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Dez perguntas para Marisa Monte

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por Marcelo Costa, especial para o Portal Terra

Marisa Monte está de volta após cinco anos sem um álbum de inéditas (o intervalo anterior, entre “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor” e os dois discos lançados em 2006 – “Infinito Particular” e “Universo ao Meu Redor” – havia sido de seis anos), o que não quer dizer que a cantora deixou de trabalhar com música neste tempo. “Fiz uma grande turnê, um DVD com registro de um ano de trabalho e produzi o filme “O Mistério do Samba””, enumera a cantora em entrevista exclusiva ao Terra. “Depois, entrei num momento de silêncio”, completa.

O mundo mudou um bocado nestes cinco anos em que Marisa ficou sem gravar. Novos artistas surgiram (estrelas pop atuais como, por exemplo, Restart, Luan Santana e Paula Fernandes não existiam para a grande massa em 2006), o modo de comercialização de música tomou novos rumos (“O Que Você Quer Saber de Verdade” foi lançado com exclusividade no Sonora – ouça aqui) e a web ganhou tamanha força na divulgação de novos discos que não só Marisa como Chico Buarque gravaram vídeos especiais para a nova mídia estreitando a distância com o público.

Em um momento que boa parte da nova cena músical brasileira usa o samba como ponto de partida para o futuro, algo que Marisa Monte havia resgatado com inteligência em dois álbuns clássicos de sua discografia do começo dos anos 90 (“Mais”, de 1991, e principalmente “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”, de 1994), a cantora deixa de lado as invenções e lança um álbum feliz e reverente ao passado.

Há baladas (“Depois”, com um órgão que dá à melodia uma tonalidade sessentista; “Amar Alguém”, faixa delicada com destaque para piano e sanfona; “Aquela Velha Canção”, com o arranjo de cordas valorizando o tom brega da composição), forrós (“Hoje Eu Não Saio Não” e “O Que Se Quer”, a última uma parceria de Marisa com Rodrigo Amarante, que divide os vocais com a cantora) e latinidade (“Ainda Bem”, primeira faixa de trabalho; “Lencinho Querido”, tango gravado por Dalva de Oliveira em 1956). “Eu conheci a música quando era adolescente, ouvindo os discos da minha avó”, conta Marisa sobre o tango, que ganhou arranjo de Gustavo Mozzi, da trupe argentina Cafe de los Maestros.

O repertório de Jorge Ben voltou a inspirar a cantora. “Eu adoro “Descalço no Parque”. É uma música que eu tocava nos quartos de hotel, nos camarins e até em alguns shows. Normalmente é assim que elas param nos discos”, explica Marisa, que já havia gravado anteriormente outras duas canções do compositor, “Balança Pema” (em “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”) e “Cinco Minutos” (em “Memória, Crônicas e Declarações de Amor”).

Além de várias parcerias com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, “O Que Você Quer Saber de Verdade” conta com a participação de integrantes da Nação Zumbi (Dengue, Lúcio Maia e Pupillo), e, ainda, Gustavo Santaolalla, Daniel Jobim, Jesse Harris, Money Mark (do grupo Beastie Boys) e do acordeonista Waldonys. E Dadi – baixista dos Novos Baianos, d’A Cor do Som e do Barão Vermelho além de músico de apoio dos Tribalistas, Rita Lee, Caetano Veloso, Jorge Benjor, Moraes Moreira e muitos outros – que assina a produção do álbum junto com Marisa Monte.

Para falar um pouco sobre o novo álbum, escolha de repertório, versões e a nova cena música brasileira, Marisa Monte respondeu por e-mail a 10 perguntas. Confira abaixo o bate papo virtual.

Cinco anos sem lançar um novo disco é um bom tempo. Foi algo planejado ou o tempo foi passando, passando, passando, outros projetos foram surgindo (como o seu filme) e quando você se deu conta já tinha se passado cinco anos?
Foi um tempo natural… após o lançamento dos últimos cds, fiz uma grande turnê, um DVD com registro de um ano de trabalho e produzi o filme “O Mistério do Samba”, sobre a Velha Guarda. Depois, entrei num momento de silêncio. Eu precisava desse tempo de vida para encontrar os parceiros, assistir a shows dos outros e alimentar as relações que resultaram nesse novo trabalho.

