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Europa 2013: Um passeio cervejeiro

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Geralmente, quando termino uma viagem, tento colocar as ideias em ordem escrevendo um resumo que busca unir os pontos perdidos entre uma cidade e outra, e encerrar a aventura no formato balanço. Desta vez, porém, o balanço será um pouco diferente. Esta viagem de junho para a Europa foi a minha primeira viagem após ter me formado Sommelier de Cerveja, e isso me fez olhar as coisas de um modo ligeiramente diferente, buscando as raízes (e curiosidades) de algumas escolas cervejeiras.

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Afinal, toda essa minha paixão por cervejas começou seis anos atrás numa cidadezinha da Bélgica, a Disneylândia dos cervejeiros. Por isso eu precisava resolver algumas questões: como pisei tantas vezes em Londres e nunca bebi uma Real Ale? Como em diversas passagens por Bruxelas, não enchi a minha taça de Lambic? E como tive a cara de pau de passar por Berlim e não beber Berliner Weisse? Chegou a hora de resolver tudo isso.

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Real Ale, Lambic e Berliner Weisse são estilos de cervejas característicos e totalmente ligados à cidade/país em que são produzidos. Impossível beber Lambic fora de Bruxelas, por exemplo. Porque a Lambic é uma cerveja feita através de fermentação espontânea, e depende do trabalho do fungo Brettanomyces, conhecido no meio pelo apelido carinhoso de Brett, que só é encontrado nos arredores da cidade belga, e não existe Lambic sem ela – pode até ser uma cerveja parecida, mas não é Lambic, é outra coisa.

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Já a Real Ale britânica (também conhecida como Cask Ale) é uma cerveja que passa por uma primeira fermentação rápida e morna, e depois, com provável adição de açúcar para que a levedura siga trabalhando, uma segunda fermentação (com o barril já lacrado) que gera gás carbônico. O processo continua no porão do pub, com o adegueiro (do pub) trabalhando no nível de carbonatação. A cerveja que chega ao copo do cliente, no bar, está vivíssima (e morna!).

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A Berliner Weisse, por sua vez, é uma cerveja de trigo que remete a champanhe (as tropas de Napoleão, quando invadiram a cidade e descobriram a Berliner, a apelidaram de “champanhe do norte”), por sua acidez pronunciada e seu leve aroma frutado. A acidez é tanta que em Berlim costuma-se adoça-la com essências e xaropes. Muita gente, inclusive, adoça lambics belgas com açúcar, e é preciso lembrar-se das versões Gueuze e Kriek. Está tudo em casa. Abaixo, o passeio, cidade por cidade.

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LONDRES
A ideia de passar por Londres desta vez era bater ponto nas duas principais defensoras da escola Cask Ale em atividade na cidade: o Cask Pub & Kitchen e o Craft Beer & Co. A primeira coisa que você precisa saber sobre Real Ale: elas são servidas em temperatura ambiente, mornas. O termo estúpido “estupidamente gelada” não existe aqui, porque eles não precisam esconder o sabor da cerveja sobre uma camada de gelo (e, é bom lembrar, eles passam cerca de 9 meses por ano enfrentando o frio).

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O Craft Beer & Co (82 Leather Ln, pertinho da St. Pauls – eles têm outros três endereços) é o típico pub britânico. No final de tarde destes raros dias ensolarados, sua calçada está tomada por clientes, o que torna fácil encontrar uma mesa vazia lá dentro (embora o barato seja mesmo ficar na rua com amigos). Eles mantêm no cardápio mais de 400 rótulos diferentes de cervejas em garrafa, mas viemos aqui para provar as Cask Ale (e também as Keg Ale, lote de cervejarias artesanais em barril de alumínio).

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Quem está acostumado ao modo brasileiro de servir cerveja (beeem gelada) vai estranhar, mas tente se concentrar no sabor. Minha primeira opção foi seguir a tradição e abrir os trabalhos com uma Tyne Bank Monument Bitter, que segue o estilo tradicional britânico. É uma cerveja levíssima, com bastante percepção de malte. Na sequencia, uma sensacional Partizan Black Coffee IPA, e, pra fechar, uma garrafa de Kernel Amarillo IPA. Pura felicidade líquida.

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Neste primeiro momento já fica claro que os novos cervejeiros britânicos querem seguir o modelo de servir cerveja como os antigos britânicos, mas não aquela mesma cerveja bitter. O que temos aqui é uma bonita encenação de influências. Os Estados Unidos, última grande escola cervejeira, foram imensamente influenciados pelos ingleses. Agora a coisa muda de figura: os ingleses deixam de ser influenciadores para serem influenciados pelos norte-americanos. O cenário só melhora.

