Posts from — agosto 2013
Hemingway: A Fome como Boa Disciplina
“Se você não se alimentava bem em Paris, tinha sempre uma fome danada, pois todas as padarias exibiam coisas maravilhosas em suas vitrinas e muitas pessoas comiam ao ar livre, em mesas na calçada, de modo que por toda a parte via comida ou sentia o seu cheiro. Se você abandonou o jornalismo e ninguém nos Estados Unidos se interessa em publicar o que está escrevendo, se é obrigado a mentir em casa, explicando que já almoçara com alguém, o melhor que tem a fazer é passear nos jardins do Luxembourg, onde não via nem cheirava comida, desde a Place de l’Observatoire até a rue de Vaugirard. Poderá sempre entrar no Musée du Luxembourg, onde todos os quadros ficam mais vivos, mais claros e mais belos quando se está com a barriga vazia, roído de fome.
Aprendi a compreender Cézanne muito melhor, a entender realmente como é que pintava suas paisagens quando estava faminto. Costumava perguntar a mim mesmo se ele também tinha passado fome quando pintava, mas imaginava que talvez apenas se tivesse esquecido de comer. Era um daqueles pensamentos doentios mas brilhantes que nos ocorrem quando estamos com falta de sono ou de comida. Mais tarde, bem mais tarde, concluí que Cézanne provavelmente passara fome, mas de maneira diferente.
Depois de ter saído do Luxembourg, você poderia andar pela estreita rue Férou até a Place St. Sulpice sem ver restaurante algum, somente a praça silenciosa, com seus bancos e suas árvores. Havia uma fonte com leões, e pombos andavam nas calçadas ou pousavam nas estátuas dos bispos.
No lado norte da praça ficavam a igreja e lojas que vendiam objetos religiosos e paramentos.
Para além da praça é que não podia prosseguir em direção ao rio sem passar por lojas que vendiam frutas, legumes, vinhos, ou por padarias e pastelarias. Mas, escolhendo cuidadosamente o caminho, conseguiria avançar pela direita, ao redor da igreja de pedra, cinzenta e branca, chegar à rue de l’Odéon e virar de novo à direita em direção à livraria de Sylvia Beach, sem encontrar muitos lugares onde se vendessem coisas de comer. A rue de l’Odéon era desprovida de restaurantes até chegar à praça, onde havia três.
Quando chegasse à rue de l’Odéon, nº 12, a fome estaria contida mas por outro lado, todos os seus sentidos estariam aguçados. As fotografias lhe pareceriam diferentes e descobriria livros que nunca tinha visto antes.”
Do livro “Paris é Uma Festa”, Ernest Hemingway aos 22 anos
(dica do @rufatto)
agosto 31, 2013 No Comments
Bate papo: Crítica musical em discussão
Eis a integra do bate papo sobre Crítica Musical que participei ao lado de Carlos Calado e Marcus Preto com mediação de Benjamim Taubkin, promovido pelo Ciclo Uia + Casa do Núcleo. É um debate informativo, polêmico, repleto de dúvidas e questões interessantes não só sobre crítica, mas também sobre jornalismo e cenário musical. Divirta-se.
Assista também:
– O Editor e as Possíveis Narrativas: Debate no III Seminário Internacional Rumos de Jornalismo Cultural com Marcelo Costa (Scream & Yell), Jan Feld (UOL) e Alex Needham (Guardian) (aqui)
agosto 30, 2013 No Comments
50 canções para fazer sexo (Verão 2013!)
Para esquentar o lançamento de sua tradicional edição de verão (europeu) especial “Sex”, a badalada revista francesa Les Inrockuptibles preparou uma atualização da sua tradicional listinha com 50 músicas que compõe uma trilha sonora para fazer sexo (ou, como diz a revista, para “as noites sem dormir”).
