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Category — Europa 2011

Uma dúvida e uma constatação

Não sei o que aconteceu com a barra de chocolate com hemp que eu estava trazendo na mala. Não era uma embalagem tão chamativa quanto esta aqui, e nem devia ter quantidade suficiente de erva para causar algum efeito, mas simplesmente desapareceu da mala. Claro que posso tê-la esquecido no minúsculo quarto de hotel em Londres no momento em que arrumei a mala (à meia-noite e acordei às 3h30 para pegar um ônibus para o aeroporto de Luton às 4h da madruga), mas minha lembrança me diz que coloquei-a dentro da mala.

O problema é que a lembrança é tão confusa que nem em qual mala eu sei que guardei. Uma delas foi despachada em Londres, e a inofensiva barra de chocolate pode ter sido confiscada ali. Essa mesma e mais outra ficaram em um locker no aeroporto de Madri, e ambas fizeram o trajeto Madri/Santiago/São Paulo na sequencia. Lembro que quando abri a mala ao voltar dos Estados Unidos havia um papel informado que minha mala havia sido revistada. Confiscada ou não, a barra de chocolate não veio. Fica a dúvida.

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 Ao menos, a mostarda e os seis queijos holandeses chegaram salvos.

junho 6, 2011   No Comments

Amsterdam, uma cidade mágica

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É muito difícil falar de Amsterdam. A maior cidade dos Países Baixos (com cerca de dois milhões de habitantes na área metropolitana) é cercada de pré-conceitos que na enorme maioria das vezes relega a segundo plano a beleza e a personalidade de uma cidade viva, empolgante e apaixonante. Amsterdam já integra a minha lista de locais mágicos junto a Praga, Santorini, Paris e Veneza, cidades de personalidade tão particular que parecem únicas e especiais.

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Amsterdam localiza-se entre os rios Amstel e Schinkel e a cidade é formada por dezenas de pôlders (terras tomadas do mar e drenadas por diques e canais). Não a toa, 20% do total da área urbana é água. No total são 165 canais que fatiam a região central em pedacinhos (com 1281 pontes) conferindo um charme totalmente especial para a cidade, que ainda utiliza o tram como forma de transporte (uma versão moderna dos bondinhos), mas é dominada realmente pelas bicicletas, milhares delas.

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Caminhar no horário do rush em Amsterdam é uma aventura. Os trams cortam as avenidas e passam a centímetros dos pedestres. As milhares de bicicletas, por sua vez, constituem um cenário de contemplação. Turistas e transeuntes se perdem no vai e vem intenso de bicicletas cortando calçadas, ruas e parques. Como principal meio de transporte da cidade, as bicicletas são quase que um retrato de cada pessoa ou família. Aliás, existem várias com caixotes para transportar crianças. Um charme.

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A cidade ainda tem grandes museus dos quais se destacam o Rijksmuseum e o Van Gogh. O primeiro está em reforma desde 2005 e, por isso, 95% de seu acervo não está disponível para visitação. Apenas 400 quadros disputados centímetro a centímetro pelos turistas estão disponíveis, entre eles vários Rembrant, muitos Frans Hals e alguns Vermeer (“A Leiteira”, grande estrela da coleção, é tão competida aqui no verão quanto a Monalisa no Louvre). É preciso paciência para desfrutar o passeio, mas vale a pena.

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Já o Museu Van Gogh exibe a maior coleção de obras do artista em todo o mundo, e é obrigatório mesmo não tendo algumas de suas obras marcantes (“A Noite Estrelada”, por exemplo, está no MoMA, em Nova York). O prédio, desenhado pelo arquiteto holandês Gerrit Rietveld, é bastante funcional e espaçoso permitindo um bom aproveitamento das obras que são apresentadas em ordem cronológica. E são várias imperdíveis com destaque para “O Quarto em Arles” e “A Casa de Vincent em Arles”.

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Ou seja, Amsterdam é muito mais que o Red Light District e os coffeeshops. Eles estão ali, símbolos de uma cidade livre (ou que tenta lidar de alguma forma com a sensação de liberdade), mas muita gente tenta (na maioria das vezes inconscientemente) reduzir Amsterdam ao comércio de sexo e drogas. A prostituição, por exemplo, é considerada profissão legalizada em toda a Holanda, que garante assistência médica, direitos trabalhistas e fiscalização de condições de trabalho às damas.

