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Três Filmes: Cinema, Cerveja e Política

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“Um Retrato de Woody Allen” (Wild Man Blues, 1998)
Woody Allen costuma rejeitar comparações com seus personagens, mas basta colocar Jerry, personagem que ele encena em “Para Roma com Amor” (que rememora muitos outros), ao lado do Woody Allen deste documentário para percebermos que a linha que os separa é praticamente invisível. E isso é um dos vários pontos interessantes de “Wild Man Blues”, filme de Barbara Kopple (lançado agora no Brasil pela Flashstar – com uma leva de outros filmes do diretor) que flagra a turnê europeia da banda de jazz de Woody Allen em 1997, passando por 18 cidades em 23 dias: “É típico de mim”, comenta ele em certo momento. “Eu sonhava com essa turnê, e agora que estou nela não vejo a hora de acabar”. O humor afiado do diretor avança sobre prefeitos, fãs e paparazzos, mas o retrato que Kopple faz do cineasta é tão honesto que comove. Filmado logo após o longo processo que Mia Farrow e Woody Allen enfrentaram pela guarda dos filhos, e da união do diretor com a filha adotiva de Mia, Soo-Yi, “Wild Man Blues” expande seu território avançando além da banda (sem perder a boa música de foco) para o novo casamento e até para a relação do cineasta com sua família. Nettie, a mãe, responde na frente da nora que preferia uma filha judia a uma oriental enquanto o pai, já bastante idoso, parece ainda não aceitar a carreira escolhida pelo filho, passagens que mitificam (e explicam) um dos maiores cineastas vivos.

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 “Cerveja Falada” (2010)
Em um momento em que a produção de cerveja artesanal começa a despontar em vários cantos do País, este documentário de 15 minutos dirigido por Guto Lima, Luiz Henrique Cudo e Demétrio Panarotto, da produtora Exato Segundo, resgata com méritos um personagem mítico que ficou a frente de uma das mais antigas cervejarias artesanais do país. Rupprecht Loeffler viveu boa parte de seus 93 anos dedicando-se a produção de cerveja, e é apontado por muitos como um dos mais antigos mestres cervejeiros do país, tocando a cervejaria Canoinhense, de Canoinhas, em Santa Catarina, por mais de cinco gerações (até seu falecimento, em fevereiro de 2011). Fundada em 1908 pelo pai de Rupprecht, a Canoinhense produz cerveja e chope artesanais com receita que segue a Lei da Pureza Alemã. Os tonéis de carvalho foram trazidos da Alemanha há mais de um século. “Meu pai trouxe a fórmula de Munique”, conta Rupprecht, que diz que, na falta de leite, a “piazada” tomava cerveja quando era criança. O mestre-cervejeiro lembra como estocou lúpulo na Segunda Guerra Mundial e conta outras histórias divertidas em um registro carinhoso que já recebeu vários prêmios, e está disponível para download no site Filmes Que Voam (aqui). Ainda assim vale ir atrás do DVD, que traz o ótimo média metragem “Histórias da Cerveja em Santa Catarina”. Bate na porta da Exato Segundo.

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“Ao Sul da Fronteira” (South of The Border, 2009)
Disposto a mostrar ao mundo – e especialmente aos norte-americanos – a verdadeira América Latina (já que nós aqui debaixo conhecemos bem quase todas as histórias presentes no filme), Oliver Stone entrevistou Evo Morales (Bolívia), Fernando Lugo (Paraguai), Néstor e Cristina Kirchner (Argentina), Rafael Correa (Equador), Raúl Castro (Cuba) e Lula buscando mostrar a força de um continente que quer olhar os EUA de igual para igual. Em “Ao Sul da Fronteira”, o diretor busca suavizar a imagem difícil de Hugo Chávez, temido presidente da Venezuela, e tropeça em lacunas e na falta do traquejo dramatúrgico e cômico que transformam filmes de Michael Moore em epopeias mundiais, mas, ainda assim, soa educativo ao mostrar como a mídia norte-americana transforma países que dificultam as relações com os EUA em grandes vilões. “Obama trouxe da reunião com os países latinos um aperto de mão e uma camiseta do Che”, reclama um ancora, que pinta o presidente venezuelano como um monstro. “É tudo por petróleo”, retruca Chávez, que surge abraçando criancinhas, andando de bicicleta (Stone faltou às aulas de populismo barato) e, comicamente, perguntando aos membros da ONU se eles sentiam o cheiro de enxofre no palanque após um discurso de Bush, o demônio. O grande mérito do filme (que está inteiro no Youtube) é explorar com destreza o tema “manipulação da mídia”. A verdade é simples (para TODOS os lados): duvide de tudo que você vê na TV e lê em jornais. Tudo. Se não existe mais bobo no futebol (e existe), a política ainda está com as salas cheias. Uma boa dose de ceticismo faz bem para a razão, mas, se preciso for, viva a América… do Sul.

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