A seleção de 2009, que virou CD triplo vendido na FNAC francesa, ia de Bryan Ferry a Hercules and Love Affair, de James Brown a Lil Louis (eu arranjaria um espaço para “You Shook Me”, do Led Zeppelin), mas a grande questão é: se fosse uma lista brasileira, o que mereceria entrar? Dúvidas…
Abaixo, a lista 2013 da Les Inrockuptibles: “50 chansons pour faire le sexe”
01. AlunaGeorge – Just A Touch
02. Disclosure – White Noise feat. AlunaGeorge
03. Daft Punk – Get Lucky
04. Air – Playground Love
05. Al Green – Let’s Stay Together
06. Otis Redding – Try A Little Tenderness
07. Alt-J – Tesselate
08. Beyonce – Baby Boy
09. Boy Crisis – Dressed To Digress
10. Britney Spears – I’m A Slave 4 U
11. The Child Of Lov – Warrior
12. Holy Other – Touch
13. Justin Timberlake – FutureSex/LoveSound
14. Massive Attack – Exchange
15. N.E.R.D. – She Wants To Move
16. Prince – Cream
17. Caribou – Sun
18. Barry White – Love Serenade
19. Of Montreal – St. Exquisite’s Confessions
20. Sun Glitters – Tight
21. Wise Blood – Loud Mouths
22. Mount Kimbie – Carbonated
23. Youth Lagoon – Posters
24. Serge Gainsbourg – Je t’aime, moi non plus
25. Marvin Gaye – Sexual Healing
26. Gorillaz – Empire Ants
27. Flying Lotus – Sex Slave Ship
28. Pulp – Sheffield Sex City
29. Sébastien Tellier – Roche
30. Missy Elliott – Work It
31. Olivia Newton-John – Physical
32. Donna Summer – Love to Love You Baby
33. Jai Paul – Jasmine
34. Jan Hammer – Don’t You Know
35. The Art Of Noise – Moments in Love
36. Marvin Gaye – Come Get To This
37. Nathaniel Merriweather – To Catch a Thief
38. Moloko – Pure Pleasure Seaker
39. Add N to (X) – Plug Me In
40. Chairlift – Planet Health
41. Jagwar Ma – What Love
42. Matthew Dear – Her Fantasy
43. Neon Neon – Raquel
44. Yacht – Summer Song
45. Katerine – Sexy Cool
46. Lee Hazlewood & Nancy Sinatra – Summer Wine
47. Mazzy Star – Fade Into You
48. Frank Ocean – Thinking About You
49. Patti Smith – Because The Night
50. Handsome Boy Modelling School – The Truth
Leia também:
– Top 100 cenas de nudez no cinema (aqui)
– 100 Canções Essenciais da MPB para a Bravo (aqui)
– 100 Maiores Canções da MPB segundo a Rolling Stone (aqui)
agosto 28, 2013 No Comments
Como lidar…
com a vontade de desaparecer.
agosto 23, 2013 No Comments
Uma resposta à Edward Hopper
Hopper Meditations é uma série de fotos de Richard Tuschman que busca recriar a atmosfera dos quadros do grande pintor Edward Hopper. No IdeiaFixa você vê outras imagens. Vale a pena.
agosto 23, 2013 No Comments
Da série sonhos malucos
O ambiente era um festival, e eu devia estar em alguma área destinada à imprensa, pois encostado a uma grade de arame e pensando na vida, percebi que Mark Lanegan estava ao meu lado, ali meio sem fazer nada e sem ser importunado. Começamos a conversar sobre amenidades, e ele ficou animado quando eu disse que era do Brasil. Após um bom bate papo, pedi para ele autografar o disco dele que eu tinha comigo (não sei qual disco, e quase nunca peço autógrafos, mas estou num sonho com Mark Lanegan, sacumé). Ele autografou na boa, mas duas coisas me deixaram encucado:
1) A capa do vinil era uma paisagem em formato de quebra-cabeças. Você podia desmontar as peças, e remontar a capa. Achei a ideia sensacional.
