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Category — Cervejas

Uma manhã na cervejaria Wäls

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No começo de 2011, procurando novos rótulos de cerveja, me encontrei em um empório frente as garrafas estilosas (do modelo do vasilhame passando pelo rótulo até a rolha) de uma cervejaria mineira, a Wäls. Peguei dois de cada um dos três exemplares (Dubbel, Trippel e Quadruppel) que estavam à venda, já percebendo que os mineiros tinham certa queda pelo estilo belga de fazer cerveja.

Em casa, abri (sem querer) logo a mais forte do conjunto, a Quadruppel, e foi paixão ao primeiro gole. Escrevi sobre as três cervejas aqui, e comecei a comentar com os amigos sobre aquela que passou a ser a minha cerveja brasileira preferida, incentivando a descoberta. Em dezembro escrevi para o mestre cervejeiro da casa, o José Felipe, para tirar algumas dúvidas para uma matéria que saiu em janeiro na GQ Brasil (essa aqui).

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E no mesmo janeiro, aproveitando uma passagem rápida por Belo Horizonte, visitei à fábrica da cervejaria, que nasceu em 1999 e cresceu rapidamente em qualidade e personalidade, sendo hoje uma das principais cervejarias nacionais. Os irmãos Thiago e Felipe, e o pai Miguel, costumam abrir as portas da fábrica para o público no sábado, e recebem os visitantes com aquela atenção mineira que faz parecer que você os conhece há alguns bons anos.

Particularmente dei muita sorte: era o sábado em que eles iriam começar a brasagem da primeira leva da Wäls Petroleum (parceria da Wäls com a curitibana Dum), uma Russian Imperial Stout inédita no mercado nacional. Experimentei uma versão teste (que incluía chocolate Lindt na fórmula), deliciosa, e bati um papo com os irmãos, que falaram um pouco da cervejaria, da Petroleum e do sonho de fazer cerveja artesanal no Brasil.

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Experimentei também a X-Wäls, que surpreendeu (uma pilsen levíssima, mas bastante saborosa), e, ainda, uma versão teste da Wäls Quadruppel envelhecida em antigos barris de carvalho que, um dia, envelheceram uísque, e fiquei com a feliz impressão de que eles não descansam de pensar experimentos para novas cervejas, o que justifica a frase de José Felipe: “Eu não faço cerveja, eu faço arte”.

A fábrica, eles planejam, se transformará num ponto de encontro para amantes de cerveja, com restaurante, um pequeno museu e a cerveja da casa tirada direto da torneira. Deve demorar um pouco, o que não impede de visita-los. Abaixo, alguns vídeos do meu bate papo com os irmãos, que integrariam um videocast de cerveja que logo mais deve chegar aos compartilhadores de vídeos (já está gravado, mas a edição é complicada).

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O quarto vídeo foi feito pelo pessoal da Dum, que também estava na cervejaria (em janeiro) acompanhando a primeira brasagem da Petroleum, que foi lançada duas semanas atrás, e faturou uma medalha de ouro no South Beer Cup (saiba mais aqui). Queria mandar um abraço pro Alexandre (que fez as filmagens), agradecer a hospitalidade do seu Miguel, do José Felipe e do Thiago e pedir desculpas para a mãe deles por não poder ficar para o almoço (mais um pouco e eu perdia o voo). Quem sabe da próxima…

Com vocês, a Wäls

Ps. Há um Beer Tour, comandado pelo beer sommelier Rodrigo Lemos, que em um sábado passa em quatro ou cinco cervejarias artesanais na região de Belo Horizonte (Wäls inclusa). Infos aqui


“Eu não faço cerveja, eu faço arte”, José Felipe


José Felipe fala sobre a Wäls Petroleum


Thiago Carneiro conta um pouco da história da Wäls


Depoimento para o pessoal da Dum Cervejaria

março 29, 2012   No Comments

Da Harboes Bryggeri, Bear Beer

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A Harboes Bryggeri é a maior cervejaria da Dinamarca. Fundada em 1883 em Skaelskor, uma cidadezinha de 7 mil habitantes na ilha da Zelândia (cerca de uma hora e meia de Copenhague), a Harboes tem uma carta de cervejas diversificada, sendo que a maioria delas circula apenas na Dinamarca, e alguns rótulos são feitos exclusivamente para a Escandinávia (onde as Bear Beer deste post se chamam Bjørne Bryg e não ultrapassam 3,5% de graduação alcoólica). Para exportação (incluindo o Brasil) apenas as trava-língua Bear Beer.