“O Que Você Quer Saber de Verdade” será lançado simultaneamente em 30 países. E a turnê? Como está o planejamento? Será tão extensa quanto a “Infinito ao Meu Redor”?
Eu estou muito mergulhada no lançamento do disco nesse momento, então estou deixando pra pensar em show um pouco mais para frente. A gente ainda não tem nada marcado.

O disco novo traz 14 canções. Você já entra em estúdio com o tracking list do álbum definido, ou leva algumas coisas a mais no bolso caso determinado arranjo não funcione?
Eu geralmente gravo algumas a mais, mas nem todas vão até as mixagens. Naturalmente, acontece um equilíbrio entre as canções e algumas ficam pelo caminho.

“Descalço no Parque” é a terceira música de Jorge Ben que você regrava em um disco (as outras foram “Balança Pema” e “Cinco Minutos”). Imagino que escolher uma música dele seja algo extremamente difícil, pois há tanta coisa boa. Como se deu a escolha?
Eu adoro “Descalço no Parque”. É uma música que eu tocava nos quartos de hotel, nos camarins e até em alguns shows. Normalmente é assim que elas param nos discos.

E “Lencinho Querido (El Pañuelito)”? Dalva de Oliveira é um mito da música brasileira, mas pouca gente fala dela hoje em dia.
Eu conheci a música quando era adolescente, ouvindo os discos da minha avó. Na época, era muito difícil ter acesso a essas músicas, mas eu sempre gostei de pesquisar o repertório da música tradicional brasileira.

Essa versão foi gravada em Buenos Aires? Como foi o clima?
Fiz uma gravação das bases aqui em casa, só eu e o Dadi. Mandamos para o maestro Gustavo Mozzi, do Cafe de los Maestros, que fez o arranjo e me mandou de volta a gravação do ensaio deles, que era lindo. Quando encontrei o Gustavo Santolalla, em Los Angeles, falei pra ele que eu queria que a música fizesse parte do novo disco. Ele nos enviou o multitrack da sessão, nós mixamos, e é essa gravação que está no disco.

Amar alguém só pode fazer bem?
Sim, o amor é uma forma de inteligência.

Como se deu a aproximação com Rodrigo Amarante? Você ouvia/ouve Los Hermanos?
Sim, eu ouço Los Hermanos. Encontrei o Rodrigo Amarante em Los Angeles, quando a gente gravou uma música pra o “Red Hot + Rio 2”. Nunca havíamos feito nada juntos, mas existia uma vontade recíproca… Começamos a fazer O que se quer nesse encontro em LA e terminamos algum tempo depois no Rio.

E com o pessoal da Nação Zumbi, que participa de “Ainda Bem”, como foi o contato? Eles também estão para lançar material novo.
Eles são incríveis, sou muito fã deles. Eu já tinha gravado com o Pupillo antes, que é um sonho de músico. Eu estava procurando um som de banda e eles tocam juntos há muito tempo, têm uma linguagem própria e uma sonoridade única. Achei que eles poderiam trazer isto para as canções.

Há uma nova geração independente (já nem tão nova assim) revalorizando o samba e a MPB, algo que você já fazia em “Mais” (1991) e “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão” (1994). Você já compôs com Lucas Santanna, por exemplo, mas chegou a ouvir outros artistas? Gente como Romulo Fróes, Wado, Cidadão Instigado, Junio Barreto, Barbara Eugênia…
Marisa Monte: Sim, conheço o trabalho do Romulo há um bom tempo. O Arnaldo me apresentou há alguns anos, gosto muito. Também conheço bem o último CD do Wado e gosto muito da onda do Catatau, do Cidadão Instigado… Arnaldo também já me falou da Bárbara Eugênia, estou curiosa. Junio Barreto ainda não escutei…

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