Category — Cenas de SP
Cenas da Vida em São Paulo – O encontro
Manhã fria de sol. Ele está completamente entretido na leitura de um livro, tão concentrado que quase perde o ponto de descida do ônibus. Desce e caminha em direção a um posto de conveniência, pede dois pães de queijo com recheio de requeijão com azeitona e um isotônico, e sai da loja desajeitado com o livro em uma mão, os pães de queijo e o isotônico na outra, e a mochila nas costas.
Assim que entra na rua do trabalho, atravessa de uma calçada para outra, e no instante em que pisa na outra calçada, se vê frente a frente com o homem, que caminha entretido ao lado de sua mulher. O rapaz o olha, e para, estático. São alguns segundos que parecem horas até cair a ficha, que ecoa dentro de sua cabeça: “Era o Arnaldo Baptista? Era o Arnaldo Baptista. Arnaldo!!!!!”.
Ele vê o homem e sua mulher se distanciando, pensa em gritar seu nome, sair correndo para um abraço, um cumprimento, mas fica estático. No ar, cheiro de pão de queijo.
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Um dia antes, conversa de MSN:
Marco Tomazzoni diz:
– Esqueci de te contar. O Arnaldo estava na Rua Amauri hoje de manhã.
Marcelo Costa diz:
– Antunes?
Marco Tomazzoni diz:
– Não! Baptista!
Marcelo Costa diz:
– Sério???? Como assim???? E você deu um abraço nele???
Marco Tomazzoni diz:
– Não…
Marcelo Costa diz:
– Como assim????
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Agora entendo a resposta negativa do Marco. A propósito, “Loki”, o documentário obrigatório de Paulo Henrique Fontenelle sobre Arnaldo Baptista estréia hoje nas seguintes cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Tubarão, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Recife, Fortaleza e Salvador. Assista. E, por um momento, feche os olhos e de um abraço no Arnaldo.
Leia também:
– “Loki”, de Paulo Henrique Fontenelle, por Marcelo Costa (aqui)
junho 19, 2009 No Comments
Cenas da vida em São Paulo – O espelho
Dez horas da manhã, centro de São Paulo. Um rapaz carrega em sua mochila alguns CDs que precisa colocar no correio. Ele saiu para a rua, comprou os envelopes, e começou a procurar um netcafé para que pudesse pegar os endereços de que precisava. Na Avenida São João, pouco depois da Ipiranga, há um Centro de Atendimento ao Turista:
– Oi, bom dia. Você saberia me informar onde há um lugar em que eu possa acessar internet por aqui?
– Aqui mesmo. Na verdade, eu não sei se está aberto, mas é virando ali – diz a menina da recepção desculpando-se graciosamente na seqüência: – É o meu primeiro dia de trabalho…
O local indicado pela garota era um Telecentro. A pessoa vai, faz o cadastro e com um número de inscrição em mãos pode usar internet uma hora por dia em qualquer telecentro do país. O rapaz dá seu RG para o atendente, que preenche o cadastro e pergunta se o rapaz vai querer usar a internet de 11h às 12h. Resposta positiva, então é só aguardar 15 minutos pelo horário marcado.
Em um balcão lateral, enquanto lê um livro e observa o ambiente (não necessariamente nessa ordem), o rapaz percebe que um senhor (aparentando mais de 70 anos, com roupas simples e olhos tristes) deixa um computador e vem em sua direção. Antes, ele passa no balcão de atendimento, pega uma folha que mandou imprimir, e começa o diálogo/monologo:
– Eu já fiz vários cursos aqui nessa galeria, alguns duas vezes. Fiz um para consertar computadores. Era uma sala com vários computadores quebrados, e nós íamos lá, mexíamos aqui, ali, e então a tela acendia… ligava. Você sabe que esse Telecentro não é da Prefeitura? Não é. Eles entraram apenas com o nome. Foi um projeto da União Européia, que decidiu colocar Telecentros em 83 países. Houve um evento em Barcelona, no começo deste ano, e o diretor deste Telecentro, sabendo que sou ator, pediu para que eu gravasse um vídeo para que ele pudesse mandar para lá. Eu sentei naquele cantinho, e sem ter ensaiado nada, fiz um improviso. Acabaram de me enviar esse email. Olha aqui. Está dizendo que o vídeo que eu mandei foi escolhido o terceiro melhor de mais de 80 que foram enviados. O terceiro melhor do mundo. Então, meu filho, saiba que podem roubar tudo o que você tem, mas nunca vão roubar o que você sabe. Se algum dia você estiver mal, as coisas não estarem dando certo, lembre-se disso. Olhe no espelho e pense em tudo o que você sabe fazer, pois isso é seu e ninguém pode tirar. Deus te abençoe.
