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Category — Cervejas

A inesquecível Westvleteren 8

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Westvleteren é uma aldeia na província dos Flandres Ocidentais, na Bélgica. A cidade (quase na fronteira com a França) é conhecida por dar nome a uma cervejaria fundada em 1838 na abadia trapista de Saint Sixtus, que já foi apontada por especialistas como fabricante da melhor cerveja do mundo. O título que daria orgulho para muitas cervejarias não foi visto com bons olhos no monastério. “Nós fazemos a cerveja para viver, mas não vivemos para a cerveja”, avisou o coordenador do claustro, Mark Bode, em entrevista (imperdível) ao tablóide britânico The Independent.

“Os monges acreditam que o mais importante é a vida monástica, não a cervejaria”, continua Mark, lembrando que a produção de cerveja da Westvleteren visa apenas financiar a comunidade – assim como as outras cinco cervejarias trapistas belgas conduzidas por religiosos (a saber: Westmalle, Achel, Chimay, Rochefort e Orval). Eles levam a regra tão à sério que você não irá encontrar as Westvleteren para comprar em empórios ou distribuidores: desde 1941 ela é vendida unicamente no mosteiro, com cota máxima de cinco caixas de 24 garrafas para cada pessoa, e o cliente tem que prometer não vender a cerveja! Você sabe, Deus está vendo.

Essa número 8 da foto acima chegou a minhas mãos como um presente especialíssimo do Guilherme Tosi (@guilhermetosi), que visitou o mosteiro e comprou um pack de seis cervejas. A garrafa não traz rótulo, mas a tampinha leva o brasão da casa e exibe a validade – neste caso, maio de 2013 – além de avisar que você está diante de uma cerveja de 8% de graduação alcoólica. Eles ainda fabricam uma versão loura, de 5,8%, que é liberada para consumo dos próprios monges, e uma número 12 (de 12% de graduação alcoólica), a vedete da casa eleita a melhor do mundo pelo site independente norte-americano Rate Beer – para desespero da comunidade.

No caso da número 8, o aroma é seco e perfumado (maçã em destaque) com notas de cravo, ameixa e nozes – e algo que lembra muito a madeira (e conquista logo que a cerveja é derramada no copo). O sabor, maravilhoso, é encorpado, mas suave. O primeiro toque é adocicado, então um leve amargor se faz presente e ambos vão se revezando (de forma impressionante) sem que um prejudique o outro. Há algo de frutado (ameixa e cereja) e um adocicado que remete diretamente a açúcar mascavo (mas sem o melado). O malte torrado aparece discretamente ao lado do álcool, extremamente bem balanceado no conjunto de uma cerveja espetacular.

Não tem muito mais o que falar. É uma das melhores cervejas do mundo, ponto. Favorite o site do mosteiro (aqui) e leia, ainda, a entrevista rara que o monge Mark Bode concedeu ao The Independent (aqui). E coloque como meta um dia conhecer o lugar. Você não vai se arrepender.

Ps. Tosi, novamente, obrigado \o/
Ps 2. Nunca terminar uma cerveja deu tanta dor no coração.

– Westvleteren 8
– Produto: Dark Strong Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 5/5

março 23, 2011   No Comments

EUA: duas cervejas da Brooklyn (parte 2)

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Eis mais duas belíssimas surpresas da cervejaria que ousa enfrentar o imperialismo american lager que assola os Estados Unidos (chegando a ecoar no Brasil). As versões Vienna Lager, Índia Pale Ale e Ale já passaram por aqui (links no fim do post), mas as duas cervejas abaixo são coisa de gente grande, com graduação alcoólica altíssima e uma confusão de sabores para paladar nenhum colocar defeito.

A Brooklyn Monster Ale nasceu em 2009 e é uma cerveja sazonal disponível apenas de dezembro a março. Os norte-americanos capricharam nessa versão Barley Wine (de cervejas tão fortes quanto vinho) da casa. O malte escocês fica curtindo durante quatro meses resultando numa cerveja encorpada, quase licorosa, mas de aroma conquistador (madeira, nozes, vinho) e sabor lupulado, meio doce, que desaparece no final seco.

