàssim)  (foto)
14- Raconteurs (Benicàssim)  (foto)
15- The Hives (Werchter)  (foto)
16- Babyshambles (Benicàssim)  (foto)
17- British Sea Power (T In The Park)  (foto)
18- Richard Hawley (Benicàssim)  (foto)
19- Sons and Daughters (T In The Park)   (foto)
20- The Ting Tings (Benicassim)  (foto)
21- The Verve (Werchter)  (foto)
22- Gossip (Werchter)  (foto)
23- Nada Surf (Benicàssim)  (foto)
24- Ben Folds (Wertcher)  (foto)
25- José González (Benicassim)  (foto)
26- The Kills (Benicàssim)  (foto)
27- Echo and The Bunnymen (T In The Park)  (foto)
28- Interpol (T In The Park)  (foto)
29- The Subways (T In The Park)  (foto)
30- Kaiser Chiefs (Werchter)  (foto)

agosto 10, 2008   No Comments

Em São Paulo

Bem, cheguei. Na verdade, cheguei ontem, mas sacumé, destruído após ter cochilado alguns minutos depois da balada em Londres, ido para a estação de trem às 4h30, embarcado para Madri às 7h e, depois, de lá para São Paulo às 11h encarando exatas 11 horas de vôo. Coloquei os pés em casa com Lili (ela foi me buscar no aeroporto) ali pelas 20h, e depois de desfazer as malas, desmaiei (imagina que sao 5h de diferença de fuso, então 20h em São Paulo era 1h da manhã em Madri).

Agora, com as roupas sujas todas no varal, os CDs comprados na viagem devidamente organizados (deu quase 100, mas tenta adivinhar quais pela foto acima), e uma sopa quentinha esperando Lili chegar do trabalho, apareço para dar um oi e dizer que ainda estou pensando no balanço da viagem. É preciso tomar cuidado nessa hora. A ressaca pós-viagem é brava, e a vontade é voltar pra lá logo, mas segunda às 8h retorno ao batente na capa do iG, mas tenho alguns pensamentos para dividir com vocês.

Preciso ver o novo filme do Batman, ver Wall-E, rever “Antes do Por-do-Sol”, namorar a Lili e respirar São Paulo, matar saudade dessa maldita poluição que faz meu sangue ferver de saudade, pensar com calma em tudo o que aconteceu e me preparar para voltar ao trabalho. Tem um balanção dos shows, das melhores cervejas da viagem, uma lista de agradecimentos aos amigos e um olhar bastante particular sobre as cidades que passei. Estou aqui, mas já volto. Me espera, please.

agosto 8, 2008   No Comments

Descalço na Abbey Road

Bem, acabo de chegar do meu ultimo ato turístico desta viagem de 38 dias pela Europa: atravessei, descalço, a Abbey Road, pisando com calma naquela faixa de pedestres imortalizada na capa do penúltimo disco dos Beatles, de 1969. O Fabio tirou esse print acima, da câmera do site do estúdio, que flagra 24 horas 7 dias por semana, todos os fãs do quarteto de Liverpool que chegam para fazer essa pequena travessia. Brasileiros, mexicanos, ingleses, franceses, chineses e até um grupo de argentinos marcaram presença no local enquanto eu estava lá.

Aliás, cheguei bem mais cedo do que planejava. Cabulei a visita a Candem (James, se eu fosse lá, iria gastar o dinheiro que eu já não mais tenho – risos) e fui direto descobrir onde ficava o tal estúdio, já que perdi meu mapa no fim de semana, e o guia não falava nada do local, só mostrava uma ruazinha no mapa da capa, perto de uma estação de trem, que descobri (na pratica) ser longe pacas. Peguei um ônibus que me deixou na porta do estúdio para seguir o ritual: cravar o nome no muro e atravessar a rua.

A Abbey Road é uma esquina, sem sinal. Existem avisos antes e depois de chegar nela (aproximadamente 200 metros) apontando ser uma área “turística”, mas mesmo assim os carros passam chutados. Ou então, param no exato momento em que você se aproxima da esquina, como dizendo: “Pode atravessar”. Só que ninguém quer atravessar e posar para a fotografia com carros na faixa de pedestre, não é mesmo. Eu nem liguei, fui assim mesmo, e a foto ficou distante pois a menina não entendeu o que tentei explicar sobre o zoom.