A versão popular da casa é a Bear Beer Premium Lager, 5% de graduação alcoólica e quase nenhuma diferença das (nossas) cervejas premium tradicionais. O aroma é bastante maltado, com o lúpulo floral marcado presença com delicadeza. No paladar, como manda o estilo, a regra se inverte: o lúpulo traz o amargor suave para frente do conjunto enquanto o malte tenta dar um pouquinho de sabor em uma cerveja cuja função primordial é refrescar (como as nossas). Se você estiver na Dinamarca, procura outras.

A Strong Lager da Harboes Bryggeri é uma versão um pouquinho mais densa da Premium Lager (e muito mais leve que a porrada Extra Strong). No aroma tudo praticamente se repete: bastante malte e lúpulo delicado. A diferença é a presença do álcool, ainda comportado (principalmente em comparação com a próxima), mas presente. O paladar é um pouco mais amargo, remetendo levemente a nozes e malte, que dominam o final (nada amargo). Das três cervejas da casa, a mais equilibrada (ainda que nada sensacional).

Já a Bear Beer Extra Strong é uma patada de urso. Sério. São 12% de álcool que se apresentam ao freguês já no aroma, que ainda deixa passar notas de malte, de milho e… conhaque. No paladar, o álcool bate no céu da boca e fica. E não espere mais nada. Ok, ela ainda é levemente adocicada, muito embora você vá esquecer isso (e do mundo) no segundo gole. Os 12% de álcool são alcançados através da fermentação, e isso fica evidente no conjunto, que chega a enjoar. Para beber e cair (ou se esquentar do frio se você estiver no inverno europeu). E só.

As Bear Beer estão chegando ao Brasil entre R$ 7 e R$ 9,50, mas já tem gente que encontrou em boteco por R$ 6 (e vale, principalmente a patada de urso, se a ideia é se embebedar sem prestar atenção ao sabor). Acima disso parece exagerado para uma cerveja que não traz tantas qualidades nem diferenças de exemplares nacionais próximos. Se o seu negócio é ficar bêbado, duas Bear Beer Extra Strong podem fazer uma noite. Se o seu negócio é boa cerveja, vale dar uma conferida no Top 1000 deste blog (aqui). Tem coisa muito boa ali.

Bear Beer Premium Lager
– Produto: Premium Lager
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2/5

Bear Beer Strong Lager
– Produto: Strong Lager
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 7,7%
– Nota: 2,1/5

Bear Beer Extra Strong
– Produto: Strong Lager
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 12%
– Nota: 1,9/5

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Leia também
– Top 1000 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

março 26, 2012   No Comments

Duas inglesas: Spitfire e Bishops Finger

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Inaugurada na cidade de Kent, no sudoeste da Inglaterra (a cerca de uma hora de Londres), em 1698, a Shepherd Neame é a mais antiga cervejaria inglesa tendo transformado a bitter ale (um ale amarga, lupulada – para padrões ingleses) através das décadas em paixão nacional perfeitamente reconhecível ao primeiro gole. Hoje em dia, a Shepherd Neame produz cerca de oito rótulos e possui mais de 360 pubs no Reino Unido (em Kent, Londres e Essex) tendo conseguido atravessar fronteiras e conquistar até os suecos.

Dois rótulos da Shepherd Neame se destacam: o primeiro é o Dedo do Bispo (Bishops Finger), que começou a ser produzido em 1958, quando o conselho de administração da Inglaterra liberou os cervejeiros para testar novos rótulos (o pós-guerra provocou um racionamento do malte – entre dezenas de outras coisas, e a ordem do governo era clara: “Quantidade, não qualidade). O cervejeiro da casa apostou nos lúpulos da cidade (hoje famosos), na água tirada de um poço artesiano há 200 metros do chão e em uma receita simples, que virou lenda.

Para ter uma ideia de como a produção da Bishops Finger é levada a sério, o conselho da Shepherd Neame decretou que a cerveja, produzida apenas às sextas-feiras, precisa semanalmente passar pelo crivo de um dos conselheiros. O resultado é uma english pale ale caprichada, com o aroma lupulado, que ainda traz notas de madeira, malte e frutas. O paladar crava o que o aroma sugere, mas com muita leveza, deixando um rastro de ameixa e uva passa num final que é surpreendentemente balanceado entre o amargo e o adocicado.

