Category — Cervejas
Três cervejas: Way, Basement e Wäls
A Way Beer, de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, já tem em seu estoque a melhor Pale Ale do país (a Way American Pale Ale, eleita pelo júri do 1º Prêmio Maxim de Cervejas), e decidiu turbinar sua pepita de ouro (com base na receita do projeto da Way 8S, feita por cervejeiros da Wäls, Bodebrown, Coruja e BrewDog mais Joseph Tucker, do RateBeer, e o cervejeiro caseiro belga Jacques Bourdouxhe – mas com lúpulos diferentes: aqui uma junção de Cascade, Citra e Amarillo).
O resultado é uma APA sensacional de aroma fantástico (obtido pelo duplo processo de dry hopping, procedimento em que se adiciona lúpulo já na fase de fermentação e/ou maturação para incrementar o aroma sem aumentar seu amargor) que remete a cítrico – notadamente raspas de limão, maracujá e abacaxi. No paladar, o malte marca presença colocando doses de mel ao lado do cítrico, mas o lúpulo acompanha até o final. Sensacional. Uma das melhores cervejas nacionais.
A Basement Cervejas Especiais, de Videiras, em Santa Catarina, gosta de provocar o paladar cervejeiro do consumidor. Se a Sweet Stout da casa (Port Royal) remete a vinho, a American Pale Ale dos catarinenses (California Golden Ale) é uma americana bastante exótica. O aroma é uma competição entre frutado, floral e cítrico com o malte também presente (além de algumas notas de mel). O paladar, por sua vez, é bastante maltado com o cítrico remetendo a abacaxi, lima e maracujá, e amargor pronunciado dando as caras desde o primeiro toque na língua e seguindo intenso até o final, marcado por um azedinho cujo rastro é duradouro. Uma cerveja difícil e arisca, mas bem interessante, que tem como grande mérito insistir em uma personalidade que fuja das cópias fiéis que povoam as prateleiras. Eles conseguiram.
De Curitiba e Santa Catarina para Belo Horizonte, mais precisamente para a cervejaria preferida deste espaço, a Wäls, que em abril deste ano lançou mais um rótulo inspirado nos belgas: a Wäls Witte, uma witbier levíssima que segue a tradição da cerveja de trigo criada por Pierre Celis, responsável pela receita da (nada mais, nada menos que a) Hoegaarden.
Os mineiros seguiram a risca a tradição. O aroma é floral e bastante cítrico, com notas de lima, limão, uva, banana e especiarias condimentadas – a própria Wäls cita pimenta da Jamaica. No paladar, as notas sugeridas pelo aroma se unem em um cítrico intenso, que abre espaço para o lúpulo (mais presente aqui do que em outras do estilo), mas não prejudica a leveza, que surpreende em um conjunto equilibrado que fica no meio do caminho entre o adocicado e o amargo, que deixa um azedinho como rastro no final de média duração. Difícil bater a Hoegaarden, mas a Wäls aparece novamente como uma bela cerveja.
As três cervejas acima podem ser encontradas com facilidade em bons empórios. A Way Double American Pale Ale foi comprada no site curitibano Clube do Malte, por R$ 14,90 (garrafa de 310 ml). Já a California Golden Ale e a Wäls Witte foram adquiridas em uma visita ao Empório Alto de Pinheiros, em São Paulo, a primeira por R$ 19 (garrafa rolhada de 375 ml), e a segunda por R$ 14 (garrafa de 600 ml)
Way Double American Pale Ale
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8,8%
– Nota: 3,87/5
California Golden Ale
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 2,93/5
Wäls Witte
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,77/5
Leia também:
– Wäls Petroleum: uma verdadeira experiência alcoólica (aqui)
– Port Royal Sweet Stout parece seguir tradição vinícola (aqui)
– Cinco cervejas da curitibana Way Beer (aqui)
– Uma manhã na cervejaria Wäls, por Marcelo Costa (aqui)
– Wäls Quadruppel, uma cerveja excepcional, por Mac (aqui)
– Ranking Pessoal -> Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
setembro 16, 2012 No Comments
Do Reino Unido, duas Old Tom
Fundada em 1838 em Stockport, uma cidadezinha que integra a grande Manchester, a Robinsons Brewery continua nas mãos da sexta geração da família, mas alterou o nome para Unicorn Brewery e dominou o noroeste da Inglaterra levantando ali mais de 360 pubs (fora 30 no País de Gales), sendo hoje uma das potências cervejeiras da região, com mais de uma dúzia de rótulos, cuja estrela já faturou o título de melhor cerveja ale do mundo, em 2009.
