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Posts from — outubro 2012

As quatro cervejas da Gauden Bier

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Fundada em 2007 no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba, a Gauden Bier é mais uma pequena cervejaria que brilha na capital paranaense, Estado que junto a Minas Gerais destaca-se no segmento. Utilizando água do Aqüífero Embasamento Cristalino da Bacia Hidrográfica do Iguaçu Gauden Bier surpreende por um belo conjunto que mostra unidade entre as quatro cervejas produzidas pela casa: Hefe-WeissBier, Lager Naturtrübe, Pale e Pilsen (as duas primeiras, não filtradas).

A Gauden Bier Hefe-WeissBier causa uma boa surpresa em um estilo bastante difundido. Ela é uma cerveja de trigo não filtrada que honra as características do rótulo. No aroma, notas bastante distinguíveis de banana, cravo, tutti-frutti e limão. O paladar traz as mesmas notas do aroma privilegiando o cítrico sobre a doçura (quase inexistente) do malte, o que destaca a acidez e torna o final extremamente seco. É uma cerveja bastante leve e interessante – acompanhou muito bem um prato de brie com azeite e temperos.

A Lager Naturtrübe da casa curitibana é uma ótima versão não filtrada das Premium American Lager. O aroma traz notas de azedo, aveia, trigo e cereais. Bastante peculiar. O paladar é marcado pela forte presença de malte, que transforma a Gauden Bier Lager Naturtrübe em um autêntico pão (doce) liquido – principalmente no final. O amargor é praticamente inexistente em outra bela surpresa da cervejaria, uma ótima experiência para aqueles que quiserem descobrir a diferença entre uma lager filtrada e uma não filtrada.

A Gauden Bier Pale Ale é uma tentativa de pagar tributo ao estilo Belgian Pale Ale, mas lembra muito mais a releitura norte-americana do estilo (sem tanto lúpulo, uma paixão dos cervejeiros de lá). Ainda assim, o aroma traz notas de malte levemente tostado e lúpulo – além de algo de frutado. O paladar, suave e de início adocicado, pende mais para o malte de caramelo, embora o lúpulo esteja presente num conjunto bastante equilibrado. Há alguma coisa de frutas cítricas em uma cerveja bem particular e interessante.

Para fechar, a Gauden Bier Pilsen também surpreende em outro acerto da cervejaria. A leitura dos curitibanos para este estilo idolatrado pelos brasileiros inclui dry hopping de lúpulo Cascade (que dá ao aroma um charme especial) em um conjunto que destaca o tradicional malte tcheco pilsen e deixa o amargor em segundo plano – fãs das cervejas massificadas podem estranhar, mas o resultado é bastante elogiável. O paladar é extremamente suave em uma cerveja muito boa, personal e refrescante.

Os quatro bons rótulos trabalhados pela Gauden Bier mantém uma interessante unidade (que faz falta em várias cervejarias nacionais) que identifica a cervejaria – independente do estilo. As quatro acima foram compradas em um kit no Clube do Malte que saiu por R$ 36,90 (garrafas de 355 ml). É possível encontra-la também em garrafa de 600 ml (os preços variam entre R$ 13 e R$ 15 cada) assim como visitar a fábrica em Curitiba (no site oficial você pode realizar um tour virtual). Recomendo.

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Gauden Bier Hefe-WeissBier
– Produto: German Weizen
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,2%
– Nota: 3,37/5

Gauden BierLager Naturtrübe
– Produto: American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,7%
– Nota: 3,39/5

Gauden Bier Pale Ale
– Produto: Belgian Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,7%
– Nota: 3,16/5

Gauden Bier Pilsen
– Produto: American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,7%
– Nota: 3,05/5

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Leia mais:
– Top Cervejas: Cold 200, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 30, 2012   No Comments

O dry martíni, por Luis Buñuel

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“Meu drinque favorito é o dry martíni. Considerando o papel primordial que ele desempenhou em minha vida, vejo-me obrigado a dedicar-lhe uma ou duas páginas. Como todos os drinques, o dry martíni é uma invenção americana. Compõe-se essencialmente de gim e gotas de vermute, de preferência Noilly-Prat.