O amargo do lúpulo disfarça a alta graduação alcoólica, mas é bom não brincar com esse monstrinho. É pra ir devagar e beber como acompanhamento de pratos. O site oficial a recomenda com “queijos, sorvetes, crème brûlée e bons charutos”. Uma das vantagens do estilo é sua durabilidade: é possível guardá-la por bastante tempo. Essa da foto tinha validade para dezembro de 2013. Ou seja, podia ficar ainda melhor. Você teria paciência com ela na geladeira?

Já a Black Chocolate Stout tem tudo para se tornar a stout mais forte que você irá provar na vida. Não só porque a graduação alcoólica é uma cacetada de 10%, mas porque tudo nela é muito mais intenso. Inspirada no estilo Imperial Stout (nascido das cervejas inglesas feitas no século XVIII para a corte de Catarina II, da Rússia, que precisavam de alto teor alcoólico para não congelar no transporte pelo Mar Báltico) a Brooklyn preparou uma cerveja especialíssima.

Seu aroma, naturalmente, é carregado por notas de café impregnadas por chocolate amargo e álcool, este último bastante perceptível. O paladar é invadido por algo que lembra demais chocolate amargo (intensamente), e também café, ameixas e malte torrado. O amargor intenso marca o céu da boca e preenche toda a garganta, com final inicialmente adocicado (mas muito levemente) para terminar amargo (com gosto forte de café, ou o meio termo: cappucino). Uma maravilha.

– Brooklyn Monster Ale
– Produto: Barley Wine
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 10,1%
– Nota: 4,17/5

– Brooklyn Black Chocolate Stout
– Produto: Imperial Stout
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 10,1%
– Nota: 4,09/5

As duas foram compradas diretamente na distribuidora, a Casa da Cerveja, ao preço de R$ 18 a garrafa de 330 ml. Assim com a Monster Ale, a versão Black Chocolate Stout também é sazonal, sendo feita apenas de outubro a março.

Leia também:
– Brooklyn na contra-mão do imperialismo american lager (aqui)

março 18, 2011   No Comments

Opinião do Consumidor: Theresianer

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O nascimento da cervejaria ítalo-austriaca Theresianer remonta ao período em que Trieste pertencia a Áustria. Mais precisamente em 1766, quando um austríaco obteve permissão de Maria Teresa da Áustria (arquiduquesa e soberana da Áustria, Hungria, Bohemia, Croácia, Mântua, Milão, Galícia, Lodomeria, Parma e Países Baixos Austríacos entre 1740 e 1780) para abrir a primeira cervejaria da cidade – seguindo o modo austríaco de fazer cerveja.

O nome da cervejaria homenageia o bairro Borgo Teresiano, em Trieste, próximo ao porto da cidade e ao Grande Canal, mas a cervejaria se encontra mais afastada do Mar Adriático, aos pés das Dolomitas, cadeia montanhosa dos Alpes orientais no norte da Itália, na cidade de Nervesa della Battaglia, província de Treviso (terra dos Callegari – pertinho, bem pertinho de Veneza). Ou seja, um local de água pura, ingrediente especial para qualquer boa cerveja.

A versão Premium Pils da Theresianer é uma pilsner que segue o padrão tcheco de qualidade: ela é bastante leve, muito mais loira e dourada que as novas pilsens, e mais lupulada também. O aroma destaca uma briga equilibrada entre malte e lúpulo (se alternando). Já o paladar, levíssimo, tem o lúpulo à frente do malte. O amargor característico persiste desde o primeiro toque na língua até o final duradouro, que marca a garganta. Uma pilsener belíssima e acima da média.

Se a pilsner dos italianos já é recomendável, a pale ale é ainda mais surpreendente. Assim como a loura da cervejaria, a Theresianer Pale Ale é levíssima e pouco amarga, ficando mais próxima das Pale Ale belgas do que das inglesas. O aroma carrega na intensidade do adocicado e do frutado (laranja, mel e caramelo) ao lado do malte e do lúpulo (ambos tímidos), que permanecem no sabor (com o álcool marcando presença discretamente) até o seu final extremamente suave. Para procurar em Roma e Veneza.

Além da Theresianer Premium Pils e da Theresianer Pale Ale, a Casa da Cerveja está trazendo para o Brasil a premiada Theresianer Vienna, que foi a que menos me conquistou do trio. As características estão todas ali: a cor acobreada, o aroma maltado e o sabor entre o caramelado e o amargo, mas ela não parece tão saborosa (a da Brooklyn, por exemplo, é maravilhosa, vá atrás), além de ser um pouquinho aguada e não tão amarga. É boa, mas perde para irmãs de estilo.