Já a Spitfire Premium Kentish Ale nasceu em 1990 – e logo se tornou o carro chefe da cervejaria – como uma homenagem à cidade de Kent, onde a Luftwaffe (Força Aérea Alemã) e a Royal Air Force (Força Aérea Britânica) lutaram durante a Segunda Guerra Mundial. Spitfire era o nome do caça britânico mais usado na época, e seu símbolo (uma bola vermelha dentro de uma bola azul – veja na foto) estampa a tampa da cerveja. E, claro, Kent também é famosa por seus lúpulos, sendo que três deles são usados na composição da Spitfire Premium Kentish Ale.

Ela já mostra sua personalidade através do aroma delicioso, um q de amadeirado com muito lúpulo floral e malte de caramelo que flutua no ar assim que o líquido é colocado no copo. No paladar, todas as características de uma autêntica bitter ale inglesa surgem: o amargor pronunciado devido aos três tipos de lúpulo gruda no céu da boca arrastando um bocadinho de caramelo e melaço do malte, o que torna o conjunto bem interessante e deixa uma sensação agradável no final, levemente amargado. Ótima cerveja.

Fiquei bem curioso pelos outros rótulos da Shepherd Neam (principalmente pela Original Porter e pela Goldings Summer Hop Ale, que creio deva lembrar bastante a Bodebrown Hop Weiss, ótimo exemplar de Curitiba). Tanto a Spitfire Premium Kentish Ale quanto a Bishops Finger podem ser encontradas com facilidade no Brasil. Ou nos supermercados da rede Pão de Açucar, ou em empórios especializados com o preço variando entre R$ 14 e R$ 19 (a garrafa bonitinha de 500 ml).

Bishops Finger
– Produto: English Pale Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 5,4%
– Nota: 3,24/5

Spitfire Premium Kentish Ale
– Produto: Standart Bitter Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 3,31/5

Leia também
– Top 500 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)

março 23, 2012   No Comments

Opinião do Consumidor: Eggenberg

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Localizado às margens do rio Alm, em Vorchdorf, no estado de Salzburg, região dos Alpes austríacos, o Castelo Eggenberg (fundado no século X) é a casa da cervejaria de mesmo nome desde o século XIV. De lá pra cá, sete gerações da família Stöhr vem fabricando algumas das melhores cervejas austríacas, entre elas o “coice de bode” Urbock 23º, a Mac Queens Nessie (com malte de uísque escocês) e os dois interessantes rótulos que integram este post: a Hopfenkönig e a histórica Samichlaus.

A levíssima Eggenberg Hopfenkönig (que, traduzindo, significa “Rei do Lúpulo” – e não qualquer lúpulo, mas um dos mais famosos, o de Saaz, de origem tcheca) pode enganar quem esperava encontrar uma cerveja altamente amarga: o frescor do aroma impressiona tendendo levemente ao frutado / maltado, mas o paladar surge bem balanceado entre amargor e dulçor, definindo-se pelo primeiro apenas no final, que fica marcado na garganta. A sensação final é de um amargor não pronunciado, mas presente, que surpreende em uma bela cerveja.

Já a particularíssima Samichlaus, a cerveja lager mais forte do mundo com 14% de graduação alcoólica (para comparar, as cervejas de balcão no Brasil tem entre 4,5% e 5%) começou a ser fabricada na Suíça pela cervejaria Hürlimann, que passou o rótulo para a Eggenberg em 2000. Primeiro fato que chama a atenção: a Samichlaus é fabricada apenas uma vez por ano, no dia 06 de dezembro, dia de São Nicolaus (Santa Claus ou… Papai Noel). Ela ainda é envelhecida por 10 meses antes do engarrafamento, o que a torna quase licorosa.

O aroma é bastante complexo com notas de malte tostado, madeira, mel, uvas, avelã, nozes e, claro, álcool, duelando pelo olfato. Já o paladar é extremamente maltado, com início extremamente caramelado e um final seco que deixa um rastro de álcool do céu da boca até a garganta. Este álcool desaparece alguns segundos depois, e um inesperado – e sensacional – dulçor de melado (com toques de avelã e nozes) marca presença. O álcool permanece imperceptível no conjunto de uma cerveja rara, indicada para momentos especiais.