Os autênticos aficionados, que apreciam seu dry martíni bem seco, chegavam a dizer que bastava deixar um raio de sol atravessar uma garrafa de Noilly-Prat antes de tocar o copo de gim. Um bom dry martíni, diziam certa época nos Estados Unidos, deve se parecer com a concepção da Virgem Maria. Com efeito, sabemos que, segundo são Tomaz de Aquino, o poder gerador do Espírito Santo atravessou o hímen da Virgem “como um raio de sol passa através de uma vidraça, sem quebrá-la”. O mesmo se passa com o Noilly-Prat, diziam.

Mas eu achava isso um pouco de exagero.

Outra recomendação: convém que o gelo utilizado esteja bem frio, bem duro, para não soltar água. Nada pior do que um martíni aguado. Peço licença para dar minha receita pessoal, fruto de longa experiência, com a qual continuo a obter um sucesso lisonjeador.

Guardo tudo o que é necessário no congelador na véspera do dia em que espero os meus convidados, os copos, o gim, a coqueteleira. Tenho um termômetro que me permite certificar-me de que o gelo está numa temperatura de cerca de vinte graus abaixo de zero.

No dia seguinte, quando chegam os amigos, pego tudo o que preciso. Sobre o gelo bem duro despejo algumas gotas de Noilly-Prat e meia colherinha de café de angustura. Agito tudo, depois jogo fora o líquido. Preservo apenas o gelo, que carrega o ligeiro vestígio dos dois perfumes, e sobre o gelo despejo o gim puro. Sacudo um pouco e mais e sirvo. É só isso, mas é insuperável”.

Luis Buñuel, cineasta, morreu aos 83 anos em 1983 deixando um vasto catálogo de obras clássicas, das quais é possível destacar “Um Cão Andaluz” (1928), “Idade do Ouro” (1930), “Os Esquecidos” (1950), “O Alucinado” (1952), “Viridiana” (1961), “O Anjo Exterminador” (1962), “A Bela da Tarde” (1967) e “O Discreto Charme da Burguesia” (1972). O trecho acima é um dos relatos do diretor em seu livro de memórias, “Meu Último Suspiro”, lançado no Brasil pela Cosac Naify. Saiba mais sobre o livro aqui.

Leia também
– “O bar é um exercício de solidão”, por Luis Buñuel (aqui)
– Terremoto: o drink preferido de Toulouse-Lautrec (aqui)
– De Stanley Kubrick para Luis Buñuel, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 30, 2012   No Comments

Bom restaurante português em SP

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O pessoal na firma falava muito desse bistrô, e por mais que comida do mar não esteja lá entre as minhas preferências, sempre fiquei curioso para conhecer o lugar. Ontem, no almoço, fomos todos juntos numa turma de 12 pessoas, e não é que sai completamente apaixonado pelo Bacalhau com Natas (Creme de Leite) gratinado no forno? Se na foto parece tentador, saiba que ao vivo é ainda melhor. Ainda comemos uma boa alheira e finalizamos com um típico Pastel de Belém.

O local atende pelo nome de Tonel Bistrô Lusitano, e é comandado por Alice e Herminia, duas portuguesas extremamente simpáticas que fazem do lugar uma cozinha de uma casa no Algarve. Elas preparam os pratos (você pode levar a sua tigela que elas fazem o bacalhau – servido de diversos modos – para viagem), servem, sentam a mesa com os clientes, puxam a orelha se você ficar usando o celular durante o pedido (“Ele está fazendo check-in”, comentou alguém. “Ah, check-in pode”, brincou uma delas) e são extremamente atenciosas.

Dá uma olhada no álbum delas no Facebook e anote o endereço.

Vale uma visita!