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O Bairro da Luz Vermelha existe desde o século 13, época em que marinheiros chegavam cansados de longos meses no mar, e encontravam um descanso nos braços das moças da região. Hoje em dia, as ruas Gordijnensteeg e Korte Stormsteeg são as mais agitadas do bairro, e não são só frequentadas por pessoas interessadas nas garotas, mas sim por curiosos em geral (o que é meio surreal). O serviço, segundo consultou esse jornalista (a gente tinha que perguntar, né) saia 50 euros por 15 minutos de trabalho, e várias delas eram muito bonitas – ao menos nas ruas principais, em que o aluguel de um quarto (como nesse anúncio aqui) é mais caro.

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Já os cofeeshops estão distribuídos por várias regiões do centro e mesmo em alguns bairros residenciais. Existem alguns mais famosos com filiais pela cidade e outros menores. Poucos vendem cerveja, quase nenhum aceita cigarro e muitos deles deixam o visitante fumar a marijuana comprada em outro local. A maconha é liberada nos locais autorizados (olha o cardápio), ou seja, nada de fumar na rua. Além dela, outros produtos alucinógenos são oferecidos pela cidade como o famoso space cake (bolo de maconha, esse aqui) e cogumelos em diversas versões (as descrições são hilárias. Veja aqui).

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Além da possibilidade de fumar em um cofeeshop, o cidadão holandês pode ter uma muda de árvore de marijuana em casa ou mesmo comprar a erva nos cafés e consumir no lar. Porém, o governo busca inibir o turismo de drogas na cidade tentando aprovar uma lei que defende a proibição da venda de maconha para turistas. A idéia do projeto é que quem mora em Amsterdam (seja holandês ou não) tenha uma carteirinha de identificação que permita comprar e fumar marijuana na cidade.

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Independente do resultado do projeto, o retrato que fica é o de uma cidade dois ou três passos à frente das demais. Lúdica, com seus belos canais navegáveis e suas ruas antigas dominadas por bicicletas. Bela, com seus imensos parques e seus museus imperdíveis. Calma, com seu transito lento e a sensação de que, aqui, as pessoas prestam um pouco mais de atenção a si mesmas. É muito difícil falar de Amsterdam. Nem todas as palavras conseguem transpor com tanta clareza o encantamento de uma cidade mágica.

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Todas as fotos por Marcelo Costa. Mais no álbum da viagem aqui

Leia também:
– Diários da Europa: 2011 (aqui), 2010 (aqui), 2009 (aqui) e 2008 (aqui)
– Um domingo de descanso no paraíso, Santorini (aqui)
– Perambulando pelas ruazinhas encantadoras de Praga (aqui)
– A beleza de Veneza e a siesta de Treviso (aqui)
– “Parri, Parri” ou um olhar bêbado sobre a Torre Eifel (aqui)

junho 5, 2011   No Comments

Ao vivo: PJ, Clapton e Winwood

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O Paradiso, em Amsterdã, é uma velha igreja do século 19 transformada em salão de shows em 1968 (após uma frustrada invasão de hippies no ano anterior). De 1968 para cá já passarampela casa quase todas as grandes lendas do rock. Dos Stones (que fizeram dois shows semi-acusticos no local em 1995) aos Sex Pistols, do Joy Division ao Arcade Fire, do Nirvana ao Wilco, a lista é imensa. Há um salão principal e dois anéis superiores (no total, pouco mais de 1500 pessoas por show) e mais duas salas menores para apresentações intimistas.

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A turnê “Let England Shake” tem estado sold out em quase todas as cidades pela qual passa, e em Amsterdã não foi diferente. Os ingressos se esgotaram tão rapidamente que uma segunda data foi marcada, e na noite do primeiro show nada de cambistas na porta (apesar de na internet ser possível comprar o ingresso por 90 euros – na bilheteria era 40), mas sim muita gente vendendo pelo preço que pagou. O problema é entender o holandês. Quando alguém oferece um ingresso na língua pátria, no mesmo instante vende. Só alguns segundos depois os “turistas” percebem a negociação.

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No segundo dia, porém, a sorte bate no nosso ombro. “Vocês querem ingressos? Eu comprei para os dois dias, e ontem foi sensacional, mas não vou poder ir hoje. Vou ter que ficar cuidando dela”. Ela, no caso, era um bebe em um carrinho, e os ingressos saem pelos mesmos 40 euros da bilheteria. Cerca de 30 pessoas já estão postadas frente ao palco uma hora e meia antes do show, mas optamos por um local mais singular: um banco no terceiro piso, quase dentro do palco. O local enche rapidamente criando um clima intimista e então Polly Jean adentra o palco… vestida de preto.