No entanto, posso dizer que dá um friozinho na barriga, sabe. Nem é só por causa da banda, mas sim pelo valor que essa banda tem na vida das pessoas. Foram centenas de pessoas que apareceram ali para atravessar a rua num dia qualquer do meio da semana do mês de agosto. É loucura demais imaginar o que os Beatles representam, assim como é legal demais saber que a banda fez por merecer isso. Tirei algumas fotos para casais que queriam atravessar juntos, e pontualmente as 16h fiz a minha travessia oficial. Agora é ir pra galera.

Ainda tem balada de noite antes do voo para Madri, e do voo seguinte para São Paulo, mas essa viagem esta praticamente encerrada. Ainda volto aqui para um balanção (sim, Argentino, há um ranking das cervejas, espera que vamos bebe-las em São Paulo), os devidos agradecimentos (tem muita gente bacana que fez essa viagem mais especial do que ela já seria) e para a sequencia normal do blog, dia a dia, aquelas ladainhas de sempre que vocês já conhecem tão bem. Eu sei, eu também vou ficar com saudades dessa viagem. Mas a vida segue e a gente precisa batalhar para as próximas férias serem tão especiais quanto esta. Dedos cruzados.

Roteiro de viagem 2008

agosto 6, 2008   No Comments

Ruby Tuesday

No dia 02 de setembro de 1666, um pequeno incendio iniciado em uma padaria causou uma das maiores calamidades da historia de Londres, devastando mais de 13 mil casas num terreno de aproximadamente dois mil quilometros quadrados. Uma nova Londres surgiu apos o incendio, reconstruida. O Olde Cheshire Cheese, pub em que festejei meu aniversario com pint de cerveja, bolo de chocolate e velinha de isqueiro, foi um dos predios reconstruidos em 1667. Fica numa travessinha da Rua Fleet, aquela mesma do barbeiro…

Vou te dizer, mas voce ja sabe: Londres eh algo incrivel. O Daniel estava contando que o irmao de Beth, mulher dele, viu o Nirvana no Reading de 1992. E a mae dela viu os Beatles, ao vivo. E nao foi uma vez soh nao: seis!!!! Ele ainda estava falando que numa ruazinha de instrumentos musicais que passamos numa madrugada, uma das lojas abrigava o estudio em que os Stones gravaram todos os seus primeiros singles. E existe um passeio, macabro, que leva voce por todos os pontos em que Jack, o Estripador, atuava. Tem muito mais.

Bem, melhor voltar ao dia pois, senao, me perco. A terca-feira de rubi comecou na Tate Modern, uma das mais interessantes galerias londrinas. Voce sai da St Paul’s, atravessa a Ponte do Milenio – de Sir Norman Foster – sobre o Tamisa e ja cai na frente da Tate com suas 88 galerias que oferecem um excelente acervo de arte moderna. Nao sou conhecedor nem pesquisadir do lance todo, mas preciso dizer que a arte moderna, principalmente as instalacoes e muitas esculturas, nao me convencem. Podem atirar pedras.

Lembro que, uma vez, um grande amigo jornalista perguntou para o Lulu Santos o que ele achava dos Los Hermanos. “Eh muito intelectual para mim. Eles passam aqui em cima”, disse ironicamente Lulu, fazendo um gesto de mao sobre a cabeca, simbolizando que ele, Lulu, nao conseguia alcancar a frequencia dos barbudos. E eh mais ou menos isso que sinto em relacao a arte moderna. Tem muita coisa que deve ser realmente genial, mas que passa muito acima da minha cabeca, do meu intelecto.

Sem contar que a arte moderna precisa de respiro, maturacao, e sou muito urgente para o mundo. E eh por isso que nao gosto de filmes escandalosamente lentos, comida demorada e musica progressiva. Porque todos eles precisam de uma atencao que nao consigo lhes dar. Quando percebo, ja estou pensando que a chuva londrina molhou os meus tenis, que minha meia esta ensopada, que essa chuva que vai e volta e vai e volta e vai e volta eh bem melhor do que uma daquelas tempestades que lavam a alma. Nossa, passei por duas salas.

O mais interessante eh que, no Tate Modern, fiz muito mais anotacoes do que em alguns dos museus espanhois. Tem muita coisa ali que gostei tipo as coisas do De Chirico (“The Uncertainty of The Poet”), Rene Magritte (“The Annunciation”), Paul Klee (o belissimo “Walpurgis Night”), Roy Lichtenstein (o otimo “Mustard on White”, imagem acima), Picasso (“Seated Nude”, “Bust of a Woman”), Robert Delaunay (“Study For The City”), Henri Matisse (“Reading Woman With Parasol”) e Dod Procter (“Morning”, um dos meus preferidos da visita).