É a Old Tom Strong Ale, que também já foi eleita três vezes pela The Campaign for Real Ale (CAMRA) a “Supreme Champion Winter Beer of Britain”. O aroma é conquistador: malte torrado, vinho, chocolate, ameixa, maçã, madeira e um pouco dos 8,5% do álcool. O paladar (levemente licoroso, o que a aproxima bastante de uma barley wine) segue a prospecção do aroma e finaliza levemente adocicado. Campeã, sem dúvida.
Então sua cervejaria fabrica uma das grandes cervejas do mundo, e você decide produzir variações da premiada para conquistar outros paladares. No caso da Robinsons Brewery, eles foram e fabricaram logo duas: a Old Tom Ginger e a Old Tom With Chocolate. A primeira (que junta gengibre à receita original) ainda não chegou ao Brasil, mas a segunda já pode ser encontrada, e é uma versão bastante suavizada e aromatizada da original da casa.
O cacau (com receita do chocolatier Simon Dunn) se destaca tanto na Old Tom With Chocolate que até parece que colocaram calda de chocolate na cerveja, mas de forma muito mais harmoniosa que a da brasileira Backer Brown. O aroma lembra… milk shake de chocolate. Também ameixa e caramelo. O cacau também marca o paladar, que traz um levíssimo amargor e praticamente nada dos 6% de álcool presentes. Ela é adocicada sem ser doce, sabe? Uma delícia.
Tanto a Old Tom Strong Ale quanto a Old Tom With Chocolate estão sendo trazidas ao Brasil pela On Trade e podem ser encontradas em bons empórios (e, com sorte, até no Pão de Açúcar – como estas duas) entre R$ 16 e R$ 19 a garrafa de 330 ml. Eis uma cerveja para perguntar sobre para Noel e Liam Gallagher. Com toda certeza eles conhecem…
Old Tom Strong Ale
– Produto: Barley Wine
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 8,5%
– Nota: 3,83/5
Old Tom With Chocolate
– Produto: English Brown Ale
– Nacionalidade: Uruguai
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,77/5
Leia também:
– Backer Brown: colocaram Toddynho na sua cerveja? (aqui)
– Ranking Pessoal -> Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
setembro 11, 2012 No Comments
Três cervejas: Patrícia, Basement e Wäls
A cervejaria belo-horizontina Wäls já é velha conhecida deste espaço. Sua linha belga (Dubbel, Trippel e, principalmente, a Quadruppel) está entre as melhores do País. Visitei a fábrica na Pampulha no exato dia em que eles preparavam a primeira brasagem desta Wäls Petroleum (até bebi uma prova feita com chocolate Lindt – assista aqui), uma poderosa Russian Imperial Stout de receita produzida pela cervejaria curitibana Dum. O pessoal da Wäls provou, aprovou, se apaixonou, e decidiu produzir em grande escala. Nascia uma das cervejas do ano!
Tudo na Wäls Petroleum é intenso. A cor honra o ouro negro. No aroma, notas fortes de chocolate amargo dominando com café, madeira, ameixas e malte torrado na retaguarda. O paladar (impressionantemente seco frente ao tom licoroso do conjunto) traz tudo isso mais álcool, uma cacetada de 12% muito bem inserida no conjunto, que também fica em segundo plano frente ao cacau belga que impera enquanto o lúpulo deixa uma marquinha de amargor. Uma excelência de cerveja, uma verdadeira experiência alcoólica.
No final, preste atenção nas marcas de chocolate que ficam borradas no copo, tal qual um Milk Shake de Chocolate (com 12% de álcool).
A uruguaia Patrícia também é bem conhecida dos brasileiros. Questão de seis ou sete anos, sua versão american lager, de rótulo vermelho, entrou em nosso mercado acompanhada da Nortenã (ambas da cervejaria FNC – Fabrica Nacionales de Cerveza), e conquistou um bom público nas terras de Pedro Alvarez Cabral. Surpresa positiva descobrir que, além dessa american lager, os uruguais ainda produzem Patrícia em versões Porter, Dunkel, Vienna Lager, Red Lager e Weisse. Ganhei essa última do amigo cervejólogo Leonardo Dias, que a trouxe de Montevideo.
