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Norwegian Wood Festival 2013, Oslo

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A vantagem de ir a um festival pequeno em um país sem tradição em festivais é que, facilmente, você vê a banda que você mais ama no mundo colado na grade, sem ninguém, absolutamente ninguém, enchendo o saco. É você, seu ídolo e a música (se o som não atrapalhar). A desvantagem é que essa falta de interesse do público local não faz com que a banda que você ama se entregue, assim aquela apresentação que você esperava ser sensacional corre o risco de ser apenas boa.

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Foi mais isso que aconteceu com Manic Street Preachers e My Bloody Valentine no terceiro dia do minúsculo Norwegian Wood, em Oslo, festival que completa 21 anos de existência em 2013. Com uma estrutura preparada para atender cerca de 5 mil pessoas, o Norwegian Wood não recebeu nem um terço desse povo. A cidade, provavelmente, gira em torno do sol, um concorrente sério nesses dias raramente quentes da Noruega, e o festival é só mais um evento de verão a ocupar o calendário.

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E é um evento feito por e para noruegueses. Com exceção de uma ou outra barraca (duas de todo o festival até onde pudemos averiguar) que aceitam cartão internacional, da entrada na hora de comprar o ingresso até o balcão do bar, do merchandising, da barraquinha de hambúrguer de alce, todos só aceitam cartões noruegueses. “Às vezes nem cartão norueguês”, diz a atendente na entrada, correndo o risco de espantar estrangeiros que gostariam de adentrar ao festival que acontece na piscina pública do parque Vigeland.

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O preço do ingresso não colabora para o turista: são 750 krones, aproximadamente R$ 280 por dia. Se multiplicarmos pelos quatro dias do festival temos um montante de R$ 1120, o que aproxima o minúsculo Norwegian Wood Festival (que é feito com ajuda do Fundo de Cultura da Noruega) de mega-festivais brasileiros como o Lollapalooza, com a diferença que a renda per capita norueguesa é bem maior que a nossa, e transforme R$ 280 em uma pechincha para os padrões locais, e um atentado ao bolso do fã de música brasileiro.

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Ainda assim, surpreende ver bandas como Manic Street Preachers, My Bloody Valentine, Keane, Band of Horses, Rod Stewart e Nick Cave se apresentando para plateias tão diminutas, que não estão aqui para ver o show da vida delas, mas sim para curtir o astro rei, beber uma cervejinha, comer hambúrguer de alce e, claro, ouvir música (nessa ordem). É um alento para fanáticos brasileiros por festivais conseguir assistir a um show prestando atenção à música, e não a conversa ao lado ou com o cotovelo da pessoa que está logo à frente.

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Foi nesse cenário que o Manics enfrentou muitos problemas no som, a ponto de James Dean Bradfield ter que “cantar” o solo de “Motorcycle Emptiness”, já que o som de sua guitarra tinha ido pro brejo (a Gibson creme, aliás, foi parar nas mãos de um fã, na grade, ao fim da apresentação). Ainda assim é impossível dizer que um show com “Ocean Spray”, “Everything Must Go”, “A Design For Life”, “You Love Us”, “You Stole the Sun From My Heart”, “The Everlasting” em versão acústica e “If You Tolerate This Your Children Will Be Next” no encerramento, seja ruim. Foi legalzim, bonito, mas curto demais. Uma hora (contando os contratempos) e bye bye. Só atiçou a vontade de vê-los novamente, de preferência na Inglaterra.

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Já o My Bloody Valentine repetiu tin tin por tin tin o set list que vem tocando por ai. A banda é uma briguinha de menino e menina. O menino diz “eu vou tocar guitarra”. A menina diz “eu vou cantar”. O menino responde: “Pode cantar, mas eu vou tocar tão alto que ninguém vai te ouvir”. E a vida “psico-romântica” segue. É um showzinho meio indecente (desculpe a franqueza, dezena de amigos fãs), mas diverte principalmente porque é alto pra dedeu, e ver pessoas incomodadas com a altura do volume que sai das caixas me agrada.