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Ao contrário dos shows anteriores da turnê (ao menos em São Francisco, no Coachella e no Primavera Sound), em que a cantora se apresenta de vestido longo branco, nesta segunda noite em Amsterdã, PJ aparece trajando luto, mas o show é muito mais alegre do que os anteriores. Boa parte do mérito é do público, que aplaude efusivamente todas as canções do difícil e belo disco novo da cantora, que é tocado na integra (incluindo um b-side). Para surpresa de alguns, “The Sky Lit Up” surge na primeira parte do show, mas a dobradinha “Down by the Water” e “C’mon Billy” é o ápice.

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A apresentação segue o mesmo roteiro que o show em São Francisco: ela não dirige nenhuma palavra ao público até o adeus, 18 músicas depois. Retorna para o bis clássico (“Big Exit”, “Angelene” e “Silence”) e se despede, mas o holandeses querem mais, e aplaudem por mais de cinco minutos até que a cantora quebra o protocolo da turnê e retorna para um segundo bis, e só não toca mais porque a noite já consumiu todas as canções que a banda tem ensaiada. “Tocamos tudo”, desculpa se Polly, que deixa o paraíso debaixo de uma grande salva de palmas.

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O Royal Albert Hall, em Londres, é uma sala de espetáculos inaugurada em 1871 em frente ao Hyde Park pela rainha Victoria, que a batizou em homenagem ao falecido esposo Albert. O salão oval pode receber até 8 mil pessoas. É uma casa charmosa, que nesta noite recebe o encerramento da tour que uniu Eric Clapton e Steve Winwood, ex-parceiros no Blind Faith. A reunião já ganhou lançamento em CD e DVD de um registro no Madison Square Garden, e baixou em Londres com covers de Jimi Hendrix eMuddy Waters além de hinos próprios do quilate de “Layla” e “Cocaine”.

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O charme do Albert Hall, no entanto, não consegue evitar o distanciamento para aqueles que estão sentados nos segundo e terceiro anéis ou em pé na galeria superior. O som é perfeito, mas a visão várias vezes é prejudicada, o que impede uma interação completa com o espetáculo. Não tira o brilho da noite, mas não a torna mágica. A base do repertório do show são canções do Blind Faith, grupo que Clapton e Winwood tiveram em 1968 ao saírem, respectivamente do Cream (o baixista Ginger Baker também se uniu ao projeto) e do Traffic (Ric Grech completava a formação).

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Eric Clapton adentra o palco com uma Fender azul bebe que será trocada apenas uma vez durante a noite inteira (por uma preta em “Cocaine” – descontando o set acústico, claro) e abre o show com “Had To Cry Today”, que também abre o único disco do Blind Faith, homônimo, de 1969. Ele tem apenas dois pedais a sua frente, sendo que um deles é um wah-wah (que será usado em apenas duas músicas), e a economia nos efeitos engrandece o tour de force de riffs e solos mágicos que o guitarrista arranca de sua guitarra. Ela fala alto, e fatia a atmosfera do Albert Hall em pedacinhos.

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Steve Winwood se alterna entre o piano, o violão e a guitarra, e apesar de não lembrar de várias letras (um tele-prompter enorme a beira do microfone o auxilia), ainda canta muito. Mesmo Clapton, quando rasga a voz, emociona, mas o ponto alto da noite acontece sempre que o homem mostra porque um dia foi chamado de o Deus da Guitarra. Eric Clapton impressiona. Ele parece estar entregue ao instrumento, que ressoa na belíssima acústica de forma espetacular. A guitarra parece uma extensão do músico, e exprime os sentimentos do bluesman como ninguém.

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O repertório não traz nenhuma surpresa. “After Midnight” se junta a “Presence of The Lord”. “Glad” (Traffic) e “Well All Right” vem na sequencia, e o primeiro graaaande momento da noite surge com “Hoochie Coochie Man”. Robert Johnson é lembrado com “Crossroads”, mas o público vai ao delírio realmente com a versão linda de “Georgia On My Mind”. O set acustico é aberto com “Driftin” e ainda conta com “Layla” (a mais aplaudida e cantada durante as duas horas de show) e “Can’t Find My Way Home”. Quem ainda não tinha se rendido a dupla o faz em “Voodoo Chile”, de Jimi Hendrix. E “Dear Mr. Fantasy”, já no bis, encerra a noite de maneira consagradora.

