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Posts from — novembro 2011

A politização da arte para fins totalitários

“O período posterior aos meados da década de 30 simbolizou a fase mais trágica e distorcida da música no século XX: a politização da arte para fins totalitários. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, ditadores haviam manipulado o ressentimento popular e o espetáculo da mídia para tomar o controle de metade da Europa. Hitler na Alemanha e na Áustria, Mussolini na Itália, Horthy na Hungria e Franco na Espanha. Na União Soviética, Stálin transformou a ditadura revolucionária de Lênin em uma máquina onipotente, apelando para o culto à personalidade, um rígido controle de imprensa e um exército de policiais secretos. Nos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt ganhava poderes executivos extraordinários para combater o flagelo da Depressão, levando os conservadores a temer uma erosão do processo constitucional, em especial quando programas artísticos federais eram direcionados a propósitos políticos. Na Alemanha, Hitler forjou a mais profana aliança entre arte e política que o mundo já vira.

Para qualquer um que acreditasse haver alguma bondade espiritual inerente aos artistas de grande talento, a era de Stálin e de Hitler foi uma decepção. Não apenas os compositores deixaram de se contrapor em conjunto ao totalitarismo, como muitos o acolheram de bom grado. Na liberdade capitalista dos anos 20, eles lutaram contra a cultura de massa realçada pela tecnologia, que introduziu uma nova aristocracia de estrelas de cinema, músicos pop e celebridades sem portfólio. Há muito dependentes da generosidade da Igreja, das classes altas e da alta burguesia, os compositores subitamente se encontraram na era do jazz sem ter como se sustentar. Alguns acreditaram no sonho de um cavaleiro político em armadura brilhante que viesse em seu auxilio. Os ditadores cumpriram esse papel à perfeição. Stálin e Hitler imitaram os monarcas amantes da música na Antiguidade, garantindo o patrocínio do Estado centralizado. Mas eram homens de outro tipo. Com origem nas margens sociais, eles acreditavam ser a perfeita personificação da vontade e dos gostos populares. Ao mesmo tempo, viam-se como artistas e intelectuais, agentes da vanguarda da história. Adeptos da manipulação das fraquezas da mente criativa, ofereciam a sedução do poder com uma mão e o temor da destruição com a outra. Um a um, os artistas foram se perfilando. (…) Categorias simplistas não fazem sentido nos territórios sombrios das ditaduras. Esses compositores não eram nem santos nem demônios; eram atores falhos em um palco inclinado.”

Alex Ross em “O Resto é Ruído” (Companhia das Letras)

Leia também:
– Sobre Scorsese e filmes que salvam almas, por Mac (aqui)
– Keith Richards: Gostar ás vezes é melhor do que amar (aqui)
– “O minimalismo e o rock and roll”, trecho de “O Resto é Ruído” (aqui)

novembro 30, 2011   No Comments

Palestra no II CoMúsica, em Maceió

novembro 26, 2011   No Comments

Dez perguntas para Marisa Monte

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por Marcelo Costa, especial para o Portal Terra

Marisa Monte está de volta após cinco anos sem um álbum de inéditas (o intervalo anterior, entre “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor” e os dois discos lançados em 2006 – “Infinito Particular” e “Universo ao Meu Redor” – havia sido de seis anos), o que não quer dizer que a cantora deixou de trabalhar com música neste tempo. “Fiz uma grande turnê, um DVD com registro de um ano de trabalho e produzi o filme “O Mistério do Samba””, enumera a cantora em entrevista exclusiva ao Terra. “Depois, entrei num momento de silêncio”, completa.

O mundo mudou um bocado nestes cinco anos em que Marisa ficou sem gravar. Novos artistas surgiram (estrelas pop atuais como, por exemplo, Restart, Luan Santana e Paula Fernandes não existiam para a grande massa em 2006), o modo de comercialização de música tomou novos rumos (“O Que Você Quer Saber de Verdade” foi lançado com exclusividade no Sonora – ouça aqui) e a web ganhou tamanha força na divulgação de novos discos que não só Marisa como Chico Buarque gravaram vídeos especiais para a nova mídia estreitando a distância com o público.