Minha expectativa com a Patricia Weisse era de uma cerveja que mirava na Weihenstephaner e acertava a Bohemia Weiss, o que já estaria de bom tamanho. Porém, ótima surpresa, a versão de trigo da Patrícia é uma witbier levíssima que paga tributo á escola belga. O aroma é extremamente cítrico com notas intensas de lima e laranja. O paladar segue o caminho aberto e não decepciona. Lançada no final de 2011 no mercado uruguaio, a Patricia Weisse pode e deve conquistar os fãs da belga Hoegaarden. Ótima.
A Basement Cervejas Especiais é uma novíssima cervejaria de Videiras, em Santa Catarina, uma cidade de menos de 50 mil habitantes que fica a 450 quilômetros da capital Florianópolis, e que é famosa pelo vinho, com uma Festa da Uva que acontece na cidade desde 1942 cujo ponto alto Concurso Estadual de Vinhos (além dos abatedouros de aves e suínos, que constituem 75% do movimento econômico do município). A Basement produz três tipos de cerveja: California Golden Ale, Tony Festival e a Port Royal Sweet Stout.
De rótulo bonito (praxe da casa), a Port Royal Sweet Stout traz notas fortes de malte tostado, que dá ao conjunto um forte aroma e sabor de café. Há um pouco de notas de chocolate amargo, de ameixa e notas excessivas de amadeirado além do álcool, muito presente (8,5%). No geral, a carbonatação é baixíssima, a espuma quase inexistente, e o liquido ralo numa cerveja que parece querer seguir a tradição vinícola da cidade, e decepciona. O final é amargo, com um rastro de café e álcool que marcam o céu da boca e seguem até o final da garganta.
A Wäls Petroleum já pode ser encontrada com facilidade em bons empórios (e no Empório Alto de Pinheiros, em São Paulo, e no Stad Jever, em Belo Horizonte, também em torneira) com preços entre R$ 14 e R$ 16 a garrafa de 330 ml (com validade extensa – essa da foto até maio de 2015). A Port Royal Sweet Stout, da Basement, também está circulando em empórios, entre R$ 16 e R$ 18. Já a Patrícia Weisse, por enquanto, só em Montevideo (ou se algum amigo camarada trazer de lá). Se você gosta de witbier, peça. Vale a pena.
Wäls Petroleum
– Produto: Russian Imperial Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 12%
– Nota: 4,39/5
Patricia Weisse
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Uruguai
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3,02/5
Basement Port Royal Sweet Stout
– Produto: Sweet Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8,5%
– Nota: 2,34/5
Leia também:
– Uma manhã na cervejaria Wäls, por Marcelo Costa (aqui)
– Wäls Quadruppel, uma cerveja excepcional, por Mac (aqui)
– Ranking Pessoal -> Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
agosto 30, 2012 No Comments
De Campos do Jordão, Baden Baden (1)
Posso até estar errado, mas acredito que a primeira cerveja brasileira independente, com rótulos diferentes das tradicionais, a circular com força no mercado, foi a Baden Baden. A cervejaria foi criada por quatro amigos em 1999, na cidade de Campos de Jordão, inspirados no restaurante de um deles na cidade, datado de 1985, que servia chopp artesanal de excelente qualidade. Este chopp acabou se tornando a primeira cerveja da casa, em 2000.
De lá pra cá, a Baden Baden cresceu muito até serem adquiridos pela Schincariol em 2007 pela pequena fortuna de R$ 30 milhões. Muita gente temia que os novos donos mexessem na boa receita original, mas vários relatos apontam, inclusive, melhoras em alguns rótulos, que hoje em dia são oito: Pilsen Cristal, Lager Bock, Golden Ale, Red Ale, 1999, Dark Stout e Weiss além da sazonal Celebration Inverno. Vou dividir em dois posts de quatro cervejas.
O passeio pela Baden Baden começa pela Weiss, que traz as notas frutadas com acentuação de banana características de uma cerveja do estilo além de um pouco de cravo e fermento (tudo aquilo que você já sabe e que é obrigatório). O paladar, um bocadinho sem corpo, segue a risca o que o aroma adianta: notas persistentes de banana, mínimo de malte e lúpulo comportado (mas presente) numa cerveja que impressiona (e merece crédito) pela sua leveza.