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São dois shows diferentes. Enquanto PJ e seus cavaleiros de aluguel (Mick Harvey, John Parish e Jean-Marc Butty) optam pela simplicidade (e tem a seu favor uma casa em que a aproximação do público faz toda a diferença), Eric e Steve (e mais uma banda excelente) exibem uma técnica impecável, um charme exuberante para uma enorme audiência (quatro vezes maior do que a do Paradiso) que está ali para ouvir hinos sem muitas surpresas. Polly Jean arrisca cantando canções difíceis que ainda não completaram nem seis meses de mercado, e ainda assim consegue uma impressionante aprovação do público. São dois shows diferentes… e excelentes.

junho 2, 2011   No Comments

Dois shows bonus do Primavera Sound

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Barcelona não para, e o Primavera Sound segue o ritmo da cidade. Após três dias intensos e dezenas de shows no Parc Del Fórum, dois eventos marcavam o encerramento da edição 2011 do festival: no Poble Espanyol, BMX Bandits e Mercury Rev. E para aqueles que ainda tinham pique, no Apolo, já na madrugada de domingo para segunda-feira, Simian Mobile Disco e Black Angels jogavam uma pá de cal sobre a ótima edição 2011 do Primavera Sound.

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O Poble Espanyol é um vilarejo recriado no alto de Montijuïc que tenta contar – através de ruas e casas – a história de todas as regiões da Espanha (em escala reduzida, claro). Fica alguns metros acima do Pavelló Mies van der Rohe, e se (ao contrário da magnifica obra do arquiteto alemão) ostenta um ar meio fake e cafona, por outro tem a vantagem de se transformar em um ótimo anfiteatro para a realização de shows para até duas mil pessoas. O clima era de quermesse com direito a copos enormes de sangria e pipoca.

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Duglas Stewart abriu os trabalhos com a BMX Bandits, veterana banda indie escocesa dos anos 80, que segue na ativa distribuindo melodias doces aos fãs de power pop. Stewart é daqueles frontmans que dominam a arte de entreter o público. Ele gasta seu sotaque escocês, diz que “ama o amor” e apresenta uma canção da época em que “Crazy Cat (a violinista ruivinha fofinha) ainda não tinha nascido”. E ao apresentar a moça, se orgulha: “Eu roubei ela do Belle and Sebastian”. Velhos hits e canções novas fizeram o público sorrir até o fim da apresentação.

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Na seqüência, o Mercury Rev subiu ao palco mais uma vez para apresentar a integra de seu álbum mais famoso, “Desert’s Songs”. O roteiro era o mesmo do show apresentado no sábado no anfiteatro do Parc Del Fórum, mas o clima era outro. Muitas coisas podem fazer um show em um dia ser ok e no outro, sensacional: o tesão da banda, a empolgação do público, o atmosfera do lugar. No Poble Espanyol, tudo parecia conspirar a favor, e o Mercury Rev não desperdiçou a oportunidade.

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Jonathan Donahue subiu ao palco, novamente, com uma garrafa de cerveja, que logo foi trocada por uma “botella” de vinho (que seria bebida inteira durante toda a a noite). “Holes” surgiu linda, cintilante, abrindo caminho para as demais canções do desertor. “Tonite It Shows” e “Endlessly” apareceram em versões encorpadas, com a bateria marcando forte o ritmo. Até a instrumental “I Collect Coins” brilhou, mas a divisora de águas, a canção que mostrou que este não era um show qualquer foi “Opus 40”, em versão estendida, inebriante, quase dez minutos de encantamento.

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Encarnando um maestro meio mágico, meio bruxo, Donahue sorria, arremessava energia para a plateia e aplaudia a entrega da banda e a cumplicidade do público enquanto as luzes no palco flutuavam sobre a densa nuvem de gelo seco. “Delta Sun Bottleneck Stomp” fechou o show de forma dançante, mas a banda ainda voltaria para tocar “Dark is Rising”, a música que resume o Mercury Rev a perfeição, com versos que dizem que “tudo é sonho” (título do álbum pós “Desert’s Song”) para concluir “nos sonhos eu sou forte”. Não só nos sonhos, Jonathan. No palco também. Impecável.

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 Primavera Sound, agora sim: até 2012.

Leia também
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2010 (aqui)
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2011 (aqui)

maio 30, 2011   No Comments

Top 5 do Primavera Sound 2011

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Top 5 – Marcelo Costa (Scream & Yell)
1) Jon Spencer Blues Explosion
2) Pulp
3) Mercury Rev
4) Grinderman
5) M. Ward

Melhor momento: “Yoshimi”, do Flaming Lips, em versão voz, violão e efeitinhos. De chorar.