Outra característica interessante da Samichlaus: ela não possui prazo de validade, pois continua maturando na garrafa – seu aroma torna-se mais complexo com o passar do tempo. As quatro Eggenbergs (leia sobre as outras duas – Urbock 23º e Mac Queens Nessie – nos links abaixo) são encontradas com facilidade em bons empórios com o preço da garrafa de 330 ml indo de R$ 9 (Hopfenkönig) até R$ 23 (Samichlaus) – a Urbock está na faixa de R$ 18 e a Nessie por volta de R$ 15 – e valem muito o investimento.

Eggenberg Hopfenkönig
– Produto: Pilsen
– Nacionalidade: Austriaca
– Graduação alcoólica: 5,1%
– Nota: 3/5

Samichlaus
– Produto: Strong Lager
– Nacionalidade: Austriaca
– Graduação alcoólica: 14%
– Nota: 4,05/5

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Leia também:
– Urbock 23%: Medalha de prata em 2008 do Word Beer Cup (aqui)
– Mac Queens Nessie, uma cerveja com malte escocês (aqui)

março 15, 2012   No Comments

Quatro cervejas da Casa Piacenza

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Localizada no Vale do Paraopeba, ao lado de Belo Horizonte, a pequena cidade de Brumadinho, com pouco mais de 34 mil habitantes, cravou seu nome na cultura nacional com o surgimento do parque e museu Inhotim, uma obra tão fascinante quanto sonhadora. Porém, a cidade também produz cerveja artesanal, através da Casa Piacenza, localizada no Distrito de Aranha, que fabrica quatro rótulos cujo destaque é a ótima Jabuticaba Beer (o Inhotim também fabrica uma cachaça de jabuticaba: qual é a da cidade com a fruta?).

O certo seria começar pelas tradicionais, depois partir para a exótica, mas quem diz que a curiosidade deixa. Assim, a primeira garrafa aberta foi a Jabuticaba Beer: o aroma da fruta é intenso, cítrico e adocicado, e não deixa espaço para mais nada. Não espere algo diferente do paladar. O gosto da jabuticaba domina e em combinação com malte e lúpulo fica ácido, amargo e licoroso. Lembra muito uma sidra. O final é adocicado, com a jabuticaba marcando presença de forma intensa. Palmas: eis uma interessantíssima fruit beer nacional.

A Piacenza Weiss não lembra em quase nada uma weiss tradicional. Apesar de manter a mesma coloração (um amarelo denso), seu líquido é mais ralo do que o das famosas representantes do estilo. No aroma, as notas clássicas de banana são quase imperceptíveis, com um tom cítrico deixando uma marca muito mais profunda. O cítrico (semelhante ao da Jabuticaba Beer) também comanda o paladar e onde nos acostumamos a presenciar banana e cravo há abacaxi e limão numa cerveja que parece pouco balanceada.

Então chega a vez da Piacenza Pale Ale, que assim com a versão Weiss da casa de Brumadinho, não segue os preceitos do estilo. A começar pela cor, dourada, que a aproxima das lagers. O aroma, assim com as duas anteriores, carrega no cítrico, com malte e lúpulo mais presentes do que em suas duas companheiras (mas ainda assim bastante tímidos). O paladar é totalmente cítrico, e faz questionar se a cerveja ainda está na validade: março de 2012. Não há nada de Pale Ale nela. A impressão, aliás, é de uma lager feita no mesmo barril da Jabuticaba Beer.

Fechando o lote, a Piacenza Escura faz bonito. O malte torrado já dá o tom dessa caprichada stout mineira assim que você abre a garrafa, e os aromas de chocolate e café bailam pelo ambiente. O paladar – mais aguado que, por exemplo, o de uma Murphy’s Stout, e menos intenso do que a premiada Colorado Demoiselle – segue as notas prenunciadas pelo aroma, com o álcool marcando presença em meio ao café e ao chocolate (amargo e ao leite ao mesmo tempo). Ainda precisa de uma calibrada, mas está no caminho certo.

Há muito pouca informação sobre a Casa Piacenza. As quatro garrafas deste post foram compradas em uma lojinha de cachaças do Mercado Municipal de Belo Horizonte (que merece uma visita especial) ao preço de R$ 9,90 cada, e me lembro de tê-la encontrado no Uaiktoberfest, em Nova Lima (também em Minas Gerais), mas nenhuma indicação confirma localização para compra-las. Há um blog ainda não atualizado (aqui), e quem tiver mais informações, compartilhe conosco. Vale a pena conhece-la.