Ele estendeu a mão ao rapaz para um aperto e sumiu na imensidão dos 11 milhões de habitantes de uma cidade que muitas vezes não tem rosto e nem coração, mas que surpreende vez em quando por respirar e ter alma. Alma.
maio 30, 2009 No Comments
Cenas da vida em São Paulo – o colesterol
Quase oito da manhã de uma quarta-feira. O cara acorda atrasado para uma consulta médica e decide sabiamente pegar um taxi. Já dentro do veículo…
– Rua Marceleza foi o que o senhor disse?
– Isso (na verdade é Marselhesa), na Vila Mariana.
– A gente passa por tantos lugares trabalhando de motorista de taxi que eu até acho que já passei por essa rua ai, mas não estou me lembrando agora.
pausa – maldita hora em que esqueci de imprimir o mapa no Google – fecha pausa.
– É um pouco antes do Shopping Santa Cruz – arrisco.
– Ah, é perto do Shopping Santa Cruz. Então tá fácil.
É claro que ele ignorou o “um pouco antes” e entrou na primeira depois do shopping. Deu várias voltas até parar alguém, perguntar, e dizer:
– É mais lá atrás…
E o papo segue.
– Estou indo fazer um check-up para a firma.
– Eu não gosto de médicos, sabe. Tem um cara lá no nosso ponto que tinha um vida bem boa e nunca tinha ficado doente. A mulher dele encheu tanto o saco para ele ir ao médico, e ele foi. Ai descobriu que o colesterou estava alto, teve que entrar num regime, parou de beber, comer coisas gordurosas, essas coisas, e agora vive tomando remédio, está sempre doente, e reclama da mulher. Era feliz e não sabia.
– silêncio.
– Número 500, né? Chegamos, Bons exames.
– sorriso sem sal.
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Fui pegar hoje o resultado de meus exames de check-up. Fora o oftalmo, que encanou que não ando enxergando bem as coisas, o resto está tudo bem (viu, mulher!). O colesterou no geral está alto, mas nada alarmante. O desejável é até 200mg, e estou com 202mg (na faixa limite que vai de 200 até 239). Colesterol alto só acima de 239. Já o colesterou ruim (o LDL) está mais sossegado. O nível ótimo é 100. O desejável é de 100 a 129. O limite é de 130 a 159. Elevado vai de 160 a 189. Muito elevado de 189 para cima. Estou com apenas 127. \0/ Ou seja: vou comer sim essa baguetinha do post anterior em Florença. Ainda sou feliz.
maio 20, 2009 No Comments
Ressaca (atualizada)
Se você estiver caminhando por ai e topar com uma holandesa Amsterdã 500 ml na graduação alcoólica de 8,4%, tome cuidado. Tome muuuuuito cuidado.
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Bem, sábado, e estou todo detonado ainda. Lili não se conformava com a ressaca, e segundo meus relatos saiu-se com essa: “Você comeu algo estragado”. Refiz meu roteiro de quinta, e não é que ela estava certa. Como podemos viver em segurança se não podemos confiar no molho vinagrete de um dos nossos botecos favoritos?
Na quinta, prevendo a bebedeira, passei em um dos meus botecos prediletos para comer um dos meus sanduíches prediletos: Pão com mortadela com molho vinagrete. Na primeira mordida senti um gosto diferente do normal, mas fiquei entretido pelo ambiente.
Dez segundos depois chegou um um cara com enormes fones de ouvido, e sem tira-los fez um sinal com o indicador para o garçom, que logo lhe trouxe uma latinha de Skol. Nesse meio tempo ele me olhou, tirou os fones, colocou nos meus ouvidos e disse: “Esse cara não é foda?”. Nos aproximadamente cinco segundos que ouvi deu para reconhecer a voz de Robertão cantando o soul “Não Vou Ficar”. Ele tirou exclamando: “O tempo passa, mas ninguém consegue fazer isso”.
