“Times Square” e “Freedom”, Neil Young
Em sua carreira, Neil Young desistiu de lançar vários discos que já estavam prontos (uma descoberta recente foi o maravilhoso “Homegrown“, de 1975, que depois de gravado e mixado foi arquivado por Neil que só o lançou em 2020!). Daí que após cumprir seu contrato com a Geffen em 1987 lançando (o bom) “Life” (com um aceno ao pré-grunge que ele viria a abraçar), Neil gravou o álbum “Times Square” (1988) com uma formação que ele apelidou de The Restless (Chad Cromwell, Rick Rosas e Frank Sampedro) somando duas sobras do álbum de blues “This Note’s For You”. O disquinho de nove faixas chegou a ser distribuído para algumas rádios quando Neil decidiu engavetar o álbum.
Das nove faixas de “Times Square” (que começou a circular em versão bootleg nos anos 90), cinco foram parar no EP “Eldorado”, que só saiu oficialmente em abril de 1989 pela Reprise na Austrália e no Japão (a poderosa e densa “Heavy Love” e tb “Cocaine Eyes” só existem nesse EP), e seis se juntaram (levemente alteradas) a outras seis faixas em “Freedom”, que saiu em outubro do mesmo ano no mundo todo (Brasil em vinil incluso). Uma única faixa de “Times Square” ficou inédita, “Box Car”, que apareceria em um lançamento futuro (“Chrome Dreams II”, de 2007).
“Freedom” é aberto e encerrado com “Rockin’ in the Free World” (em versões acústica e elétrica), que se transformaria em um dos últimos grandes sucessos da carreira de Neil e um dos grandes momentos de seus shows (e dos shows do Pearl Jam), mas a alma do disco é o coração batendo do álbum “Times Square” com as estupendas “Eldorado” (sonho em ouvir essa ao vivo) e “Crime in the City” mais as tempestades sônicas de “On Broadway” e “Don’t Cry” (quando uma guitarra soa como a turbina de um Boeing).
O discaço “Freedom” seria sucedido por outro discaço, “Ragged Glory” (1990), e pelo complemento sônico triplo ao vivo “Weld” / “Arc” – o primeiro é um tradicional disco duplo de rock barulhento de Neil (com “Like a Hurricane”, “Cortez the Killer”, “Cinnamon Girl”, “Powderfinger”, “Hey, Hey, My My”, cover de Bob Dylan e faixas então recentes) e o segundo é uma colagem de 35 minutos de microfonia, noise e feedback captados durante a turnê. Que fase!
janeiro 30, 2022 No Comments
“Mirrorball” / “Merkinball”, Neil Young e Pearl Jam
A discografia de Neil Percival Young é tão maravilhosamente errática que quando David Geffen o tirou da Reprise Records para sua companhia, no começo dos anos 80, se achou no direito de processar Neil após dois discos (de um contrato de cinco!) alegando que havia contratado Neil Young, mas os discos que ele tinha lançado (o kraftwerkiano “Trans” e o rockabilly “Everbody’s Rockin”, de 1982 e 1983, respectivamente) não eram “comerciais” e não “pareciam Neil Young”. Em contrapartida, Neil processou a Geffen (em US$ 21 milhões!) pq seu contrato trazia uma cláusula que lhe dava total liberdade criativa – David, então, teve que se desculpar pessoalmente com Young, que ganhou o processo e fez um acordo!
Neil Young sempre se sentiu livre criativamente tendo uma banda para momentos acústicos (a Stray Gators), uma para momentos noise (a Crazy Horse) e o desejo de gravar com quem quiser, a hora que quiser, quando quiser. “Trans”, o disco “eletrônico” de Neil, é a tentativa de um pai de se comunicar (via vocoder) com um filho que tinha paralisia cerebral, já que a tecnologia vinha sendo bastante usada na terapia da criança. Para “Everbody’s Rockin”, Neil montou uma banda de rockabilly, passou gel no topete e foi emular Elvis e o rock dos anos 50 – o disco seguinte na Geffen, “Old Ways”, é country rural…
Neil voltaria para a Reprise em 1988 com um disco de blues, “This Note’s for You”, em que ele acrescentaria metais na Crazy Horse e a batizaria de The Bluenotes, e um EP, o maravilhoso “Eldorado”, que seria o embrião de “Freedom” (1989), o álbum que colocaria sua carreira nos eixos e o aproximaria da cena grunge. Seis anos depois, ele iria entrar em um estúdio em Seattle tendo o Pearl Jam como banda de apoio acompanhado do produtor Brendan O’Brien para compor “Mirrorball”, seu 21º álbum de estúdio! Young escreveu todas as faixas do álbum, exceto “Peace and Love”, co-escrita por Young e Eddie Vedder – duas faixas de Vedder (“I Got Id” e “Long Road”) saíriam no EP “Merkinball”, do Pearl Jam (com Neil na guitarra e nos backings).
Gosto bastante de “Mirrorball”, e minha faixa favorita é o single de maior sucesso do álbum, “Downtown” (“Jimi’s playin’ in the back room / Led Zeppelin on stage”). “Esse álbum é um comentário das diferenças entre a minha geração paz e amor dos anos 60 e a geração mais cínica dos anos 90”, comentou Neil na época.
Detalhe: com exceção de Eddie, o Pearl Jam e o produtor Brendan O’Brien seguiram Neil como banda de apoio para uma turnê de 11 datas na Europa e Oriente Médio tocando o repertório do álbum e clássicos da carreira de Young. “Foi um sonho tornando-se realidade”, disse Mike McCready. “Nós tocamos um monte de músicas de Neil Young com o próprio Neil Young”. Canções como “Rockin’ in the Free World” e “Fuckin’ Up” passaram a fazer parte do repertório de shows do Pearl Jam…
Ps. Um documentário sobre essa turnê do Pearl Jam com Neil Young em 1995 estava prometido para ser lançado em 2021, e deve ser lançado em 2022…
janeiro 30, 2022 No Comments