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Um dia de domingo em Olinda

A aventura toda começou “cedo”: antes do meio dia parti de Pina pra Olinda no 910 (“Rio Doce a Piedade, de Barra de Jangada até Casa Caiada”) e cheguei rápido e sussa. Subi morro, desci morro, fiz fotos, papeei com repentistas, subi morro, desci morro e tomei uma garoa tipicamente paulistana subindo “morro, ladeira, córrego, beco, favela”. A fome bateu e dentre as ofertas disponíveis (vários restaurantes *****) escolhi um “botecão” que tinha “cerveja de verdade” cara demais (R$ 29 numa Primator India Pale Ale não dá), mas me pareceu mais acolhedor, o Peneira, e não errei. Pedi bode com fava, uma Bohemia e gastei umas duas horas e meia (e mais três Bohemias) observando e me divertindo com os frequentadores habituais e assistindo ao primeiro tempo da final da Copa do Nordeste (e torcendo com eles).

Dali parti para A Casa do Cachorro Preto, que receberia um show / ensaio aberto da Rua do Absurdo, cujo disco “Limbo”, de 2014, apareceu em várias listas de melhores do ano. O lugar é uma galeria de arte com obras bem interessantes e vibe ótima. Conta pontos, na minha matemática alcoólatra pessoal, o fato deles terem cerveja caseira no cardápio, a La Ursa em três estilos respeitáveis: Saison, IPA e Bock. O show, marcado para às 16h (eu mesmo cheguei às 17h), começou quase 18h e foi excelente, com a sonoridade do quarteto se misturando com a fauna local (cigarras e outros pássaros) numa execução primorosa de baixo, bateria diminuta (e bastante eficiente), cavaquinho engatado na pedaleira e voz. Fiquei imaginando esse mesmíssimo show ensaio num festival bacana. Gostaria de rever isso nessa sintonia.

Dali, ideia de Jarmeson: Baile Cubano no Clube Bela Vista, no Alto Santa Terezinha. Prum cara infelizmente germânico como eu (ou seja, com as juntas duras), por um lado foi uma tortura: todo mundo dançando e eu ali, remexendo os membros e com medo da omoplata ou do fêmur despencarem do corpo para o meio do salão. Por outro lado foi revigorante, duas horas de música cubana e latina que eu nunca tinha ouvido, metaleira apitando, aquela melancolia feliz do estilo e muito, muito charme melódico numa das melhores músicas do mundo. O cansaço bateu (e, milagre, os ossos não caíram na pista nem nos 15 segundos que insistiram em me tirar pra dançar – pra constatar a falta de “molejão”) e começou uma nova aventura:

Segundo Jarmeson, dali até Pina, onde eu estava hospedado, dava uns R$ 30 (e eu tinha R$ 32 na carteira – e o celular já tinha morrido umas quatro horas antes, ou seja, nada de 99 ou Uber). “Não esquenta com as voltas que o motorista do taxi vai fazer pra sair do morro”, ele avisou. Me despedi, sai do clube e parei um taxi. Falei o destino e ele mandou: “Minha maquininha tá quebrada, quanto você paga até lá?”. R$ 32. Ok, partiu. Mais ou menos. Uns 5 minutos depois, já fora do morro, ele encosta o carro e diz: “Pina é muito longe. Vou deixar você aqui para que você pegue um outro taxi, tudo bem?”. Ok, mas quanto eu te devo? “Não se preocupa, vai sossegado”.

Certo, tô ali no meio de algum lugar do Recife que eu não sei onde, garoando, e decido caminhar a ficar parado. Uns 500 metrôs depois vejo outro taxi, e dou sinal: “Meu caro, quanto você cobra pra me levar até Pina?”. Ele diz R$ 40, aviso que tenho R$ 32 e bora. “Você tava no Baile Cubano e desceu a pé até aqui?”, ele se surpreende. Conto sobre o outro taxista e ele observa: “Pina é longe mesmo”. Segue o cortejo. No caminho, ele liga para uma paquera e pergunta se pode encontra-la no baile em que ela tá. Ela diz que tá embaçado, e o romance fica pra segunda (ele desliga deixando “um cheiro” pra ela). Conversamos então sobre o frio paulistano (do tempo em que ele foi motorista de uma grã-fina do Morumbi) e de Santos e Audax até o momento mágico do dia: começa a tocar uma versão sofrível em português de “Killing Me Softly” na FM, e o amigo motorista dá um show encobrindo a voz da rádio cantando a versão original, em inglês, como se estivéssemos em um karaokê móvel, com direito a agudos, falsetes e tudo mais.

Ele me deixa no hotel, desejo bom trabalho pro parceiro e subo o elevador pensando em quantas nuances um simples dia de domingo (na voz de Gal e Tim) pode ter. Obrigado, Recife 🙂

Ps. Valeu Jarmeson, valeu Júlio. Baita domingo!

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