Foram só essas duas frases em dez segundos, ele colocou novamente o fone, fez um sinal de positivo com a cabeça e saiu levando a latinha de cerveja nas mãos. Pensei: vou escrever um Cenas de São Paulo disso e comecei a perceber mais coisas que aconteciam no bar enquanto devorava meu pão com mortadela com vinagrete estragado. Terminei, fui para o show, enchi a cara, acordei mal para trabalhar no dia seguinte e no meio do dia voltei para casa detonado.
Daquelas situações em que a azeitona da empada realmente faz mal.
Ps. Ou seja, a Amsterdã está liberada para consumo. Mesmo assim, não gostei tanto dela.
janeiro 30, 2009 No Comments
O documentário da loja Nuvem Nove
Já está no ar o documentário “Saudades da Nuvem Nove”, que traz gente boa como os amigos Sérgio Martins, Paulo Cavalcanti, Regis Tadeu e Fábio Massari – além do mestre Marcelo Nova – contando suas histórias dentro de uma das lojas de CDs mais bacanas da cidade, que baixou ás portas em 2008 após 17 anos de batalha. Eu apareço em uma das passagens, quando estamos posando para uma foto na frente da loja. Você pode assistir ao documentário online aqui, ou pode escrever para o Paulo Beto e solicitar uma cópia.
dezembro 24, 2008 No Comments
Cenas da vida em São Paulo – Parte 9
O sol forte do meio dia beija a cabeça dos transeuntes. Em uma travessa da Rua Augusta, uma senhora imóvel no meio da calçada filosofa com algum ser invisível:
– Eu tô te dizendo. Quase todo mundo fuma maconha em São Paulo.
– …
– Tô te falando. Quase todo mundo fuma!
-…
– Mais de 200% das pessoas de São Paulo fuma maconha. Principalmente quando está com fome.
dezembro 6, 2008 No Comments
Cenas da vida em SP – Bonnie ‘Prince’ Billy
Foto: Marcelo Costa / Scream & Yell
O show está no meio, mas o rapaz quer evitar as filas e se encaminha para o caixa para pagar a conta. Uma garota, meio bêbada, balança para lá e para cá perto do local. Ela olha esperando cumplicidade, e o rapaz se coloca atrás dela como se estivesse entrando numa fila. O segurança orienta a posição correta, e isso basta para ela puxar papo:
– Como se fosse fazer diferença, né.
– É…
Ela olha e ele tenta decifrar o que está passando pela cabeça dela até que um amigo chega e lhe passa um celular. Ela olha quem está ligando, leva o aparelho ao ouvido, e começa o diálogo:
– Oi. Onde você está? (parece perguntar a pessoa do outro lado)
– Estou num funeral – responde a menina, irritada, emendando ainda – Não posso falar muito alto, pois é capaz do cara que está encostado no bar bater em mim (diz ela olhando em direção ao homem).
A ligação continua, mas já não é possível entender o diálogo. Alguns “shhhhhhh” dominam o ambiente. Ela desliga o celular e volta para a fila. Olha o rapaz e pergunta:
– Você sabe quem é esse cara que está tocando?
– Bonnie “Prince” Billy.
– Ahhhh, ele é estrangeiro?
– Americano.
– E o que é esse som?
– Folk.
– Punk?!?!
– Foooolk!
– Ahhhhh. Parece música de velório – diz ela, virando-se para um amigo e ordenando – Vamos embora daqui antes que alguém bata em mim. E lá se foi ela para alguma balada eletrônica… ou algum forró.
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Essa cena é bastante comum em São Paulo. Na primeira vez que vi o Echo and The Bunnymen, no Via Funchal, 1999, eu havia saído de Taubaté para vir ver o show na capital. Exatamente na minha frente, ali quase no gargarejo, um rapaz vira para o lado e pergunta a outro:
– Que música toca essa banda ae?
– …
– Eles não tem nenhum sucesso, alguma música famosa?
– Olha, tem vários…
– Acho que nunca ouvi nada deles, mas eu gosto de vir a shows aqui. Semana passada eu vi o Alphaville. Foi bem legal…
O diálogo parou por ai, mas fiquei pensando durante muito tempo em quantas pessoas gostariam de estar no lugar deste cara que não tem a mínima idéia do que seja Echo and The Bunnymen ou, atualizando, no da menina que acha que Bonnie “Prince” Billy é um cantor de velórios. Em Taubaté, nos anos 80 e 90, qualquer show era um grande evento. Em São Paulo parece um mero passatempo. E passatempo é o que menos o show de Bonnie “Prince” Billy foi, apesar do Studio SP não inspirar intimismo e o som estar assustadoramente baixo.