2) A dedicatória do Mark Lanegan escrita em bom português foi: “Um abraço, mano Marcelo”. Mano Marcelo? Mano??? Com quem você anda conversando, Mark Lanegan????
agosto 17, 2013 No Comments
Uma canção: Mobral
“Mobral”, Herbert Vianna (1992)
Do que adiantam?
Placas. Bulas. Instruções…
Do que adiantam?
Letras impressas das canções…
Do que adiantam?
Gestos educados, convenções…
Do que adiantam?
Emendas, constituições
Se o teto da escola caiu
Se a parede da escola sumiu
Sem dente o professor sorriu
Calado recebeu 10 mil
E depois assistiu na TV
Em cadeia para todo Brasil
O projeto, a tal salvação
Prestou atenção e no entanto não viu
A merenda, que é só o que atrai
A cadeia pra qual rico vai
Despachantes, guichês, hospitais
E os letreiros de frente pra trás
Aos olhos de quem
Só aprendeu o bê-á-bá
Pra tirar carteira de trabalho
E não entendeu Zé Ramalho cantar
“Vida de gado, Povo marcado, Povo feliz”
agosto 11, 2013 No Comments
Sobre Nick Horby e Alta Fidelidade
Na onda dos relançamentos dos dois primeiros livros do escritor britânico Nick Hornby, “Febre de Bola” (1992) e “Alta Fidelidade” (1995), o amigo jornalista Thiago Pereira me enviou algumas perguntas para uma reportagem especial que foi publicada no caderno Magazine, do jornal mineiro O Tempo, no domingo passado (04/08), e o texto serviu para resgatar o carinho que tenho por estes livros em particular – e por quase toda obra de Hornby.
Thiago dividiu a reportagem – que conta com a opinião de Christian Schwartz, tradutor dos livros de Hornby, o doutor em história e teoria literária Marcio Serelle, e Leonardo Bertozzi, jornalista da ESPN Brasil, além de mim – em três partes: o texto principal, “Uma sensibilidade pop na literatura”, e dois apêndices, “O texto de Hornby e a questão dos gêneros literários” mais “O futebol no campo das letras”.
Já escrevi bastante sobre Nick Hornby no Scream & Yell, tanto que perdi a conta. Aliás, contei aqui dia desses como “Alta Fidelidade” chegou a mim. Gosto da teoria dos pesos-médios e, sobretudo, de “Um Grande Garoto” (”Como Ser Legal” também, mas um pouco menos). Gostei de “Juliet Naked” e a peça “A Vida é Cheia de Som e Fúria” foi uma experiência espetacular (entrevistei Guilherme Weber na época).
Possivelmente, se você vem com certa frequência a este espaço, já deve ter lido tanto “Febre de Bola” (não vale a fraca adaptação hollywoodiana “Amor em Jogo” – a versão inglesa com Colin Firh é bem melhor) quanto “Alta Fidelidade” (a versão de Stephen Frears é boa, embora não definitiva), mas caso não tenha lido, fica a recomendação: vale a pena. Muito. Abaixo, as respostas que enviei ao Thiago Pereira.
Quando você conheceu Nick Hornby? O que te chamou a atenção?
Conheci com “Alta Fidelidade”, em 1998, e a primeira coisa que me chamou a atenção foi a união de duas coisas que admiro bastante: relacionamentos e cultura pop. A forma com que Nick Hornby chocava estes dois temas me interessou muito, porque também era uma crítica a um certo esnobismo cultural que circulava – e circula muito ainda hoje – na época. Afinal, como uma pessoal pode ser legal se não conhecer Beatles? (risos). O interessante de Nick Hornby é que ele questiona isso, mas também confere alma ao tal esnobe, permitindo que muita gente se identificasse (e até a pessoal que não conhece Beatles, entendesse esse ser-humano que surgiu junto com Elvis e com a Indústria Cultural).
O que você apontaria como os motivos maiores da obra dele ter chamado tanta a atenção do público- inclusive mobilizando versões para cinema, teatro, etc?