Top 5 – Tiago Agostini (Rolling Stone)
1) Jon Spencer Blues Explosion
2) Pulp
3) Flaming Lips
4) Él Mató a un Policía Motorizado
5) Yuck

Melhor momento: Jarvis Cocker, do Pulp, dedicando “Common People” aos revolucionários

Top 5 – Rodrigo Levino (Veja)
1) Sujfan Stevens
2) Grinderman
3) Pulp
4) Yuck
5) M. Ward

Melhor momento: Tyler The Creator dando um mosh sobre a galera no comeco do show do Odd Future

Top 5 – Marco Tomazzoni (iG)
1) Grinderman
2) PJ Harvey
3) Pulp
4) Flaming Lips
5) National

Melhor momento: Jarvis Cocker, do Pulp, dedicando “Common People” aos revolucionários

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 Leia também
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2010 (aqui)
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2011 (aqui)

maio 29, 2011   No Comments

Barcelona, um barril de pólvora

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O clima continua tenso na capital da Catalunha. Centenas de pessoas continuam acampadas na praça principal da cidade, e na sexta a polícia tentou retirar os manifestantes com bala de borracha e bombas de efeito moral em uma ação que contou até com helicópteros. Em vão. A praça ficou sem as faixas de protesto por poucas horas, pois os manifestantes voltaram com força total no fim da tarde e ocuparam novamente a região.

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A tensão aumentou no sábado. Após o Barcelona despachar o Manchester United e garantir o título da Champions League, a torcida catalã baixou nas Ramblas e na praça para comemorar, e encontrou todas as entradas da praça fechadas com manifestantes segurando cartazes que diziam, entre outras coisas, “Resistência Pacifica”, “Paz” e “No violência”. A polícia cercou o local fechando o acesso a Rambla e a outras três avenidas.

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De um lado, os manifestantes. Do outro, a polícia. Entre eles, a torcida (e dezenas de indianos vendendo cerveja). E repórteres e fotógrafos (com capacete) do mundo todo registrando imagens e histórias da revolução silenciosa. No sábado de madrugada, na Praça da Catalunha, a linha fina que separa a paz do caos estava absurdamente visível. Qualquer gesto equivocado poderia causar uma reação exagerada e, talvez, trágica. Barcelona parece um barril de pólvora prestes a explodir.

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maio 29, 2011   No Comments

Primavera Sound 2011: Dia 3

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O terceiro dia do Primavera Sound 2011 começou cedo em um sábado ensolarado (mas com um vento refrescante do Mediterrâneo) na capital da Catalunha. Cedo naquelas: John Cale iria se apresentar no Auditório do Parc Del Fórum às 17h30, e aqueles que quisessem ver poderiam reservar um lugar pagando 2 euros. As bilheterias abriam às 16h30, e cinco minutos depois os ingressos de reserva estavam esgotados. Para quem não conseguiu a reserva restava apenas tentar a sorte na fila de espera do auditório, e outra fila enorme se formou lotando os 3 mil lugares do local.

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John Cale entrou de saia escocesa acompanhado dos 20 integrantes da orquestra BCN216 mais guitarra, bateria e contrabaixo. No teclado, o ex-Velvet Underground soltou a música que abre seu disco mais famoso seguindo faixa a faixa álbum à dentro. Em 1973, seu ex-parceiro Lou Reed narrava a desventura romântica de um casal em Berlim, um história de amor e drogas que acaba de forma trágica. Neste mesmo ano, John Cale colocou nas lojas “Paris 1919”, um disco cujo mote era um acordo de paz entre nações, fazia uma ode à vida no campo e visava a contemplação.

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A excelente acústica do auditório valorizou as melodias das canções de “Paris 1919” e números como “Hank Panky Nohow” e “Paris 1919” soaram tão líricos e intocáveis que chegaram a emocionar. Cale e orquestra tocaram as nove músicas do álbum original, um b-side das sessões do disco, e seguiram para mais meia hora revisitando a carreira do músico no mesmo horário em que os novíssimos garotos do Yuck aumentavam as guitarras no palco sob curadoria do festival All Tomorrow Parties (dava para ouvi-los da entrada do festival, e o palco é bem distante).

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Na direção contraria, no palco Llevant, o Warpaint conseguiu arrebatar um bom público, que assistiu a um ótimo show no palco que iria exibir a final da Champions League enquanto o palco Ray Ban flagrava a reunião do Papas Fritas, grande pequena banda do indie norte-americano dos anos 90. Quase oito da noite, e com o sol brilhando, o Fleet Foxes mostrou bastante classe no palco principal enquanto Dean e Britta faziam um set acústico em uma pequena tenda (eles iriam repetir a apresentação, mas de forma elétrica, no palco ATP três horas depois).