Tem coisas, no entanto, que eu realmente nao entendo, como “480x10x10”, de Miroslaw Balka (infelizmente nao achei imagem da obra), que junta em um fio do teto ao chao dezenas de sabonetes, ou a “White Curve”, de Ellsworth Kelly, ou varios quadros do Richter Cage. Na teoria, acredito realmente que deve ser genial, mas nem tente me explicar o porque pois eh exatamente esse o ponto: quando voce precisa explicar a piada para alguem, ela perde totalmente a graca. Depois que Marcel Duchamp iluminou o caminho, eh preciso ter cuidado…

A minha ideia, na sequencia, seria seguir do Tate Modern para a Tate Britain de balsa pelo Tamisa, mas a arte moderna mexe muito com os pensamentos. Tres horas dentro do Tate Modern sao uma eternidade. Decidi vagar pelas margens do Tamisa pensando em alguns quadros quando, ao longe, vejo um predio. Casar com uma arquiteta tem dessas coisas: “Amor, voce ja viu a prefeitura de Londres? Eh do Sir Norman Foster, um dos maiores arquitetos do mundo – e da Inglaterra – na atualidade. Eh um predinho bem maluco”, escreveu a Lili.

Eu achei que tivesse visto um predinho maluco antes, mas assim que fui me aproximando, nao consegui conter o riso: como o cara consegue fazer algo tao… divertido com uma prefeitura? O predio eh sensacional. Em um texto da BBC (leia aqui) que falava sobre a inauguracao da obra, uma leitora reclamava que “a construcao roubava a atencao dos predios historicos ao redor” (a saber: a Torre de Londres e a Tower Bridge), e isso na verdade eh absurdamente genial: eh o passado e o presente convivendo lado a lado com suas virtudes e belezas. Adorei.

Segui caminhando pela Tower Bridge (aquela ponte que abre para os barcos passarem), olhei a Torre de Londres – erguida por Guilherme, o Conquistador, em 1078 – e fui ao encontro da Luciana (com mais duas amigas) para festejar o aniversario no Olde Cheshire Cheese. Cheguei na casa do Daniel por volta das 23h para mais uma sessao de cervejas belgas em comemoracao da data, e fui dormir de alma enlevada. Na verdade, chorei… de felicidade e saudade. De Londres, da viagem, das pessoas especiais que conheci nesses 40 dias. A vida segue em frente, mas a gente vai deixando pedacinhos da alma pelo caminho.

Neste ultimo dia – na pratica – de Londres (e de Europa), vou tentar ir an Tate Britain, almocar em Candem e atravessar a Abbey Road exatamente as 16h (12h no Brasil). Pode acompanhar nesse link aqui. Estou de camiseta vermelha, do Real Madrid, e se der na telha, atravesso descalco como o Paul (ok, vai faltar o cigarro, o Ringo, o George e o John, mas tudo bem). A noite, balada no Buffalo. E las pelas cinco da manha acordo para a maratona da volta. Chego em Sao Paulo, apos uma escala em Madri, no comecinho da noite. E ja vou preparando no voo um balancao da viagem. Nos vemos.

Fotos da viagem e dos shows: http://www.flickr.com/photos/maccosta

agosto 6, 2008   No Comments

Blue Monday

Apos um domingo cinza e chuvoso, a segunda-feira amanheceu ensolarada e azulada. Ate o Garfield, que detesta segundas, abriria um sorriso ao olhar pela janela. Aproveitei para bater cartao em dois marcos da cidade: a Abadia de Westminster e a Catedral de St Paul’s. Lembra que achei caro pagar 10 euros para entrar na Lady Chapel e na Corcergieri, em Paris? A entrada para a Abadia é uma facada de 12 pounds (quase 40 reais), e nao adianta tentar jogar um papo de “sou jornalista no Brasil” e tal. Tem que pagar. No entanto, a visita vale a pena, e muito.

Ajuda o fato dos guias de audio serem gratuitos, coisa rara. E, claro, ajuda o fato da Abadia ter muita historia pra ser vista. São Dunstan da Cantuária fundou no local uma comunidade de Monges Beneditinos em 970, mas a Abadia comecou a ser construida entre 1045 e 1050. De la pra ca, varios reis foram coroados no local (a cadeira, com mais de 700 anos, esta aos pedacos, mas é um simbolo da realeza britanica), Elizabeth I esta enterrada no lado direito da belissima Lady Chapel (sua rival, Maria Stuart, que morreu condenada por conspiracao, esta enterrada no lado esquerdo da capela) e ha, ate, um recanto para os poetas, com destaque para Shakespeare.