Em um momento que boa parte da nova cena músical brasileira usa o samba como ponto de partida para o futuro, algo que Marisa Monte havia resgatado com inteligência em dois álbuns clássicos de sua discografia do começo dos anos 90 (“Mais”, de 1991, e principalmente “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”, de 1994), a cantora deixa de lado as invenções e lança um álbum feliz e reverente ao passado.

Há baladas (“Depois”, com um órgão que dá à melodia uma tonalidade sessentista; “Amar Alguém”, faixa delicada com destaque para piano e sanfona; “Aquela Velha Canção”, com o arranjo de cordas valorizando o tom brega da composição), forrós (“Hoje Eu Não Saio Não” e “O Que Se Quer”, a última uma parceria de Marisa com Rodrigo Amarante, que divide os vocais com a cantora) e latinidade (“Ainda Bem”, primeira faixa de trabalho; “Lencinho Querido”, tango gravado por Dalva de Oliveira em 1956). “Eu conheci a música quando era adolescente, ouvindo os discos da minha avó”, conta Marisa sobre o tango, que ganhou arranjo de Gustavo Mozzi, da trupe argentina Cafe de los Maestros.

O repertório de Jorge Ben voltou a inspirar a cantora. “Eu adoro “Descalço no Parque”. É uma música que eu tocava nos quartos de hotel, nos camarins e até em alguns shows. Normalmente é assim que elas param nos discos”, explica Marisa, que já havia gravado anteriormente outras duas canções do compositor, “Balança Pema” (em “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”) e “Cinco Minutos” (em “Memória, Crônicas e Declarações de Amor”).

Além de várias parcerias com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, “O Que Você Quer Saber de Verdade” conta com a participação de integrantes da Nação Zumbi (Dengue, Lúcio Maia e Pupillo), e, ainda, Gustavo Santaolalla, Daniel Jobim, Jesse Harris, Money Mark (do grupo Beastie Boys) e do acordeonista Waldonys. E Dadi – baixista dos Novos Baianos, d’A Cor do Som e do Barão Vermelho além de músico de apoio dos Tribalistas, Rita Lee, Caetano Veloso, Jorge Benjor, Moraes Moreira e muitos outros – que assina a produção do álbum junto com Marisa Monte.

Para falar um pouco sobre o novo álbum, escolha de repertório, versões e a nova cena música brasileira, Marisa Monte respondeu por e-mail a 10 perguntas. Confira abaixo o bate papo virtual.

Cinco anos sem lançar um novo disco é um bom tempo. Foi algo planejado ou o tempo foi passando, passando, passando, outros projetos foram surgindo (como o seu filme) e quando você se deu conta já tinha se passado cinco anos?
Foi um tempo natural… após o lançamento dos últimos cds, fiz uma grande turnê, um DVD com registro de um ano de trabalho e produzi o filme “O Mistério do Samba”, sobre a Velha Guarda. Depois, entrei num momento de silêncio. Eu precisava desse tempo de vida para encontrar os parceiros, assistir a shows dos outros e alimentar as relações que resultaram nesse novo trabalho.

“O Que Você Quer Saber de Verdade” será lançado simultaneamente em 30 países. E a turnê? Como está o planejamento? Será tão extensa quanto a “Infinito ao Meu Redor”?
Eu estou muito mergulhada no lançamento do disco nesse momento, então estou deixando pra pensar em show um pouco mais para frente. A gente ainda não tem nada marcado.

O disco novo traz 14 canções. Você já entra em estúdio com o tracking list do álbum definido, ou leva algumas coisas a mais no bolso caso determinado arranjo não funcione?
Eu geralmente gravo algumas a mais, mas nem todas vão até as mixagens. Naturalmente, acontece um equilíbrio entre as canções e algumas ficam pelo caminho.

“Descalço no Parque” é a terceira música de Jorge Ben que você regrava em um disco (as outras foram “Balança Pema” e “Cinco Minutos”). Imagino que escolher uma música dele seja algo extremamente difícil, pois há tanta coisa boa. Como se deu a escolha?
Eu adoro “Descalço no Parque”. É uma música que eu tocava nos quartos de hotel, nos camarins e até em alguns shows. Normalmente é assim que elas param nos discos.