Durante duas horas e meia (!), Bonnie “Prince” Billy mostrou ao público que realmente enxerga a escuridão. Acompanhado por mais um violão, o músico jogou tristeza no colo do público, e durante a primeira meia hora assisti ao show colado ao palco, fotografando e admirando a melodia das palavras e acordes. Porém, ao tentar curar minha gripe com cerveja, desloquei-me para o bar e deixei-me levar pelo cenário esquizofrênico de uma noite típica de São Paulo, em que algumas tribos diferentes se esbarram e se relacionam.
Fãs do cantor grudavam no palco e pediam canções, que eram atendidas de imediato. Esse fanatismo musical seguia-se até a quarta ou quinta fileiras que rodeavam a frente do palco. Dali para trás já havia um grupo – de fãs e não fãs – que separava o “gargarejo” das rodas de bate papo. E o “shhhhhhh” foi a coisa mais ouvida em toda a noite. Fiquei perto do bar conversando com um amigo, bebendo cerveja e ouvindo um fio de voz ao longe gritar “I See a Darkness”. Bonnie “Prince” Billy merecia maior atenção, mas a noite foi bastante interessante.
Quem sabe, numa próxima vez, ele não toque em um teatro em que a música seja a principal estrela e não precise ficar brigando com a busca pela cerveja, vodka ou afins; com amigos discutindo o real valor de “Chinese Democracy”, se Paul McCartney vem ou não vem e qual noite do R.E.M. em São Paulo foi a melhor; com meninas paquerando enquanto gingam o corpo dançando um som que não tem ginga. É bem provável que a noite tenha sido ruim apenas para a turma que ficou na linha que separava os dois públicos. De ambos os lados do muro a noite parece ter sido divertida. Apesar de toda a tristeza…
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Mais fotos do show de Bonnie ‘Prince’ Billy em São Paulo (aqui)
novembro 28, 2008 No Comments
Cenas da vida em São Paulo – Parte 8
Sexta-feira. Ônibus parcialmente lotado. No fundão, três amigos conversam. Um oriental está ao lado da janela do lado direito. Ao lado dele, um moreno. Na cadeira do meio, um branquelo, que o oriental insiste em chamar de mestre. Do outro lado, um homem pesca peixes sonhadores, dormindo com o sacolejar da lotação. O oriental o aponta para os dois, e ri. Os três aparentam ter mais de 35 anos.
É o oriental o responsável por manter o fluxo narrativo da conversa. Quando o silêncio se aproxima, ele logo emenda um novo assunto, como fugindo do gongo que anuncia o final da luta no boxe:
– Então, acho que o Radiohead vai tocar em março aqui…
Os outros dois amigos se olham com cara de sexta-feira à noite após uma semana de trabalhos forçados:
– Quem? É uma banda?
– É – responde o interlocutor
– Não conheço – responde um dos rapazes, pelos dois.
Alguns segundos de silêncio e o mesmo rapaz que respondeu diz, quase que de forma inaudível:
– Eu comprei um CD do Renato Borghetti.
– Renato o que? – pergunta o amigo da ponta.
– Borghetti. É um sanfoneiro.
– Tipo o Gonzaguinha? – pergunta outro
– Não, ele é gaúcho. Faz música regional.
– …
O juiz sobre o ringue de boxe começa a contagem para encerrar a conversa. Quando chega no oito, desesperado, o oriental vai e pergunta qualquer coisa para um dos amigos:
– Você comprou algum livro do Dostoievski na feira da Geografia
– Quatro – responde o outro.
O ouvinte, que flagra a conversa dos três amigos, começa a pensar que – em menos de cinco minutos – a conversa saiu de Thom Yorke, passou por Renato Borghetti, chegou em Gonzaguinha e terminou em Dostoievski. Poucos escritores no mundo conseguiriam tal façanha em um curto diálogo.