Depois de uma visita de mais de uma hora, parti em direcao a Catedral de St Paul’s, uma pequena obra-prima do arquiteto Christopher Wren, que apos o grande incendio de Londres em 1666, reconstruiu a catedral destacando a sua enorme cupula decorada (é de cair o queixo). Foi aqui que o principe Charles e Lady Diana Spencer se casaram, abrindo mao da tradicional cerimonia em Westminster para mostrar que eram o principe e a princesa do povo. A catedral fica a 500 metros do Tamisa, e de seu segundo pavimento é possivel ter uma visao extraordinaria da cidade.

Como igreja, St Paul’s é de uma grande simplicidade. O grande programa da visita sao as subidas para as galerias externas, que incluem uma passagem pela Galeria dos Sussuros, no alto da grande cupula. As duas galerias seguintes (Golden e Stone) permitem que o visitante desfrute uma bela visao de Londres. A subida é para os corajosos. Comeca com uma escadinha leve, mas depois se transforma em degraus altos de um caminho estreito, que cansam. Uma menininha, perto da Golden Gallery, implorava ao pai para nao subir mais. Mas a vista vale realmente a pena.

Encarei um capuccino com bolo de chocolate na cripta da catedral (eu devia ter escolhido o muffin), e voltei mais uma vez para a Oxford Street, para resolver umas pendencias de encomendas de amigos. Dali, desci novamente em St Paul’s, atravessei a ponte em direcao ao Tate Modern, e segui caminhando as margens do Tamisa, me encantando com o entardecer londrino, a brisa ao lado do rio e tudo mais. Sentei em um banco e fiquei pensando na vida ate decidir transferir papeis, mochila e anotacoes para uma pizzaria, e lembrar uma das minhas historias preferidas do rock.

Em 1977, o Sex Pistols decidiram “homenagear” o Jubileu de Ouro da rainha Elizabeth II dedicando-lhe seu segundo single: “God Save The Queen”, uma musica que dizia nao existir futuro na Inglaterra. Para promove-lo, o empresario Malcom McLaren – que estava proibido de ter seu grupo tocando nas ilhas britanicas – colocou a banda tocando em um barco, dentro do Rio Tamisa (nao era em terra). O resultado, como voce pode imaginar, foi pancadaria assim que o barco atracou em Londres, com quase todo mundo na cadeia.

O melhor estava por vir: a ironia punk escalou as paradas – mesmo tendo sido banida da BBC e de outras radios – ate bater no numero 1, marcando a unica semana na historia dos charts britanicos em que o numero 1 das paradas apareceu em branco. O Sex Pistols se foi (deixando sua marca na historia do rock), a rainha continua firme e forte (e o partido trabalhador esta caindo pelas tabelas) e o rio Tamisa, que 31 anos atras ouviu “God Save The Queen” ao vivo, continua encantador. Respiro fundo e penso na linha de baixo e no vocal deliciosamente escroto de Johnny Rotten. Deus salve a rainha.

Na verdade, Deus salve o Marcelo. Nesta terca, ou melhor, daqui a 74 minutos (hora de Londres), completo 38 anos de idade (os 40 estao chegando, eu sei). Como o dinheiro ja foi faz uma semana, e o que chegou soh serviu para eu comprar mais algumas duzias de CDs, nada de grandes comemoracoes. Vou visitar a Tate Modern e a National Gallery durante o dia, e deve rolar alguns pints de cerveja em algum pub a noite, e olhe la. Como nao vou estar por ai para receber um abraco ou um telefonema, aceito um brinde de cerveja “in memorian”, ok. Nao esquece. Tin-tin.

Fotos da viagem e dos shows: http://www.flickr.com/photos/maccosta

agosto 4, 2008   No Comments

Everyday is Like Sunday

Domingo tipico em Londres: chuvoso, silencioso e cinza. Morrissey estava certo, pode acreditar nele. Estou na sala da casa do Daniel, sentado no sofa, abusando do iMac para tentar traduzir as coisas que estou sentindo. Na porta, a Coco, gata do Samuel (um portugues gente finissima – daquelas pessoas raras – que mora com o Daniel), quer atencao. La fora, chove. E estou curtindo essa calma dominical, essa coisa tao londrina de ficar em casa no meio de um dia de chuva – apesar de estarmos no verao.