E “Lencinho Querido (El Pañuelito)”? Dalva de Oliveira é um mito da música brasileira, mas pouca gente fala dela hoje em dia.
Eu conheci a música quando era adolescente, ouvindo os discos da minha avó. Na época, era muito difícil ter acesso a essas músicas, mas eu sempre gostei de pesquisar o repertório da música tradicional brasileira.

Essa versão foi gravada em Buenos Aires? Como foi o clima?
Fiz uma gravação das bases aqui em casa, só eu e o Dadi. Mandamos para o maestro Gustavo Mozzi, do Cafe de los Maestros, que fez o arranjo e me mandou de volta a gravação do ensaio deles, que era lindo. Quando encontrei o Gustavo Santolalla, em Los Angeles, falei pra ele que eu queria que a música fizesse parte do novo disco. Ele nos enviou o multitrack da sessão, nós mixamos, e é essa gravação que está no disco.

Amar alguém só pode fazer bem?
Sim, o amor é uma forma de inteligência.

Como se deu a aproximação com Rodrigo Amarante? Você ouvia/ouve Los Hermanos?
Sim, eu ouço Los Hermanos. Encontrei o Rodrigo Amarante em Los Angeles, quando a gente gravou uma música pra o “Red Hot + Rio 2”. Nunca havíamos feito nada juntos, mas existia uma vontade recíproca… Começamos a fazer O que se quer nesse encontro em LA e terminamos algum tempo depois no Rio.

E com o pessoal da Nação Zumbi, que participa de “Ainda Bem”, como foi o contato? Eles também estão para lançar material novo.
Eles são incríveis, sou muito fã deles. Eu já tinha gravado com o Pupillo antes, que é um sonho de músico. Eu estava procurando um som de banda e eles tocam juntos há muito tempo, têm uma linguagem própria e uma sonoridade única. Achei que eles poderiam trazer isto para as canções.

Há uma nova geração independente (já nem tão nova assim) revalorizando o samba e a MPB, algo que você já fazia em “Mais” (1991) e “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão” (1994). Você já compôs com Lucas Santanna, por exemplo, mas chegou a ouvir outros artistas? Gente como Romulo Fróes, Wado, Cidadão Instigado, Junio Barreto, Barbara Eugênia…
Marisa Monte: Sim, conheço o trabalho do Romulo há um bom tempo. O Arnaldo me apresentou há alguns anos, gosto muito. Também conheço bem o último CD do Wado e gosto muito da onda do Catatau, do Cidadão Instigado… Arnaldo também já me falou da Bárbara Eugênia, estou curiosa. Junio Barreto ainda não escutei…

novembro 25, 2011   No Comments

Top 5 – Festival Se Rasgum, Belém, 2011

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Adriano Costa (Coisa Pop)
01) Bidê ou Balde
02) Lobão
03) Laurentino e os Cascudos
04) DeFalla
05) Gang do Eletro

Iuri Freiberger (Produtor)
01) B Negão e os Seletores de Frequências
02) Marcelo Jeneci
03) El Cuarteto de Nos
04) Gang do Eletro
05) Maquine

Jarmeson de Lima (Coquetel Molotov)
01) Gang do Eletro
02) Marcelo Jeneci
03) Mestre Vieira
04) Totonho e os Cabra
05) Bidê ou Balde

José Flávio Júnior (Revista Bravo)
01) Gang do Eletro
02) Mestre Vieira
03) Marcelo Jeneci
04) Lobão
05) B Negão e os Seletores de Frequências

Marcelo Costa (Scream & Yell)
01) Gang do Eletro
02) Laurentino e os Cascudos
03) DeFalla
04) Marcelo Jeneci
05) Mestre Vieira

Ricardo Moraes (Natura Musical)
01) Gang do Eletro
02) Marcelo Jeneci
03) El Cuarteto de Nos
04) Arraial do Pavulagem
05) Mestre Vieira