O ônibus está chegando ao final, e enquanto um dos amigos tenta adivinhar os Dostoievski que foram comprados por aquele que não conhece Radiohead, mas é fã do Borghettinho (“Crime e Castigo”, já tenho, “Os Irmãos Karamazov”, já tenho, “O Idiota”, já tenho, “Os Demônios”, já tenho, “Noites Brancas”, esse eu peguei agora), o outro retoma o ponto inicial da conversa:
– Qual banda que você falou que vai tocar mesmo nesse feriado?
– Radiohead, responde o outro, envolvido na descoberta dos outros três Dostoievski que foram comprados.
Se alguém disser a você que o Radiohead vai tocar em São Paulo no feriado, duvide.
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O ônibus chega ao ponto final, metrô Vila Mariana. Os três amigos descem e uma conversa entrecortada passa pelo ouvinte, que só consegue pegar uma frase. Uma amiga diz para a outra, enfaticamente:
– Eu quero essa cidade só para mim.
Nananinanão. Vai ter que dividir.
novembro 15, 2008 No Comments
Uma tarde na Liberdade
Como que nos preparamos para conhecer outros lugares do mundo se nem conhecemos bem a cidade e o país em que nascemos? Toda vez que volto para casa após uma viagem me questiono isso. Como admiro igrejas de outros lugares e não entro na Catedral da minha cidade? Como procuro conhecer os pontos históricos de Buenos Aires, Santiago, Londres e Paris e deixo passar batido a dura poesia concreta de São Paulo?
Pensando nisso, assim que voltei pra casa após minha temporada européia já comecei a planejar passeios imaginários que precisava realizar, desde tentar passar uma tarde gostosa no bairro da Liberdade até fazer o percurso Mariana/Ouro Preto de Maria Fumaça. Este último pode acontecer em setembro. Já o primeiro fizemos neste domingo passando pela Catedral da Sé, desbravando um pouco da culinária oriental, entrando num supermercado e bebendo suco pobá.
Segundo infos da Wikipedia, o bairro da Liberdade é um distrito da região central da cidade de São Paulo. É o maior reduto da comunidade japonesa na cidade, a qual, por sua vez, congrega a maior colônia japonesa do mundo, fora do Japão. Uma multidão de pessoas circula pela rua Galvão Bueno, a via principal, dominada por luminárias tipicamente orientais e por estabelecimentos onde as placas são escritas em caracteres orientais.
Meu plano inicial era levar Lili para experimentar o indescritível suco pobá de frutas tropicais na Padaria Itiriki Bakery (Rua dos Estudantes, nº 24), que já foi premiada pela excelente qualidade de seus pães artesanais. O sabor de frutas tropicias, no entanto, está em falta (“Deve chegar em uns três meses”, informou a balconista) então decidi encarar o de Inhame com Leite, cujo gosto me informaram ser de baunilha.
Lili, decididamente, não gostou. Após experimentar o suco, agarrou sua coca-cola e não largou e nem quis experimentar mais. A característica principal do suco tobá são as bolinhas (tipo sagu, mas beeem grandes) que ficam no fundo do copo, e que sobem junto com o líquido adocicado pelo grosso canudo. Assim, o de frutas tropicais é melhor, mas nenhum deles é delicioso com todas as letras. É… estranho, mas interessante. Numa comparação, prefiro o mate com leite.
Após o lanchinho na Itiriki Bakery voltamos para a Galvão Bueno, descemos à rua e entramos em um supermercado. Em meio ao milhão de ofertas tentadoras e estranhas nas prateleiras (quase todas com uma etiqueta traduzindo o conteúdo descrito em japonês), Lili comprou dois pacotes de balas (um de leite e outro de açúcar mascavo com mel) enquanto eu abracei uma garrafinha pequena de saquê.
O desafio, no entanto, viria a seguir, e perdoem-nos os fãs e apreciadores, mas nem eu, nem Lili, gostamos de comida japonesa. A gente já sabia disso, mas precisávamos confirmar. Nós decididamente tentamos, viu. Entramos no Café Restaurante Banri para um almoço e pedimos um porção de guioza, um banri yi pequeno de sushi com 13 unidades (três niguiri, seis sashimi e três uramaki) e um mini temaki (com um de atum e dois de salmão).
Primeira boa notícia: consegui comer com os hashis. Não manuseei como um mestre, mas acho que dava para tirar uma nota cinco e passar de ano. O guioza estava ok, mas o que eu e Lili comemos na casa do Rodrigo e da Dani meses atrás dava de dez nessa. Esse pastelzinho (no nosso caso, de carne) cozido a vapor é uma boa entrada. Para acompanhar, uma Sapporo (4,9%), cerveja japonesa meio aguada cujo rótulo diz “Japan’s Oldest Brand”, mas que é feita no Canadá.