Ao contrario de todas as cidades anteriores pelas quais passei, em que eu era realmente um turista – geralmente acompanhado de amigos turistas – desbravando a cidade, em Londres as coisas estao mais relax. Amigos estao me levando pra la e pra ca, e isso tem servido muito para me ambientar e me acostumar. A Luciana, que tem 10 meses de Londres, me levou na Rough Trade e fez uma listinha de lojinhas bacanas onde eu poderia encontrar CDs usados por 1 ou 2 pounds. Foi um estrago, gastei uma grana, mas estou radiante.

Daniel, que ja esta em Londres faz sete anos e conhece bem o lado rock da cidade, me levou pra balada ontem, num pub demais no centro da cidade, o Old Blue Last. A banda que estava tocando era horrivel, mas a cerveja era Leffe (pint) e a turma que frequenta o lugar vale a balada. Serviu para eu descobrir que Londres vive as madrugadas. Eu tinha uma ideia de que os pubs fechavam as 23h, e a cidade morria, mas que nada, a noite foi longa, divertida, com bons sons na pista, bons papos e um kebab poderoso na hora de ir embora. 

Nem acordei de ressaca (cerveja belga eh uma beleza), mas com fome. Batemos um fish and chips e fomos para a Oxford Street procurar uma lente para a maquina digital da Lili. Passei na Zavvi, outrora Virgin, para pegar uma edicao do livro da Deborah Curtis sob encomenda do Danilo, do Speculum, e alem de uma edicao pra mim tambem, comprei o “Scrapbook” do Bob Dylan (eh lindo, lindo, lindo) e tres posters gigantes: “Transformer”, “Ziggy Stardust” e “London Calling” (eu ja escrevi que comprei uma caneca do “London Calling”? Vou tirar uma foto).

Dali fomos pra Notting Hill, para encontrar a Luciana que esta trabalhando numa loja de CDs la (Lu, nao sei como voce consegue??? Eu iria deixar todo o meu salario nessas lojas), e comprar alguns CDs. Alguns???? Perdi a conta de quantos CDs comprei. Serio. Coisas usadas de 0,50p ate 5 pounds (o “Saturnalia” do Gutter Twins, que vai tocar aqui do lado na semana que vem – nao acredito que nao vou ver Greg Dulli e Mark Lanegan juntos!!!!). Peguei as duas coletaneas do Spiritualized, duplas, por 4 pounds cada (uns 14 reais).

Pra voce ter uma ideia do nivel da loja: la tinha a edicao do “Ladies and Gentleman”, do Spiritualized, na versao tablete de remedio. Preco: 4 pounds. So na peguei porque ja tenho o CD, e nessa hora a gente tem que procurar pelas coisas que nunca vai encontrar no Brasil. Meu sonho de consumo: um box com todos os singles do Manic Street Preachers, facada de 81 pounds (quase 300 reais). Eu nem sabia da existencia desse box! Foda. Fora os vinis. O disco da banana, do Velvet, soh esta 7 pounds (25 reais). Vinil, lindo. Vou acabar levando.

Nesses meus ultimos tres dias de Londres (e Europa) vou tentar fazer o roteiro de turismo basico que eu tinha prometido nos ultimos posts. Amanha tem cerveja na beira do Tamisa e, acho, catedral de St Paul e Abadia. Quero separar a terca para os museus (sim, deixei de lado a ideia de ir pra Liverpool no meu aniversario – contencao de gastos) e a quarta para fechar com as coisas que faltam ver, tipo atravessar a Abbey Road descalco. O Fabio comentou no post anterior que ha uma camera 24 horas la. Vou passar as 16h (12h no Brasil). Tenta me ver (hehehe). Olha o link aqui

Hoje vai ser uma noite tranquila. Cabulei o show do Cornelius e quero dormir cedo. Deve rolar uma macarronada e bons papos com o pessoal da casa nesse domingo tipicamente londrino. Estou me sentindo a vontade nessa cidade, mas acho que enlouqueceria com tanta oferta de cultura pop, com tanta referencia, com tantas aspas, mas seria interessante morar aqui. Bem, planos para o futuro (Paris e Barcelona saem na frente na disputa de abrigar uma casa minha e de Lili na Europa, mas Londres esta no pareo). O presente, no entanto, eh um jantar. Bom apetite para todos nos.