Teste de Qualidade: Theresianer

– Theresianer Premium Pils
– Produto: Pilsner
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,08/5

– Theresianer Pale Ale
– Produto: Pale Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,15/5

– Theresianer Vienna
– Produto: Vienna Lager
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 5,3%
– Nota: 3,03/5

A Theresianer pode ser encontrada no Empório do Shopping Frei Caneca ou mesmo na loja da Casa da Cerveja (Rua Lisboa, 502, Pinheiros, São Paulo), todas com preço girando entre R$ 12 e R$ 15 (a garrafa de 330 ml).

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março 3, 2011   No Comments

A linha clássica belga da Wäls

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O trio de fource da excelente cervejaria Wäls (da região da Pampulha, em Minas Gerais) têm apenas quatro anos de vida, mas são tão especiais e deliciosas quantos as milenares cervejas alemãs ou belgas. A cervejaria, por sua vez, nasceu em 1999, e começou fabricando chopes Pilsen, Stout e English Pale Ale para a rede de fast-food do patriarca da família, e só foi se aventurar nas belgas em 2007.

A Wäls continua fabricando os chopes além de engarrafar uma versão Pílsen Bohemia (também de receita belga), mas desde 2007 adentrou o território strong ale de cervejas, primeiro lançando a elogiada versão Dubbel (bastante tradicional), e nos dois anos seguintes surgindo com as sensacionais versões Trippel (2008) e Quadruppel (2009), a última a mais forte da casa, e desde já uma das melhores cervejas brasileiras.

A ideia pessoal era começar pela Dubbel (7,5%) e então passar para a Tripel (9%), mas na hora de fazer a foto, me enrolei e quando vi já havia enchido o copo com a complexa, assustadora e sensacional Quadruppel, 11% de teor alcoólico embrenhado em meio a um aroma adocicado que lembra caramelo, ameixa e uvas passas e prepara o paladar para uma experiência especialíssima.

A Quadruppel consegue conciliar com brilhantismo a imensa quantidade de álcool (que aqui remete diretamente a melhor cachaça mineira, como avisa a fórmula) com um adocicado que lembra ameixa, café (mas de forma bem leve), malte e caramelo, que permeiam a boca durante toda a passagem, deixando no final um ponto de amargor (característico de cachaça) que finaliza uma cerveja excepcional.

Eis uma cerveja encorpada e forte, mas não agressiva. Seu principal diferencial surge na maturação, quando são inseridos chips de carvalho que, antes, foram deixados marinando em cachaça mineira – e esse processo confere extrema personalidade ao conjunto. A cerveja continua sendo refermentada na garrafa. A validade desta que provei era outubro de 2013.

Após se encantar com a Quadruppel, a versão Trippel parece ser a cerveja mais leve do mundo. Não é bem assim. São 9% de graduação alcoólica, que seguindo a tradição belga, desaparecem no conjunto harmonioso. Aqui não há cachaça para rebater o adocicado, apesar de o aroma destacar o álcool em meio a notas de malte, coentro e casca de laranja (todos integrantes da formulação da Trippel), além de mel.

Ao primeiro toque na língua, o álcool se faz marcante, mas desaparece logo em seguida dando lugar a um dulçor que permanecerá durante toda a ingestão. Esse adocicado é embalado por frutado (lembrando algo de banana, mas bastante distante de uma Weiss, e algo de laranja) e um pouco de malte (que remete bastante a mel). No final, longo, o álcool volta a marcar presença. Uma bela cerveja, menos complexa e interessante que a Quadruppel, mas ainda assim especial.

Por fim, aquela que deveria ser a primeira: a Dubbel. Imagino que começando por ela, depois pela Trippel e terminando na Quadruppel, a empolgação seja maior. Mas quando se começa pela melhor, o paladar cobra um pouco mais. Importante ressaltar, as três cervejas têm personalidade definida ao ponto de uma se diferenciar bastante da outra. A Dubbel é a mais tradicional das três chegando a lembrar bastante as strong ales belgas (diferente da Quadruppel, cujo cachaça a torna praticamente única).