Tonel Bistrô Lusitano
R. Antônio das Chagas, 409
Chácara Santo Antonio
São Paulo, SP
Tel: 5181-5441
Ter. a dom. 9h/16h

outubro 23, 2012   No Comments

Cinco cervejas: DaDo Bier

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A DaDo Bier começou sua produção em 1995 em uma micro cervejaria montada em meio ao restaurante da casa em Porto Alegre. A produção artesanal (regida pelo Decreto de Pureza da Baviera) era consumida pelos clientes até que em 2004, após a inauguração da Fábrica de Cervejas DaDo Bier, a capacidade foi ampliada. Em 2009, a fábrica foi transferida para Santa Maria e a produção atingiu a marca de um milhão de litros mensais (prioritariamente da versão Lager, feita em larga escala). Além desta, a DaDo Bier produz outros sete rótulos: Ilex, Red Ale, Weiss, Original, Belgian Ale, Double Chocolate e Royal Black. Abaixo temos cinco:

E quis o destino que, sem pensar, eu fosse (entre cinco) logo abrindo a DaDo Bier Ilex, cerveja que traz erva-mate em sua fórmula. Ou seja: não basta o chimarrão (risos). Pé direito no universo das cervejas gaúchas. O belo aroma é herbal, com clara influência do mate além da presença de notas de biscoito, fermento e, discretamente, lúpulo. No paladar, o mate faz a diferença e toma conta do conjunto (com notas de frutado) numa sugestão alcoólica bastante interessante (aliás, a Ilex começou a ser fabricada com 7% de graduação, mas hoje tem apenas 5%). Eis uma lager de personalidade (gaúcha), refrescante e diferente.

Colocando o trem nos trilhos, a DaDo Bier Red Ale traz intensa notas de malte que dão um tom de caramelo, amadeirado e uma queda para frutas vermelhas e baunilha ao aroma. O paladar é levemente adocicado e um tiquinho aguado – com presença de caramelo e mel. Notas interessantes de amadeirado, mas perde no conjunto (principalmente para similares nacionais como Baden Baden e St. Gallen, mais complexas). A Da Do Bier Weiss se comportou melhor no copo. Notas cítricas (e clássicas), de cravo e banana. O paladar refrescante segue o aroma com uma delicada presença de tutti-frutti. Boa cerveja (mas a Bohemia Weiss se sai melhor).

A versão Original da casa portoalegrense é uma american lager extra que segue a linha que conquistou os brasileiros, ou seja, presença rasteira de malte e lúpulo, amargor pronunciado e sugestão de refrescância. É mais consistente do que as concorrentes das macro cervejarias, mas entrega menos do que deveria. Por fim, a DaDo Bier Belgian Ale, uma strong ale de 8,5% de teor alcoólico bastante perceptíveis. Aroma extremamente cítrico com notas de abacaxi, banana e melaço – mais álcool. No paladar, o álcool bate tão forte que lembra cachaça com mel. Falta equilíbrio ao conjunto com os cinco tipos de malte se destacando excessivamente.

Em Porto Alegre é possível beber as cervejas em torneira no restaurante DaDo Bier, e alguns rótulos da linha tradicional da DaDo Bier até são encontrados em grandes redes de supermercado, mas é melhor confiar em um bom empório. No caso das cinco acima, todas foram compradas em um lote único na Costi Bebidas, de Porto Alegre. Lá as garrafas de 600 ml saem entre R$ 8 e R$ 9 e os latões de 473ml na média de R$ 6,50. Em outros empórios é possível encontra-la entre R$ 9 e R$ 11. No saldo final, parece faltar foco para a cervejaria que tenat unir rótulos norte-americanos, belgas e alemães sem muito unidade. Vale como ponto de partida.