A 1999, por sua vez, é inspirada nas bitter ale inglesas, o que o aroma extremamente maltado corrobora assim que o freguês abre a garrafa. Há, ainda, sugestões de ameixa, melaço, cereja e malte tostado. É no paladar, porém, que a 1999 decepciona um pouco (ou, vendo por outro lado, conquista aqueles que não são atraídos pelas inglesas): o amargor é suave demais (embora deixe um rastro no final) em um conjunto adocicado que deixa o lúpulo na retaguarda. Mas tem bala pra conquistar muitos corações.
Seguimos com a Stout da casa. O malte torrado não deixa dúvidas em relação ao estilo desta negra intensa que nasceu em Campos do Jordão, mas tem descendência irlandesa. O aroma ainda traz sugestão de café, chocolate amargo e madeira, tudo replicado com louvor no paladar, cujo amargor é muito mais arte do malte torrado do que do lúpulo – o que também a torna levemente adocicada (mas muuuuito longe de uma Malzbier, por favor). Gostosa e bem interessante.
Já a Red Ale é a Barley Wine da casa, uma das preferidas dos fãs da cervejaria, não indicada para quem está começando no paraíso das cervejas especiais, porque sua intensidade pode inibir o bebedor acostumado às cervejas de balcão. E bota intensidade: são 9,2% de álcool muito bem distribuídos num conjunto cujo aroma maltado de caramelo (levemente tostado) e a sugestão de frutas vermelhas bailam com o álcool numa dança convidativa de dulçor e amargor. Não só uma das melhores da Baden Baden, mas na elite das cervejas brasileiras.
Com boa distribuição da Schincariol, a Baden Baden pode ser encontrada com facilidade em diversos supermercados entre R$ 10 e 12 (a garrafa de 600 ml), e valem o investimento. Há um tour – que não fiz ainda, mas já estou planejando – pela microcervejaria em Campos de Jordão, que parece cuidadoso e interessante. É preciso agendar via telefone, e as informações estão todas no site oficial. Enquanto isso, vou preparando as próximas quatro garrafas…
Baden Baden Weiss
– Produto: Weiss
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 2,89/5
Baden Baden 1999
– Produto: Bitter Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,03/5
Baden Baden Stout
– Produto: Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 2,95/5
Baden Baden Red Ale
– Produto: Barley Wine
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9,2%
– Nota: 3,08/5
Leia também:
– Top 700 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
agosto 28, 2012 No Comments
São Paulo: Cervejaria Nacional
“Para mim, um bom bar/boteco/restaurante tem que ter três coisas: atendimento prestativo (sem ser inconveniente), bom cardápio de pratos e/ou petiscos e uma carta de bebidas interessante. O bar perfeito, que me faz querer voltar, tem que cumprir os três quesitos. Mas existem vários que cumprem ou outro, e pela excelência deste item isolado, eu volto” Marcelo Costa
Inaugurada em maio de 2011, já fazia um bom tempo que eu me devia uma visita à Cervejaria Nacional, uma fábrica-bar que produz cerveja artesanal em um prédio de três andares no bairro de Pinheiros: no térreo ficam os barris de produção de cerveja (totalmente à vista do público) enquanto o primeiro e o segundo piso abrigam os frequentadores com uma lotação máxima de 160 pessoas.
Fui conhecer o local sozinho, num sábado à noite, e a primeira impressão foi ótima: o atendimento me fez sentir-me à vontade. As mesas estavam todas ocupadas (o que é perfeitamente compreensível pelo horário que cheguei, 22h), mas há um extenso balcão que estrategicamente atravessa o bar, e pode ser um bom local para solitários e/ou casais.
A Cervejaria Nacional trabalha com cinco cervejas próprias: Domina (Weiss), Sa’Si (Stout), Mula (IPA), Kurupira (Ale) e Y-Iara (Pilsen), e você pode prova-las em um sampler como o da foto. Além das cinco tradicionais, eles oferecem regularmente duas sazonais especiais, que neste dia eram uma Bock e uma XPA (mistura de IPA com Ale). As campeãs, para mim, foram a IPA e a Pilsen, deliciosas.
Além das cervejas de torneira da casa há uma geladeira com boas cervejas de garrafa da Brew Dog (Punk IPA, 5Am Saint, Hardcore IPA, Trashy Blonde e Nany State), uma Extra Special Bitter, da Anderson Valley, mais as três belgas da Rochefort, três rótulos da Rogue (Mom Hefeweizen, Irish Style Lager e Chipotle Ale) e três da Anchor (Liberty Ale, Anchor Steam e Old Foghorn Barley Wine).