No aroma, a Dubbel traz as características notas de nozes, frutas secas, uvas passas, caramelo e café (os dois últimos em menor quantidade), com um pouquinho de álcool (são 7.5% de graduação) muito bem inserido no conjunto (como uma boa belga). Na boca ela impressiona mais. O começo valsa entre o adocicado e o amargo, numa complexidade deliciosa que remete a ameixa e malte, finalizando com um seco e levemente amargo (em teste cego, muitos diriam estar diante de uma belga original). Ainda que inferior as suas irmãs, uma cerveja excelente.

Wäls Dubbel
– Estilo: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 4,00/5

Wäls Trippel
– Estilo: Belgian Trippel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,99/5

Wäls Quadruppel
– Estilo: Belgian Quadrupel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 11%
– Nota: 4,22/5

fevereiro 26, 2011   No Comments

Da Inglaterra: Wells Banana Bread

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O slogan da cervejaria britânica Wells & Youngs diz muito sobre os anseios da casa: “cervejas especiais para ocasiões especiais”. Nascida em 2006 da união da Charles Wells (fundada em 1876) e da Young’s Brewery (1831), a Wells & Young’s é responsável pela produção da John Bull e da ótima Young’s Double Chocolate Stout além de fabricar e distribuir no Reino Unido a jamaicana Red Stripe, a espanhola Estrella Damm e a ótima mexicana Negra Modelo.

A Wells Banana Bread Beer, como o nome apresenta, traz banana e malte estilo pão em sua composição (além de casca de limão), e ao contrário do que possa parecer, não é tão adocicada como esperado (uma boa surpresa). O aroma, extremamente delicioso e conquistador, é pura essência artificial de banana – com malte quase imperceptível. No paladar, no entanto, a banana se mistura com o malte mantendo um amargor leve do começo ao fim, que termina mais adocicado (banana, claro).

A leveza da Wells Banana Bread Beer impressiona, com os 5,2% de álcool bem inseridos no conjunto. A banana (marca das weiss, bem mais encorpadas que essa Wells) cumpre seu papel dando um toque diferente e bastante particular ao sabor, que em nenhum momento chega a enjoar, valorizando o equilíbrio da composição (a essência tão presente no aroma surge muito bem ambientada no paladar) de uma cerveja que merece ser provada. Minha preferida de frutas continua sendo a belga Mongozo, mas a Wells Banana Bread Beer foi uma grata surpresa.

Wells Banana Bread Beer
– Produto: Strong Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,42/5
– Preço: entre R$ 15 e R$ 25 (garrafa de 500 ml)

Leia também:
– O aroma cativante da Young’s Double Chocolate Stout (aqui)

fevereiro 20, 2011   No Comments

Alemanha: duas Weihenstephaner

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Com vocês, a cervejaria mais antiga do mundo. É sério. A Weihenstephan Brewery foi licenciada oficialmente por monges beneditinos na Bavária, Alemanha, em 1040, mas antigos documentos fazem referência a plantação de lúpulo por volta do ano 768. Há outra abadia, Weltenburg, também na Baviera, que diz que foi fundada por volta do ano 620, mas a falta de documentos oficiais coloca a Weihenstephan como a primeira cervejaria do mundo. Não é pouco.

Ou seja, quase mil anos de tradição cervejeira e história não podem ser ignorados. Durante o passar dos séculos, o mosteiro sobreviveu a invasões, saques e incêndios, até que em 1803 a abadia foi dissolvida pelo governo e a cervejaria estatizada e transformada em patrimônio da Bavária. Em 1919 (em um processo iniciado lentamente em 1852) a Weihenstephan Brewery passou a integrar a Universidade de Agricultura e Cervejaria de Munique, com um centro de produção que também forma mestres cervejeiros.

A Weihenstephaner Hefe Weissbier é uma cerveja que mantém todas as características das cervejas de trigo da Bavária: o aroma tem algo de floral e frutado, pendendo claro para banana (altamente reconhecível), mas também destacando o cravo. O paladar, no entanto, é extremamente leve, com um início adocicado que persiste até o (pouquíssimo amargo) final. A leveza é valorizada pela textura aguada que, ao contrário do que possa parecer, valoriza o conjunto desta cerveja extremamente refrescante. Uma delicia.