Jabuticaba Beer
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3,31/5

Piacenza Weiss
– Produto: Weiss
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 2,40/5

Piacenza Pale Ale
– Produto: Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 2/5

Piacenza Escura
– Produto: Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3/5

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Leia também
– Cinco pubs de cervejarias nos EUA, por Mac (aqui)
– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Tops dos 14 dias em Minas Gerais, por Marcelo Costa (aqui)
– São João Del Rey e o inesquecível Inhotim, por Mac (aqui)

março 7, 2012   No Comments

Opinião do Consumidor: Damm

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Uma das principais cervejarias espanholas (e catalãs), a Damm abriu as portas em 1876, quando o mestre cervejeiro Joseph Damm se instalou em Barcelona e começou a produzir aquela que seria a principal representante da marca, a Estrella Dourada (agora Estrella Damm). A vedete dos dias de hoje é a premiadíssima Voll-Damm Doble Malta, mas eles ainda produzem um cardápio vasto das quais vale citar, além das três abaixo, a Bock Damm, a Estrella Damm Inedit (criada pelo chef Ferran Adrià) e a popular (na Espanha) Xibeca.

Carro chefe da cervejaria catalã, a Estrella Damm lembra muito as american lagers brasileiras de balcão, e suas principais características, assim com nas nacionais, são a leveza e o fato de ser refrescante, ou seja, apropriada para ser bebida no verão e em grande quantidade. O aroma é marcado por cereais não maltados (arroz, milho e o próprio malte, todos presentes na formulação) enquanto o lúpulo bate ponto de amargor. Ótima… para se beber em terras espanholas. Por aqui vale ficar com as nacionais (principalmente pelo preço).

A premiada Estrella Damm Daura foi uma das primeiras cervejas sem glúten, ou (no caso da Daura) com baixa concentração de glúten (menos de 6 ppm) disponíveis no Brasil. Num primeiro momento, não há nenhuma diferença perceptível entre a versão tradicional e a Daura, o que já é uma boa notícia. O aroma é de uma lager típica e o paladar é levemente amargo, com manda o figurino. O final, no entanto, é mais adocicado que a Estrella Damm tradicional, marcado a garganta e o céu da boca. Opção interessante para os celíacos.

Já a Weiss Damm é a boa tentativa catalã de emular a escola clássica de cerveja de trigo alemã, da qual a Weihenstephaner é a principal (e sensacional) representante. O aroma segue a tradição com um pouco de cravo, outro tanto de banana e floral além de um pouco de mel e álcool (o que lhe confere um tom metálico). O paladar, mais águado e menos adocidado que o normal, traz algo de frutado (tutti-frutti) e de casca de laranja, mais as notas de banana e cravo. Um bom conjunto que se encerra em um final seco, doce e bem sugestivo.

Importadas pela BrazilWays, as Damm ainda estão chegando ao País com preços não tão competitivos pelo que oferecem. A Estrella Damm pode ser encontrada entre R$ 7 e R$ 9, muito acima de várias marcas nacionais próximas. A Weiss Damm trabalha na mesma faixa e a Daura, um pouco mais acima, entre R$ 14 e R$ 16. São cervejas interessantes para serem consumidas na Espanha, mas que aqui só vale realmente o investimento se for o caso da recomendadíssima Voll-Damm.

Ps. Vale ver a propaganda abaixo, com o chef Ferran Adrià, e a frase da campanha: “às vezes o normal pode ser extradionário”.  Eles sabem que suas cervejas são normais… mas podem ser especiais.