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Leia também:
– Tudo sobre o Festival Se Rasgum 2011, por Marcelo Costa (aqui)

novembro 21, 2011   No Comments

Festival Se Rasgum VI, Belém, Dia 3

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 O tucupi é um caldo amarelo extraído da raiz da mandioca brava, que é descascada, ralada e espremida. Após extraído, o molho “descansa” para que o amido (goma) se separe do líquido (tucupi). Inicialmente venenoso devido à presença do ácido cianídrico, o líquido é cozido (o que elimina o veneno), por horas, podendo, então, ser usado como molho na culinária. Tradicionalmente come-se Pato no Tucupi, mas arriscamos uma versão mais leve, com peixe Dourada (cozido com folha de jambu e acompanhado de macaxeira, arroz e purê), bastante apetitoso. Devidamente introduzidos na cultura culinária paraense.

O domingo, último dia do Se Rasgum, começou com uma viagem até a Ilha de Mosqueiro, ligada a Belém por uma ponte de 1.457 metros, que atravessa o braço sul do enorme rio Amazonas. Dia de praia, rede, cerveja, tucupi e, novamente, sorvete da Cairu, descanso necessário para cabeça, tronco e pernas se revezarem novamente à noite entre o Salão B e o Hangar 1. A programação foi aberta pelos metal do Antcorpus, seguiu-se com Vinil Laranja e com Fusile, banda mineira que vem chamando a atenção com sua mistura nervosa e pesada de ska, ritmos latinos e punk rock. O disco “The Coconut Revolution” está para download no site oficial (http://www.fusile.com.br/).

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O Arraial do Pavulagem, que arrasta multidão pelas ruas de Belém em datas festivas com sua mistura de música folclórica, carimbó, siriá e toadas de boi, fez um show extremamente poético no palco principal do festival. Com um integrante comandando o agiito na pista, as danças coreografadas do grupo formaram um painel delicado e bonito na noite paraense.

Mas depois da delicadeza, o esporro: aos 87 anos, Mestre Laurentino comandou o barulho escudado pelos Cascudos (Camilo Royale, João Sincera, Elder Effe e Junhão). Seja tocando gaita, pandeiro ou apenas cantando, Laurentino passa uma imagem de Chuck Berry paraense, rock and roll na alma e muita simpatia. “Lourinha Americana” (com o palco lotado de gente estilo Iggy Pop) e principalmente “Forro Maluco” foram os grandes momentos da noite.

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 De uma lenda para outra lenda: maior nome da guitarrada paraense, Mestre Vieira recebeu antigos companheiros de banda, a presença da cantora Iva Rothe e do guitarrista João Erbetta (Los Piratas), que mantiveram o suingue e o balanço maneiro em alta com pequenas rodas de dança se espalhando pela pista do Hangar 1. B Negão e os Seletores de Frequencia, que substituíram Mallu Magalhães no line-up, fizeram um show barulhento e conciso.

Já eram mais de duas da manhã de segunda-feira quando Marcelo Jeneci pisou no palco do Se Rasgum, aguardado ansiosamente por uma plateia apaixonada, que cantava todas as letras, gritava quando o músico se alternava de um instrumento ao outro, e presenciou belíssimas execuções de “Feito Pra Acabar”, “Felicidade”, “Longe” e “Amado” (originalmente cantada por Vanessa da Mata). No fim, uma fila extensa se formou par abraçar o músico, que parece (merecidamente) cada vez mais mainstream e menos independente.

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Com 22 shows em três dias de festa, a sexta edição do Se Rasgum marca a passagem do festival para um nível altamente desejado, aquele em que não só os atentos a música independente marcam presença nos shows, mas sim o público em geral, que foi ao Hangar para ver notadamente Leoni, Lobão e Jeneci, e acabou saindo apaixonado por Bidê ou Balde, El Cuarteto de Nos e Fusile, Totonho e os Cabras, entre outros.

De curadoria esperta e produção cuidadosa, o Se Rasgum segue um modelo que tem tudo para dar certo: escalar um grande artista para chamar público, que será apresentado a grupos que dificilmente chegariam a eles. Nestes tempos sombrios de programação de rádio e TV viciadas, o festival cumpre com louvor a função de apresentar o novo ao público. Além de romper barreiras: a junção da música folclórica, guitarrada, tecnobrega, rock, indie, metal, punk e samba na programação mostra uma saudável variedade musical que tem que ser festejada. Que venha 2012.