DaDo Bier Ilex
– Produto: Vegetable Beer
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,12/5

DaDo Bier Red Ale
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,3%
– Nota: 2,01/5

DaDo Bier Weiss
– Produto: German Weizen
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,06/5

DaDo Bier Original
– Produto: Standard American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 1,95/5

DaDo Bier Belgian Ale
– Produto: Strong Belgian Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8,5%
– Nota: 2,28/5

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Leia mais:
– Top Cervejas: Cold 200, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 22, 2012   No Comments

A banda dos mais bem vestidos

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Foto: Liliane Callegari

O Planeta Terra 2012 não foi só palco de grandes shows. Ali pelo meio da apresentação do Garbage, o amigo Eduardo Palandi manda essa: “Que belo terno desse guitarrista, hein”. E elenca uma possível banda dos mais bem vestidos do rock: Jarvis Cocker do Pulp nos vocais, Duke Erikson do Garbage na guitarra e Charlie Watts dos Stones na bateria. E no baixo, ficou a questão, que lançamos no Twitter na sequência. O nome de Paul Simonon, do Clash, chegou a ser citado, mas a vaga óbvia era de… Paul McCartney (valeu Kamille). Temos uma nova banda! E que banda!

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Leia também:
– Line up mediano rende grandes shows no Planeta Terra 2012 (aqui)
– Entrevista: Duke Erikson, Garbage: “Estamos só no divertindo” (aqui)

outubro 22, 2012   1 Comment

Roteiros de uísque e cerveja

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 Irlanda

Dublin, a capital da Irlanda, localiza-se na costa oriental da ilha, e merece muito mais o epíteto de Terra da Garoa do que São Paulo, pois o tempo fica constantemente nublado, com frio e chuva fina em boa parte dos 12 meses do ano. Para esquentar, o irlandês especializou-se na produção de uísque, que o acompanha desde o café (o Irish Cofee tradicional é uma experiência inesquecível) até a noitada em pubs (existem centenas pela cidade). Conhecido em gaélico como “Uisea Beatha” (pronuncia-se “Ishka baha”), que significa “Água da Vida”, o uísque chegou à Irlanda e (na vizinha Escócia) no século 12, e de lá para cá se tornou mundialmente conhecido. O país chegou a ter mais de 100 destilarias, mas hoje em dia apenas quatro estão em atividade. A Old Jameson Distillery, em Dublin, virou museu – depois que a bebida passou a ser produzida em Cork – e pode ser visitada em um tour caprichado que conta a história do uísque irlandês mais vendido no mundo e explica as fases de preparação da bebida, da maltagem à destilação. O tour termina no bar da velha destilaria em que o visitante pode beber o uísque da casa em drinks que levam strawberry e ginger ale ou ainda comparar uma dose do legitimo representante Jameson com um bourbon norte-americano e um exemplar escocês – valendo um certificado de provador de uísque.

Old Jameson Distillery
Bow Street, Smithfield, Dublin 7, Irlanda
De segunda a sábado: de 9h às 18h
Domingo: de 10h às 18h
Preço: 13 euros o tour (8 euros o Teste de Uísque)
Informações: http://www.tours.jamesonwhiskey.com/

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James Joyce escreveu em seu romance mais famoso, “Ulisses”, que era impossível atravessar Dublin sem passar na frente de um pub. Já que eles estão por toda parte, melhor se render ao ritual e entregar-se a um pint da cerveja escura mais famosa do mundo, a Guiness. Para corroborar a fama, a cervejaria construiu uma Storehouse de causar inveja aos concorrentes. São seis andares de informações sobre a famosa stout que vão desde o processo de produção da cerveja até uma área com as clássicas propagandas da Guiness. O visitante aprende ainda a tirar o pint perfeito (e, claro, pode bebê-lo na sequencia) com direito a certificado. O passeio termina no último andar do prédio, uma redoma de vidro que abriga um bar com uma vista impressionante de toda a cidade. A loja é uma tentação para cervelogos.

Guiness Storehouse
St James’s Gate, Dublin 3, Irlanda
Todos os dias: de 9h30 às 17h
Preço: 14 euros
Informações: http://www.guinness-storehouse.com/

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Estados Unidos

Lynchburg é a capital de Moore County, o menor condado do Tennessee. Foi aqui que Jasper Newton Daniel fundou, em 1866, uma destilaria para produzir aquele que viria a ser um dos uísques mais famosos do mundo. Lynchburg – 120 quilômetros de Nashville – recebe anualmente mais de 250 mil pessoas interessadas em conhecer a história do Jack Daniels. A destilaria funciona todos os dias, mas não abre em alguns feriados (confira o site). Um inconveniente: a Lei Seca ainda vigora em Moore County, então se prepare para ouvir muito sobre uísque, mas não beber.