A versão Vitus da cervejaria é apresentada como um Weizenbock, porém sua cor está longe das ruivas tradicionais. A Vitus é dourada como uma boa cerveja de trigo, mas sua textura promete (e cumpre) uma cerveja mais encorpada que a versão Hefe da cervejaria. Então, pegue tudo do parágrafo anterior, e acrescente mais… sabor. É isso: a Vitus é mais saborosa que a Hefe com paladar e aroma invadidos pela presença intensa de cravo e banana.

Os 7,7% de teor alcoólico da Vitus – contra os 5,4% da Hefe – não soam agressivos ao paladar, embora a cerveja seja muito mais marcante – e o final mais duradouro. Ou seja: comparativamente falando (chutando), é muito mais fácil sentir no corpo que você bebeu uma Vitus do que duas Hefe. A segunda é muito mais leve e refrescante, enquanto a primeira pega o sujeito de jeito pelo sabor e pelo álcool (que não transparece no paladar, mas está ali – acredite). No entanto, as duas são excelentes pedidas.

Weihenstephaner Hefe Weissbier
– Produto: Weiss
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,4%
– Nota: 3,99/5
– Preço: entre R$ 8 e R$ 15 (garrafa de 500 ml – vários supermercados)

Weihenstephaner Vitus Weizenbock
– Produto: Weiss Bock
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 7,7%
– Nota: 3,98/5
– Preço: entre R$ 8 e R$ 15 (garrafa de 500 ml – vários supermercados)

fevereiro 16, 2011   No Comments

Da Inglaterra: Hen’s Tooth

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Antes de qualquer coisa, o que mais chama a atenção na Hen’s Tooth é sua cor: é de um alaranjado quase amarronzado tão brilhante que parece mel – ou uísque. A garrafa transparente (ao contrário do tradicional tom escuro) valoriza ainda mais essa English Strong Ale que posa de Real Ale (termo criado para reunir as cervejas elaboradas com ingredientes tradicionais, maturadas com uma segunda fermentação no próprio barril de onde será servida e extraída sem o auxílio do CO2), mas na verdade é uma Old Ale (refermentada na garrafa).

Integrante do conglomerado da Greene King, cervejaria fundada em 1799 em Suffolk, Inglaterra, que com o passar dos anos tornou-se a maior cervejaria britânica devido à compra (muita vezes criticada) de pequenas fábricas, a Mortland (cervejaria fundada em de Abingdon, no condado de Oxfordshire) tem como carro chefe da casa a famosíssima Old Speckled Hen, uma das primeiras cervejas premium do Reino Unido, mas começa a investir pesado na Hen’s Tooth (a exportação para outras países é um indicativo).

Tudo aqui é especialmente britânico. O aroma destaca a presença do lúpulo trazendo à memória a lembrança de abacaxi, uvas e flores – e por fim, malte. O paladar é aquilo que os ingleses tentam transformar em clássico: o álcool levemente disfarçado em algo que lembra caramelo e, levemente, café. O amargor característico (devido à boa presença de malte) se faz presente de forma comportada, mas o final é surpreendentemente adocicado (não confundir com enjoativo – está bem longe disso).

Um fato interessante: a Hen’s Tooth parece mais forte do que os 6;5% de álcool prometem logo na apresentação (o que, em condições normais, já é muito para o paladar brasileiro acostumado aos 4,5% das cervejas tradicionais nacionais). O aroma e o paladar no primeiro toque na língua são marcantes, mas aos poucos a cerveja amacia, e seu final levemente adocicado torna a cerveja bastante interessante, um conjunto agradável que pode surpreender. No entanto, vale tomar cuidado: você acha que ela não vai te embebedar, mas ela vai. Acredite.

Teste de Qualidade: La Trappe Dubbel
– Produto: English Strong Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,77/5
– Preço: entre R$ 15 e R$ 25 (garrafa de 500 ml)

fevereiro 9, 2011   No Comments

Holanda: La Trappe Dubbel

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No século 17, monges cistercienses fundaram a abadia francesa de Notre-Dame de la Trappe buscando uma vida simples na contramão do luxo vivido pelos monges na época. Meditação, isolamento e oração estavam entre as tarefas destes monges, que ficaram conhecidos como Trappistas, e que, para sustentar o monastério, produziam queijos, pães e vinhos.