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Foto 1: Marcelo Costa
Foto 2 e 5: Taiana Laiun
Foto 3 e 4: Caio Brito (Maveka)
Veja mais fotos do Se Rasgum no Flickr oficial (aqui)

Leia também:
– Tudo sobre o Festival Se Rasgum 2011, por Marcelo Costa (aqui)

novembro 21, 2011   No Comments

Festival Se Rasgum VI, Belém, Dia 2

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 Durante o dia, visitas ao Mercado Ver-o-Peso (almoço: peixe na beira do rio), às ruas de comércio que vendem centenas de milhares de compilações de aparelhagem além de cópias de CDs e DVDs (Vlad Cunha registrou no documentário “Brega S/A” e vale assistir aqui) e uma passada na tradicional sorveteria Cairu (grande dúvida sobre o que provar: Araça, Bacába, Bacuri, Castanha do Pará, Cupuaçu, Mangaba, Maria Izabel, Muruci, Taperebá, Tapioca ou Uxi – entre outros aqui). Perfeito.

À noite, no Hangar, segunda perna do Se Rasgum 2011 prometendo se estender até a manhã do outro dia. Não a toa, Lobão, ao se despedir por volta das 5h30 da manhã, recomendou: “Vamos todos para a padaria? Um café com leite, um pão com manteiga”. Antes disso, porém, passaram pelos dois palcos do festival Pirucaba Jazz, Maquine (destaque para os ótimos guitarrista e baterista da banda), Babilak Bah e Totonho e os Cabra. Quando Juca Culatra iria iniciar seu show, eu parti para minha discotecagem no Deck Laboratório.

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 Imagine que os dois enormes galpões que recebem os shows são cercados por um lago artificial (casa de pirarucus), e na lateral do Salão B, o palco menor, há um deck sobre o lago que faz a ponte entre a construção e a rua. Foi ali que o pessoal do Laboratório da Música Paraense montou um palco para Djs e apresentações especiais interagirem com o público que queria um folga dos shows – e, claro, para fumar. O mais interessante é que o deck acaba interagindo também com quem está na rua, do lado de fora do Hangar, ampliando o alcance das músicas.

Meu set foi uma bagunça calculada. Começou com “Dos Gardenias”, do Buena Vista Social Club, e emendou com Junio Barreto (“Setembro”), Wado (“Com a Ponta dos Dedos”), Nina Becker (“Toc Toc”), João Brasil (“Samba das Mulhé – De Leve x Los Hermanos), Banda Gentileza (“Coracion”), Pélico (“Vamo Tenta”) até encontrar White Stripes (“Conquista”, cantada em espanhol), Decemberists (“Calamity Song”) e Wilco (“Dawned on Me”), ciscar no rap com Criolo (“Subirusdoistiozin”) e Emicida (“Num é Só Ver”) e terminar MPB clássica (Jorge Ben, Tim Maia, Gal Costa, Elis Regina, Chico Buarque)… Foi bem bacana.

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 Por estar discotecando perdi o começo do DeFalla com a formação original (Edu K, Biba Meira, Flávio Flu Gomes e Castor Daudt) tocando os clássicos absurdos dos dois primeiros álbuns (1987/1988): “Sodomia”, “Não Me Mande Flores”, “Papaparty”, “Melô do Rust James”, “Jo Jo”, “I’m an Universe”, “Sobre Amanhã” (dedicada sacaneamente para Thedy Correa) “Repelente”, “I Have to Sing a Song”, “It’s Fuckin’ Borin’ to Death” e uma rara concessão a material mais antigo, a não menos fodaça “Caminha (Que Aqui é de Osasco)”, lançada no ótimo “Kingzobullshitbackinfulleffect92” (1992). Show pra deixar todo mundo com sorriso no rosto.