Teste de Qualidade: Estrella Damm
– Produto: Lager
– Nacionalidade: Espanha
– Graduação alcoólica: 4,6%
– Nota: 2,50/5

Teste de Qualidade: Estrella Damm Daura
– Produto: Lager
– Nacionalidade: Espanha
– Graduação alcoólica: 5,4%
– Nota: 2,35/5

Teste de Qualidade: Estrella Damm Daura
– Produto: Lager
– Nacionalidade: Espanha
– Graduação alcoólica: 5,4%
– Nota: 2,56/5

Leia também
– Bock Damm, uma cerveja bem gostosa e leve (aqui)
– Top Ten Cervejas Européias Viagem 2008: Voll-Damm (aqui)
– Voll-Damm, Reina Sofia e Thyssen-Bornemisza (aqui)
– Weihenstephan Brewery, mil anos de tradição cervejeira (aqui)

fevereiro 26, 2012   No Comments

Quatro cervejas do Mestre das Poções

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O Mestre das Poções é uma cervejaria artesanal de Araras, no interior paulista, que produz cervejas seguindo a orientação das fases lunares, que define o comportamento de cada poção. “Procuramos fazer nossas cervejas durante eventos astronômicos específicos”, explica o site oficial, e a produção fica entre 60 e 120 litros, resultando em um número de 100 até 200 garrafas (todas numeradas). Há ainda um interessante guia em cada um dos rótulos (tudo explicado aqui), que amplifica a busca da cervejaria pelo modo artesanal de se produzir cerveja: eles não só valorizar um modo humanista de se preparar uma bebida, mas também de viver.

Segundo o site oficial, a Poção da Lua Nova foi a versão mais desafiadora para o Mestre das Poções. “A influência da Lua Nova é traiçoeira e cruel, é necessária muita atenção e cuidado no processo alquímico”, explica. Produzida em 2011 (garrafa 51 de um lote de 106), essa poção é uma cerveja escura que lembre levemente uma stout, mas está mais para uma bock encorpada: aroma de malte torrado remetendo a café e chocolate, mas leveza no paladar com o lúpulo marcando a garganta de forma interessante. Final tostado e bem suave. É, nas palavras do mestre, uma cerveja de “iluminação pessoal e liberdade de expressão”. Beba umas três dela pra você ver.

A Poção de Cura, por sua vez, teve que ser retirada do cardápio da cervejaria após uma reportagem do Fantástico que apontava produtos que prometiam um bem, sem cumpri-lo. “Em nenhum momento foi prometido efeitos medicinais”, explica texto no site oficial. Ainda assim, a cervejaria optou por alterar o nome da cerveja, que passou a se chamar Poção da Lua de Mel. A minha garrafa, no entanto, é pré-reportagem, número 105 de um lote de 220 fermentado na lua crescente. O malte de caramelo marca o aroma com bastante simplicidade. O paladar, também simples, é mais adocicado e até um pouco aguado. Lembra uma Pilsen Premium, um tiquinho mais caprichada (natural).

Terceiro rótulo do Mestre das Poções, a Poção de Trigo da Lua Cheia (garrafa 73 de um lote de 97 fermentado na lua cheia) segue o caminho proposto pela Bodebrown Hop Weiss, uma mistura de malte de cevada com malte de trigo que elimina a característica tradicional de uma weiss deixando-a mais encorpada, translucida e caramelada. “Consideramos uma ale com trigo”, explica um texto no site. O aroma é interessante: floral, com algumas notas de caramelo e uma sugestão de anis. O paladar não entrega o que o aroma promete, pendendo para um leve amargor que remete a cravo e biscoito. Ainda assim, o final é interessante.

Para fechar, a Poção do Rubor da Menina (garrafa 102 de um lote de 108 fermentado na lua minguante). “É surpreendente encontrar aromas doces e sedutores”, avisa o site oficial, referindo-se as especiarias que aproximam o conjunto da escola red ale. Ainda assim, o aroma é suave, com leve sugestão de malte, figo e pão. O paladar é picante, com as especiarias mostrando serviço ao lado do malte de caramelo, da boa presença de lúpulo, notas de frutas vermelhas e, também, de álcool, bem inserido no contexto. Com graduação alcoólica de 5% a 7%, a Poção do Rubor da Menina é um dos destaques da cervejaria. O final é terroso e interessante.

Além das cervejas, o Mestre das Poções também produz Hidromel, uma bebida alcoólica fermentada à base de mel e água. Os rótulos da cervejaria ainda não estão disponíveis no mercado, mas é possível fazer pedidos pelo site oficial (aqui). As quatro acima foram compradas no Beer Experience I, em São Paulo, ao preço de R$ 15 cada garrafa de 600 ml. São cervejas boas e interessantes pelo contexto que proporcionam (ainda mais se você curtir a ideia toda). Nenhuma delas irá proporcionar um eclipse (ok, depende do quanto você beber) nem trazer a pessoa amada, mas são boas companheiras para beber lendo o horóscopo ou admirando o por-do-sol.

