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Nashville está em débito com Dylan

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Sábado em Nashville. Você vai, faz planos, se arruma direitinho, pega sua câmera e quando chega à porta do hostel está ventando muito e despencando um tremendo toró. Mas poderia ser pior: imagine se você estivesse participando da maratona que aconteceu neste sábado de manhã na cidade… O máximo que conseguimos fazer foi chegar ao Riverfront Tavern, pub do lado do hostel, onde pretendíamos tomar café da manhã, que foi trocado por tacos apimentados para Lili e uma pizza (estilo Sadia) de peperoni para mim. Ainda assim, valeu: o pint de Turtle Anarcky Rye IPA, de Franklin, Tennessee, é sensacional.

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Após comprarmos um guarda-chuva e alguns posters de época numa lojinha bacana da Broadway, nos encaminhamos para o Country Music Hall of Fame Museum. O passeio normal sai por US$ 24, mas recomendo o de US$ 35, que inclui um tour especial pelo Studio B, da RCA, que é fora do complexo do museu. Responsável por criar o “som de Nashville”, o Studio B registrou mais de 35 mil canções, sendo que mil delas foram grandes hits nos Estados Unidos, e muitas delas, sucessos mundiais. Elvis Presley gravou 200 canções neste estúdio, que hoje é utilizado por alunos em aprendizagem de técnicas básicas de gravação analógica.

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Debbie, a senhora simpática que foi nossa guia, contou animadamente dúzias de histórias sobre o Studio – e, em conseguinte, sobre Nashville. Já na antessala do estúdio, ao lado de posters de artistas que gravaram na casa, Debbie mostra alguns hits produzidos no Studio B, e a voz emocional de Roy Orbinson rompe o silêncio cantando “Crying”. Seguem-se Don Gilson (“Oh Lonesome Me”), Dolly Parton (“I Will Always Love You”, mas poderia ter sido “Jolene”, também gravada aqui) e The Everly Brother (“All I Have to Do Is Dream”), com o grupo de turistas acompanhando o vocal da canção. Bonito.

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Na sequencia entramos no estúdio, que ainda mantém a mesma configuração de época, e exibindo o piano preferido de Elvis Presley (que gravou muitas canções gospel aqui). Mais uma sessão de canções em alto e bom som, com Debbie fechando os olhos e acompanhando emocionada o registro feito na metade do século passado neste mesmo estúdio. Quem teme fantasmas pode até se assustar, afinal, soa estranho ouvir pessoas cantando canções no mesmo lugar em que elas foram gravadas pela primeira vez, mas 40 e tantos anos atrás, mas o momento traz certa dose de lirismo, e o passeio, apesar de simples, vale a pena.

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De volta ao Country Music Hall of Fame Museum, um passeio pelo desconhecido. Criado em 2001, o museu é uma aula que nos coloca frente a frente com centenas de artistas que nunca ouvimos falar – no Brasil. Claro, os mais famosos estão lá, gente como Hank Williams, Dolly Parton, Johnny Cash, Patsy Cline, Merle Haggard e Willie Nelson marcam presença em trajes doados, violões e imagens de época. Elvis Presley também marca presença com seu imenso Cadillac e seu piano de ouro, mas gostei mesmo de ver os sapatos de camurça azuis, de Carl Perkins, e a roupa bordada de Gram Parsons.

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O que nos deixou encucados, no entanto, é a forma como o museu em particular, e a cidade como um todo, ignora Bob Dylan, o maior artista norte-americano vivo (grifo meu). Ok, Dylan sempre foi mais folk que country (embora podemos discutir sobre Elvis), mas tem lá seus flertes com o estilo além de ter gravado na cidade um álbum fundamental, “Blonde on Blonde” (1966), e os outros dois seguintes: “John Wesley Harding” (1967) e “Nashville Skyline” (1969), este último o único disco de Dylan encontrado nas lojas da cidade (em CD e vinil). Talvez seja difícil lutar contra a força dos mortos, mas Nashville está em grande débito com Bob.

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Já é domingo no Tennessee, e esse é nosso último dia em Nashville. Inicialmente eu iria tentar esticar até Lynchburg para conhecer a velha destilaria de Jack Daniels, há cerca de uma hora e meia daqui, mas vai ficar para a próxima. Nos planos atuais estão uma visita a um brewpub muito bem recomendado pelo Ratebeer além de uma conferida numa loja de discos recomendada por amigos. Isso sem contar o tour pelo mítico Ryman Auditorium, e o show do Band of Horses que iremos assistir lá mesmo no começo da noite. Isso tudo, claro, se não estiver ventando e chovendo muito…

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Leia mais: Diário de Viagem Estados Unidos 2013 (aqui)

1 comentário

1 AmericanaramA: Uma incursão dylanesca (Parte 2) – Dylanesco { 11.06.19 at 9:02 am }

[…] Como percebeu Marcelo Costa, é muito estranho garimpar os museus e as visitações em lugares turísticos de Nashville e encontrar tão pouca referência a Dylan. Coincidentemente, antes de viajar, encontrei um vídeo de Robbie Robertson, que também gravou Blonde On Blonde, comentando sobre esta época: […]

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