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Novamente no auditório, mas desta vez com a turma de Jonathan Donahue, que tinha como missão executar as canções do clássico “Desert’s Songs” (que retorna às lojas em versão remasterizada e dupla), e quem viu o Mercury Rev em Curitiba, 2005, sabe que eles podem muito ao vivo. E o grupo não decepcionou abusando do gelo seco e das luzes climáticas, mas tocando com intensidade boas versões de “Holes”, “Tonite The Shows”, “Opus 40” e “Goddes In The Highway”, quatro cavalos de batalha do grande disco.

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PJ Harvey voltou a apresentar quase a integra do repertório do excelente “Let England Shake” para um público que parecia ter aprovado o disco. Os hits “C’mon Billy”, “Down By The Water” e “Big Exit” marcaram presença em um dos shows hors-concours de 2011. Pausa para pizza, hambúrguer e batatas fritas, e na sequencia o grande show de todo o fim de semana: Jon Spencer Blues Explosion, que levou quase 5 mil pessoas para o palco do ATP e fez um show venenoso e intenso, uma porrada movida a duas guitarras e bateria seca que garantiram ao power trio a medalha de ouro do rock and roll no Primavera Sound 2011.

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Ainda rolou de ver duas músicas do Odd Future no palco curado pela Pitchfork, mas a festa já estava com os minutos contados. Apesar dos contratempos do primeiro dia, o Primavera Sound conseguiu entrar nos eixos na sexta-feira e o sábado viu uma festa sem igual no parque aos pés do Mediterrâneo naquele que é considerado por muitos (músicos inclusive) um dos grandes festivais de música do planeta. 140 mil pessoas passaram pelo Parc Del Fórum, e ainda rolam shows no domingo no Poble Espanol, mas já é possível cravar que o Primavera Sound 2011  baixa as cortinas com saldo positivo. Que venha 2012.

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Top 5 do Dia 3
1) Jon Spencer Blues Explosion
2) John Cale
3) Mercury Rev
4) Fleet Foxes
5) Warpaint

Leia também
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2010 (aqui)
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2011 (aqui)
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2012 (aqui)

Todas as fotos por Marcelo Costa

maio 29, 2011   No Comments

Primavera Sound 2011: Dia 2

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No segundo dia de sua edição 2011, o Primavera Sound, em Barcelona, corrigiu os erros que tumultuaram a abertura e o festival foi quase irretocável. A produção abandonou a ideia do cartão recarregável e devolveu o dinheiro daqueles que chegaram a colocar cash liberando assim o pagamento de alimentação via dinheiro. E ainda colocou muito mais ambulantes vendendo cerveja festival afora. Muito mais cheia que a primeira noite, a segunda só não foi perfeita porque a limpeza durante o festival (que no ano passado já havia deixado a desejar) ainda não funciona, e ali pela meia-noite o Parc Del Fórum parece mais um depósito de copos de plástico do que um local de shows.

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O line-up do segundo dia também parecia melhor que a noite de abertura e a festa começou com o retorno do The Monochrome Set (o plano era pegar o Fiery Furnaces no Llevant no mesmo horário, mas as pernas disseram não). Até o casal Dean Warehan e Britta Phillips assistiu ao show em meio a galera. O som é totalmente Smiths e fica a dúvida: Morrissey e Marr copiaram eles ou eles decidiram copiar os Smiths neste show de volta? Se a queixa não der em nada, afinal o Interpol segue impune tocando após tantas CPIs, fica o comentário: o Monochrome Set se esforçou muito para parecer Smiths no Primavera Sound. Não precisava.

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Distribuindo sorrisos e felicidade, M. Ward, que veio ao festival sem a Zoey (sua cara metade no She and Him), fez um show arrebatador no palco principal para uma audiência de respeito ainda com o dia claro. No set list, canções de sua carreira solo, do supergrupo indie Monsters of Folk e covers de Daniel Johnston e Chuck Berry que fizeram muita gente arremessar o chapéu de palha (distribuído por um dos patrocinadores do festival) para o alto. Daqueles shows para estampar sorriso na cara de quem assiste.

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Já o National mostrou como está enorme ao levar uma multidão para o quinto dos infernos, ou melhor, o palco Llevant. O grupo de Matt Beringer (o homem que bebe uma garrafa de vinho por show) superlotou a área e o público espanhol foi brindado com uma apresentação matadora dos novaiorquinos, que em vários momentos lembrou a banda insana de dois, três anos atrás. No palco principal, o Belle and Sebastian distribuiu hits e fofurices em um show bastante parecido com a apresentação de São Paulo do ano passado enquanto o Explosions In The Sky chegou avisando que “o mar era nosso” para fazer um show bonito.

