10 discos favoritos em 10 dias: Dia 9
O pequeno Martín só chega em dezembro, mas já começou a mudar não só a rotina da casa, como também a própria casa. Na busca por criar um ambiente especial para ele, mudamos o toca-discos que ficava no “quartinho” (que será dele) para a sala, e isso alterou radicalmente a rotina de ouvir música em casa, pois o vinil voltou a ser inserido no dia-a-dia (Lili agora chega à noite, deita no sofá com Martín na barriga e fica ouvindo discos), já que antes, com o toca-discos no quarto, eventualmente ouvíamos vinil lá (eu sempre mantive um toca-discos fuleiro – tipo Crosley – do lado do computador pra ouvir algum material que chega ou matar a saudade de algo que não se encontra na rede). Dai que nesse exercício de escolher 10 discos favoritos (atendendo a um convite do Otávio), eu quis fugir dos discos óbvios evitando falar, mais uma vez, de The Clash, Echo and The Bunnymen, R.E.M., Pixies e Wilco, por exemplo, e centrando foco em discos e artistas que eu amo, mas que na maioria das vezes não tem o devido respeito que merecem.
Como é o caso do grupo carioca João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, que lançou cinco discos fenomenais nos anos 80 (que, juntos, devem ter vendido quase 1 milhão de cópias), cravou no mínimo uns 10 grandes hits em rádios nacionais (e em novelas da Globo), mas tem quase nada de sua discografia encontrável em streaming, o formato “da moda” (apenas a coleta “Hot 20”, lançada em 2000, encontra-se online, sendo que das 20 músicas, só 12 estão disponíveis). O disco de estreia deles, “Os Maiores Sucessos de João Penca & Seus Miquinhos Amestrados”, foi lançado em 1983 pela RCA e vendeu 100 mil cópias no embalo do sucesso da paródia “Calúnias (Telma Eu Não Sou Gay)”, cantada no álbum por Ney Matogrosso.
Eles entraram na minha vida, porém, com o segundo álbum, “Okay My Gay” (1986), que traz um caminhão de hits (“Popstar”, “Lágrimas de Crocodilo”, “Romance em Alto Mar” e “Universotário”, que traz Lulu Santos, um Miquinho eventual, na guitarra solo) e outras faixas que mereciam ter sido (a versão de “Heartbreak Hotel”, vertida para “Cachet”, e a atualização da jovemguardiana “Festa de Arromba” para “Lual de Arromba” é um achado: “E de sarongue, Gretchen botava lenha na fogueira / Não dava bola pro Lobão falando pelos cotovelos… a noite inteira”). E ainda tem “Escrava Sexual” e “Menino Prodígio”. Esse álbum vendeu 250 mil cópias no ano do Cruzado.
“Além da Alienação” (1988), o terceiro álbum, é meu menos favorito deles, e mesmo assim muitas faixas ecoaram no meu quartinho em Taubaté, principalmente “A Louca do Humaitá”, o single “Banana Split” e “Jazz Jazz”. Dai surge meu álbum favorito deles, “Sucessos do Inconsciente”, que cravou nas rádios “Matinê no Rian” (com participação de Paula Toller) e, principalmente, “S.O.S. Miquinhos”, um “merdley” que sacaneava praticamente toda a Jovem Guarda, mas na parada de casa foi praticamente o disco todo número 1: “Menino Justiceiro”, “Larga Meu Pé”, “A Surra”, “O Par”, “O Velho Tubarão”, “Johnny Pirou” e “Cozinho de Noite” estão mais no meu inconsciente do que muitos hits massivos daquele final de década.
O disco derradeiro, “Cem Anos de Rock’n Roll” (1990), repetiu o êxito dos álbuns anteriores (com os hits: “Papa Umama”, “Suga Suga”, “Esse Meu Cabelo Rock”) e inclui mais algumas faixas no meu “the best” pessoal da banda (“Ma Beibe, Beibe” e “O Bom e Velho Rock and Roll”). Passei a década final do século passado indo e voltando aos discos do Miquinhos, e quando o novo século surgiu, tratei de gravar um CDR com mais 25 músicas que não estavam na coletânea “Hot 20” (lançada em 2000) para deixar a mão quando a saudade batesse. Curiosamente, nunca os vi ao vivo (uma resenha antiga na revista Bizz era só elogios). A banda ficou inativa quase todos os anos 90 e voltou para shows esporádicos em 2007, pendurando a chuteira logo na sequencia. Porém, ainda hoje eles soam rockabilly, doo-wop e surf music para ouvir, dançar e se divertir (e os vinis são bem encontráveis por ai! Procure!).
agosto 22, 2018 No Comments