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Sobre Nick Horby e Alta Fidelidade

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Na onda dos relançamentos dos dois primeiros livros do escritor britânico Nick Hornby, “Febre de Bola” (1992) e “Alta Fidelidade” (1995), o amigo jornalista Thiago Pereira me enviou algumas perguntas para uma reportagem especial que foi publicada no caderno Magazine, do jornal mineiro O Tempo, no domingo passado (04/08), e o texto serviu para resgatar o carinho que tenho por estes livros em particular – e por quase toda obra de Hornby.

Thiago dividiu a reportagem – que conta com a opinião de Christian Schwartz, tradutor dos livros de Hornby, o doutor em história e teoria literária Marcio Serelle, e Leonardo Bertozzi, jornalista da ESPN Brasil, além de mim – em três partes: o texto principal, “Uma sensibilidade pop na literatura”, e dois apêndices, “O texto de Hornby e a questão dos gêneros literários” mais “O futebol no campo das letras”.

Já escrevi bastante sobre Nick Hornby no Scream & Yell, tanto que perdi a conta. Aliás, contei aqui dia desses como “Alta Fidelidade” chegou a mim. Gosto da teoria dos pesos-médios e, sobretudo, de “Um Grande Garoto” (”Como Ser Legal” também, mas um pouco menos). Gostei de “Juliet Naked” e a peça “A Vida é Cheia de Som e Fúria” foi uma experiência espetacular (entrevistei Guilherme Weber na época).

Possivelmente, se você vem com certa frequência a este espaço,  já deve ter lido tanto “Febre de Bola” (não vale a fraca adaptação hollywoodiana “Amor em Jogo” – a versão inglesa com Colin Firh é bem melhor) quanto “Alta Fidelidade” (a versão de Stephen Frears é boa, embora não definitiva), mas caso não tenha lido, fica a recomendação: vale a pena. Muito. Abaixo, as respostas que enviei ao Thiago Pereira.

Quando você conheceu Nick Hornby? O que te chamou a atenção?
Conheci com “Alta Fidelidade”, em 1998, e a primeira coisa que me chamou a atenção foi a união de duas coisas que admiro bastante: relacionamentos e cultura pop. A forma com que Nick Hornby chocava estes dois temas me interessou muito, porque também era uma crítica a um certo esnobismo cultural que circulava – e circula muito ainda hoje – na época. Afinal, como uma pessoal pode ser legal se não conhecer Beatles? (risos). O interessante de Nick Hornby é que ele questiona isso, mas também confere alma ao tal esnobe, permitindo que muita gente se identificasse (e até a pessoal que não conhece Beatles, entendesse esse ser-humano que surgiu junto com Elvis e com a Indústria Cultural).

O que você apontaria como os motivos maiores da obra dele ter chamado tanta a atenção do público- inclusive mobilizando versões para cinema, teatro, etc?
“Alta Fidelidade” é um romance geracional, daqueles que retratam um grupo de pessoas em uma determinada época, neste caso, o decantado fim das lojas de discos (que, no fim, não acabaram, e estão cada vez mais vivas), a valorização de certa honestidade em artistas, a elevação de listas top alguma coisa a categoria de arte e coisas assim. O que você consome diz muito sobre quem você é, e Nick Hornby percebeu isso naquele momento olhando homens que se recusam a envelhecer como manda o figurino. É um belo exemplo de adultescente, que já havia sido antecipado em “Febre de Bola”, e vai ser explorado de forma ainda mais genial em “Um Grande Garoto”.

A chave de entendimento para a obra de Hornby é a conexão com a cultura pop, ou acha ele um grande romancista, acima de tudo?
A conexão com a cultura pop é um dos grandes destaques de boa parte de sua obra, mas há, sim, um grande romancista. Ele usa ferramentas para atingir um grupo x de pessoas, mas são apenas ferramentas. O que move o leitor é sua prosa e história envolventes.

“Alta Fidelidade”, em especial, é um livro que marcou época para uma geração do final dos anos 90, ligada em música. Será que hoje, com a música tão descompartimentada, tão espalhada em diferentes suportes, ele tem o mesmo apelo?
Sim, sem dúvida. E a volta do vinil é um sintoma de que o apelo continua o mesmo, quiça aumentou. A discussão sobre MP3, CDs e vinis tomou outras proporções no novo século. Quando “Alta Fidelidade” foi escrito, as lojas de discos e a própria música pop de qualidade estava em franca decadência. Hoje o cenário está mais estável, e esta estabilidade é fruto de um novo grupo de pessoas que pensa e conversa coisas que poderiam ser dialogadas na loja de Rob Fleming.

Ainda sobre “Alta Fidelidade”: qual a importância do livro para você, pessoalmente? Você também é um pouco Rob Gordon?

Uma jornalista, certa vez, fez a mesma pergunta. Eu respondi: “Devo ter coisas mínimas de vários personagens, mas não acredito que tenha um em especial que me absorva por inteiro. Não sou tão confiante, mas ainda assim sou mais confiante que os personagens dele (risos). Ou ao menos acho…”. E mesmo assim, no abre do texto dela, ela dizia: “Gosto de imaginar o Marcelo como um Rob Gordon tupiniquim”. A questão que fica é: somos o que achamos, ou o que as pessoas acham de nós? (risos). E essa questão é totalmente nickhorbiana. Então eu devo ter um pouco de Nick Hornby sim, mais do que eu gostaria, talvez.

Uma mania em “Alta Fidelidade” são os Top 5. De alguma forma ele materializou uma mania de muitos não? Você usa até hoje né, assumidamente no teu site…Hornby, de alguma forma, é um jornalista de música?

Hornby é um apaixonado por música, e que tem o dom de escrever bem. Isso praticamente o torna um bom crítico, porque a música, pra ele, tem um valor especial, que permite um livro como “31 Canções”. Quantas pessoas no mundo conseguiriam escrever livros sobre canções hoje em dia? O fato de ser atento ao universo pop e apaixonado por música o torna um jornalista de música em potencial, afinal, ele faria mais perguntas pertinentes para Bob Dylan do que a grande maioria dos jornalistas que participou da coletiva em São Francisco, 1965.

Pra fechar: consegue eleger 5 personagens favoritos na obra de Hornby?
1) Will Freeman, de “Um Grande Garoto”
2) Rob Fleming, de “Alta Fidelidade”
3) Duncan, de “Juliete, Nua”
4) Katie Carr, de “Como Ser Legal”
5) Nick Hornby, de “Febre de Bola”

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Leia também:
– “Howdy!”, do Teenage Fanclub, por Nick Hornby (aqui)
– Doce Miséria – A suavização de Nick Cave, por Nick Hornby (aqui)

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