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1h30 da madruga, e uma multidão aguardava ansiosamente a grande atração da noite (e do festival). Frases no telão brincavam com o público: “Será que você está fazendo parte de uma piada?”. Pontualmente às 1h45, o nome do grupo foi acesso letra a letra no fundo do palco, e Jarvis Cocker entrou para deixar o público ainda mais enlouquecido: “Esse é o nosso primeiro show em 9 anos. Nós tocamos aqui 9 anos atrás. Nosso guitarrista entrou na banda 15 anos atrás. Mas hoje não vamos falar de história: vamos fazer história. Do You Remember The First Time?”.

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A postura de Jarvis como frontman impressiona. Ele se requebra e dança desajeitado, mas exprime um charme incomum. Ele provoca o público com gestos sexy mostrando que aprendeu direitinho tudo que viu das aulas de David Bowie. E canta, mas canta muito. E distribui um hit atrás do outro. “Disco 2000” fez a plateia inteira gritar a letra até ficar rouca, mas o show ainda reservava muitas surpresas, como um inusitado pedido de casamento no fosso no meio da apresentação. Jarvis desceu para cantar “Spy” com a galera da grade, depois perguntou o nome do casal que estava vendo o show na área de fotógrafos, e emendou: “Ele tem uma coisa para te falar”. Aproximadamente 30 mil pessoas testemunharam o pedido. E ela aceitou…

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Uma faixa no meio da galera dizia: “Spanish revolution: sing along with de common people”. Jarvis não desperdiçou o momento. “É complicado quando uma pessoa de fora chega em seu país e emite uma opinião, mas vi a faixa de vocês e só tenho a dizer que algo está errado quando a polícia entra em uma praça e pessoas inocentes vão para o hospital”. A audiência foi ao delírio, e o grande hit do Pulp ecoou com milhares de pessoas cantando junto a Jarvis em um momento realmente emocionante de um show que ainda vai crescer muito com as próximas apresentações, e deverá estar impecável quando a banda chegar no Hyde Park, em Londres.

Desde já, um dos históricos shows de 2011.

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Último dia de festival no Parc Del Fórum (o domingo ainda guarda shows no Poble Espanol), e a organização conseguiu resolver a pendenga futebolística, e a decisão da Champions League será transmitida pelo telão do palco Llevant. De shows, o sábado tem John Cale no anfiteatro, Yuck, Papas Fritas, Warpaint, Fleet Foxes, PJ Harvey, Dean Wareham e Britta Phillips, Jon Spencer Blues Explosion, Mogwai, Odd Future e Animal Colective. Partiu.

Top 5 do Dia 2
1) Pulp
2) M. Ward
3) The National
4) Explosions In The Sky
5) Belle and Sebastian

Leia também
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2010 (aqui)
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2011 (aqui)
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2012 (aqui)

Todas as fotos por Marcelo Costa (exceto a terceira do Pulp por Inma Varandela / Divulgação Primavera Sound Festival)

maio 28, 2011   No Comments

Primavera Sound 2011: Dia 1

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Começou o Primavera Sound! Na verdade, o festival começou já faz umas duas semanas com dezenas de shows em lugares pequenos da cidade, mas pra valer, com 10 palcos e um punhado de atrações, a festa começou na quinta. O aumento de 20% de entradas parece ter abalado a organização do Primavera. Filas enormes para retirar pulseira e recarregar o cartão com dinheiro para comprar comida e bebida marcaram as primeiras horas do festival. E eles não perderam tempo: liberaram no mesmo dia para que se pudesse consumir pagando em cash e vambora.

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Uma das apostas da organização do evento, o quarteto Sonny and The Sunsets – comandado pelo ótimo Sonny Smith – fez uma boa apresentação no palco Llevant, que fica no quinto do infernos do festival. Haja pernas. De lá para o anfiteatro do Parc Del Fórum, um prédio estranho desenhado pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, parece um dia de viagem (exagero, claro, mas só para você ter uma ideia: é longe pacas).

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E foi ali no anfiteatro lotado que Sufjan Stevens fez uma apresentação irretocável, estranha, galáctica. O músico – de asas de anjo – chegou se apresentando e entregando o mote da noite. “Eu sou Sufjan Stevens e toco folk, mas esta noite vou tocar pop cósmico. Espero que vocês entrem na minha nave espacial”, mandou o norte-americano em um ótimo espanhol. A produção espetacular era de fazer o queixo bater no chão três vezes. A música, por sua vez, era algo de tribal, eletrônico, lembrava Radiohead e ao mesmo tempo Paul Simon e Lady Gaga. Uma frase de Sufjvan ficou ecoando durante um tempo na cabeça: “A dor é bonita quando você sofre para crescer”.

