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Dylan com Café, dia 24: Shot of Love

Bob Dylan com café, dia 24 – “Slow Train Coming” fez sucesso; “Saved” fracassou; “Shot of Love” (lançado em agosto de 1981) teve um desempenho ainda pior do que “Saved”, o que soa bastante injusto. Para gravar seu terceiro disco evangélico, Dylan trocou de estúdio e produtores, além de mexer na banda (entram o guitarrista Danny Kortchmar e o tecladista de Tom Petty, Benmont Tench) e “Shot of Love” mantém a massa bruta gospel soul rock de “Saved” (em detrimento da elegância r&b de “Slow Train”), mas com uma produção mais acertada – dos três da fase cristã, talvez seja o que tenha envelhecido melhor. A faixa título abre o disco de forma bombástica e consegue cumprir o papel que “Solid Rock”, de “Saved”, apenas rascunhou em estúdio. Na letra raivosa, Dylan diz que “não precisa de um shot de heroína, não precisa de um shot de uísque” e sinaliza que a próxima mudança está próxima: “Minha consciência está começando a me incomodar”. PJ Harvey fez um bela versão no British Music of the Millennium Awards, em 1999.

Ringo Starr aparece tocando tom-tom e Ron Wood dá um show na guitarra do boogiezinho tex-mex “Heart of Mine”, uma deliciosa faixa menor que não fala em Deus, mas encanta. Já “Property Of Jesus” traz Dylan louvando o ato admirável da autonegação das religiões, um fato que não crentes não entendem (Por que deixar de consumir álcool? Por que deixar de usar roupas curtas? Por que deixar de praticar sexo casual?) e que Bob defende (e admira) como a força de um compromisso. Ele acusa zombadores e haters de terem um coração de pedra. Uma grande canção! Sinead O’Connor, fã dessa fase cristã, tomou para si essa canção e sempre a canta em shows. Chrissie Hynde também.

O álbum ainda traz o ótimo gospel “Watered-Down Love”, que fala sobre amor (e só isso!), o bluezaço “The Groom’s Still Waiting at the Altar” (que entrou no álbum posteriormente, numa segunda edição do disco), o reggae “Dead Man, Dead Man” (sobre Lázaro), o adeus comovente travestido de pedido de desculpas para Sara em “In The Summertime” e a obra-prima “Every Grain of Sand”, que Bruce Springsteen citou quando introduziu Dylan no Hall da Fama do Rock, em 1986, e que Sheryl Crow cantou no velório de Johnny Cash (“Sua família me escreveu dizendo o quão importante essa música havia sido para ele”, diz Sheryl. “Para mim, foi a primeira música religiosa a transcender todas as religiões”). Emmylou Harris gravou uma versão famosa, mas George Harrison a cantou, Norah Jones e Bon Iver também. Com um hino, Bob se despedia de sua fase cristã. Ele já começava a reclamar “da hipocrisia nas pessoas com as quais estava envolvido” e tinha voltado a cantar suas músicas pré-conversão nos shows. Os ventos da mudança estavam se aproximando.

Especial Bob Dylan com Café

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