“Alta Fidelidade” é um romance geracional, daqueles que retratam um grupo de pessoas em uma determinada época, neste caso, o decantado fim das lojas de discos (que, no fim, não acabaram, e estão cada vez mais vivas), a valorização de certa honestidade em artistas, a elevação de listas top alguma coisa a categoria de arte e coisas assim. O que você consome diz muito sobre quem você é, e Nick Hornby percebeu isso naquele momento olhando homens que se recusam a envelhecer como manda o figurino. É um belo exemplo de adultescente, que já havia sido antecipado em “Febre de Bola”, e vai ser explorado de forma ainda mais genial em “Um Grande Garoto”.
A chave de entendimento para a obra de Hornby é a conexão com a cultura pop, ou acha ele um grande romancista, acima de tudo?
A conexão com a cultura pop é um dos grandes destaques de boa parte de sua obra, mas há, sim, um grande romancista. Ele usa ferramentas para atingir um grupo x de pessoas, mas são apenas ferramentas. O que move o leitor é sua prosa e história envolventes.
“Alta Fidelidade”, em especial, é um livro que marcou época para uma geração do final dos anos 90, ligada em música. Será que hoje, com a música tão descompartimentada, tão espalhada em diferentes suportes, ele tem o mesmo apelo?
Sim, sem dúvida. E a volta do vinil é um sintoma de que o apelo continua o mesmo, quiça aumentou. A discussão sobre MP3, CDs e vinis tomou outras proporções no novo século. Quando “Alta Fidelidade” foi escrito, as lojas de discos e a própria música pop de qualidade estava em franca decadência. Hoje o cenário está mais estável, e esta estabilidade é fruto de um novo grupo de pessoas que pensa e conversa coisas que poderiam ser dialogadas na loja de Rob Fleming.
Ainda sobre “Alta Fidelidade”: qual a importância do livro para você, pessoalmente? Você também é um pouco Rob Gordon?
Uma jornalista, certa vez, fez a mesma pergunta. Eu respondi: “Devo ter coisas mínimas de vários personagens, mas não acredito que tenha um em especial que me absorva por inteiro. Não sou tão confiante, mas ainda assim sou mais confiante que os personagens dele (risos). Ou ao menos acho…”. E mesmo assim, no abre do texto dela, ela dizia: “Gosto de imaginar o Marcelo como um Rob Gordon tupiniquim”. A questão que fica é: somos o que achamos, ou o que as pessoas acham de nós? (risos). E essa questão é totalmente nickhorbiana. Então eu devo ter um pouco de Nick Hornby sim, mais do que eu gostaria, talvez.
Uma mania em “Alta Fidelidade” são os Top 5. De alguma forma ele materializou uma mania de muitos não? Você usa até hoje né, assumidamente no teu site…Hornby, de alguma forma, é um jornalista de música?
Hornby é um apaixonado por música, e que tem o dom de escrever bem. Isso praticamente o torna um bom crítico, porque a música, pra ele, tem um valor especial, que permite um livro como “31 Canções”. Quantas pessoas no mundo conseguiriam escrever livros sobre canções hoje em dia? O fato de ser atento ao universo pop e apaixonado por música o torna um jornalista de música em potencial, afinal, ele faria mais perguntas pertinentes para Bob Dylan do que a grande maioria dos jornalistas que participou da coletiva em São Francisco, 1965.
Pra fechar: consegue eleger 5 personagens favoritos na obra de Hornby?