No quesito petiscos, muita coisa boa. Encarei uma meia porção (200 gramas) de calabresa com erva doce acompanhada de pão de bagaço de malte e porções de manteiga de cerveja ale e um ótimo molho de pimenta-verde. Fiquei curioso pelos sanduiches, pela alheira, pelos acepipes e pelo pão de alho da casa (e pelos pratos: desde picanha, feijoada e galeto até rabada com agrião e risoto de costelinha).
O preço (11/08/2012) do sampler com cinco cervejas foi R$ 19,90, a porção de calabresa saiu por R$ 26 e o pão de bagaço de malte (com os acompanhamentos) foi R$ 9. Bebi ainda uma Brew Dog para fechar a noite (R$ 16 a garrafa – os chopps da casa variam de R$ 8,90 a R$ 15,90). Importante: às terças e quintas tem pockets de bandas de jazz e blues, e de segunda a sexta, de 17h às 20h, double drink: pedi um chopp, ganha outro. Vou voltar.
Atendimento: Ótimo
Petiscos: Excelente
Bebidas: Excelente
Endereço
Avenida Pedroso De Morais, 604, Pinheiros
Telefone para informações e reservas: (011) 3628-5000
Site oficial: www.cervejarianacional.com.br
Horário de funcionamento
De segunda a quarta das 17hà 00h
Quinta das 17h à 01h30
Sexta e sábado das 12h à 01h30
Domingo – Fechado
agosto 13, 2012 No Comments
Três cervejas: Gülmen, 77, Valentins
A cervejaria Gülmen é de uma cidadezinha de 50 mil habitantes chamada Viedma, às margens do Rio Negro, na Argentina, cerca de 11 horas distante de Buenos Aires. Eles fabricam artesanalmente seis estilos de cerveja (a Barley Wine da casa é muito bem cotada) e este exemplar da Gülmen Dorada Patagonica chegou a minhas mãos como um presente do amigo Nevilton, que em algum de seus roteiros de shows (quem conhece a banda sabe que eles tocam muito e em todo o lugar) a viu na prateleira e me trouxe de presente.
A Gülmen Dorada Patagonica é uma belíssima surpresa. Da família das Pale Ale, a Dorada mistura lúpulos colhidos na região patagônica do El Bolsón com os famosos Säaz da República Tcheca. Não à toa, o aroma é caprichadamente lupulado, mas traz sugestão de trigo, guaraná e melaço. O paladar reforça o que o aroma adianta: bastante lúpulo, mas com um amargor comportado, que deixa um rastro interessante de caramelo. Bem gostosa, o que faz planejar uma busca pelas demais cervejas da Gülmen.
A Parkbrauerei (Cervejaria Park) surgiu em Pirmasens, uma cidadezinha alemã de pouco mais de 40 mil habitantes, em 1888, e sua especialidade, desde sempre, foi a cerveja dos namorados, a Valentins Hefeweissbier. Isso continuou mesmo após a Parkbrauerei fundir-se com a Bellheimer (que nasceu em 1865) mais de um século depois, em 1995, criando um poderoso conglomerado cervejeiro que, hoje, conta com mais de 50 rótulos no cardápio (de Bellheimer a Frankenthaler, de Germania a Goldhand e muitas outras).
As famosas cervejas de trigo alemãs são típicas da Bavária, no sul do país, por isso surpreende esta bela representante do estilo sair do sudoeste, quase na fronteira com a França. Tudo aquilo que faz brilharem os olhos dos apaixonados por cervejas de trigo está aqui: o aroma traz notas de banana, trigo e cravo. O paladar não complica e cumpre o que o aroma propõe em uma cerveja bem gostosa, mas inferior às campeãs do estilo – leia-se Weihenstephaner. Ainda assim, é uma substituta de respeito e o bom preço (R$ 7 a latinha de 500 ml) ajuda.
