Random header image... Refresh for more!

Dylan com café, dia 30: Groove

Bob Dylan com café, dia 30: Só pra dar ideia do nível de perdição de Dylan na segunda metade dos anos 80, certo dia Steve Jones (Sex Pistols) recebe um telefonema: “Eu não o conhecia pessoalmente e nunca tinha falado com ele, mas ele me liga e diz: ‘Você conseguiria montar uma banda para fazermos umas sessões de estúdio?”. Jones escalou Paul Simonon (Clash) pro baixo e mais uns pistoleiros de aluguel, e o grupo sofreu por uma noite tentando acompanhar Dylan. Eric Clapton disse certa vez: “No estúdio, você precisa estar atento à mão dele, sempre, senão você irá se perder”. Ron Wood e Sly Dunbar reforçam: “Ele muda o tom da mesma música quatro, cinco vezes, a banda fica confusa”. Uma música dessas sessões com Jones e Simonon, “Sally Sue Brown”, sobreviveu ao disco que Dylan lançou em maio de 1988, “Down in The Groove”, um álbum cuja produção tenta capturar a banda ao vivo, e consegue soar melhor do que em “Empire Burlesque” (1985) e, principalmente, “Knocked Out Loaded” (1986), mas ainda assim o resultado é mediano.

Ainda em crise criativa, Bob assina apenas duas canções entre as 10 do álbum, sendo que a melhor, “Had a Dream About You, Baby”, traz Clapton na guitarra, Ron Wood no baixo e foi feita para a trilha do filme “Corações de Fogo” (1987). Outra duas, Dylan divide com Robert Hunter, letrista do Grateful Dead, e ambas são bem honestas, ainda que Brian Hilton se aborreça com o fato de Bob ter três membros do Grateful Dead em estúdio e usa-los em vocais: “Parece certo desperdício”. De resto, standarts no piloto automático para tapar o buraco da insegurança com material próprio: “Let’s Stick Together” diverte, “When Did You Leave Heaven?” constrange, “Ninety Miles an Hour (Down a Dead End Street)” fica no meio do caminho e “Rank Strangers To Me”, voz, violão e baixo, não compromete, mas também não encanta. O fantasma das sobras de “Empire Burlesque” também marca presença em “Down in The Groove”, mas aqui com uma grande canção num arranjo simplista demais, por isso ouça “Death Is Not the End” na versão do álbum “Murder Ballads” (1996), com Nick Cave acompanhado por PJ Harvey, Shane MacGowan (The Pogues) e Kylie Minogue.

Um Ps. “Down in The Groove” foi lançado em maio de 1988. Um mês antes, em abril, Bob Dylan cedeu sua garagem em Malibu para que George Harrison trabalhasse em um b-side a pedido da Warner Brothers. George convidou Jeff Lynne para ajudar na canção e Roy Orbison para participar da gravação. Necessitado de uma boa guitarra emprestada, George bateu à porta de Tom Petty, e além de levar o instrumento, levou o líder dos Heartbreakers consigo para a sessão. Quando Harrison apresentou a música à gravadora, os executivos a acharam tão boa que era um desperdício lançarem-na como um b-side. George e Lynne então decidiram montar uma banda, um papo que já estava rolando entre eles há algum tempo. Convidaram primeiro Tom Petty e depois telefonaram para Bob, que topou participar. Naquela noite, George Harrison, Jeff Lynne e Tom Petty partiram atrás de Roy Orbison, que iria se apresentar no Celebrity Theater, em Anaheim. O convite foi feito um pouco antes de Roy subir ao palco, e ele aceitou. Na descrição de Tom Petty, Orbison fez um “show inacreditável”, durante o qual “nós socávamos um ao outro e dizíamos: ‘Ele também está na nossa banda'”. Nascia o Traveling Wilburys. O disco sairia em outubro de 1988.

Especial Bob Dylan com Café

0 comentário

Nenhum comentário no momento

Faça um comentário