1) Will Freeman, de “Um Grande Garoto”
2) Rob Fleming, de “Alta Fidelidade”
3) Duncan, de “Juliete, Nua”
4) Katie Carr, de “Como Ser Legal”
5) Nick Hornby, de “Febre de Bola”
Leia também:
– “Howdy!”, do Teenage Fanclub, por Nick Hornby (aqui)
– Doce Miséria – A suavização de Nick Cave, por Nick Hornby (aqui)
agosto 10, 2013 No Comments
Individualidades em discussão
O Roda Viva especial Mídia Ninja e o depoimento da cineasta Beatriz Seigner colocaram o coletivo Fora do Eixo sob holofote, para o bem e para o mal. No meio de tanta informação surgida recentemente de ambos os lados (enormes relatos pró e contra que merecem serem lidos na integra – há links no final), surge a necessidade de fazer alguns questionamentos buscando entender não só o motivo de tanta discórdia, mas a própria natureza do viver em sociedade.
Partindo deste ponto, os relatos emocionados de participantes do Fora do Eixo não podem ser minimizados nem desvalorizados. Liberdade é escolher o modo que se quer viver, e neste quesito não há certo ou errado, mas sim diversas opções que vão agradar cada pessoa de forma diferente. É preciso respeitar as individualidades e escolhas de cada um, pois cada pessoa pode fazer da vida dela o que bem entender.
A maneira com que pessoas ligadas ao Fora do Eixo escolheram para viver tem que ser respeitada. É uma escolha, e em uma sociedade em que grande parte das pessoas vive em uma zona de conforto que diz mais sobre a incapacidade de alguns de se desprender daquilo que os oprime do que uma escolha consciente da melhor forma de viver, isso é admirável. Cada um tem o direito de fazer o que quiser desde que não interfira no direito do próximo.
A questão toma outro rumo exatamente quando observada como um todo, no exato momento em que interesses se chocam. Cada um pode viver da forma que quiser, mas obrigar outro a agir segundo seu modo de vida é, no mínimo, desrespeitoso. Se a economia solidária funciona dentro do coletivo, perfeito. Isso não quer dizer que pessoas de fora do coletivo precisem trabalhar da mesma forma, caso o coletivo se interesse pelo trabalho delas.
A grande discórdia em relação ao modus operandi do Fora do Eixo (e, principalmente a atuação controversa de seu líder, Pablo Capilé) é exatamente não entender e respeitar individualidades. Esse fato pode surgir de um processo nublado de realizar parcerias, algo que não deixa claro o formato de negócio para a pessoa que está pensando em trabalhar com o coletivo, e pode ser derivado tanto de uma má-gestão de projeto quanto de má-fé, que pode juridicamente ser encaixado no artigo Falsidade Ideológica.
O artigo 299 do Código Penal Brasileiro diz o seguinte e é bastante claro: “Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.”. Em seu depoimento, Beatriz Seigner afirma que o coletivo recebeu dinheiro em seu nome, sem informa-la previamente do fato. Se provado (não desconfiando da cineasta, mas o benefício da dúvida é necessário numa discussão como essa), pode mostrar que a maneira como o Fora do Eixo vem trabalhando não é transparente.
Essa decantada não transparência serve a que? Essa é uma das várias questões direcionadas ao coletivo, que, sim, precisa se manifestar, porque é um órgão não governamental que se utiliza de editais públicos para sobreviver, e independente se o valor final arrecadado é de 7% ou de 90% do montante que faz a roda do Fora do Eixo girar, é dinheiro de contribuinte, e assim como se cobra políticos, o Fora do Eixo tem um dever frente à sociedade.
É o caso de demonizar o Fora do Eixo? Não. O que está sendo feito é uma cobrança de posição do coletivo, transparência e o respeito à individualidade. Há pessoas que não querem viver como os membros do Fora do Eixo, e elas tem direito de fazer essa escolha. Há pessoas que não querem receber em moeda solidária, e é uma opção delas. Se o Fora do Eixo quiser organizar um festival sem pagar cachê, e alguém quiser tocar, é opção do músico, ainda que necessário, se o festival foi contemplado por edital, um acerto de contas da organização. Tocar de graça (mesmo com o coletivo recebendo financiamento público para isso) é um lado do mesmo jeito que se recusar a tocar de graça é outro, e ambos precisam ser respeitados.