Os uruguaios do El Cuarteto de Nos assumiram o palco principal logo depois mostrando um som forte. Rock de arena de qualidade (algo que brasileiros geralmente não sabem executar/produzir bem) com os hits “Hoy estoy raro”, “Ya no sé qué hacer conmigo” e “Bipolar” batendo ponto e conquistando a galera. Então o indivíduo deixa o palco de rock e encontra o público se entregando até as últimas consequências ao show da Gang do Electro, uma das grandes surpresas da cena paraense atual (e que deve dar o que falar em 2012). Batidas fortes nas pick-ups de DJ Waldo Squash com o vocalista e performer Marcos Maderito comandando a galera (garotas de salto alto e saias curtas) que vai até o chão. Pique de impressionar no grande show do festival.

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 Já era quase quatro da manhã quando Lobão subiu ao palco para mostrar sua faceta barulhenta e elétrica recheada de hits em versões pesadas. Os sucessos vieram enfileirados: “Canos Silenciosos”, “Vida Bandida”, “Vida Louca Vida”, “Decadence Avec Elegance”, “Radio Bla”, “Noite e Dia”, “Essa Noite, Não”, “Me Chama” e “Corações Psicodélicos” (“A única música alegre que compus na minha vida”, fez questão de ressaltar). Ainda houve espaço para encaixar “Ronaldo Foi Pra Guerra”, “El Desdichado II”, “O Homem Bomba” e uma versão de “Help”, dos Beatles. Como escreveu Lobão depois no Twitter, “Que puta show. 5 da matina e todo mundo aplicadinho”. Não tem como discordar.

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Foto 1: Marcelo Costa
Foto 2 e 4: Thiago Araujo
Foto 3: Taiana Laiun
Foto 4: Caio Brito (Maveka)
Veja mais fotos do Se Rasgum no Flickr oficial (aqui)

Leia também:
– Tudo sobre o Festival Se Rasgum 2011, por Marcelo Costa (aqui)

novembro 20, 2011   No Comments

Festival Se Rasgum VI, Belém, Dia 1

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 Em 2006, alguns amigos apaixonados por música decidiram fazer um festival independente em Belém, capital paraense. Nascia o Se Rasgum no Rock, com um line-up de mais de 30 artistas (Mundo Livre S/A, Wander Wildner, Cachorro Grande, Vanguart, Los Porongas, entre outros) tocando em três dias. Já na terceira edição, em 2008, o “no Rock” foi retirado do nome e a produção abriu as portas do Se Rasgum para os ritmos locais, fazendo do Se Rasgum ponta de lança de uma cena musical cada vez mais multifacetada e nacional.

Em 2009, Ismael Machado contou como foram os três dias do festival no Scream & Yell (“O IV Se Rasgum mostra possibilidades sonoras que unem sem radicalismos as mais variadas vertentes musicais”, escreveu aqui). Em 2010 foi a vez de Vladimir Cunha fazer o balanço do V Se Rasgum, que teve de Otto, Dead Lover’s Twisted Heart com Odair José, Graforréia Xilarmônica e o tecnobregueiro Nelsinho Rodrigues. Vlad cobrou posição da cena local: “Belém já passou tempo demais sendo apenas uma promessa dentro do cenário pop brasileiro e tem potencial para se firmar como um polo musical realmente produtivo e influente” (leia aqui).

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 A carta convite para a edição 2011 do Se Rasgum já avisa no título: “Não repare no calor. Você está em Belém”. Assim que o avião pousa no Aeroporto Internacional Júlio Cezar Ribeiro, após sobrevoar a mata e os rios (pra quem está no lado esquerdo da aeronave; o lado direito brinda o passageiro com a visão dos arranha-céus da cidade) da baia de Guajará, o visitante é recebido por um forte bafo quente. A cidade realmente ferve, e o ar-condicionado parece a invenção do século. Melhor não reparar mesmo (ou esperar a chuva, que de certa forma refrescou a sexta-feira).

Este é o segundo ano do festival no Hangar, um enorme e impressionante centro de convenções que, para você ter ideia do tamanho, dividia seu espaço na noite de sexta-feira entre a primeira noite do Se Rasgum e um show da cantora Paula Fernandes, o principal nome da indústria fonográfica em 2011 (no sábado e domingo, os dois palcos serão ocupados pelo Se Rasgum). Após varar a madrugada em 2010 (Otto, por exemplo, tocou com o dia claro – festejadíssimo), o line-up de 2011 surgiu um pouco mais enxuto, mas ainda assim com mais de 20 atrações divididas em três dias.