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Já o Cask Pub & Kitchen (um dos primeiros pubs a levantarem a bandeira das cervejarias artesanais no Reino Unido) fica um pouco fora de mão, em Pimlico, mas é de fácil acesso (pertinho da estação de metrô Victoria) e basta olhar a placa com os prêmios e elogios na entrada para saber que a viagem valeu a pena. Uma pena que a cozinha não estivesse funcionando no dia (ok, havia tortas), mas o cardápio de cervejas da casa valeu a visita.

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Enquanto esperava amigos, decidi escolher uma cerveja leve, pra abrir a tarde com calma. Escolhi a Dark Star Golden Gate, uma boa American Pale Ale, cujo pint equivale a um almoço. Na sequencia, duas das melhores cervejas da viagem: a excelente Titanic Cappuccino Stout, de Leicestershire, seguida da ótima Espresso Coffee Stout, da Bexar County Brewery, de Cambridgeshire. Todas com menos de 6% de álcool (os ingleses ainda estão pegando leve).

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Como descobrir se o pub em que você está bebendo (ou querendo beber) tem Cask Ale? Simples: o braço da torneira é, normalmente, de madeira, e o barman precisa puxar (no braço) a cerveja do barril que está no porão para o copo (diferente dos chopps que estamos acostumados, em que essa função é mecânica). Duas puxadas enchem um copo de half pint; quatro equivalem a um pint (por isso o número maluco de 568 ml). É bem visual.

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A passagem por Londres ainda contou com uma visita ao Belgo Centraal (o bar belga da cidade), e outra ao The Rake, excelente pub ao lado da Borough Market em que bebi, anos atrás, uma das melhores cervejas em viagem, uma De Molen Amarillo sensacional, e que desta vez tinha, na pressão, a Brooklyn Sorachi Ace. Excelente. Ainda rolou uma passagem no ótimo empório de cervejas dentro da Borough Market – o que rendeu uma Snake Dog IPA, da Flying Dog, em latinha.

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BERLIM
Entre os séculos 16 e 19, a Berliner Weiße era a bebida alcoólica mais popular da Alemanha com cerca de 700 fábricas a produzindo para abastecer o mercado. Após duas grandes guerras, que devastaram a cidade, e a chegada de cervejas concorrentes da Baviera apresentando outros estilos ao público, a produção da Berliner Weiße caiu vertiginosamente a ponto de, hoje em dia, apenas duas fábricas em Berlim (da mesma empresa) a produzirem seguindo as receitas tradicionais.

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Porém, basta chegar o verão para que a Berliner Weiße retorne aos supermercados e a mesa dos bares berlinenses. Seu processo de produção inclui a adição de bactérias (Lactobacillus) na segunda fermentação com o intuito de deixa-la ácida e efervescente (como um champanhe). O resultado é uma cerveja de trigo de ataque violentamente seco e amargo, mas com um final levemente frutado. Que não conhece pode até achar que é uma cerveja estragada – ela é assim mesmo!

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Mas então qual a graça da Berliner Weiße? Seu baixíssimo nível alcoólico (3%) e sua acidez. Isso mesmo. O baixo nível alcoólico privilegia seu consumo no verão e sua enorme acidez fez com que os berlinenses misturassem xaropes de frutas e/ou ervas para abrandar seu ataque, criando um espécie de drink. Os mais tradicionais são os xaropes de framboesa (Himbeersirup) e de ervas (Waldmeistersirup), mas é possível encontrar desde aromatizantes de maçã, pêssego e abacaxi, entre outros.

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Em supermercado é possível comprar a mistura já pronta (em dezenas de versões), mas em bares e restaurantes a mistura pode ser feita na hora. Porém, na busca pelos sabores verdadeiros, decidi começar pela versão tradicional, pura, sem adição de aromatizante. Hora de encarar a história. Estava com o casal de amigos Rodrigo e Carol quando fiz o pedido, e o divertidíssimo garçom da Casa das 100 Cervejas, em Potsdamer Platz, Nemanja, um sérvio fã de cervejas belgas, recusou:

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– “Não, você não quer beber isso”;
– “Quero sim”;
– “É horrível”.
– “Eu preciso experimentar!”
– “Ok, mas não diga que não avisei” (após fazer uma cara de desagrado).

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Cerveja na taça, cerveja bebida. Em um mapa cervejeiro, a Berliner Weiße fica no meio do caminho entre uma lambic e uma saison belgas. No aroma já é possível perceber a força da acidez, mas também alguma sensação de trigo e cítrico (limão). O paladar é aquela paulada que remete desde sal de frutas até água tônica e, claro, champanhe. É terrível? De forma alguma. Diria que é provocante. Mas beber uma garrafa de 600 ml deve ser um belo desafio.

