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Entrevista: Música, Mercado e Scream & Yell

Entrevista concedida a Rúvila Avelino, em fevereiro de 2017, para o site Like a Rock

Qual a sua primeira memória relacionada à música?
Festas em casa organizadas pelo meu pai, que tinha uma vasta coleção de MPB, coisa fina. Depois disso lembro-me da minha mãe chorando quando o Jornal Nacional anunciou a morte de John Lennon…

Como você descreveria sua relação com a música?
A música me deu tudo que tenho. Sou completamente dependente dela, mas é uma dependência boa, apaixonada e pacifica.

Você se considera um “nerd de música”? O que isso significa pra você?
Não me considero um nerd de música não. Eu acho que o nerdismo muitas vezes se torna um vício em que o objeto (no caso a música) fica em segundo plano e o vício em primeiro: a pessoa tem que ter todos os discos, saber todas as coisas ao máximo sobre cada disco, o nome do cachorro do roadie do baterista, essas bobagens. Prefiro me concentrar na música e nas peças que a constroem.

Você já passou por alguma situação estranha ou divertida por conta da paixão pela música?
Conviver com pessoas que amam a música propõe a você centenas de situações divertidas. Saca os personagens de Nick Hornby em “Alta Fidelidade”? Eles são reais! Ou ao menos têm dezenas de versões pelo mundo. Isso é hilário.

Como você consome música hoje em dia?
Cerca de 80% da música que ouço vem de CDs e vinis, mas uns 19% que recebo por streaming ou baixo. E dai tem menos de 1% que ouço em streaming. Prezo muito pelo formato físico.

Você é do tipo que coleciona discos?
Já comprei muito mais do que compro hoje em dia, afinal, a crise está tensa, mas não dá pra negar que ter uns 1000 vinis e uns 15 mil CDs me faça um colecionador.

Se pudesse resumir a sua coleção a cinco discos, quais seriam e por quê?
Eu teria duas formas de tentar fazer esse resumo: a primeira seria a de escolher os discos da minha vida, dai entrariam “London Calling”, do Clash, “Ocean Rain”, do Echo and The Bunnymen, “Songs and Storeis”, do Husker Du, “Closer”, do Joy Division, e “Doolittle”, do Pixies. A segunda maneira seria resumir a discos “novos” que amo muito, favoritos que retorno sempre que posso. Dai escolheria “The King is Dead”, do Decemberists; “Yankee Hotel Foxtrot”, do Wilco; “My Secret is My Silence”, do Roddy Woomble; “My Woman”, da Angel Olsen; e “Outras Histórias”, do Deolinda.

Você costuma ir em muitos shows? Por que?
Sim, vou a muitos shows. Porque a música acontece ao vivo. É ali, no palco, que o que está no disco se transforma em real – para o bem e para o mal.

O que essa experiência de show representa na sua vida?
Tudo. Minhas viagens são organizadas de acordo com os shows que quero ver. Houve um ano em que fiz uma viagem pra Europa que começou com o festival Primavera Sound, em Barcelona; depois vi Guns com um amigo em Paris; no outro dia estávamos vendo Lou Reed em Luxemburgo; dois dias depois era a vez de assistir a Tom Petty na Irlanda. De lá voltei pra Barcelona para assistir ao Stone Roses. Essa loucura de roteiro mostra como shows são importantes pra mim.

Você consegue listar alguns que marcaram sua vida?
Eu tenho uma lista com mais de 100 shows entre o meio dos anos 80 e hoje em dia. Atualmente, entre os inesquecíveis da minha vida, um Top 10 possível teria Arcade Fire no Coachella, em 2011; Radiohead em São Paulo, 2009; Bruce Springsteen em Trieste, 2012; Blur no Hyde Park, 2009; Leonard Cohen no Benicàssim, 2008; Lou Reed em Málaga, 2008; R.E.M. no Rock in Rio, 2001; Page e Plant no Hollywood Rock de 1995, Elvis Costello no Tom Brasil em 1995, e Portishead no Best Kept Secret, 2013.

O que mais te empolga na música produzida atualmente, tanto no Brasil quanto no mundo?
A ligação com suas raízes. Acredito que estamos vivendo um momento especial, em que muitos povos estão buscando valorizar sua cultura, mas sem ligar para fronteiras. Isso está fazendo com que muita música nova esteja surgindo desta aparente falta de fronteira musical que a internet nos permite aproveitar.

A forma de produzir e distribuir música mudou muito de alguns anos para cá, o que dá mais liberdade para os artistas alternativos que não querem ou não conseguem entrar nas grandes gravadoras. Como você enxerga esse movimento?
Acho sensacional. A liberdade criativa é algo muito importante. O que é preciso é buscar uma forma de que essa arte gere um mínimo de lucro para que o artista receba pela arte que produz.

O Scream and Yell já está no ar, acompanhando o mundo da música há 17 anos. O que é mais importante para você na história do site?
A valorização da cena independente nacional dando o mesmo espaço para um jovem artista que damos a um Caetano, a um Chico, a um Electric Six, a um Teenage Fanclub. E também a nossa tentativa de promover conexões musicais com Portugal e América Latina, um dos nossos maiores desafios atuais, mas que já vem rendendo frutos!

Você acredita que houve grandes mudanças na forma de consumir conteúdo sobre música nesse tempo? Quais foram as mudanças mais significativas que você poderia apontar para nós?
Mudou tudo. Quando o site surgiu, o CD ainda reinava e o MP3 era um vislumbre possível nos Estados Unidos e Europa. Dai veio o Napster e a coisa toda virou de cabeça pra baixo. Hoje temos o vinil novamente valorizado, temos artistas lançando trabalhos em fita cassete, temos uma vasta gama de possibilidades. As coisas estão mudando a toda hora, todos os dias. Difícil é acompanhar, mas a gente tenta 🙂

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março 20, 2017   No Comments

Festivais TMDQA e Abril Pro Rock 2017


Festival Tenho Mais Discos Que Amigos, em Brasília
Dia 08 de abril
Evento: https://www.facebook.com/events/1556920501002166

Festival Abril Pro Rock 2017, em Recife
Dias 28 e 29 de abril
Evento: https://www.facebook.com/events/235002463572134/

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março 20, 2017   No Comments