Ps da manha seguinte: acordei cedo para ir tirar copia da chave, que eu perdi na sexta (alias, perdi tudo: mapa da cidade, bilhete do dia do transporte publico, anotacoes e… passaporte. Este ultimo me entregaram na Rough Trade). Chego la, peco a copia pras duas chaves, pago, ok. Abro o portao com a copia, mas nao consigo fechar. Depois de dez minutos desisto e volto ao chaveiro. Ele pede a original, eu explico o que esta acontecendo e, no fim, ele pergunta: “Voce eh de onde?”. E eu: “Brasil”.”Ahh, ok, eu sou de Madri”. Gente, nao existe ingles na Inglaterra!

agosto 3, 2008   No Comments

A capital do mundo pop

Ontem, quando estava ajeitando meus planos sobre “o que fazer” em Londres, saquei que o lance de Londres é diferente do de outras grandes cidades/capitais do mundo: Londres é para ser consumida muito mais do que vista. Eu ja tinha essa ideia sobre a cidade, mas a ficha caiu mesmo ontem, quando percebi que, sim, é bacana ver o Big Ben, a London Eye e a troca da guarda, mas o que voce espera mesmo de Londres sao os shows, as lojas e o modo de respirar cultura pop da cidade.

Londres é a cidade que tem, no domingo, um show do Cornelius, e na segunda Drive By Truckers (estou querendo ver os dois), que as lojinhas de CDs e vinis da Berwick Street (a rua da capa do “(What’s the Story) Morning Glory?”) podem causar um prejuizo enorme no seu bolso (eu sabia que ia ser assim… e sai com dor de cabeca – mesmo – da MVE, com um box do Billy Bragg, o EP exclusivo do Strokes para a Observer – 2 pounds, o EP do Twilight Singers com Mark Lanegan – 2 pounds, e muito mais).

Alias, a dor de cabeca ainda nao passou, mas como deve ter balada hoje, melhor escrever agora para registrar o momento: eu preciso sair dessa cidade antes que deixe toda o meu salario aqui (risos). Passei a manha na feirinha da Portobello Road e a tarde na lojinha da Rough Trade (o selo que fez fama lancando uns tais de Smiths). Andei na Heddon Street (capa do “Ziggy Stardust”), ainda vou procurar pela Strand Street (lugar em que o Dylan gravou o clipe de “Subterranean Homesick Blues”) e, claro, atravessar a Abbey Road (se possivel, descalco, como o Paul).

E ainda quero fazer turismo tradicional aqui, subir na Abadia de Westmister, visitar a catedral de St Paul, passar uma tarde na Tate Modern, passear de barco no Tamisa e, quem sabe, ver o acervo da National Gallery e passar novamente na HMV e na Virgin Megastore. Eu sei que é coisa demais para se fazer, que tenho pouco tempo, que as ferias acabam na proxima quinta-feira, quando embarco de volta para Sao Paulo, mas vou tentar aproveitar o maximo possivel do que essa cidade oferece. O que eu conseguir, esta valendo.

Ps. Ainda vou destrinchar esse assunto de “capital do mundo pop”, mas agora preciso de uma aspirina e de uma cerveja belga…

agosto 2, 2008   No Comments

Definitivamente, Londres

Nao consegui achar o cafe de “Antes do Por-do-Sol”. Parei na frente da Shakespeare and Co, sai pela esquerda, e vi a rua em que a Celine e o Jesse comecam a caminhada. A segunda rua tambem é facil, mas na hora que chega a terceira, voce ja se perde. Tentei seguir o caminho pelas quatro ruas possiveis, e me perdi. Tudo bem, da proxima vez que eu estiver em Paris, vou “estudar” bem o filme. A ultima tarde na cidade se resumiu a isso. Fui cedo para o aeroporto Charles de Gaule, e mesmo assim fiquei quase duas horas na fila da Easyjet. E pela primeira vez houve um atraso, de quarenta minutos.

Como da vezes seguintes que voei em uma compania low cost, check in e embarque foram uma zona. Sempre fico imaginando as pessoas que pagam o “speedy boarding”, uma taxinha que lhe da algumas vantagens (como embarcar primeiro), e chegam nesse check in que é uma bagunca. Na boa, fui o quarto a entrar na aeronave, e nao pague nada a mais por isso. O voo foi bem sossegado – e ver Paris iluminada do alto foi lindo – com as turbulencias de praxe, uma senhora argentina querida puxando um bom papo, chocolate Godiva e o aviao chegando em Londres recuperando vinte minutos dos quarenta atrasados.

