Aprendendo com Aimee Mann
Dois anos atrás, na Bélgica, eu e Lili descemos em Bruxelas para pegar um trem para Leuven, cidade que abriga o badalado festival Rock Werchter. Um casal amigo nos aguardava na estação de trem, mas quem diz que chegamos: pegamos o trem errado para Louvain e fomos parar em Otigani, quase Holanda. O cobrador, belga, apenas tentava explicar – em um inglês tão bom quanto o meu: “Leuven and Louvain: same name, but different”.
Lembrei dessa história porque eu e Renato levamos um baile do trem de New Jersey antes do show de Aimee Mann em Metuchen, uma cidadezinha de 13 mil habitantes a 50 minutos de Nova York. Procuramos no Google Maps a melhor forma de chegar ao Forum Theatre, local do show, e descobrimos que a melhor maneira era pegar o trem da Northeast Corridor em direção a Trentron, e descer em Metuchen. Mas não descemos…
Pegamos um trem que pulava dezenas das cidadezinhas da região (Metuchen inclusa) e terminava em Trenton. Descemos no ponto final e só então caiu a ficha. Estávamos em cima da hora, mas não havia muito o que fazer além de esperar o próximo trem e voltar para Metuchen torcendo para não perder muito do show. O próximo trem veio, descemos na cidadezinha e pegamos a única grande avenida da cidade em direção ao fórum. Quantos minutos perdemos: “Uns 20”, respondeu o caixa.
20 minutos = a três músicas, segundo o set list. Quando entramos no simpático, meio decadente e aconchegante Forum Theather, Aimee começava a explicar a letra de “Going Through the Motions” (do ótimo “The Forgotten Arm”, 2005). A canção veio acompanhada de piano e baixo, além do violão e um chimbau de bateria para marcar o tempo (os dois últimos tocados por Aimee). Totalmente low profile, Aimee desfilou suas canções desoladoras entre piadas e muitos aplausos.
“Odeio quando vou a um show e o artista diz que vai tocar uma música nova… mas é isso que vou fazer agora”, desculpa-se ela no meio da apresentação (sendo aplaudida efusivamente pelos presentes) e apresenta “Charmer”, boa faixa que deve estar em seu próximo álbum. “Todays The Day” e “Guys Like Me” (duas do belissimo “Lost in Space”, de 2002) surgem em versões respeitáveis (apesar da economia do formato), mas o show ganha corpo quando Aimee anuncia que fará um set de canções da trilha do filme “Magnolia”, de Paul Thomas Anderson.
“Nothing Is Good Enough” e “Save Me” surgem belas, tocantes, mas menores que a versão em disco, talvez pela sonoridade sem personalidade da bateria eletrônica (impossível que Aimee não tenha um baterista e um guitarrista, este último fez muita falta em “Freeway” e na parte final de “Save Me”). “One”, cover de Harry Nilsson do tempo em que Aimee cantava no Til Tuesday, encerra a noite de forma vigorosa.
O público aplaude efusivamente, e ela volta para o bis se surpreendendo: “Que bonitinho, vocês estão todos de pé”. Toca mais três músicas e, no meio de uma delas, ouve alguém gritar: “Você é especial”. Ela agradece e emenda: “Eu sei”, para risos gerais do teatro. O show, no entanto, não foi especial. O repertório foi bom, ela canta e conduz bem o violão (e o chimbau), mas a formação diminuta da banda não esteve a altura de suas canções. Valeu a pena (o aprendizado das linhas de trem incluso), mas ficou um gostinho de que podia ser melhor.
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