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 O Projeto Charmoso abriu os trabalhos mostrando a música de Pro.eFX e Nanna Reis, ele nos beats e samplers, ela na voz. Acompanhados de uma banda, que deixou o som que se ouve no My Space (aqui) mais cheio, a dupla mostrou canções que namoram a música jamaicana, recebem intervenções de rap, dub e jungle, e ganham um belo colorido com a voz personal de Nanna Reis. Na sequencia, o Circuito Floresta Sonora, composto por heróis locais como Juca Culatra, Leo Chermont e MG Calibre, mostraram uma sonoridade enxuta com bons riffs de guitarra, linhas de baixo contagiantes e muito suingue.

Então Leoni subiu ao palco com seu violão e mostrou porque é um dos grandes hitmakers do pop brasileiro. Sozinho no palco, mas acompanhado em coro pela audiência, Leoni abriu o set com “Só Pro Meu Prazer” e emendou “Como Eu Quero”, do primeiro álbum do Kid Abelha. Festa ganha. A excelente Suzana Flag subiu ao palco como banda de apoio de Leoni, e juntos alternaram entre canções velhas (“Os Outros”, “Exagerado”, “A Fórmula do Amor”), novas (“É Proibido Sofrer”, “50 Receitas”) e do repertório da própria Suzana Flag (Ismael escreveu sobre o segundo disco deles aqui). Bom show com Leoni incentivando todo mundo a baixar discos de graça.

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 Pequeno intervalo para olhar o acervo da Vinylland (a loja, também online, vende compactos e vinis nacionais de artistas independentes como Tulipa, Karina Buhr, Do Amor, Lucas Santanna e outros – veja aqui) e da Ná Music (New Amazonia’s Music, aqui), grande incentivadora da cena local tendo em seu catálogo desde o metal do Madame Saatan até La Pupuna, Coletivo Rádio Cipo e do festejado Felipe Cordeiro, que impressionou jornalistas com seu novo show no Conexão Vivo Belém, em outubro (seu novo disco, “Kitsch Pop Cult”, é lançamento da Ná Music).

De volta ao palco do Hangar, os gaúchos da Bidê ou Balde festejavam a sua primeira apresentação em Belém. “Faz 13 anos que vocês querem ouvir isso”, soltou o vocalista Carlinhos Carneiro, deixa para “Melissa” levar a plateia ao delírio. Com o som das guitarras no talo, o grupo enfileirou um repertório de deixar sorriso no rosto, com aquele caos característico da banda no palco. Vieram “Bromélias”, “Matelassê”, “Microondas”, “Vamos Para Uma Excursão”, “É Preciso Dar Vazão aos Sentimentos”, as versões para “Buddy Holly” (Weezer) e “Hoje” (Camisa de Vênus) e as novas “Me Deixa Desafinar” e “Lucinha”.

Ainda tinha Eddie, lançando o disco novo (baixe “Veraneio” aqui), mas o corpo pedia/exigia descanso. O IV Se Rasgum segue neste sábado e domingo no Hangar prometendo grandes shows (Lobão, Gang do Eletro, El Cuarteto de Nós, De Falla, Marcelo Jeneci, B Negão e os Seletores de Frequencia, Laurentino e os Cascudos, entre outros. Veja aqui). O sol beija a janela, o ar-condicionado tenta contornar o calor, mas a vida está lá fora. Bora ver o peso, ver a cidade e beber uma cerveja. Estamos em Belém.

