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Sobre indie e independente

Respostas para Thiago Cardim, do Judão, que fez essa pauta bem bacana: “Do DIY ao tal do indie mainstream

Hoje em dia, a palavra “indie” virou um gênero em si, certo? Ou, pelo menos, um que a gente vê fãs e parte da imprensa usar bastante…
Sim, se transformou em gênero isso até confunde muita gente, pois acontece de falarem de uma determinada banda, que está no mainstream, com grande gravadora, mas tem uma “sonoridade indie”. Ou seja, Smells Like Indie Spirit (hehe). Mas é importante definir como o indie rock surgiu para entender essa adequação: o indie rock era algo não tão palatável para uma grande gravadora, era o som que os vovôs sentados nas poltronas de presidente das majors não entendiam e diziam que não era música. Dai, com o advento das college radios nos EUA e dos selos independentes na Inglaterra, essas bandas começaram a ter mais espaço e criou-se um mercado independente paralelo ao mainstream. Então tínhamos lá o U2 vendendo milhões de “The Joshua Tree” pela Island, que era um sub-selo da poderosa Universal, ao mesmo tempo em que o R.E.M. estava lançando o “Document” pela I.R.S. Records e o Smiths lançando o “Strangeways, Here We Come” pela Rough Trade. Ou seja, U2 era mainstream, R.E.M. e Smiths eram indies, de independentes mesmo. Com a explosão do Nirvana no começo dos 90, muita gente que era rock alternativo, indie, foi parar no mainstream, e dai tudo se confundiu, pois a sonoridade indie virou mainstream. Hoje temos bandas como o Wilco (que é alternative country, um indie de chapéu de palha), Arcade Fire (que ainda lança discos pela minúscula Merge Records) e Decemberists (que apesar de lançar pela Capitol, é essencialmente indie), por exemplo, que mantém esse espírito de independência artística que “contamina” a música e a faz soar… indie. Por outro lado teremos nomes como Two Door Cinema Club, que pretendem soar indies, mas são muito mais um produto de major tentando um “street cred” num filão que não é o dele (e muita gente caí na ladainha).

Em termos sonoros, de estilo musical, dá pra encontrar algumas características que unam os indies enquanto gênero musical e/ou um subgênero do rock?
Hoje em dia, não, pois ser independente hoje é quase como uma questão de sobrevivência para o artista que quer tomar conta de sua própria carreira. Então podemos encontrar artistas independentes em diversos gêneros, do rap ao pop, do rock ao eletrônico e até no jazz. Isso se pensarmos na questão independente como um artista que não está numa grande gravadora. Se pensarmos em sonoridade indie, bem, talvez bandas como The 1975 sejam mais indies que Sonic Youth, por exemplo, que terminou a carreira em major sem deixar de soar… alternativa.

Mas o quanto, nos dias de hoje, os “indies” remontam ao “rock independente” de outrora? Digo, aquele rock de quem fazia tudo por conta própria, não tinha grana, não tinha gravadora?
Acredito que cada vez mais porque esse é um caminho que está se cristalizando cada vez mais hoje em dia, já que poucas majors veem potencial no rock, e a saída é lançar de maneira independente. Nesse quesito, o Brasil vive um boom de artistas e selos indies. Apesar de que se eles podem se magoar se forem chamados de indie (risos). Talvez “indie” tenha virado um palavrão do quilate de “pop”. Nesse ponto, a galera vai tergiversar e se dizer “alternativa”. Mas há, sim, muita gente apostando no DIY, na carreira independente, principalmente no Brasil.

Aliás, hoje em dia, cê acha que é mais fácil ser de fato independente do que já foi um dia? Com todas as facilidades e potencialidades do mundo digital/online? Tá mais sussa ser DIY? 😉
Sussa nunca vai ser, mas caminhamos bastante e já dá para fazer um nome, garantir uns shows, gravar uns discos, vender umas camisetas. A divisão de águas na música pop aconteceu mais pelo avanço da tecnologia, que tirou o monopólio dos grandes estúdios das mãos das grandes gravadoras. A oportunidade de gravar um grande disco na sala da sua própria casa é algo revolucionário, e o DIY só se beneficiou com isso. A grande questão, sempre, é o aluguel, a conta de luz, de água, de telefone e de internet no fim do mês. Como transformar o que você grava no seu quarto em algo rentável? Qualquer sexta dessas o Globo Repórter ensina.

O quanto é mais fácil e/ou mais difícil ser independente no Brasil?
Acho que não existe facilidade, mas sim pontos positivos. E nesse quesito, ser independente no Brasil tem vários pontos positivos como ser responsável por sua própria arte, sua própria carreira, seus próprios shows. O DIY é importantíssimo nesse corre, porque são as conexões que vão fazer um artista independente galgar patamares, sabe. Uma banda fazendo tudo sozinha alcance um número x de pessoas. Duas bandas juntas alcançam dois x e por ai vai. O ponto negativo é que, ainda, é difícil sobreviver de música independente no Brasil, o cara rala pacas, vende o almoço para pagar o jantar e muita gente não tá nem ai, afinal vivemos um sucateamento artístico no país, com cada vez menos pessoas valorizando a arte como um todo, e a música em particular está sofrendo muito com isso. Se está difícil para a Marisa Monte, para o Arnaldo Antunes e para o Carlinhos Brown a ponto deles terem que se reunir como Tribalistas, imagina pra quem é independente…

O quanto é mais fácil e/ou mais difícil ser indie no Brasil?
O mais difícil de ser indie no Brasil é gostar de bandas que muito raramente vão descer até aqui para fazer um show, e se acontecer delas vierem, a chance de tu ter que ficar numa maldita fila morrendo de sede atrás de uma cerveja ruim por horas quando deveria estar vendo o show é enorme. Não é nada fácil ser indie no Brasil. Vamos virar pagodeiro todo mundo? 🙂

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