Poção da Lua Nova
– Produto: Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: entre 5% e 7%
– Nota: 3,02/5

Poção de Cura
– Produto: American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: entre 4% e 5%
– Nota: 2,85/5

Poção de Trigo da Lua Cheia
– Produto: Hop Weiss
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: entre 5% e 7%
– Nota: 3,05/5

Poção do Rubor da Menina
– Produto: Red Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: entre 5% e 7%
– Nota: 3,08/5

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Leia também
– Cinco pubs de cervejarias nos EUA, por Mac (aqui)
– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)

fevereiro 21, 2012   No Comments

Da Bélgica: Leffe Bière de Noel e Leffe 9º

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 Quatro rótulos mais conhecidos da conceituada Abadia de Leffe já passaram por aqui (as excelentes Leffe Blond, Leffe Brown, Leffe Radiuse e Leffe Tripel) e agora é a vez de outras duas representantes menos comuns (mas tão boas quanto) da cervejaria belga provocarem o paladar: a afrancesada e natalina Leffe Bière de Noël (também conhecida como Kerstbier) e a adocicada e alcoólica Leffe 9º.

A Leffe Bière de Noel é sazonal e, como o próprio nome entrega, especial para festas natalinas. Extremamente condimentada, o aroma é uma mistura de especiarias (notadamente cravo e pimenta do reino) com amêndoas, caramelo e… areia. O paladar é dulcíssimo (até demais) com leves pitadas de amargor que fazem com que seus 6,6% de graduação alcoólica desapareçam (mas o álcool está ali… cuidado). Uma bela cerveja indicada para acompanhar bons queijos e, segundo o site oficial, magret de pato.

A versão 9º da Leffe é uma cerveja de alta fermentação que replica várias características de outros rótulos da cervejaria: o aroma aerado e condimentado devido a especiarias, uma das principais marcas da Leffe, marca presença de forma densa e esconde os 9% de álcool. Há ainda algo de malte de caramelo. Diferente das outras Leffe, porém, o álcool aparece no paladar, de forma delicada, mas presente. Ele está ali de mãos dadas com o malte de caramelo em uma cerveja leve (apesar da alta quantidade de álcool) que começa adocicada e termina do mesmo jeito (com final marcado por pêra e banana).

Em alguns momentos, a Leffe 9º lembra a brasileira Wäls Quadruppel, que, no entanto, é um pouco mais picante (devido a cachaça e a seus 11% de graduação alcoólica). O exemplar belga é mais licoroso e comportado, mas ainda assim bastante interessante. Com estas duas cervejas da família Leffe chegamos a seis rótulos faltando ainda a Leffe Ruby (uma fruit beer de framboesa) e a sazonal Printemps (que circula no verão europeu). Calma que a gente chega lá.

Por ser sazonal, a Leffe Bière de Noel costuma ser encontrada no mercado entre outubro e fevereiro, mas sua validade extensa (essa garrafa da foto era válida até junho de 2013) permite que ela esteja na prateleira durante vários meses. Porém, tanto ela quanto a 9º não são encontráveis com tanta facilidade em supermercados no Brasil sendo mais indicado procura-las em sites como o Clube do Malte e/ou empórios.  O preço (no Brasil) é mais puxado: entre R$ 17 e R$ 20.

Leffe Bière de Noel
– Produto: Speciality
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6,6%
– Nota: 3,51/5

Leffe 9º
– Produto: Belgian Golden Strong Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,92/5

Leia também
– Cinco pubs de cervejarias nos EUA, por Mac (aqui)
– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leffe Blond, Brown, Radiuse e Tripel, por Mac (aqui)

fevereiro 6, 2012   No Comments

De Curitiba, três cervejas da Bodebrown

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Primeira Cervejaria Escola do Brasil, fundada em 2010, a curitibana Bodebrown vem ganhando destaque merecido desde que Samuel Cavalcanti transformou sua cervejaria em uma “casa da cerveja”, tendo ensinado mais de 400 pessoas a produzir cerveja, e comercializando todo o material necessário para a produção de cerveja artesanal. Além de apoiar a cultura cervejeira, a Bodebrown é responsável por três rótulos de altíssima qualidade: a Bodebrown Hop-Weiss, a IPA Perigosa e a premiada Wee Heavy.