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Na sequencia – ainda sob protestos do Nemanja – vieram as versões com aromatizantes. A de framboesa é ótima e refrescante. A de pêssego também não decepciona, mas a de maçã verde é absolutamente intragável. “Lembra coco de neném”, definiu depois o garçom, com todos na mesa concordando. No saldo final, curti a Berliner Weiße (principalmente a de framboesa). No dia seguinte eu já tinha partido para Oslo, e Rodrigo e Carol voltaram a Casa das 100 Cervejas:

– “Onde está o seu amigo?”
– “Ele já viajou…”
– “Que nada, ele deve estar no hotel passando mal depois daquelas cervejas de ontem”…

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Ps. Se você for para Berlim, de uma passada na Das Haus der 100 Biere e peça Berliner Weiße ao Nemanja. Vale a experiência (e a amizade do garçom).

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OSLO
A Noruega é frequentemente descrita como um país com as bebidas com preços mais altos do mundo, mas eu não sabia disso quando cheguei a Oslo, e fui a um empório procurar cervejas locais. Dentro os pouco mais de 90 rótulos em exposição, absolutamente nenhuma ultrapassava 4,7% de álcool. No bar do mesmo empório, no mesmo mercado, havia belgas tradicionais (Duvel, La Trappe e outras) e várias locais, entre elas a Nøgne 500, de 10% de graduação alcoólica. Bora compra-la e leva-la para o hotel, certo. Errado.

– “Então, não posso vendê-la para você levar. A lei só permite que você consuma aqui no bar”, explicou o garçom.
– “Como assim?”
– “Há uma lei aqui na Noruega que limita a bebida vendida diretamente ao público em supermercados e empórios a até 4,75% de álcool. Acima disso só é possível comprar bebidas alcoólicas em restaurantes e bares autorizados para consumo no local, ou em liquid stores (Vinmonopolet) controladas pelo governo”.
– …
– “Vocês podem bebê-la aqui, mas há um liquid store logo na outra esquina”, informou, já avisando. “Aqui é até sossegado. Na Suécia, o limite de álcool é de 3,5%”…

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Bebemos ali, e depois partimos para a tal liquid store, que, em um belíssimo sábado de sol, mais parecia uma loja de atacado vendendo bebida pela metade do preço, tal a quantidade de noruegueses ensandecidos com garrafas e garrafas debaixo do braço para o fim de semana, afinal, a lei é rígida: as lojas fecham às 20h durante a semana e às 18h todos os dias antes dos feriados (incluindo domingos, em que não é possível comprar nada alcoólico acima de 4,75%).

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Eu já havia comprado algumas cervejas da nova escola norueguesa (vale ler essa coluna de Diego Cartier e Marcelo Cury) no primeiro empório pelo qual passei (escrevi sobre elas aqui), e aproveitei a liquid store para pegar rótulos mais alcoólicos da Nøgne, que começou a ser importada para o Brasil em abril deste ano, embora ainda assim saíssem mais em conta compradas em Oslo (cinco cervejas = 243,50 coroas norueguesas = R$ 98) do que em um empório brasileiro.

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ESTOCOLMO
No quesito “cerveja”, melhor esquecer a cidade mais linda da viagem (e uma das mais lindas do mundo). A passagem por Estocolmo foi rápida (apenas dois dias), as cervejas eram caras (havia um bar belga na rua paralela ao hostel, mas minha economia em frangalhos não permitiu que eu ousasse entrar no lugar), e, nos Seven Eleven, tanto a Carlsberg quanto a Heineken traziam em destaque em seus rótulos a graduação alcoólica: 3,5%. Melhor beber água, certo. Ok, não. Na dúvida, peguei uma de cada.

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EINDHOVEN / DELFT
Meu QG para cobertura do festival Best Kept Secret, a cidade da marca de eletrônicos Phillips e do time PSV é tomada pela cerveja local Bavaria (se eles soubessem o asco que um brasileiro sente ao ver este nome em uma cerveja, provavelmente processariam a nossa embaixada por manchar séculos de história), mas há também bares com cartas de cervejas interessantes (de norte-americanas a belgas) e churrascarias com carne argentina. Bela combinação, hein.

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Ainda assim preferi ir para a única vendinha indiana do centro, todos os dias, e abastecer o quarto toda noite com Hoegaarden Rosee, La Trappe e Duvel (preço máximo: 2,40 euros cada). Na ida para Delft, a caminho de Haia, encontrei duas cervejas em homenagem ao pintor Johannes Vermeer. Comprei um par para trazer pra casa e outro para beber na praça, e gostei muito da versão Gruyt, que segue uma receita do século 13, sem lúpulo.