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O clima de amor do show de Sufjvan ficou de lado quando Nick Cave adentrou o palco principal de guitarra em punho com o Grinderman. Quando alguém disser para você que rock and roll é coisa do mal só pode ser do Grinderman que ele está se referindo. Nick Cave declama, teatraliza, joga guitarra no chão, o microfone, canta de mãos dadas com o público enquanto Warren Ellis e compania fazem o inferno atrás. A nuvem de riffs passa cortando a noite, mesmo com as guitarras em um volume mais baixo que o usual. Show da noite (agora imagina se eles tivessem com o som perfeito?)

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No pequeno e aconchegante palco Jagermeister Vice, os argentinos do El Mato A Un Policia Motorizado fizeram uma apresentação empolgante para um público empolgado. E abrindo caminho para o fim do primeiro dia (ao menos para nós), Flaming Lips no palco principal. Wayne Coyne padece de carência e o show reúne momentos de anticlímax com passagens absurdamente sensacionais. O vocalista fala muito, mas a versão semi acústica de “Yoshimi Battles the Pink Robots” foi daquelas coisas de fazer a alma chorar. Coyne fala muito, mas quando canta garante um bom show.

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Para o segundo dia do festival, muita coisa boa para ver. Tem Belle and Sebastian, Fiery Furnaces, National, Deerhunter, Explosions In The Sky e mais umas 50 atrações. Sobretudo tem Pulp, o primeiro show da volta. Que venha Jarvis Cocker.

Top 5 Dia 1:
01) Grinderman
02) Sufvan Stevens
03) Flaming Lips
04) El Mato A Un Policia Motorizado
05) Sonny and The Sunsets

 Fotos: http://www.flickr.com/photos/maccosta

Leia também
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2010 (aqui)
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2011 (aqui)
– Os destaques dia a dia do Primavera Sound 2012 (aqui)

Todas as fotos por Marcelo Costa (exceto Grinderman, por Dani Canto / Divulgação Primavera Sound Festival)

maio 27, 2011   No Comments

Um porre de Voll-Damm

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Hora de organizar o caos: Barcelona ferve. Os relógios marcam 30 e tantos graus, mas o vento do Mediterrâneo é uma benção. Chegamos com mala, cuia e cervejas no apartamento na quarta à noite. A janela do quarto tem vista para o Mercado de La Boqueria, mas nem quisemos aproveitar a vista e o local: saímos em disparada para o Poble Espanyol, local que receberia na mesma quarta o Echo and The Bunnymen (tocando os dois primeiros discos) e o Caribou, mas quem diz que conseguimos entrar.

A fila para retirada de pulseiras era imensa e uma hora antes do show do Echo o Poble já estava completamente tomado. Para não perder viagem, ficamos na fila admirando o Pavilion Mies de Van de Rohe e, depois, com pulseiras em punho, subimos até o Museu Nacional de Arte da Catalunha para observar Barcelona do alto. Já que não tinha show, decidimos por cerveja, e o porre de Voll Damn, melhor cerveza strong lager do mundo em 2007 pelo World Beer Awards , bateu forte. Não se brinca com 7,2% de graduação alcoólica…

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O porre na quina-feira foi inevitável. Até o corpo e restabelecer foi quase toda manhã, mas consegui não perder o bonde para que passou pela minha loja predileta de CDs de Barcelona (a Revolver Records, na Carrer dels Tallers, 11, travessa das Ramblas, um paraíso de bootlegs sensacionais) e depois seguiu Passeio da Grácia acima em direção ao Quarteto da Discórdia (com três prédios sensacionais um ao lado do outro – incluindo a Casa Batlô, de Gaudi) e, mais acima, na Casa Mila, a La Pedrera, outro Gaudi de tirar o folego. Almoçamos (bem) aos pés da Sagrada Família.

Neste primeiro dia de cidade não deu para perceber o caos das manifestações na cidade. Muita gente permanece acampada na Praça da Catalunha, e o grande burburinho na cidade tem relação com um possível título do Barcelona na Champions, sábado. Historicamente, a torcida comemora os títulos do clube na Praça da Catalunha, mas a polícia decidiu montar o telão no Arco do Triunfo tentando evitar um confronto entre torcedores e manifestantes. O clima promete esquentar se o Barcelona ganhar…

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Ps. Você já deve ter lido isso várias vezes aqui, mas preciso repitir: eu amo Barcelona

maio 27, 2011   No Comments