A BrewDog é uma cervejaria escocesa que tem apenas seis anos de vida, mas já garantiu um lugar no lado esquerdo do peito cervejeiro devido a rótulos disputados (e caríssimos) como a Paradox (uma stout de 10% de graduação alcoólica envelhecida em velhos barris de uísque escocês), a Tokyo (uma Imperial Stout de… 18,2%), a Tactical Nuclear Penguin (32% de álcool), a Sink The Bismarck, uma IPA Quadrupel de 41%, e, a exótica The End of History, cerveja de 55% de álcool embalada em esquilos de pelúcia (?). Isso fora as tradicionais. São muitas…
Desta forma, aproveitando uma promoção no meu empório predileto, trouxe duas latinhas da Brew Dog 77 Lager pra casa. Pra amigos, a apresentei (após a primeira latinha) como o que as cervejas brasileiras de balcão deveriam ser, se fossem cervejas de verdade (das “nossas”, a que mais aproxima aqui é a Serra Malte). O aroma da 77 traz o lúpulo em primeiro plano, mas o malte marca presença. O paladar segue a risca a tradição: o malte carameliza até onde deve caramelizar e o lúpulo amarga até onde tem que amargar. Linha clássica caprichada.
Gülmen Dorada Patagonica
– Produto: Pale Ale
– Nacionalidade: Argentina
– Graduação alcoólica: 5,3%
– Nota: 3,35/5
Valentins Hefeweissbier
– Produto: Weiss
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,01/5
Brew Dog 77 Lager
– Produto: German Pilsner
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 4,9%
– Nota: 3,47/5
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– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
agosto 7, 2012 No Comments
Opinião do Consumidor: Blanche de Brabant
Fundada em 1909 em Merchtem, uma cidadezinha de pouco mais de 15 mil habitantes na região flamenga de Brabant, na Bélgica, a cervejaria John Davis segue ainda sobre o controle da família, mas em 1993, ao adquirir a Timmermans Brewery, cervejaria criada em uma vila na região dos Flanders, passou a utilizar esse nome (e quadruplicar o número de rótulos). Dentre vários títulos, um dos que andam viajando pelo mundo é a Blanche de Brabant, que homenageia um herói do século 12 que pertenceu à dinastia real francesa
A cor e o aroma cítrico da Blanche de Brabant não enganam: estamos diante de uma tradicionalíssima witbeer belga. No nariz, notas frutadas e cítricas que remetem a limão, laranja, maçã, trigo e coentro – e também certa doçura. No paladar, bastante leveza. O trigo surge mais presente com as mesmas notas do aroma (limão, caramelo, maçã e especiarias – com ênfase no coentro) marcando o paladar. Segundo algumas peças publicitárias, ela pede compania de uma rodela de limão, o que dispenso: para mim, ela é ótima ao natural.
Concorrente da bastante conhecida (e popular até no Brasil) Hoegaarden (e, agora, da nacional Wäls Wit), a Blanche De Brabant perde no fiel da balança devido ao preço. A bela garrafa rolhada de 750 ml pode ser encontrada no Brasil entre R$ 40 e R$ 55 em bons empórios, o que torna seu custo beneficio elevado em comparação às concorrentes. Ainda assim, eis uma cerveja refrescante, que merece uma chance, principalmente em terras belgas, onde custa cerca de 4,50 euros a mesma garrafa de 750ml.
Blanche de Brabant
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,87/5
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julho 31, 2012 No Comments
Opinião do Consumidor: Amarcord
Mais uma leva adquirida no Bácaro Pub, em Veneza, a Amarcord já conquista o apaixonado por cinema por seu nome reconhecível: sim, estamos diante de uma turma de amigos que decidiu homenagear Federico Fellini, não só no nome da cervajeria, mas também no de vários rótulos da casa, que tomam emprestados para si nomes de personagens de filmes do diretor. A paixão é praticamente local, pois a Birra Amarcord Artigianale foi fundada na segunda metado dos anos 90 em Rimini, cidade que foi pano de fundo para um dos filmes mais sensacionais de Fellini, e da história do cinema, o mítico “Oito e Meio”.
O sucesso da pequena cervejaria artesanal criada por amigos fãs de cinema fez com que os sócios procurassem uma cidade para uma fábrica maior, e a escolhida foi a medieval Apecchio, cidadezinha de pouco mais de 2 mil habitantes. O próximo passo: conquistar o coração de um dos brewmasters mais respeitados do mundo, Garrett Oliver, o norte-americano que estudou no Reino Unido e transformou a Brooklyn Brewery em referência mundial. Junto com os italianos, Garrett Oliver desenhou uma linha de cervejas especiais com inspiração belga, que chegou ao mercado em 2012, ainda é pouco conhecida, mas encanta.
