Festival Se Rasgum VI, Belém, Dia 3
O tucupi é um caldo amarelo extraído da raiz da mandioca brava, que é descascada, ralada e espremida. Após extraído, o molho “descansa” para que o amido (goma) se separe do líquido (tucupi). Inicialmente venenoso devido à presença do ácido cianídrico, o líquido é cozido (o que elimina o veneno), por horas, podendo, então, ser usado como molho na culinária. Tradicionalmente come-se Pato no Tucupi, mas arriscamos uma versão mais leve, com peixe Dourada (cozido com folha de jambu e acompanhado de macaxeira, arroz e purê), bastante apetitoso. Devidamente introduzidos na cultura culinária paraense.
O domingo, último dia do Se Rasgum, começou com uma viagem até a Ilha de Mosqueiro, ligada a Belém por uma ponte de 1.457 metros, que atravessa o braço sul do enorme rio Amazonas. Dia de praia, rede, cerveja, tucupi e, novamente, sorvete da Cairu, descanso necessário para cabeça, tronco e pernas se revezarem novamente à noite entre o Salão B e o Hangar 1. A programação foi aberta pelos metal do Antcorpus, seguiu-se com Vinil Laranja e com Fusile, banda mineira que vem chamando a atenção com sua mistura nervosa e pesada de ska, ritmos latinos e punk rock. O disco “The Coconut Revolution” está para download no site oficial (http://www.fusile.com.br/).
O Arraial do Pavulagem, que arrasta multidão pelas ruas de Belém em datas festivas com sua mistura de música folclórica, carimbó, siriá e toadas de boi, fez um show extremamente poético no palco principal do festival. Com um integrante comandando o agiito na pista, as danças coreografadas do grupo formaram um painel delicado e bonito na noite paraense.
Mas depois da delicadeza, o esporro: aos 87 anos, Mestre Laurentino comandou o barulho escudado pelos Cascudos (Camilo Royale, João Sincera, Elder Effe e Junhão). Seja tocando gaita, pandeiro ou apenas cantando, Laurentino passa uma imagem de Chuck Berry paraense, rock and roll na alma e muita simpatia. “Lourinha Americana” (com o palco lotado de gente estilo Iggy Pop) e principalmente “Forro Maluco” foram os grandes momentos da noite.
De uma lenda para outra lenda: maior nome da guitarrada paraense, Mestre Vieira recebeu antigos companheiros de banda, a presença da cantora Iva Rothe e do guitarrista João Erbetta (Los Piratas), que mantiveram o suingue e o balanço maneiro em alta com pequenas rodas de dança se espalhando pela pista do Hangar 1. B Negão e os Seletores de Frequencia, que substituíram Mallu Magalhães no line-up, fizeram um show barulhento e conciso.
Já eram mais de duas da manhã de segunda-feira quando Marcelo Jeneci pisou no palco do Se Rasgum, aguardado ansiosamente por uma plateia apaixonada, que cantava todas as letras, gritava quando o músico se alternava de um instrumento ao outro, e presenciou belíssimas execuções de “Feito Pra Acabar”, “Felicidade”, “Longe” e “Amado” (originalmente cantada por Vanessa da Mata). No fim, uma fila extensa se formou par abraçar o músico, que parece (merecidamente) cada vez mais mainstream e menos independente.
Com 22 shows em três dias de festa, a sexta edição do Se Rasgum marca a passagem do festival para um nível altamente desejado, aquele em que não só os atentos a música independente marcam presença nos shows, mas sim o público em geral, que foi ao Hangar para ver notadamente Leoni, Lobão e Jeneci, e acabou saindo apaixonado por Bidê ou Balde, El Cuarteto de Nos e Fusile, Totonho e os Cabras, entre outros.
De curadoria esperta e produção cuidadosa, o Se Rasgum segue um modelo que tem tudo para dar certo: escalar um grande artista para chamar público, que será apresentado a grupos que dificilmente chegariam a eles. Nestes tempos sombrios de programação de rádio e TV viciadas, o festival cumpre com louvor a função de apresentar o novo ao público. Além de romper barreiras: a junção da música folclórica, guitarrada, tecnobrega, rock, indie, metal, punk e samba na programação mostra uma saudável variedade musical que tem que ser festejada. Que venha 2012.
Foto 1: Marcelo Costa
Foto 2 e 5: Taiana Laiun
Foto 3 e 4: Caio Brito (Maveka)
Veja mais fotos do Se Rasgum no Flickr oficial (aqui)
Leia também:
– Tudo sobre o Festival Se Rasgum 2011, por Marcelo Costa (aqui)
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