http://www.jackdaniels.com/TheDistillery/

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Escócia

Fundada em 1786 em Keith, uma cidadezinha de 5 mil habitantes no nordeste da Escócia, a Destilaria Strathisla carrega o peso de ser uma das mais antigas destilarias do mundo. Ainda em atividade (e com a maior produção de uísque em terras escocesas), a casa espiritual do Chivas Regal promove um tour que parece uma volta no tempo: os edifícios do século 18 pouco mudaram e a paisagem contemplativa, cujo destaque é o rio Isla (que ainda movimenta o moinho da destilaria), formam um cenário idílico para a produção de um dos melhores uísques do mundo.

http://www.chivas.com/pt/BR/

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A Escócia que produz a água da vida é dividida em quatro áreas: Highlands, Lowlands, Speyside e Islands. Se você quer aprender a diferenciar os aromas do uísque produzido em cada uma dessas regiões, seu lugar é o Scotch Whisky Experience, um tour que já começa especial em sua localização: numa casa vizinha ao Castelo de Edimburgo, antiga fortaleza imponente que domina a paisagem da capital da Escócia. Há três tipos de tours (Prata, Ouro e Platina) que permitem ao visitante conhecer a história da bebida e admirar a maior coleção de uísque escocês do mundo. E, claro, beber também.

http://www.scotchwhiskyexperience.co.uk/

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outubro 20, 2012   No Comments

Três perguntas: José Felipe, da Wäls

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Em 2011, na primeira edição do Beer Experience, em São Paulo, uma avalanche de rótulos estrangeiros fez a alegria de um público exigente tal qual criança em uma grande loja de brinquedos. Em 2012, o foco foi produção nacional, e a alegria talvez até tenha sido maior frente ao número expressivo de novidades que estão surgindo no mercado nacional. A Wäls, de Belo Horizonte, ocupa um lugar de destaque em um cenário cada vez mais surpreendente de micro-cervejarias artesanais brasileiras de alta qualidade.

Eu já tinha visitado a fábrica, na Pampulha, no dia em que eles iniciavam a brasagem do que viria a ser a cerveja do ano, a Petroleum, e conversado (na panela) com os irmãos Thiago e José Felipe. Daquele encontro para cá, em março, eles já colocaram no mercado três novos rótulos: a Wäls Petroleum, a Wäls Witte e, lançada no Beer Experience 2012, a Wäls 42, uma cerveja geek (de acentuação belga) produzida em parceria com o pessoal do Google.

Porém, a Wäls não para. “Estamos com algumas parcerias de produção de cerveja que podem sair até este ano ainda. A gente só não pode contar”, disse José Felipe no Beer Experience. Uma delas foi revelada esta semana: Garrett Oliver, o mestre-cervejeiro da Brooklyn Brewery (autor do livro “A Mesa do Mestre Cervejeiro”, e colaborador de outras micro-cervejarias, como a italiana Amarcord) virá ao Brasil para produzir uma cerveja em parceria com José Felipe na Pampulha. Vem mais coisa boa vem por ai.

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 Abaixo, três perguntas rápidas para José Felipe:

Qual é a da Wäls 42?
A Wäls 42 é uma cerveja inovadora. É a primeira cerveja do estilo Saison Farmhouse Ale do Brasil, e nós a fizemos em parceria com os Googlers, que são os funcionários da maior empresa de tecnologia das Américas. O nome #42 é um místico. Se você digitar no Google uma pergunta sobre a vida, o universo e tudo mais, você encontrará uma resposta: 42. A gente quis fazer essa brincadeira. #42 é a resposta da vida. Uma cerveja da Wäls é a resposta para tudo aquilo que a gente estava procurando. É uma cerveja bem leve (tem 6,5% por álcool) e um pouquinho ácida. Colocamos como ingredientes amêndoas, café, Limão Tahiti e abacaxi. Foi uma cerveja rápida. A gente tinha que acertar de cara. Foram dois para produzir – entre a ideia e o lançamento. Porque a ideia era lança-la na primavera, o que é tradição na Bélgica.