Corta para 2010. Dos 171 mosteiros trapistas existentes no mundo, apenas sete produzem cerveja (seis na Bélgica e um na Holanda). Estes sete mosteiros são os únicos autorizados a marcar seus produtos com o selo de autenticidade trapista, garantindo a origem monástica de sua produção – sob a supervisão de monges da Ordem Trapista.

Produzida desde 1884 no monastério de Onze Lieve Vrouw van Koningshoeven, na província de North Brabant, na Holanda, a La Trappe é a única cervejaria Trapista que não é belga. Importada pela Bier & Wien, a La Trappe chega ao Brasil em várias versões (Blond, Dubbel, Tripel, Quadrupel, Witte e Bock – veja aqui).

A Dubbel tenta despistar o álcool (são 7,0%) através do malte de caramelo (torrado), que confere um leve adocicado ao conjunto – e que remete (bastante) a chocolate e, claro, café. No aroma, algo de banana e álcool (que acaba se sobressaindo). O paladar, no entanto, não sente tanto o álcool (proposto pelo aroma e pelo rótulo), mas sim banana, uvas passas, chocolate amargo e, bem menos, café. O final é inicialmente amargo, mas termina mesmo levemente adocicado (mas muito leve).

É só a versão Dubbel, mas das seis trapistas que conheço (Achel, Orval, Rochefort, Chimay, Westmalle e La Trappe – a Westvleteren é a única que falta riscar no calendário), a La Trappe Dubbel pareceu a menos equilibrada que provei (apesar de, inegavelmente, ser saborosa). As Chimay são perfeitas. As Achel vêm logo depois. Orval e Westmalle são ótimas. Já as Rochefort, cuidado, são para experientes.

A La Trappe Dubbel pode ser encontrada (em sua versão 750 ml com rolha) no Pão de Açúcar e em diversos empórios (incluindo sites como a Biervoxx, Submarino e Americanas.com) entre R$ 31 e R$ 36.

Teste de Qualidade: La Trappe Dubbel
– Produto: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Holanda
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,86/5

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Leia também
– Top 400 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

janeiro 7, 2011   No Comments

Opinião do Consumidor: IPA Estrada Real

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Fundada em 2004 em Belo Horizonte, a Falke Bier é resultado dos esforços de três irmãos (Marco Antonio, Juliana e Ronaldo Falcone), que fundaram a cervejaria em 2004. Segunda micro-cervejaria mineira a freqüentar este espaço (a primeira foi a Backer), a Falke surge representada por um de seus maiores destaques, a Índia Pale Ale Estrada Real.

A Estrada Real ligava Villa Rica, hoje Ouro Preto, a Paraty, mas pela necessidade de uma via de escoamento mais segura e rápida ao porto do Rio e, também por imposição da Coroa foi aberto um “caminho novo”. A rota de Paraty passou a ser o “caminho velho”. Com a descoberta das pedras preciosas na região do Serro, a estrada se estendeu até Diamantina, deixando Ouro Preto como o centro de convergência.

No site oficial, os Falcone explicam a escolha do nome: “O estilo India Pale Ale foi criado pelos ingleses durante a colonização da Índia no século XVIII. Aumentaram a lupulagem (o lúpulo tem ação bactericida) e o teor alcoólico (diminui a atividade microbiológica), conferindo, naturalmente, maior durabilidade à bebida. Certamente seria a cerveja que acompanharia os viajantes da Estrada Real no séc. XVIII.”

Faltou dizer que os viajantes ficariam facilmente bêbados, pois o alto teor alcoólico (7,5%) está bem disfarçado no conjunto balanceado desta ótima IPA. O aroma fica entre o frutado e o levemente floral enquanto o paladar, de amargor acentuado, dá o tom perfeito deixando algo de tostado e café no primeiro toque na língua, para depois amaciar e terminar levemente adocicado (bem leve – o amargor comanda o conjunto).

Ainda sinto falta de alguma coisa, talvez um pouco mais de corpo. Mesmo assim, uma ótima cerveja e uma bela homenagem a Estrada Real. Agora é preciso investigar o cardápio da cervejaria (eles fazem uma Tripel Monasterium que me tentou), e vale acompanhar o blog do Marco Falcone, com várias dicas. A garrafa de 600 ml (um pouco mais baixinha que a tradicional nacional – e por isso, mais robusta) pode ser encontrada entre R$ 11 e R$13 (essa foi comprada nos Supermercados Mambo).