A Bodebrown Hop Weiss surpreende aqueles que esperavam uma Weiss tradicional: a mistura de malte de cevada com malte de trigo, junto ao lúpulo de amarillo, faz a cerveja ficar translúcida. As tradicionais notas de banana desaparecem dando lugar a tons cítricos que remetem principalmente a maracujá, e valorizam o malte. No paladar ela surge adocicada e aconchegante, com o maracujá novamente batendo ponto até o final… suave (e quase nenhum amargor). Eis uma cerveja refrescante e saborosa.

Já a versão Imperial IPA da Bodebrown, carinhosamente chamada de Perigosa (ex-Venenosa), não brinca em serviço: é uma cacetada de lúpulo presente já no aroma, intenso, bem balanceado entre o cítrico (limão) e o adocicado (caramelo). A brincadeira não para por ai: no paladar, o lúpulo carregado causa um forte amargor, característico do estilo norte-americano, mas vai se aconchegando entre notas cítricas e carameladas até seu final, complexo e nada alcoólico (apesar dos 9,2% de graduação). Um tesouro.

O rótulo da Wee Heavy, medalha de ouro na 18ª edição do Mondial de la Biére, em Montreal, no Canadá, avisa: “O ponto central desta receita é o malte”. A inspiração é uma velha receita de monges beneditinos de terras escocesas datada de 1719. O aroma segue a indicação do rótulo, com malte em destaque e variações de tostado que abrangem café, caramelo e chocolate. O paladar carrega um dulçor alcoólico que encanta aliado às variações tradicionais do aroma. O final é seco com uma leve lembrança de caramelo. Puro ouro.

Bodebrown Hop Weiss
– Produto: Hop Weiss
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,22/5

Bodebrown Perigosa
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9,2%
– Nota: 3,82/5

Bodebrown Wee Heavy
– Produto: Strong Scoth Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3,94/5

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Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)

janeiro 31, 2012   1 Comment

Opinião do Consumidor: Schlenkerla

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 O estilo Rauchbier elenca um tipo de cerveja produzido a partir de malte defumado. O malte de cevada era seco com a fumaça (rauch) de um forno, e mesmo com a industrialização, duas cervejarias da cidade de Bamberg, na Alemanha (a Schlenkerla e a Spezial), mantém o método tradicional que resulta em um conjunto intenso e bastante particular, recomendada para pessoas de paladar forte.

A cervejaria Schlenkerla produz rauchbiers desde 1678 e o carro chefe é a versão Marzen. O aroma traz a marca do malte defumado intensamente presente, desdobrando-se em algo que remete a molho barbecue e bacon. Causa estranheza no começo, mas siga em frente. O paladar, amargo e intenso, lembra café forte, torrefação, chocolate amargo e… churrasco. O malte defumado gruda na garganta de tal forma que o final é prolongado e permanece um bom tempo.

A versão Weizen junta o malte defumado com dois tipos de malte de trigo (estes não defumados). A expectativa era de que ela soasse menos defumada, mas o aroma é carregado de algo que lembra… bacon. E peito de peru. O trigo aparece sutilmente (principalmente quando a cerveja é bebida em temperatura ambiente, mais apropriada). O paladar, sem fazer drama, é isso tudo: bacon, peito de peru, fumaça, churrasco. Aliás, num churrasco ela deve ser absolutamente imbatível.

Além da Marzen e da Weizen, a Schlenkerla produz uma versão Urbock Rauchbier. São cervejas bem particulares que me parecem impensáveis sem um acompanhamento, e vale muito a dica de harmonizações do Brejas (que tal com uma pizza de calabreza? Veja aqui). São cervejas intensas e que melhoram com o tempo no copo (ao contrário das nossas, que ficam terríveis quando esquentam).

Interessante a descrição em um site: “O conhecedor toma esta cerveja devagar, mas com persistência e objetividade. Ele sabe que o segundo copo é mais gostoso que o primeiro, e que o terceiro é mais gostoso que o segundo”. Crie coragem.

Teste de Qualidade: Aecht Schlenkerla Rauchbier Weizen
– Produto: Rauchbier
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3/5

Teste de Qualidade: Aecht Schlenkerla Rauchbier Marzen
– Produto: Rauchbier
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 8,5%
– Nota: 3/5

dezembro 17, 2011   No Comments