Como é pra vocês quando chega uma pessoa, como aconteceu agora, e diz que a Wäls Petroleum é a cerveja do ano?
É um fato recorrente. Nós ficamos felizes porque é uma receita que veio da panela dos amigos do Paraná (da Dum Cervejaria), e acabou se tornando uma cerveja brasileira com um nome muito mais grandioso. Então não é a mim que vocês tem que agradecer pela Petroleum ser a cerveja do ano. É ao Murilo (Foltran), ao Luiz (Felipe Araújo) e ao Júlio (Coutinho), que são os verdadeiros criadores dela. A Wäls só fez ela acontecer.

Como é estar em um evento como o Beer Experience? São Paulo é carente de eventos assim…
O paulistano é carente por cervejas de alta qualidade, e a gente vê isso com muita alegria, porque São Paulo já representa para a cervejaria Wäls cerca de 30% de nossa venda total. É muita cerveja que vem pra cá. O paulistano está respondendo isso à altura, comprando, bebendo e esgotando as cervejas na gondola. É isso que a gente espera ver. A gente espera mesmo que vocês acabem com a nossa cerveja (risos)…

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Leia também:
– Uma manhã na cervejaria Wäls, em Belo Horizonte (aqui)
– Saiba como foi o segundo Beer Experience, em São Paulo (aqui)
– Wäls Witte: os mineiros seguiram a risca a tradição (aqui)
– Wäls Petroleum: uma verdadeira experiência alcoólica (aqui)
– Wäls Quadruppel, uma cerveja excepcional, por Mac (aqui)
– Ranking Pessoal -> Top 200 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 18, 2012   No Comments

Cinco fotos: Rio de Janeiro

Clique na imagem se quiser vê-la maior

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Sem título

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Imagine Peace

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Sem título

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Jesus

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Jardim Botânico

Veja mais imagens de cidades no link “cinco fotos” (aqui)

outubro 17, 2012   No Comments

Três cervejas da Anderson Valley

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Boonville é uma cidadezinha de pouco mais de mil habitantes que fica num vale (o Anderson Valley) a duas horas de São Francisco. Foi primeiramente habitada no século 17 por dezenas de tribos indígenas até a chegada dos europeus, que se apaixonaram pelo lugar. Corte para o século 20: com o boom do vinho da região desértica de Mendocino no meio dos anos 80, não demoraria para algum maluco pegar alguns barris (10, no caso) e destinar para a produção de cerveja. Nascia, em 1987, a Anderson Valley Brewery, que foi crescendo com o tempo até que, em 2010, o fundador, Ken Allen, decidiu se aposentar e vender a cervejaria – o que levou a Anderson Valley para vários cantos do planeta.

Em tempos de sustentabilidade, a Anderson Valley já ganhou dezenas de prêmios devido a seu método artesanal de produção. As cervejas orgânicas da casa não possuem conservantes artificiais e também não passam por processo de pasteurização. O malte e o lúpulo usados são doados para as fazendas da região, que o reutilizam na alimentação de seus animais, e até o fermento é reutilizado na fertilização das plantações. O transporte local dos barris é feito ou por meio de cavalos, ou por carro elétrico. A coisa toda não para: 768 painéis solares instalados em 2007 fornecem quase metade da energia elétrica utilizada na cervejaria e eles ainda utilizam energia eólica para oxigenação e revitalização dos lagos nos arredores da fábrica.

Primeira cerveja feita pela Anderson Valley (e responsável por levar o nome da casa além vila), a Boont Amber Ale é apaixonante. O aroma é deliciosamente caramelado com uma leve sugestão de tostado, biscoito e lúpulo. Este último é representado por três estilos (todos norte-americanos): Horizon, Northern Brewer e Liberty, cada um presente em uma fase distinta da produção. No paladar, os lúpulos fazem a cortesia, mas com uma dosagem leve de amargor, que junto aos maltes californianos remetem novamente a caramelo, biscoito e mel. Interessante: a primeira sensação é de uma IPA (devido ao primeiro toque na língua e ao aroma), mas assim que ela se aconchega encontramos uma pale ale que declara amor ao malte. Campeã.