Na imigracao, o tiozinho forcou a barra nas perguntas de praxe (De onde voce esta vindo? Veio fazer o que? Vai ficar onde? Quando voce volta? Deixa eu ver a passagem de volta?), mas me deu o carimbo de seis meses (que soh vou usar por sete dias). Na saida, encontrei um “casal” de brasileiros, na verdade, ele soh estava acompanhando a amiga, pois mulher brasileira passar sozinha pela imigracao no Reino Unido é bem dificil. Eles logo acham que a menina vai se prostituir e tal, e dificultam ao maximo a entrada da garota.

No caso do “casal”, ele trabalha como ajudante de pedreiro em Paris, mora perto de Versailles com a mulher e um filho de dois anos, e nao volta mais para o Brasil. “Cara, estou feliz aqui”. No trecho de trem entre o aeroporto de Luton e o centro de Londres, ele me conta sua saga no Velho Mundo, mareja os olhos, mas termina dizendo que tudo é aprendizado. Ele fica soh um dia em Londres, pois vem no dia seguinte trazer uma outra amiga, que tambem nao quer passar pela imigracao britanica sozinha. No fim das contas, o cara me ajuda. Se nao fosse ele, eu passava batido pela estacao de trem.

O Daniel, amigo que vai me receber em Londres, esta me esperando na porta da estacao, e seguimos de trem para a casa dele, em Shepherds Bush. Passamos pelo mitico Shepherds Bush Empire (que em agosto vai receber shows da dupla The Gutter Twins e do Big Star, e tera Brett Anderson, CSS, Breeders e Ting Tings mais pra frente – olha a programacao), pegamos uma cerveja belga na lojinha de conveniencia (vou sentir saudade das cervejas belgas) e sentamos na varanda da casa para atualizar os papos.

Acordo as 7h30 e nao penso duas vezes: pé na estrada. Comeco a desvendar Londres pelo metro, tentando entender as conexoes. Saio em Westminster de frente para o Big Ben. Passo pela Abadia e, incrivel, comeco a passar um frio do cao. Esta sol, mas o vento cortante entra pelos meus poros e faz em pedacinhos a minha alma. Saio a caca de uma loja de departamentos para comprar um camisao. Caminho, caminho, caminho, e o que encontro: o Palacio de Buckingham! E soh falta meia-hora para a troca da guarda! O tempo fecha, garoa, sai sol de novo, e eu com um frio danado. Definitivamente, estou em Londres.

Volto para a casa do Daniel, tiro meu capotao da mala, coloco, e me sinto fervendo. Troco o capote por um camisao de manga comprida, e mesmo achando que vou me arrepender disso, saio para a rua. Na esquina, dois caras passam sem camisa enfrentando o sol (e o vendaval). Rio sozinho enquanto tento planejar o que fazer nessa cidade maluca. No roteiro, nada muito certo. Vou dar um pulo em CamdenTown (dei uma caminhada em Notting Hill de manha), ligar para uns amigos e torcer para que o dinheiro que a Lili depositou no meu cartao esteja disponivel depois do almoco. Ultimos sete dias de Europa, ja estou comecando a ficar com saudade…

agosto 1, 2008   No Comments

Monalisa, Venus de Milo e… Coldplay

Entao, o Louvre. Fiquei cinco horas e doze minutos dentro do museu, e sai com a sensacao de que soh aproveitei 10% dele. Estou tentando lembrar onde li que sao 11 quilometros de exposicao, e se nao for isso, vou te dizer, esta perto. Mas o problema nem é a caminhada, mas que arte é algo para se namorar, ficar olhando, admirando, sem se preocupar com o que voce vai deixar de ver. Porém, no Louvre, se voce nao ver as coisas rapidamente, vai deixar de ver um monte de coisas…

O mais engracado é que sempre fiz parte do grupo de pessoas que batalha para a expansao da arte, para que todo mundo ouca as melhores musicas, veja os melhores filmes, leia os melhores livros, mas entao voce entra no Louvre com aquele mundareu de gente, e pensa que vai ser impossivel aproveitar com calma o passeio. Tipo, a Monalisa: ninguem pode dizer que viu a Monalisa. Primeiro que ela fica uns dez metros do publico protegida em uma redoma (apos um atentado a faca). Segundo que é uma muvuca…

Ou seja: as pessoas estao ali para olhar o quadro e riscarem na caderneta: “vi a Monalisa, proximo item”. Nao ha como tentar interpretar o sorriso da moca, perceber as pinceladas do Leonardo, admirar o quadro com toda calma que ele merece. Sentar uns quinze minutos em frente a ele como fiz com o Hopper na Espanha. Como dizia a Luiza, minha professora de Educacao Moral e Fisica no colegial, “as pessoas veem, mas nao olhar; falam, e nao dizem; tocam, e nao sentem; existem, e nao vivem”. Em parte, a Luiza estava certissima…