Teste de Qualidade: Estrada Real
– Produto: Índia Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 3,4/5

Leia também:
– As passagens minhas e de Lili pela Estrada Real (aqui)
– Quatro Backer (Brown, Pilsen, Trigo, Pale Ale (aqui)
– Site oficial da Estrada Real: http://www.estradareal.org.br/
– Blog do Marcelo Falcone: http://culturacervejeira.blogspot.com/
– Site oficial da Falken Bier: http://www.falkebier.com.br/

dezembro 27, 2010   No Comments

Da Bélgica: duas cervejas Chouffe

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A Brasserie D’Achouffe é uma cervejaria belga localizada numa pequena aldeia em Houffalize, na região da Valônia, quase na fronteira com Luxemburgo e a poucos quilômetros da Alemanha. Foi ali que dois irmãos começaram a fabricar cerveja para consumo próprio (os garotos brasileiros jogam futebol, os belgas produzem cerveja), e em 1982 decidiram abrir a cervejaria que leva o nome do vilarejo: Achouffe.

As Achouffe são bem identificáveis em uma adega: o rótulo traz sempre um “simpático duende”, segundo o site oficial, que explica: os elfos e duendes estão entre os principais personagens dos contos das Ardenas (o Vale das Fadas), floresta que toma boa parte da Valônia (incluindo Achouffe – que significa gnomo no dialeto valão). Do capítulo “cerveja também é cultura”.

Em setembro de 2006 a cervejaria foi comprada pela Duvel (ajoelhemos) Moortgat. A primeira atitude da nova empresa gestora foi diversificar o formato das Achouffes, antes encontradas apenas em lindas garrafas de 750 ml – um sonho de consumo que ainda pode ser encontrado na região belga. Para exportação, a Duvel emprestou seu formato de garrafa (baixinha e fofinha – engana pacas) e é assim que a La Chouffe chega ao Brasil (no mesmo formato da Duvel), importada via Beer Paradise.

A La Chouffe é o carro chefe da micro-cervejaria, uma cerveja especial não filtrada e fermentada diretamente no barril. Temperada com coentro (não faça essa cara: lembra a Hoegaarden, outra paixão belga) e levemente lupulada, a La Chouffe tem o mesmo dom da Duvel: esconde o álcool por trás de especiarias (o floral e o frutado fazem o serviço tanto no aroma quanto no paladar), o que a torna deliciosa – e perigosa (são 8% de graduação alcoólica que você não percebe estar bebendo).

Agora, tirem as crianças da sala. A Houblon Chouffe Dobbelen IPA Tripel (nascida em 2006 e fermentada em barril e na garrafa) assusta já no nome, que numa leitura cervejeira quer dizer que possui três vezes mais lúpulo (afinal é uma Índia Pale Ale – o lúpulo ajuda a conversar a cerveja por mais tempo), o que a torna mais encorpada, complexa, forte e de teor alcoólico batendo a casa dos 9%. Ou seja: esqueça a leveza da anterior.

Tudo na Houblon Chouffe Dobbelen IPA Tripel se apresenta logo, por isso é uma cerveja mais intensa e, até por isso, difícil. O amargor é forte (apesar de um leve adocicado no primeiro toque na língua), e você vai gastar o dobro do tempo para consumi-la. Não desista. O aroma é floral – remete a capim, grama e hortelã. O paladar segue o aroma destacando o floral com uma variedade de sabores (abacaxi, laranja, banana e até cravo e coentro) que o torna quase indescritível. É uma experiência.

O site oficial convida: “Venha visitar nossa fábrica de cerveja e saborear os nossos produtos em uma atmosfera amigável”. Vale muito. Achouffe fica a duas horas de Bruxelas, e além das versões 330 e 750 ml, eles vendem barris de 20 litros. Ok, eu não escrevi isso. Esqueça. No Brasil, a garrafa baixinha e gordinha (330 ml) pode custar entre R$ 16 e R$ 23 (Supermercados Mambo) enquanto a versão 750 ml pode sair até por R$ 60. Lá é três vezes menos que isso…

– La Chouffe
– Produto: Belgian Specialty Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3,96/5

– Houblon Chouffe Dobbelen IPA Tripel
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 4,25/5

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Leia também
– Top 400 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)

dezembro 26, 2010   No Comments