A Hop Ottin’ India Pale Ale da vila também honra a tradição e, principalmente, os fãs de lúpulo. Porém, acalme-se: é tudo muito bem balanceado na IPA da Anderson Valley. O aroma esbanja lúpulos californianos, mas é possível também perceber a presença de malte de caramelo e notas cítricas que remetem a cascas de laranja (o site oficial cita bergamota) além de mel. No paladar, assim como na Boont Amber Ale, quem esperava uma cacetada de amargor encontra uma cerveja bastante equilibrada, com os lúpulos acariciando a alma e o malte ninando o coração – com uma leve lembrança de açúcar mascavo, que remete diretamente à rapadura. Os 7% de álcool não dão as caras em um excelente conjunto de uma belíssima IPA.

Fechando este primeiro lote, a Barney Flats Oatmeal Stout mantém o padrão de qualidade. No aroma, notas intensas de café, chocolate e caramelo, todos provenientes do malte torrado – além do lúpulo, discreto, mas presente. No paladar, no entanto, a Barney Flats não pega tão pesado no amargor como uma stout tradicional (provavelmente pela inserção da aveia no conjunto), sugerindo suavidade e, acredite, refrescância. Notas de café e chocolate amargo grudam no céu da boca com um rastro longo e, ao mesmo, seco, que pode conquistar aqueles que não são fãs das stouts clássicas (tanto quanto os fãs, que tem aqui uma cerveja diferente, mas deliciosa). Foi a primeira medalha de ouro da Anderson Valley, em 1990, e continua brilhando tendo ficado com a medalha de bronze no World Beer Cup 2010.

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Atualmente, a Anderson Valley produz 10 rótulos em Boonville, e praticamente todos estão sendo trazidos ao Brasil pela distribuidora Tarantino. As latinhas de 355 ml, como as da foto, costumam sair entre R$ 9 e R$ 11 (já encontrei mais barato e, também, mais caro) enquanto as garrafas de 330 ml variam entre R$ 13 e R$ 15. Há, ainda, duas versões em garrafas de 600 ml: Brother’s David Double e Brother’s David Triple, ambas na faixa dos R$ 29. É possível conhecer a cervejaria em Boonville. O pessoal prepara tours duas vezes ao dia (13h30 e 15h) com exceção de feriados e das terças e quartas nos meses de inverno. Eis uma boa pedida de um tour alcoólico para quem tiver de bobeira em São Francisco (e querer fugir do vinho). O vídeo abaixo é uma amostra.

Boont Amber Ale
– Produto: American Amber Ale
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 3,86/5

Hop Ottin’ India Pale Ale
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,82/5

Barney Flats Oatmeal Stout
– Produto: Oatmeal Stout
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 3,83/5

Leia mais:
– Top Cervejas: Cold 200, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 16, 2012   No Comments

Três cervejas paranaenses

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Tiago, o responsável pela cerveja bárbara Pagan, é fascinado pela história viking e por cervejas. A Pagan Strong Bitter foi a primeira cerveja comercializada da casa, e segue fielmente o estilo britânico. O aroma é suave e traz notas de malte de caramelo com a presença concentrada dos lúpulos ingleses (Target, Challenger e Kent Goldings), que dão um tom especial ao conjunto. O paladar é levíssimo, com notas de caramelo e mel unindo-se a um amargor suave que toca o céu da boca e acompanha charmosamente toda a experiência. Não é uma cerveja marcante, mas é bem saborosa – daquelas para ficar bebendo e bebendo.