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Porém, o ponto alto cervejeiro da passagem pela Holanda foi à visita ao mosteiro onde é produzida a La Trappe, uma das oito abadias que tem autorização para ostentar o título “trapista” em suas cervejas (a única abadia holandesa). Eu havia reservado o tour (10 euros com direito a uma cerveja no final) no dia anterior, e me juntei a mais 30 pessoas, dentre estes apenas eu de brasileiro, um casal de belgas, um de norte-americanos, e três russos (e todo o restante, holandês)

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O tour é em dutch (neerlandês, língua indo-europeia do ramo ocidental da família germânica), mas como éramos sete que não entendiam patavina do que o divertido guia estava falando, ele fazia um pequeno resumo em inglês (“Highlights, highlights”, ele dizia), contando anedotas da criação da cervejaria, explicando a produção das cervejas e tudo mais. Quem já fez dois tours em cervejaria sabe que todos os demais serão iguais. O interessante, na verdade, é ouvir uma ou outra curiosidade e conhecer o local. E, no caso da La Trappe, estar em um templo trapista arrepia.

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Como já fiz alguns tours por cervejarias, e conheço o processo clássico de produção de trás pra frente, em boa parte do passeio eu estava à frente do grupo, e o guia pedia: “Brasil, chame os outros para eu contar mais uma história”. No final, escolhi uma La Trappe Bock, e bebi mais três pints no restaurante da casa. Feliz, passei na lojinha e fiz um pequeno estrago. Comprei um pack com as oito cervejas da casa, chocolates para a esposa, duas versões de taças e uma blusa. Consegui resistir aos queijos. Ainda bem.

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Você deve estar se perguntando: por que comprar um pack da La Trappe se quase todas as cervejas do mosteiro são vendidas e encontradas com facilidade no Brasil? Porque, primeiramente, aqui as oito cervejas não custariam os 11 euros que custaram; segundo porque eu queria experimentar La Trappes que não ficaram meses no porto esperando liberação do governo brasileiro para ir para a prateleira de empórios e supermercados. Essas que eu trouxe demoraram seis dias entre o mosteiro e a minha casa.

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BRUXELAS
Ponto final do passeio cervejeiro, e não à toa. Já contei aqui sobre os bares que passei (e bebi), mas o grande motivo de voltar para Bruxelas (na minha quarta passagem pela cidade) era beber lambic direto da torneira. Questão de honra. E o passeio não foi desperdiçado. Com a compania do casal Leonardo e Aline (mais a amiga Suzane), passei uma tarde inteira na Brasserie Cantillon, cervejaria que defende em alguns de seus rótulos o posto de “Lambic mais autêntica da Bélgica”.

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Logo que entrei, já fui tratando de me embrenhar no tour (7 euros). Porém, me confundi. Ao invés de esperar o tour em inglês, acabei acompanhando o tour em francês. Se dutch é quase impossível de ser entendido para novatos, o francês do senhor grisalho que comandou o tour soou absolutamente tranquilo, e o passeio pela velha casa foi bastante especial, com a intervenção divertida de algumas pessoas que não entendiam de cara o processo para se fazer lambic:

– “Onde está a Brettanomyces?”, perguntou um rapaz.
– “Aqui. Ali. Em todo o lugar dentro desta casa. Você está respirando-a”, observou o guia.

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Ao final do tour, duas taças são cortesias para o freguês (encarei a Gueuze tradicional e a Rose Gambrinus e, na sequencia, ainda bebemos uma Cognac Gueuze, a Cantillon 50ºN-4ºE, que ainda nem rótulo tinha), e não espere facilidade: Jean-Pierre Van Roy, o dono da Cantillon, se recusa terminantemente a adoçar suas cervejas (para alegria dos puristas), o que justifica a definição matadora do mestre cervejeiro Garrett Oliver, “o cérebro diz ‘doce’, a língua diz ‘ácida’. Eis uma cerveja brilhante e inflexível”.

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Na hora de deixar Bruxelas, dor no coração… e nos braços, afinal 38 garrafas se acotovelavam em duas malas bastante pesadas (combinando 48 quilos no total), e por mais que o processo de “empacotamento” tenha sido cuidadoso, sempre fica a dúvida: será que elas vão chegar inteiras no Brasil? Sim, chegaram. E junto com elas mais 10 compradas no Duty Free de Bruxelas, uma perdição (10 euros o pack com quatro garrafas de La Chouffe mais taça é muita tentação – e nem falei dos queijos Chimay)…

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O balanço da passagem pelo território das três escolas cervejeiras clássicas foi altamente positivo. E viciante. Não sei se provarei novamente Berliner Weiße quando voltar para Berlim (embora ainda precise beber Kölsch em Colônia, Altbier em Düsseldorf, e Dunkles, Marzens e Helles em Munique), mas com certeza explorarei com mais cuidado o desenvolvimento da nova escola inglesa tanto quanto quero visitar outros mosteiros trapistas, e retornar para passar outras tardes na Brasserie Cantillon. Afinal, a sede é interminável…

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Leia mais: Diário de Viagem Europa 2013 (aqui)

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