Garrett Oliver caprichou na receita da Ama Bionda, uma cerveja que leva três tipos de lúpulo, maltes aromáticos e casca de laranja em sua receita. O aroma delicioso traz notas cítricas e florais (um pouco de coentro, talvez limão e hortelã, levemente mel) que remetem diretamente à escola belga. O paladar é bastante interessante, com um toque caprichado no cítrico em meio ao malte de trigo, mas a festa do lúpulo, com o amargor dançando com coentro, pimenta do reino e laranja num conjunto bastante refrescante. Final seco que pede mais.
Como não se apaixonar: ela é ruiva, italiana e se chama Bruna. E é tão novinha que pouca informação existe sobre ela, além de uma medalha de bronze no International Beer Challenge 2012. A Bruna, da Amarcord, segue novamente a escola belga – dubbel aqui. O aroma dança entre tostado (intenso) e adocicado (suave), mas o álcool escapa e se junta às sugestões de nozes e passas. O açúcar mascavo, presente no conjunto, é bastante perceptível no paladar, que remete mais ao álcool do que o aroma pressupõe, acompanhado de nozes, passas e café. Conforme a temperatura vai subindo, ela fica ainda melhor. Como uma belga.
Fechando o trio apaixonante da Amarcord, a deliciosa Mora, uma duplo malte que traz café e cana de açúcar do Malawi em sua formulação. No aroma, há notas dispersas de caramelo e avelã, mas quem comanda é o café (que lembra, e muito, o café italiano de botequim). Para quem esperava um café gelado, a Mora surpreende devido à cana de açúcar, que torna o conjunto adocicado, mas nem um pouco enjoativo. Pelo contrário: as notas de café são bastante nítidas, mas o melaço aconchega o amargo e o final balança entre o suave da cana de açúcar e o denso marcante do café. A questão que fica: cadê os 9% de álcool? Foda!
Onde encontrar no Brasil? Não tem… ainda. Após a chegada das Del Ducatto não deve demorar para que distribuidores brasileiros descubram essa linha especial da Amarcord (a linha tradicional – das garotas Gradisca, Tabachéra, Volpina e Midòna – não é tão elogiada nos sites especializados), mas é quase certo que ela não custará no Brasil os 4 euros (aproximadamente R$ 10) que custa em uma boa cantina, um bom pub ou mesmo um boteco de respeito na Itália. Ou seja, além do Coliseu, de Michelangelo, das massas e de Veneza (entre 10 mil outras coisas), você tem mais um bom motivo para conhecer a Itália. Vale a pena.
Amarcord AMA Bionda
– Produto: Belgian Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,37/5
Amarcord AMA Bruna
– Produto: Belgian Abbey Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 3,53/5
Amarcord AMA Mora
– Produto: Coffee Flavored Beer
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,76/5
Leia também:
– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Itália: Um conto cervejeiro em Veneza (aqui)
julho 26, 2012 No Comments
Opinião do Consumidor: Witbier Taperebá
A única cervejaria 100% artesanal do Pará volta a atacar. Após a boa repercussão da Bacuri Beer, os paraenses da Amazon Beer apostam novamente em uma fruta da região combinada com maltes em sua nova produção. Desta vez a fruta é o Taperebá, conhecido no sudeste como Cajá, que entra numa fórmula que pede benção às witbiers belgas, cervejas medievais bastante leves que eram feitas a partir do malte de trigo, e que tem como carro chefe a popular e especialíssima Hoegaarden.
A Witbier Taperebá segue a risca o caminho aberto pela Bacuri Beer. O aroma é bastante cítrico, tendendo a limão e laranja lima, com o próprio cajá marcando presença. O paladar, por sua vez, segue outro caminho: há um azedinho que remete a limão, mas que logo é vencido pelo agridoce da fruta, embora o amargor retorne levemente no final seco. Eis uma cerveja bem leve – cuja publicidade é voltada para o público feminino – e interessante da linha “produto nacional”, ou seja: essa você só bebe aqui.
Assim como as demais Amazon Beer, a Witbier Taperebá pode ser encontrada no formato chopp no bar da cervejaria na Estação das Docas, em Belém (na beira do rio Guajará), e acompanhada de petisco e amigos deve render uma boa tarde (embora fique a dúvida se a terceira dela deva descer tão bem quanto a primeira – o que no bar pode ser resolvido com uma rodada de Vienna Lager). Nos outros Estados, a Witbier Taperebá pode ser encontrada em garrafa 330 ml entre R$ 7 e R$ 9, ou seja, mais cara que a Hoegaarden, mas vale para sair da rotina.