Até gostei dos sashimis (fatias finas de peixes ou de frutos do mar crus) de salmão, mas não dos de atum. O mesmo vale para os niguiri (bolinho de arroz em forma alongada coberto por uma fatia de peixe cru ou ainda polvo e camarões) e temaki (cone com alga por fora recheado com arroz, peixe, legumes ou cogumelos) de salmão. Os uramaki (arroz sobre folha de alga, tiras de peixe ou outros ingredientes, enrolado de forma com que o arroz fique na parte externa) também desceram ok.
Então você diz: “se a comida desceu ok, então tudo bem”. Mais ou menos. A comida é ok, mas não é um prato que eu tenha prazer em comer. O peixe cru não desce realmente bem (essa é a verdade), pelo gosto (de tempero de shoyo) e por sua tendência pastosa. A temperatura fria da maioria dos pratos também não me agrada. E mesmo tendo aprovado camarão frito em Maceió após muito tempo, e adorar filé de pescada, das águas salgadas continuo gostando mesmo é de sereia. (hehe)
Mesmo assim foi um avanço, vamos admitir. Da última vez que eu havia ido jantar na Liberdade, com a namorada e um casal de amigos, em um restaurante da badalada rua Thomaz Gonzaga, pedi um filé-mignon enquanto eles comiam comida japonesa. Hoje entrei no clima, e a tarde gostosa no bairro da Liberdade terminou com o bom picolé coreano Melona. Tem de vários sabores (banana, morango, abacaxi), mas eu fui no tradicional Melon Flavored Ice Bar, ou seja, Melão. É um sorvete cremoso formato barra (tipo espetinho de queijo) que faz sucesso no bairro. Curti.
Padaria Itiriki Bakery
Rua dos Estudantes, 24, Liberdade
Preço em média do suco de pobá: R$ 7,90
Banri Café Restaurante
Rua Galvão Bueno, 160, Liberdade
Preço em média do almoço (duas pessoas): R$ 40,00
Sorvete Melona: R$ 3,50
Supermercado Narukai
Rua Galvão Bueno, 34, Liberdade
Preço em média do pacote de balas: R$ 4,20
Preço em média do saquê 150ml: 4,00
Crédito das fotos: Wikipedia (primeira) e Lili Callegari (as demais)
agosto 24, 2008 No Comments
Quatro cervejas e Del Rey
Foram só quatro cervejas (ao menos é o que estava anotado na comanda) e acordei com uma leve ressaca. Como cantaria Wander Wildner, eu não bebo mais como eu bebia. Já o show do Del Rey foi… um pouquinho de vergonha alheia. Não sei, mas acho que criei muita expectativa de ver a banda e tal, e me decepcionei. A idéia de perverter o repertório do Rei é ótima, mas me falta humor suficiente para agüentar “Emoções”. O grande momento do show é um medley que une “Detalhes” a “Como é Grande o Meu Amor Por Você”, e mesmo aqui o grupo esbarra na pieguice. Vale muito como diversão, mas eu esperava mais. Só mais uma coisa: “Ilegal, Imoral ou Engorda” é foooooda.
Já sobre o novo espaço do Studio SP, na rua Augusta, uns dois minutos do meu apartamento, me dividi. Ele ganha em localização (nada contra a Vila Madalena, mas a Mada já era no quesito balada), o espaço é maior, a pista é muito melhor, mas o pessoal precisa limitar o número de pessoas que entram na casa, pois senão fica intransitável fazendo com que o ato de pegar uma cerveja se transforme em uma tarefa árdua e cansativa (e vamos combinar: pegar cerveja tem que ser um prazer – hehe). No mais, o “novo” público da casa é interessante. E o que dizer de sair na balada e ver o Pereio alugando um cara no meio da pista. Sensacional, vai.
Ps. Último dia de trabalho. No fim da tarde, férias. Volto apenas 11 de agosto (ao iG). Na terça, Europa. Espero que a ressaca passe até lá (não a ressaca de ontem, mas a de hoje – Superguidis no CB – e a de amanhã – Autoramas no Inferno e/ou Curumin no Studio SP).
junho 27, 2008 No Comments