A versão Porter da Pagan se mantém no nível da Strong Bitter, e talvez até avance um pouco. No aroma, café. E também… café. E um pouquinho de chocolate. O lúpulo usado aqui é o inglês fuggles, que confere ao conjunto um aroma e sabor adocicados, e mostra a personalidade do mestre-cervejeiro: a Pagan sugere leveza em dois estilos peculiares e, de certa forma, agressivos. No caso da Porter, o paladar é agradabilíssimo e deixa a impressão que a Pagan não quer impressionar de cara, mas conquistar pouco a pouco. Eles estão no caminho certo com estes dois ótimos rótulos.

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Vladimir Urban é um dos responsáveis pela Diabólica. Além da cerveja, ele também comanda um dos principais festivais de psychobilly do mundo, o Psycho Carnival, que acontece durante o carnaval em Curitiba com bandas do mundo inteiro. A Diabólica existe desde 2009 na versão IPA, e após um hiato na produção, retornou com força em 2012 (eu até achava que era a Way, de Curitiba, que estava produzido e distribuindo, mas a produção é própria da Diabólica com distribuição da Beer Maniacs).

Após os elogios merecidos à Diabólica IPA, surge agora a Pale Ale da casa, lançada oficialmente no Beer Experience – mas ainda em versão teste. Eles ainda estão mexendo na receita, e nem o rótulo deverá ser essa da foto, mas já é possível ter uma ideia: eles não pretendem carregar a mão no álcool (4,6% apenas), mas falta presença de lúpulo tanto no aroma quanto no paladar, que até traz algumas notas de caramelo e um amargor suave. Nessa primeira versão, a Pale Ale da Diabólica lembra mais uma Pilsen Premium, mas de onde saiu a IPA pode vir coisa muito boa. Vamos acompanhar.

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Fundada em 2009 em Araucária, cidade vizinha de Curitiba, a Wensky Beer leva na abreviação do sobrenome da família Wengrzinski o desejo por resgatar as raízes culturais polonesas na arte de fazer cerveja caseira. Atualmente, a cervejaria produz cinco rótulos que são vendidos em garrafas e também no pub da casa em Araucária: uma Pilsen tradicional (5%), uma Drewna Piwa Old Ale (9,5%), uma Vienna Lager (5,5%), uma Red Weyzen (6%) e uma Baltic Porter (7%). Na foto acima você vê as duas últimas – e são sobre elas que vamos conversar.

Bastante fiel ao estilo alemão, a ótima Red Weyzen capricha nos aromas suaves de banana e cravo (além da sugestão de maçã), com o malte levemente torrado marcando presença. No paladar, as notas de aroma se repetem com o lúpulo mais presente contrabalanceando o conjunto, que destaca um final marcante com um frutado interessante. A Baltic Porter, por sua vez, é caracterizada pela leveza. São 7% de graduação alcoólica que passa batido frente ao malte torrado, que marca o aroma junto a caramelo e ameixas. No paladar, a torrefação mostra a que veio, mas o amargor é bem mais suave se comparado a uma Porter britânica. Eis um bom cartão de entrada para o estilo.

Tanto as Pagan (que agora já estão como novo rótulo – se o site oficial estiver atualizado – e são vendidas em garrafas de 355 ml) quanto as Wensky Beer (600 ml) foram adquiridas no Clube do Malte: as primeiras vendidas ao preço de R$ 12,90; as duas da Wenksy saíram por R$ 9,90 cada. A Diabólica Pale Ale foi adquirida no Beer Experience ao preço de R$ 12 (a garrafa de 600 ml). Agora é ir atrás das outras Pagan e Wenksy: pela experiência dessas quatro garrafas acima há mais coisa boa no caminho.

Pagan Strong Bitter
– Produto: Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 2,63/5

Pagan Porter
– Produto: Porter
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 2,71/5

Diabólica Pale Ale
– Produto: Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,6%
– Nota: 1,97/5

Wensky Red Weyzen
– Produto: German Weizen
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,21/5

Wensky Baltic Porter
– Produto: Porter
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,17/5

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Leia mais:
– Saiba como foram as duas edições do Beer Experience (aqui)
– Diabólica, uma IPA de responsa como manda o figurino (aqui)
– Top Cervejas: Cold 200, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 12, 2012   No Comments