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Ainda assim é tudo preguiçoso, desengonçado e até bobo demais. Velvet Underground, o pai deles, tinha um propósito. Kevin Shields só tem uma paredezinha de amplis, e os usa no limite, mas é muito pouco. Diverte, distrai e incomoda alguns ouvidos, mas não sustenta a alma. Semana que vem tem Swans ao vivo no Best Kept Secret, festival na Holanda. Dai a coisa muda de figura e fica séria. Hoje o barulho foi passatempo, não catarse. Mas não terá sido sempre assim?

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O saldo final é divergente. Os shows foram ok, mas o público não ajuda. Essa constatação somada ao valor dos ingressos e ao investimento para vir e sobreviver alguns dias em Oslo torna o Norwegian Wood um festival pouquíssimo atrativo, daqueles que a gente não indica para o amigo, porque sabe que o festival fica devendo. A não ser que a banda que você mais ame no mundo venha tocar aqui, e você queira pagar o preço para estar mais perto e a vontade com ela, Oslo merece sua visita. Caso contrário, escolha outro público. A coisa aqui é de norueguês para norueguês. Infelizmente. Uma pena.

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junho 16, 2013   No Comments

E no segundo dia, o sol saiu em Oslo

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Não há como: um dia de sol na vida é algo especial. Ainda mais destes lados nórdicos, em que a neve, a chuva e o frio são parceiros constantes em boa parte do ano. Apenas um dia nublado e com garoa, o sol saiu vitorioso em Christiania, antigo nome de Oslo, para alegria de turistas e, principalmente, dos noruegueses que tiraram os shorts e bermudas do armário e foram para a rua – boa parte das meninas optou pelo biquíni e partiu em direção a praça mais próxima.

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É muito difícil para um estrangeiro desligar-se do fator econômico na Noruega. Tudo aqui é caro demais para o custo de vida de qualquer outro país do mundo. Afinal estamos na terra em que uma latinha de coca-cola pode custar até R$ 10, uma boa cerveja pode sair por R$ 50, a passagem de ônibus é R$ 18 (valida por duas horas) e um prato em um restaurante não sai por menos de R$ 100 por pessoa. Assusta, mas não atrapalha o charme da cidade.

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A primeira sensação que tive é de que Oslo lembrava muito Budapeste. Claro, uma Budapeste de maior custo de vida, mas com algumas semelhanças. Talvez porque meu hotel seja no lado central da cidade em que drogas e prostituição estão à vista. Em Budapeste, as prostitutas trabalhavam no saguão do Ibis. Aqui não chega a acontecer isso, mas basta colocar a cabeça na rua pós 23h para ser apresentado a toda sorte de ofertas de sexo e drogas.

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Assim como Budapeste, em que os meus dois primeiros dias na cidade foram abençoados por uma chuva torrencial, e, após alguns dias em Praga, na volta o sol nos recebeu de braços abertos e a cidade exibiu seu sorriso mais charmoso, Oslo também fez o mesmo, permitindo um passeio de barco na baia da cidade e visitas a pontos turísticos como o Museu Kon-Tiki (já viu o filme?), o Museu de Barcos Vikings, o forte Akershus e a impressionante Opera House.

No primeiro dia achei a Opera House, projeto do escritório Snøhetta, um monstrengo meio sem sentido, mas basta passar uma tarde de pôr-do-sol caminhando sobre seu telhado que a admiração surge (apesar que ela deve ser deslumbrante nos dias de neve). Foram oito anos (2000 a 2008) de construção desta geleira escalável incrustrada no porto de Oslo, ao lado da estação central de trens. Acabou se tornando um dos meus lugares preferidos na cidade.

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Entre os pontos altos desta viagem está à visita a National Gallery, que destaca nestes dias uma exposição especial e imperdível comemorando 150 anos de Edward Munch (há um calendário com dezenas de comemorações da data). A mostra, dividida com o Museu Munch, exibe uma coleção emocional de obras do pintor norueguês, e gostei demais da primeira fase do artista, menos psicodélica que a segunda, mas tão melancólica quanto.

