Completamente apaixonado por Estocolmo
Fazer mochilão é algo cansativo, ainda mais no modo que gosto de fazer, que é aquele de ficar no máximo quatro ou cinco dias numa cidade, e pular para outra na sequencia. É um fazer malas (pesadas), pegar avião/trem, achar o hostel, desfazer a mala, curtir a cidade e começar tudo de novo. Cansa pacas, mas se justifica completamente quando encontro uma cidade apaixonante. Dai eu penso que queria ficar um mês, um ano, uma vida, e planejo uma volta.
Fiz essa escolha de viagens longas com estadias curtas porque tenho plena consciência de que não terei tempo útil para conhecer todas as cidades que quero conhecer, e se um dia a vida estabilizar, volto com mais tempo para aquelas que tomaram meu coração. A nova candidata ao posto de paixão é Estocolmo, e ela se junta a algumas paixões sem fim de viagens anteriores como Praga, Veneza, Santorini, Paris, New Orleans e Amsterdã.
Meu plano inicial era ficar cinco dias em Estocolmo, mas alterei o roteiro após certo desencanto com Oslo, e susto com os preços escandinavos, mais a loucura de decidir em qual festival eu iria. Tanto o South Side, na Alemanha, quanto o Best Kept Secret, na Holanda, me credenciaram, e escolhi aquele que fosse mais em conta financeiramente no conjunto voo+hotel+saída pra Bélgica (última parada antes de voltar ao Brasil). Venceu o festival holandês, e Estocolmo perdeu três dias.
Se eu soubesse que iria me apaixonar tanto pela cidade teria buscado uma solução alternativa, ou mesmo pago um pouco mais pelo conjunto “voo+hotel+saída pra Bélgica” para curtir outros dois dias aqui, mas nada de chorar sobre o uísque derramado. O que me restava era aproveitar as 48 horas que eu teria na capital da Suécia, e bati tanta perna pra lá e pra cá que já alivei o peso da mala na quantidade de Dorflex que ingeri nas últimas horas (risos).
Estocolmo é linda. Lembra bastante Amsterdam, mas sem o turismo maconheiro, o que, para mim, é um ponto positivo (desculpe amigos fãs da erva). Tem uma desvantagem de ser uma cidade mais cara, e ter uma forte restrição ao consumo de álcool, mas ainda assim encanta. Localizada sobre 14 ilhas no centro-sul da costa leste da Suécia, é uma cidade daquelas de fazer a gente suspirar, principalmente no verão (no inverno, claro, as coisas são tensas por aqui).
Passei boa parte do primeiro dia na ilha de Stadsholmen, onde fica Gamla Stan, a cidade velha, com ruazinhas e becos medievais que remetem a Praga e ao Barri Gotic de Barcelona. Datada do século XIII, Gamla Stan destaca uma arquitetura gótica de influência alemã e ostenta a Catedral de Estocolmo, o Castelo Real e o Musel Nobel, onde todos os anos são entregues os Prêmios Nobel. E também o restaurante Den Gyldene Freden, em atividade desde 1722!
É uma área extremamente turística, claro, mas é possível encontrar ruas, bares e cafés para aproveitar um fim de tarde em paz (mesmo no verão). Não na Södermalm, a ruazinha principal, lotada de comércio para turistas, mas também restaurantes, sorveterias e creperias – além de uma loja de discos voltada para jazz e blues. Há algumas pracinhas encantadoras que são o paraíso num fim de tarde ensolarado de verão europeu.
Também fui ao distrito de Södermalm atrás de alguns vinis na Pet Sounds (obrigado pela dica, André Takeda) e rodei bastante a área central, parando aqui para um sorvete, ali para uma cerveja, acolá para um hot dog – e até para um bife na churrascaria Jensen Bofhus, pertinho da estação central (que acompanhado de um pint da cerveja tcheca Staropramen saiu por pagáveis R$ 60 – a melhor refeição da viagem até agora).
Não sou muito fã daqueles ônibus Hop on Hop Off, mas quando o tempo é curto e a cidade é grande, eles até ajudam bastante. Havia usado um uma vez em Bruxelas (quebrou um galho nas quatro horas que eu tinha livre) e outro em Los Angeles (quem manda não dirigir), e acabei por encarar um em Estocolmo, mas não a versão ônibus, e sim a versão barco, que passeia pela cidade parando em seis das quatorze ilhas. Lembrou Veneza. E foi bem legal.
Um dos grandes momentos do dia foi conhecer o museu mais visitado da Escandinávia, o Vasamuseet, que nada mais é do que um museu marítimo. O destaque é o enorme navio de guerra Vasa, que naufragou na baia de Estocolmo no dia de sua viagem inaugural em… 1628. O Vasa permaneceu no fundo do mar por 333 anos, até ser retirado intacto em 1961. O projeto de recuperação demorou mais 29 anos, e, em 1990, o museu foi inaugurado.
Impressiona absurdamente o quanto o navio permaneceu inteiro debaixo d’agua, e sua grandiosidade enche os olhos. O museu, porém, não trata apenas do navio, mas de tudo que é ligado a ele. Desta forma, réplicas dos desenhos de proa, utensílios e mesmo esqueletos da tripulação estão exibidos para o público, que praticamente entra em uma capsula do tempo e retorna até os primeiros anos de 1600. Um dos museus mais impressionantes que já visitei.
Despeço-me de Estocolmo com a sensação de quero voltar para cá o mais rápido possível, com mais tempo, com mais calma, com mais planejamento. Em agosto rola o Way Out West Festival, em Gotemburgo (com Neil Youg & Crazy Horse encabeçando o line-up), e seria uma ótima pedida ir ao festival e esticar para cá, mas melhor não pensar em viagens agora – e sim nas contas a pagar. Amanhã acordo em Eindhoven, na Holanda, e o trecho final da viagem começa, mas deixo um pedaço do meu coração em Estocolmo.
Estocolmo, já estou com saudades.
Ps. Sim, as mulheres suecas são lindas… praticamente todas.
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