O que está vindo à tona agora são fatos sabidos e discutidos aqui e ali (em mesas de bar e bastidores de festivais) desde 2008 (a discussão gerada pela Carta Aberta de João Parayba, publicada em 2010 no Scream & Yell, traz muitos pontos em comum com diversos depoimentos que estão pipocando aqui e ali), e a novidade é que o Fora do Eixo cresceu (não se pode negar a influência do coletivo nos importantes protestos de junho/julho tal qual o valor, ainda que partidário, da Mídia Ninja), e como adulto, precisa se ater a direitos e responsabilidades.
Isso apaga os possíveis erros do passado (recente) juvenil do coletivo? Não, e a Justiça está ai para quem quiser aciona-la. O que está sendo proposto aqui é que o Fora do Eixo haja, a partir de agora, com transparência e respeito à individualidade de cada um. O ponto de partida para isso é esclarecer todas as dúvidas que incomodam os detratores tanto quanto aprofundar os temas elogiosos que encantam os admiradores. Transparência (que nunca houve) acima de tudo.
Abaixo, alguns links importantes para se entender (e estender) a discussão, alguns bastante reflexivos, mas com itens importantes que pontuam essa longa discussão, que não é apenas sobre o coletivo, mas sobre o Brasil no século XXI, um país que passou muito tempo sucateado por administradores interessados em bens próprios, e que parece, agora, interessado no social. Questionar é preciso. Seja a respeito do Mensalão, do Trensalão, da importância da Mídia Ninja em contraponto a velha mídia (ambas partidários, defendendo interesses comuns de lados opostos), do Fora do Eixo, do Estado Laico, sobretudo do direito de cada pessoa ser… livre.
Leia também:
– Passa Palavra: A esquerda fora do eixo
– Beatriz Seigner: Fora do Fora do Eixo
– Rafael Vilela: Dentro do Fora do Eixo
– CMI: Coletivo-empresa: bote pra correr!
agosto 8, 2013 No Comments
Pequenos renascimentos
Pra muita gente, o fim de um ano e o começo de outro marca um recomeço. Aquele texto atribuído ao Drummond, mas que não é dele, é bem oportuno quando diz que “doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez”. Pra mim, isso acontece no meu aniversário. O começo de ano é sempre bom para planejar coisas, mas julho, por mais que eu tente insistir em não levar a sério o inferno astral, é costumamente um mês pesado. As pernas não querem se mexer, o corpo não quer se mover. Mas, bem, chega agosto e a vida começa de novo. E, desta vez, sem ser um setênio… : )
Ando bastante reflexivo nos últimos tempos. Cada vez me enxergo menos neste espaço, que deveria ser mais ego(ista) do que é (e basta uma passada na versão antiga da Calmantes pra ver que algo mudou: foi o mundo ou fui eu?). Mas falar sobre o que? Cinema? Até poderia, mas quero refrescar ainda mais as ideias para escrever longamente sobre “Hannah Arendt” e “Tabu”, dois filmes excelentes que vi neste fim de semana. Música? Talvez. Gostei muito do Selton (falei dele aqui) e acho que “Primavera”, do The Gift, caiu como uma luva na sonoridade que minha solidão particular buscava. Vou ouvir mais.
Vou retomar a leitura de “Bling Ring”, de Nancy Jo Sales. Estava adorando o caminho que a jornalista escolheu, e gostei bastante do filme da Sofia Coppola sobre o livro (humm, verdade, ele entra no Top 5 do ano, preciso arranjar um espacinho pra ele), mas no meio do caminho havia uma pedra, havia uma pedra no meio do caminho, e a leitura foi interrompida. Sei lá. Ando meio vivendo movido pelo sem querer, que me atrapalha, me distrai e me leva pela mão por territórios inóspitos do pensamento. Preciso de um hobby… Talvez. Talvez fazer cerveja em casa. Quem sabe. Está em standby. Como a vida…
agosto 5, 2013 No Comments