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Quando criaram a comunidade do Scream & Yell no Orkut, optaram pelo quadro “O Grito”, de Munch, como símbolo do grupo. Achei a escolha perfeita embora não goste tanto assim da obra (que após ser roubada do Museu Munch, foi recuperada bastante danificada e está presente no acervo da National Gallery). Entre os meus quadros preferidos da mostra estão “Morning“, o darkissimo “Night at St. Cloud“, “The Day After” (acima), “The Kiss” e “White Night“.

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Outro destaque de Oslo foi uma visita ao Mathallen, um pequeno e charmoso mercado (no estilo do Chelsea Market, em Nova York) que exibe desde variedades de queijos e chocolates assim como frutos do mar, lanches, padaria e tudo mais. É uma ótima maneira se fugir da Karl Johans Gate, a avenida principal tomada por turistas, e encontrar noruegueses curtindo sua própria cidade. E os preços são mais em conta (mas nem tanto) do que nas ruas principais.

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Descobri o Mathallen porque estava procurando um local para comprar cervejas norueguesas para trazer para o Brasil. O Ratebeer indicava, entre outros locais, o Akersberget, um empório que também tem um restaurante e um bar no mercado. Peguei duas cervejas às cegas (indicadas pela simpática atendente Nicolina) e uma Nøgne Ø, mas fiquei intrigado pelo fato de não existir no empório nenhuma cerveja acima de 4,7% de álcool.

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No restaurante, ao pedir uma Nøgne Ø 500, uma Imperial IPA de 10%, para levar pro hotel, o garçom nos explicou: cervejas acima de 4,7% só podem ser compradas em Liquid Stores controladas pelo governo. A taxação sobre bebidas alcoólicas (e cigarro) é altíssima, o que eleva o preço. É proibido beber em público (mesmo que seja na varanda da sua casa). Menores de 18 anos são proibidos de comprar bebida alcoólica, e entre 18 e 20, apenas cerveja e vinho. E você só pode comprar álcool no domingo e feriados em bares, pubs e restaurantes.

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Funciona? Mais ou menos. As pessoas bebem moderadamente nos parques, mas o reflexo de uma lei tão rígida é o aumento no consumo de drogas sintéticas. Oslo apresenta uma das maiores taxas de morte por overdose per capita da Europa, e a maior da Escandinávia. A cidade possui o título de “capital europeia da heroína”, e, segundo o jornal britânico The Guardian, 10 gramas de heroína custa o mesmo valor que um pacote com 20 cigarros (afinal, ao contrário de bebida e cigarros, as drogas entram no país sem imposto). Complicado.

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Outro grande momento da viagem foi visitar a Rakk & Ralls (Rock & Roll), loja espetacular de vinis e CDs usados e novos em Oslo que merece o título de Amoeba norueguesa. De compactos de época dos Beatles, Stones, Clash e Sex Pistols, a boxes e CDs raros novos, a loja (que oferta bons preços) pode falir economias claudicantes. A dica esperta do amigo Fernando Augusto Lopes rendeu algumas preciosidades para o acervo pessoal, e se um dia eu voltar a essa cidade, passar na Rakk & Ralls será obrigatório.

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Hoje é meu último dia em Oslo, e apesar de respirar aliviado (pero no mucho, já que vou passar dois dias em Estocolmo, outra cidade de economia não praticável para cidadãos comuns do resto do mundo), já começo a sentir um carinho pela cidade. De 06 a 10 de agosto acontece o Øya Festival (com Blur, Slayer, Kraftwerk, Rodriguez, Cat Power e mais), e se pudesse voltaria pra cá pra conferir esse festival, que deve ser mais intenso que o pequeno Norwegian Wood Festival, mas isso é assunto para o próximo post…

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junho 16, 2013   No Comments