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Atrás de blocos no carnaval de São Paulo

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Fotos impares: Liliane Callegari / Fotos pares: Marcelo Costa
Texto: Marcelo Costa

Nunca fui muito de pular carnaval. Em Taubaté, cidade onde passei minha adolescência (período propicio para a farra), a minha turma aproveitava o feriadão para ir para Ubatuba ou Caraguá com um rotina dividida entre passar a noite no calçadão paquerando depois ir pralgum boteco em que o bicho estivesse pegando. Chegávamos à casa alugada por volta das 7 da manhã e dormíamos até as quatro, cinco da tarde. Praia? Carnaval? Nem lembrávamos.

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Com exceção de algumas noites clássicas no delicioso carnaval de rua da queridíssima São Luiz do Paraitinga e um carnaval insano no meio dos anos 90 seguindo blocos com um amigo pelas ruazinhas do bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, não me lembro de aproveitar o carnaval ‘carnavalizando’. Mesmo as noites bêbadas e antológicas nos carnavais divertidíssimos de cidadezinhas mineiras como São Lourenço e Caxambu não tinham espirito de carnaval. Era outra coisa.

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Porém, este ano a coisa foi diferente. Lili conseguiu um freela que previa fotografar blocos de carnaval. Cogitamos ir ao Rio, pensamos em Recife e Olinda, e até em São Luiz do Paraitinga, mas, em tempos de vacas magras, decidimos economizar e ficar em São Paulo. O papo que tive com Rodrigo James e Thiago Pereira em Belo Horizonte, sobre o carnaval na cidade, tinha me despertado a curiosidade: será que São Paulo também acordou para a força dos blocos?

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Para tergiversar a resposta – que é complicada e repleta de atenuantes, agravantes históricos e comparações sem sentido – gostaria de dizer que fazia muito tempo que eu não me divertia tanto no carnaval, carnaval mesmo (provavelmente desde aqueles dias no Rio). A ideia era começar na sexta, mas um temporal colocou os planos de molho e nos fez perder o Bloco Lira da Vila e a Banda do Trem Elétrico. Mas do sábado em diante embarcamos na folia. Para acompanhar, levei minha câmera.

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Na lista do sábado, mais de dez blocos iriam sair pelas ruas da cidade (todos liberados pela prefeitura). Escolhemos o João Capota na Alves, cuja concentração fez o pontilhão do metrô Sumaré tremer. O bloco existe desde 2008 e homenageia às ruas João Moura, Capote Valente e Alves Guimarães. O cordão desce a Oscar Freire, dobra na Arthur de Azevedo e depois vira na Lisboa encontrando-se com outros blocos na Praça Benedito Calixto. No repertório, ótimas marchinhas reinventadas.

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No domingo foi a vez de conferir o Bloco Guerreiros de Jorge, que existe desde 2012 e desfila pelo Minhocão saindo da Praça Marechal Deodoro. Com repertório mais tradicional e uma turma menor, mas não menos animada, o bloco mostrou sua força quando, ao sair, foi abençoado com uma tempestade. Ninguém parou. Todo mundo se protegeu debaixo do Minhocão e a batucada seguiu até o tempo melhorar. Foi bonito, muito bonito.

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A segunda-feira era dia do bloco mais antigo da cidade, os Esfarrapados do Bixiga, que desde 1947 passeiam pelas ruas do bairro com muita animação e folia. Antes do bloco, almoço numa cantina. Depois, hora de queimar as calorias. Foi o bloco mais estruturado, animado e lotado (cerca de 15 mil pessoas). Era tanta gente que o som se dividia entre três carros distribuídos pelo trajeto. Palmas para o puxador, que convidada, rua a rua, os locais para aderirem a festa.

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Na terça foi a vez de voltar no tempo. E não poderia ter sido mais perfeito. O Urubó sai desde 2009 durante todos os dias de carnaval. O percurso – uma volta no Largo da Matriz da Nossa Senhora do Ó – é simples e animado com quase todos os homens do bairro vestidos de mulher (como numa cidade do interior) eparadas estratégicas em frente aos bares patrocinadores (como o Frangó). No repertório, marchinhas clássicas e hits diversos de Mamonas a Sidney Magal.

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Ainda conferimos o impagável Jegue Elétrico e o Grupo de Maracatu Bloco de Pedra. Faltou acompanhar o Cordão Cecilia, que desfilava no sábado na Barra Funda (vimos em 2010), e descobrir se o Cordão Triunfo, que iria desfilar e encenar a peça “Cine Camaleão – Boca do Lixo”, realmente saiu. O bloco sairia da sede da Cia. Pessoal do Faroeste, localizada na quadra tomada por usuários de crack no centro de São Paulo. Veículos como o Guia da Folha e outros não informaram este fato ao público, e uma turma de jovens por volta dos 15 anos girava em torno da área buscando descobrir o paradeiro do bloco.

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Tirando esse ato de irresponsabilidade muito parecido com uma pegadinha (se foi, temos mais um caso de hoax derrubando veículos – vale pesquisar), os blocos em São Paulo foram uma alegria contagiante. A maioria começava por volta das 14h ou 15h e ia noite afora cumprindo a promessa da festa carnavalesca. Em meio a boa vibe impressiona o número de foliões fantasiados tanto quanto o número de crianças se divertindo (nas ruas de uma cidade que é hostil com elas).

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Alguém pode provocar: existem carnavais melhores! Existem, sem dúvida, melhores e infindáveis. Mas como há graça em ir atrás do melhor (quando o dinheiro permite), há também prazer em fazer o melhor (quando a criatividade funciona). Neste ponto, os Blocos de São Paulo estão de parabéns. Foi bonito. Mesmo. O carnaval aqui acabou (afinal, o ano começa) mas quem (por algum motivo) ficou na cidade e soube aproveitar, o carnaval 2013 na cidade valeu muito a pena.

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Leia também:
– Festival Sensacional e o carnaval em Belo Horizonte (aqui)
– 2010: “O primeiro carnaval em que folguei após três anos (aqui)
– Curta o Carnaval que esse pode ser o seu último verão (aqui)
– Mais fotos: Liliane Callegari (aqui) e Marcelo Costa (aqui)

fevereiro 13, 2013   No Comments