Dois adendos: a Amazon Beer irá exportar suas cervejas para Estados Unidos, Asia e Europa, uma grande notícia, já que são cervejas com um toque bem brasileiro. Eles investem bastante no paladar feminino, e podem conquistar norte-americanas e francesas (que tem uma boa escola de fruit beers), mas pra não ficarem marcados como uma cervejaria apenas de menininhas seria de bom grado eles cravarem uma IPA caprichada. O segundo adendo: você pode fazer um tour virtual pela Estação das Docas, em Belém. Aqui.
Witbier Taperebá
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,7%
– Nota: 2,87/5
Leia também
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julho 19, 2012 No Comments
Duas cervejas trapistas da Westmalle
Por duas vezes, nos séculos 18 e 19, os Monges Cistercienses da Estrita Observância foram proibidos e perseguidos (assim como as demais ordens monásticas). Em 1791, o mestre da Abadia de La Trappe, Augustinus de Lestrange Dubosc, temendo a perseguição causada pela Revolução Francesa, deixou o país e decidiu enviar monges para lugares distantes (como Itália e Espanha), pensando em novos assentamentos. Um terceiro grupo deveria ser enviado para o Canadá, mas parou na Antuérpia, onde o bispo local fez um convite: “Fiquem aqui”.
Não era só um convite. O bispo arranjou uma fazenda para o grupo nos Flanders, e nascia assim, em 1974, a Abadia Trapista de Westmalle (cujo nome original é Abdij Onze-Lieve-Vrouw van het Heilig Hart van Jezus), que só foi elevada ao posto de abadia em 1836, mesmo ano em que o abade Dom Martinus começou a construção de uma pequena cervejaria, com a primeira produção abastecendo o almoço dos monges em 10 dezembro de 1836. Nascia uma das mais famosas cervejas trapistas.
A cervejaria foi ampliada e reconstruída em 1865, com base em uma planta usada pelos monges trapistas de Forges (perto de Chimay). As vendas no local já haviam sido iniciadas em 1856 (além de cerveja, os monges faziam – e fazem até hoje – pão e queijo), mas a Westmalle só passou a ser vendida comercialmente em 1921. Hoje em dia, a Abadia Trapista de Westmalle, com cerca de 20 monges e 40 funcionários, produz 45 mil garrafas por hora de três tipos de cerveja: Dubbel, Trippel e a sazonal Westmalle Exttra.
A Westmalle Dubbel já mostra sua potência no aroma, extremamente alcoólico, parecendo inclusive mais do que os 7% que o rótulo antecipa. Assim que o nariz se acostuma com o álcool, notas adocicadas de frutas vermelhas (morango, cerveja) se misturam com melaço e caramelo num conjunto sedutor. Na língua, o conjunto é adocicado e cativante, remetendo primeiramente a cereja, depois a caramelo e licor. O finalmente e extremamente seco, mas deixa um rastro de frutado pelo caminho. Uma experiência.
Apelidada de “mãe de todas as Tripel”, a Westmalle Tripel, por sua vez, é uma porrada. O álcool é bem perceptível desde o primeiro momento, mas o aroma é muito mais que isso: é uma festa com notas de laranja, mel, floral, canela, lúpulo, malte e o que a sua imaginação sugerir. Na boca, há um rastro de amargor com toques de cítrico (principalmente laranja e um pouco de abacaxi) banhados levemente em álcool, que vão se aclimatando de forma majestosa. Ainda a acho intensa demais, mas, sem dúvida, é impressionante.
Hoje em dia é facilmente encontrar as duas Westmalle em bons empórios no Brasil, e embora os preços praticados aqui ainda sejam excessivos (entre R$ 15 e R$ 21 a garrafa de 330ml), o retorno do investimento é plenamente satisfatório. Vale, ainda, pensar em uma visita ao mosteiro. O site oficial dá todas as informações sobre visitas e até estadias mais longas, em que o visitante adentra a trilogia que comanda a abadia (da qual a cerveja é apenas para manter a congregação): viver para rezar, viver para a comunidade, viver para o trabalho. Quem sabe…
Westmalle Dubbel
– Produto: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 4,58/5
Westmalle Tripel
– Produto: Belgian Tripel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9,5%
– Nota: 4,75/5
Bebendo Westmalle no Belgo, pedaçinho da Bélgica em Londres
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julho 17, 2012 No Comments