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Palma Violets ao vivo em Nova York

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A melhor banda dos últimos tempos da última semana do semanário inglês New Music Express chegou à Nova York para sua segunda turnê cercada por um misto de descrédito. A primeira passagem, em janeiro, antes mesmo do lançamento de “180”, o primeiro álbum, foi um típico reconhecimento de terreno, com a banda inglesa tocando em lugares minúsculos para um público curioso em conhecer a “banda que significa a morte de um modelo, um prego no caixão da imprensa britânica como criadora de produtos capazes de produzir histeria em massa”, segundo resenha violenta e venenosa do jornal espanhol El País.

Não é a primeira vez e não será a última, mas a América continua sendo um território complicado, sedutor e necessário para as bandas da terra da Rainha Elizabeth, e com o Palma Violets não poderia ser diferente. Das suas duas datas em Nova York em maio, a primeira, no pequeno e sensacionalmente barulhento Music Hall of Williamsburg, no Brooklyn, com lotação de 550 pessoas, os ingressos só foram esgotar na tarde do dia do show. Já para o show no dia seguinte, no Bowery Ballroom (795 pessoas), ainda havia ingressos (enquanto gente como Lights, Ms Mr, !!! e Laura Mvula, que tocam na semana que vem, já estão sold out).

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A molecada do The Orwells, de Chicago, abriu a noitada diante de um bom público com um som interessante e barulhento, nerd até a medula, remetendo a um Weezer desengonçado (e só fui descobrir que o vocalista se chama Mario Cuomo quando fui conversar com a banda na banquinha pós-show). O single “Mallrats (La La La)” soou perfeito ao vivo. Já o Guards, banda do Brooklyn tocando em casa e lançando seu primeiro disco, “In Guards We Trust”, fez um show eficiente e absolutamente profissional, com um pé atolado no indie e outro no hippie viajandão do começo dos 70. Bom show – o som potente da casa ajuda, e muito, as bandas.

Como um Malcolm McLaren canastrão (o cabelo ruivo enrolado e a postura egocêntrica ajudam na comparação), o amigo meio roadie, meio faz tudo Harry Violent subiu ao palco para chamar a atração principal avisando que, entre outras coisas, “nesta noite, todos os seus sonhos serão realizados: de Londres, Palma Violets”. Difícil explicar o que aconteceu nos 50 minutos seguintes. Como uma banda responsável por um disquinho tão vagabundo quanto “180” (“marcado por uma dolorosa falta de canções memoráveis”, segundo resenha do Observer) pode soar tão urgente, violenta e apaixonadamente festeira ao vivo?

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Se alguém me contasse, afundado no ceticismo de meus 40 anos, eu duvidaria, mas o que o Palma Violets fez numa noite de quinta-feira primaveril no Brooklyn foi uma apresentação memorável que condensava alguns dos melhores momentos do (punk) rock sujo e mal tocado britânico das quatro últimas décadas. De Clash e Sex Pistols até Libertines e Vaccines, os quatro moleques ingleses fizeram mais de 500 pessoas pularem insanamente num daqueles shows que parecem validar o exagero da palavra histórico. Nada como ter menos de 20 anos e se entregar no palco como se este fosse o último show da vida.

Desde o primeiro instante em que pisou no palco, o baixista com jeitão de psicopata “Chilli” Jesson provocou e instigou a audiência. “É assim que funciona um show sold out nos Estados Unidos?”, disse a certo momento, com os braços abertos simulando algo como “muita gente duvidou, mas aqui estamos nós. Olhem isso!”. E se “180”, o disco, não passa confiança devido ao excesso de regurgitação de chicles sem carisma, ao vivo a coisa muda de figura. Mas não espere originalidade. O que o Palma Violets faz no palco é apenas uma releitura desajeitada e explosiva do mais desajeitado e explosivo rock britânico. E funciona.

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O trio de canções inicial “Johnny Bagga Donuts”, “Rattlesnake Highway” e “All the Garden Birds” serviu para visualizar a postura da banda no palco. “Chilli” Jesson é o delinquente. Não para um minuto e bate nas cordas do baixo muito mais pelo instrumento estar pendurado em seu pescoço do que por técnica além de gritar como se estivesse cantando. O guitarrista e vocalista Samuel Thomas Fryer é o contraste: inseguro, calculado, estudando cada milímetro da loucura que está tomando o palco. Mayhew, o tecladista, alheio a confusão, parece estar em um universo paralelo enquanto Doyle, o baterista, faz o básico sem frescura.

O show empolga e o nível de adrenalina sobe consideravelmente conforme as canções são tocadas atingindo o ápice no meio do show, com “Best of Friends”, a melhor música de 2012, segundo a NME. Neste momento é possível visualizar perfeitamente tudo aquilo que faz alguém amar a música, ama-la cada vez mais: centenas de pessoas pulando abraçadas e cantando uma canção que diz muito mais a elas, aqui e agora, do que qualquer outra canção que já foi feita. Porque é fresca. Porque fala de um mundo em que o sexo, quem diria, está sendo deixado de lado, e o pessoal do Music Hall parece entender isso melhor do que eu, que admiro a festa (embora não seja partidário da opção).

Após pouco mais de 40 minutos vibrantes, o quarteto deixa o palco tendo tocado 10 músicas, praticamente tudo que eles compuseram até agora. O público pede, e eles voltam para exibir a já tradicional cover de “Invasion of the Tribbles”, canção de 1980 do grupo punk canadense The Hot Nasties, com Harry Violent no palco berrando a letra ininteligível e incentivando o pogo. Integrantes do Guards entram com um bolo para o baixista “Chilli” Jesson, dando início a uma guerra com cerveja voando para todo lado e todo mundo pulando abraçado, festejando e comemorando o provável primeiro show vitorioso do Palma Violets na América, um momento de certa inocência rock and roll de quem ainda não sabe direito o que está acontecendo, mas quer aproveitar ao máximo. Que eles consigam manter a chama acesa por mais alguns meses. Por esta noite valeu a pena.

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Leia mais: Diário de Viagem Estados Unidos 2013 (aqui)

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