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Foto 1 e 3: Marcelo Costa
Foto 2 e 5: Taiana Lauin
Foto 4: Caio Brito (Maveka)

Veja mais fotos do Se Rasgum no Flickr oficial (aqui)

Leia também:
– Tudo sobre o Festival Se Rasgum 2011, por Marcelo Costa (aqui)

novembro 19, 2011   No Comments

Cinco fotos: Málaga

Clique na imagem se quiser vê-la maior

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Passarela

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Plaza de Toros

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Sangria

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Topless

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Ruas romanas

Leia também:
– Diário Europa 2008: Lou Reed em Málaga, por Marcelo Costa (aqui)
– Diário Europa 2008: Contra o topless, por Marcelo Costa (aqui)

Veja mais imagens de cidades no link “cinco fotos” (aqui)

novembro 17, 2011   No Comments

Três vídeos: Wado e Marcelo Camelo


Com a Ponta dos Dedos


Copacabana


Pavão Macaco

Havia Ringo Starr no Credicard Hall, Eddie lançando disco novo no Sesc Pompéia e Nevilton no Sesc Ipiranga. Além, havia a primeira noite do SWU Music and Arts em Paulínia, e ainda assim um bom público compareceu ao segundo show de Wado lançando “Samba 808” em São Paulo. Na noite anterior, uma sexta-feira quente, o público esgotou os ingressos da apresentação que contou com a presença de Zeca Baleiro e Marcelo Camelo.

“Samba 808”, sexto disco do compositor, conta com a presença não só de Marcelo Camelo e Zeca Baleiro, mas também de Curumin, Fábio Goes, Chico César, Mallu Magalhães e André Abujamra, entre outros (tem resenha minha na nova Rolling Stone, com Jô Soares na capa, mas você também pode ler aqui) e, assim como os álbuns anteriores, foi disponibilizado para download gratuito na internet: www.wado.com.br.

No palco, o quinteto instrumental comandado por Wado (levemente alterado) ainda parece inseguro, principalmente com as canções novas, o que de forma alguma atrapalha o andamento de números como “Surdos de Escolas de Samba”, “Esqueleto” e a belíssima “Recompensa”, mas elas (e outras como “Si Próprio” e “Portas São Para Conter Ou Deixar Passar” além da velha e ótima canção nova “Não Para”) ainda podem (e devem) crescer muito ao vivo.

O show é dividido em pequenos sets que conquistam a plateia. Primeiro de sambas (“Alguma Coisa Mais Pra Frente”, “Se Vacilar o Jacaré Abraça”, “Uma Raiz, Uma Flor”), depois um festejado set de afoxés (“Estrada”, “Cavaleiro de Aruanda”, “Martelo de Ogum”) e, pra fechar, influências rap e reggaeton (“Rap da Guerra do Iraque”, “Teta”, “Reforma Agraria do Ar”). Entre elas, pérolas como “Tarja Preta”, “Melhor”, “Vai Querer?” e “Tormenta” (em grande versão).

Marcelo Camelo foi chamado para um set que começou com “Na Ponta dos Dedos”, um dos carros chefes do disco novo, seguiu com “Copacabana” (que Wado já cantava no Bloco dos Bairros Distantes, grupo carnavalesco de Maceió) e a linda “Pavão Macaco” fechando com “Ôô”, do segundo disco solo de Camelo. Não parou por ai. O ex-Los Hermanos voltou ao palco para cantar e tocar “Fortalece Ai” e “Estrada”.

“Ontem eu aumentei o som da minha guitarra e atrapalhei um pouco o show”, brincou Camelo assim que pisou no palco. “Hoje eu até tinha abaixado, mas aumentei de novo”, comentou se desculpando (e a guitarra estava mesmo mais alta). Wado, por sua vez, não economizou nos elogios ao parceiro: “Marcelo é o maior nome da minha geração… e olha que ele ainda é mais novo do que eu”. O clima no palco era de devoção mútua.

A noite agradável poderia, fácil, continuar por mais uma hora e tanto com Wado e Marcelo Camelo alternando canções, sambas e baladas (faltaram, por exemplo, “Ontem Eu Sambei”, “Sotaque”, “Carteiro de Favela”, “Fita Bruta”, “Cordão de Isolamento” e “Frágil” – sem contar as raras “Amor e Restos Humanos” e “Deserto de Sal”, que não entram no set list há um bom tempo), que o público que bateu ponto (e cantou várias canções, mesmo as novas) no Sesc Belenzinho não iria reclamar.

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Foto: Marcelo Costa

novembro 13, 2011   No Comments

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