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Na rota dos vinhos na Argentina (parte 5)

Dois anos e meio depois de um tour por vinícolas argentinas acompanhado de uma turma de sommeliers de vinho, cá e estou de volta com Lili de companhia visando beber muito vinho e desbravar Mendoza. A primeira parada foi em Buenos Aires, onde tive a oportunidade de matar saudade e observar minha Vênus favorita se banhando (La Toilette De Venus, de 1873, de William Adolphe Bouguereau, em exposição no Museu de Bellas Artes de Buenos Aires) e, ciceroneado por Túlio Bragança, do renomado Aires Buenos (simplesmente tudo sobre Buenos Aires), conhecer o Chori (onde se come um excelente choripam gourmet) e iniciar um tour por pubs de cerveja artesanal argentina.

De Buenos Aires, voo para San Rafael e, de lá, um bus para Mendoza – o das 13h estava lotado (quem manda não comprar a passagem antes) e tivemos que esperar o das 14h30. Nenhum problema: o kiosko em frente a rodoviária nos abasteceu com internet, milanesa (daquelas que saem para fora do prato) com batatas e cerveja (mainstream, mas argentina). Por volta das 18h já estávamos em Mendoza. Escolhemos um hostel simples para essa primeira parte da viagem, e ficamos no Wine Aparts, que está próximo do centro nervoso de Mendoza (uma pequena grande cidade de 115 mil habitantes e cerca de mil bodegas). O lance era procurar algumas empanadas para driblar a fome e se preparar para a maratona do dia seguinte…

Acordamos por volta das 8h, tomamos o café no hotel e partimos de ônibus de linha para Maipú, um das regiões vinícolas de Mendoza que é possível acessar de ônibus (Luján de Cuyo também é acessível de ônibus de linha, mas é mais complicado; já o Valle de Uco merece uma maior dedicação via Bus Vitivinicola ou remis – motoristas contratados que fazem esses trechos). O plano era descer num local determinado, alugar uma bike e pedalar entre as vinícolas. Porém, para variar, perdemos o ponto, e fomos parar quase em frente á Bodega Lopez. Aproveitamos e descemos e começamos nossa maratona de vinhos com um bom Casona Lopez 2014 (e um doce demais Dulce Natural Lopez 2016 Torrentes e Moscatel).

Visando corrigir os planos traçados em casa (e guiados pelo Maps, que funciona realmente como mapa via satélite mesmo sem wi-fi), pegamos um ônibus e descemos na Calle Urquiza, onde deveríamos ter descido antes, para alugar duas bikes no Maipu Bikes. Recomendamos: Mario nos atendeu muito bem, corrigiu os horários dos tours que faríamos e ainda fez uma reserva em uma bodega. De posse das bikes (100 pesos a diária) partimos para desbravar as vinícolas da região e, para pânico da Lili, escolhi como primeira a Viña El Cerno, uma bodega de vinhos orgânicos a cerca de seis quilômetros, sendo que tivemos que atravessar uma rodovia (na ciclofaixa) e um pequeno trecho repleto de plátanos sem ciclofaixa.

Bodega pequena e charmosa, a Viña El Cerno, todos os vinhos são orgânicos (ou seja, dispensam pesticidas, fungicidas ou qualquer outro agrotóxico – todo o adubo é natural) e eu e Lili ficamos num embate entre o Malbec 2010 (muito mais macio) e o Malbec 2014 (mais rebelde). Curti. Dali seguimos para almoçar, em meio ao vinhedo, na Tempus Alba, questão de dois minutos de pedalada. Encarei um bom ojo de bife e adorei os vinhos da casa: optei na degustação por Merlot, Tempranillo (meu favorito) e Syrah, uvas mais incomuns na terra do Malbec. O pânico de Lili em pedalar na autoestrada sumiu na volta (viva o vinho), e até paramos para provar azeites na Entre Olivos (gostamos tanto que trouxemos uma garrafa de azeite com alho, que estamos consumindo como se fosse café de tão bom).

A tarde especial consumiu todo o nosso tempo, e perdemos a visita na última vinícola, Lagarde, mas o Mario, da Maipú Bikes, tratou de transferir a reserva para a semana seguinte, nos fazendo evitar de perder 200 pesos. Na volta para casa, um empecilho: em Mendoza não há cobradores de ônibus, e todos os usuários tem um cartão (tipo Bilhete Único) com créditos para pagar a passagem. Bem, eu já tinha providenciado o meu cartão, já tinha colocado créditos, mas não contava com o trecho extra (após perder o ponto) que fizemos de ônibus, então não tinha créditos no cartão para pagar a passagem: “Peça para algum passageiro pagar para você”, orientou o motorista. E lá fomos nós, com 7 pesos nas mãos, pedindo para alguém pagar a nossa viagem. Pelo jeito é comum, pois o processo foi rápido e indolor. Agora… casa.

O sábado teria novamente um tour de vinhos, mas acordamos tarde e decidimos curtir a cidade. Demos um pulo na Plaza Independência e Lili teve a excelente ideia: “Por que não compramos vinhos na Sol y Vino – “a” loja de vinhos em Mendoza – e fazemos um piquenique no Parque San Martin?”. Baita ideia! Pegamos nosso vinho na Sol y Vino (um bom Tupun Bonarda 2014), passamos no supermercado e compramos queijo e salame e torradas e azeite com alho pra acompanhar e partimos de ônibus para o parque, que é belíssimo – eu não o havia visitado na vez anterior, e me apaixonei). Estendemos a toalha e criamos nosso pequeno reino particular, que se encaixou maravilhosamente na tarde outonal de Mendoza. Um dia leve e de descanso para seguirmos para o jantar no badalado 1884, de Francis Mallman.

Eu havia feito a reserva duas semanas antes, e dias antes escreveram pedindo para confirmar, já que a procura estava grande. Reserva confirmada, partimos. Primeira surpresa: o 1884 fica dentro de uma velha bodega na área central de Mendoza (precisamos de ajuda para encontrar o restaurante). Chegamos 10 minutos antes, e logo nos ofereceram uma mesa, que poderia ser na área fechada ou no jardim. Optamos pelo segundo, e a enorme churrasqueira que Mallman mantém no local aromatizou de fumaça todas as roupas na minha mala (risos), um brinde especial pelo jantar caprichado: Lili foi de coelho (ela adora) e encarei um belo ojo de bife, que não foi o melhor da viagem (falarei dele no próximo post), mas estava absolutamente perfeito fechando um sábado simplesmente especial.

Se deixasse por mim, iríamos em 30 vinícolas em seis dias, mas Lili, apaixonada por natureza, queria fazer o tour de Alta Montanha, que segue na estrada que liga Mendoza a Santiago, para em pontos onde se pode observar o Pico do Aconcágua, o mais alto das Américas. Fizemos o passeio via agência El Cristo Redentor (obrigado, Tomaz Alvarenga), e foi um longo dia: nos pegaram 7h30 no hotel e voltamos quase às 18h30. Nesse intervalo, a Madalena, excelente guia local, nos levou pela rota internacional 7 e depois pela 40. Paramos na estação de esqui Penitentes (encaramos o teleférico para encontrar a melhor vista de toda a viagem) e, depois, na ponte Inca. Nos apaixonamos por Uspallata e almoçamos (encarei mais uma milanesa) em Las Cuevas, último vilarejo antes da fronteira com o Chile. Recomendamos fortemente o passeio. Descansamos felizes para encarar a segunda parte do tour Mendoza.

Turismo: Na rota das vinícolas argentinas (aqui)

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