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Festival Casarão, Porto Velho: Dia 4

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A quarta e última noite do Festival Casarão tem sido idealizada pela produção, nos últimos anos, como a noite eclética do evento. Realizada na praça em frente ao Mercado Cultural, na área central da antiga Porto Velho, de forma gratuita, a escalação de oito atrações ia do punk ao heavy metal, do regional ao pop rock de diversas regiões do país e fez pogar do metaleiro tradicional de camisa preta e coturno ao beiradeiro das margens do Rio Madeira num interessante desenho de diversidade.

A novata Ilusion Death (do não tão novato e ótimo vocalista Mario Henrique, que nos anteriores havia se apresentado com outras bandas no Casarão) estreava ao vivo, e mostrou competência com um death metal seguro e bem trabalhado. O mesmo não pode ser dito d’Os Malcriados, uma mistura de punk e bagunça que honra o estilo (não deve ser tão diferente dos Sex Pistols em 1976) e parece divertir mais quem está no palco do que aqueles que estão na plateia. Um descompromisso corajoso, mas que funciona melhor em conceito do que ao vivo.

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Com 12 anos de barulho nas costas, Os Coveiros mostraram influências de metal e hardcore destacando covers de Ratos de Porão e Sepultura. O carisma do vocalista Giovanni Marini (professor, mestre e geógrafo, que dá aulas na Universidade Federal de Rondonia e é admirado pelos alunos) é contagiante. Ali pelo meio, Giovanni levou no gogó a obrigatória “Candidato Caô Caô”, sucesso com Bezerra da Silva, mandando um foda-se para os políticos ao mesmo tempo em que agradecia do pessoal do metal e do skate até a turma da Faculdade de Arquitetura. Se houvessem mais professores assim…

O metal revivalista do Bedroyt mostrou virtuose e deve ter agradado aos fãs do estilo, mas foi um bom momento para buscar a interessante mistura de sal, limonada, gelo e cerveja, chamada carinhosamente de Cerveja Suja pelos locais. Quem fez a passagem do bastão do metal para o rock foram os mineiros da Transmissor, e não poderia ter sido melhor. Alternando canções de seus dois álbuns (com versões emocionais das belas “Bonina” e “Dessa Vez”, do álbum “Nacional”, de 2011), o quinteto fez uma apresentação memorável, que conquistou de tal forma o público que uma fila imensa se fez na beira do palco para adquirir os discos dos mineiros. O grande show do festival.

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O pop esquizofrênico da Tangerines and Elephants mostra que Curitiba continua tendo uma das cenas mais prolificas e criativas do país. Com uma sonoridade interessante, que num primeiro momento lembra o trabalho do Ween, o trio teve problemas de som, o que vitimou a espontaneidade, mas serviu para apresentar o grupo aos rondonienses naquele que era o primeiro show da Tangerines and Elephants fora de Curitiba. O som do trio ganha personalidade no vocal esganiçado (e retrabalhado com pedais) e na guitarra freak de Argos, e pode conquistar de indies de São Paulo até Londres e Nova York.

Forte concorrente a produto de exportação de Porto Velho, o Beradalia mostrou um som interessante que une influências regionais com Nação Zumbi, O Rappa e Planet Hemp. Foi o nome que mais empolgou a praça, e o hit “Arrudeia” fez todo mundo pular colocando no bolso a roda de pogo dos metaleiros. Fechando o evento, às 3 da manhã, Wado sofreu com o adiantado da hora, mas cumpriu o roteiro com capricho abrindo com “Tarja Preta” e encerrando com um trio de funks cariocas (“Reforma Agraria do Ar”, “11 de Setembro” e “Teta”) que fez os poucos presentes irem até o chão. Ausente do set list, “Melhor” surgiu improvisada no bis, e colocou a tampa na edição 2012 do Casarão.

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Após quatro dias de evento e 21 shows, o saldo do Festival Casarão é bastante positivo. O formato, que une gente do mainstream a muitos nomes novatos, ajuda a apresentar estes novos grupos para um público distante das novidades, mostrando que, apesar da programação das rádios insistirem em provar o contrário, há uma boa cena independente sobrevivendo a trancos e barrancos no Brasil. Se por um lado, os grandes shows da Transmissor e do Cachorro Grande foram os os pontos altos do evento, boa parte do público irá reverberar o show catártico (e de arranjos duvidosos) da Pouca Vogal, mas o ponto a ser levado em conta é que esse mesmo público foi exposto aos bons shows de Os Descordantes, Sub Pop e Versalle numa das melhores noites do festival.

Há, claro, coisas que podem ser melhoradas no festival, como, por exemplo, a falta de uma identidade visual que unisse os três locais de shows (Cantina do Porto, Move Light e Praça do Mercado Cultural). É bem provável que muitos presentes não soubessem que estavam em uma noite do Festival Casarão devido à falta de faixas (nos três locais) que apresentassem o evento ao público neófito. Com 13 anos de trajetória, o Casarão precisa demonstrar o orgulho que tem de sua própria história, e fixar o nome na mente dos rondonienses, porque um festival deve ser maior que esta ou aquela atração, e 13 anos consecutivos (apoiando a boa música) devem ser valorizados. Que venha 2013.

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Fotos por Marcelo Costa

Leia também:
– Cobertura completa do Festival Casarão 2012, por Mac (aqui)
– Três perguntas para Vinicius Lemos, do Festival Casarão (aqui)
– Os destaques do Festival Casarão 2010, por Tiago Agostini (aqui)

O Scream & Yell viajou para Porto Velho á convite da produção do Festival Casarão. Queria agradecer ao carinho e atenção da equipe do festival, especialmente a Dandara, Maria Luísa, Duana, Tainá, Douglas e Vinicius, e a compania prestigiosa do amigo Marcos Bragatto, que cobriu o evento (e me acompanhou nas cervejas e nas correrias – literalmente) para o Rock em Geral

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