Eh claro que esse distanciamento soh acontece nas duas obras mais famosas do museu, aquelas que um mundo de pessoas quer ver: Monalisa e Venus de Milo. As demais estao ao alcance dos olhos e das maos (literalmente) e a badalacao em torno delas é aceitavel dado o porte do Louvre, um museu com um acervo de mais de 350 mil objetos de arte, e que em 2007 foi o museu mais visitado do mundo com a marca impressionante de 8,3 milhoes de pessoas.

E, na boa, soh o Palacio do Louvre ja valeria uma visita. Construido em 1190 como Fortaleza por Filipe Augusto, parte dele virou museu em 1793, com a Revolucao Francesa. Napoleao, sempre ele, adaptou o lugar como museu. Alem dos tres pavimentos de obras classicas que abrangem antiguidades egipicias, romanas, gregas e orientais ate pinturas e esculturas italianas, francesas e holandesas, ha ainda parte dos aposentos de Napoleao III tal qual eram na epoca, e que por si soh ja fazem o queijo da gente cair (foto 1, 2 e 3).

Das obras, os franceses me impressionaram muito com Prud’Hon (“L’Enlevement De Psique”), Gericaut (“Le Radeau de La Meduse”) e Delacroix, que um quadro antes tinha me chamado a atencao: “Nossa, lembra a capa do Coldplay”. Nao era ele, era o seguinte, “Le 28 de Juillet, La Liberte”. Chris Martin é um coxinha, mas tem bom gosto. Ainda teve Chasseriau, que com sua “Suzanne au bain” balancou meu coracao, mas no quesito musa, vou sonhar com Drost e sua “Bethsabee”.

Dos holandeses, nao me odeiem, mas curti muito mais os dois Vermeer do que todos os Rembrant. E dos italianos, nao tem jeito, Da Vinci. E vou te dizer que a Monalisa perde em encanto para a “La Belle Ferroniere”. Gostei muuuito das esculturas, algo que costumo deixar de lado em outros museus. “Dirce”, de Bartolini (foto 1 e 2), “Mercure Enlevant Psique”, de Vries, “Os Escravos”, de Michelangelo, e “Le Trois Graces” ganharam um bom tempo da minha estadia no Louvre.

Terminada a caminhada, decidi ir comer uma baguete ao lado do Pompidou, e encarar o topo do Centro Cultural. Porem, para ir ao topo é preciso pagar os 10 euros do museu, e como corro o risco de ficar sem nenhuma libra para entrar em Londres nesta quinta, e nao conseguiria ver mais obras de arte apos cinco horas de Louvre, deixo a visita ao Pompidou para o ano que vem, com a Lili. Mesmo assim, me aventurei no lugar admirando suas cores (os canos verdes sao para agua, vermelhos para eletricidade, e azuis para ar-condicionado) e a disposicao das salas de leitura.

A sensacao que tenho ao chegar ao hotel – apos, ainda, passar pelo shopping subterraneo Forun de Halles, com uma Fnac de tres andares abaixo da rua – é de que precisarei vir ao Louvre ao menos mais umas dez vezes para aproveita-lo da forma que ele merece. Foi uma otima primeira vez, mas ate os meus 100 anos espero pisar neste lugar sagrado quantas vezes mais conseguir. Sorrio lembrando que, frente a encantadora Venus de Milo, pensei como era lindo o fato de que uma das mulheres mais fotografadas do mundo nao tivesse os dois bracos. E ela sorriu pra mim, tenho certeza.

Bem, chegou a hora, e esse é o meu ultimo dia em Paris. E, detalhe, acabou o dinheiro. Mesmo. Tudo bem, estou em Paris e tenho um bilhete orange. Vou ate a Shakespeare and Co, a livraria em que a Celine reencontra o Jesse em “Antes do Por-do-Sol”, e vou tentar refazer de cabeca o caminho que eles fizeram no filme. Se eu conseguir chegar ate o cafe, paro, peco um expresso, e me dou por feliz. Se nao encontrar, tudo bem, eu ainda vou voltar a ver essa cidade. Paris, eu volto. Me espere.

Fotos da viagem e dos shows: http://www.flickr.com/photos/maccosta

julho 31, 2008   No Comments