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No Soup For You

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abril 11, 2011   No Comments

Domingo, Guggenheim e Rush

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O sol do sábado foi um dose engano de começo de primavera. No domingo, lá estava o céu cinza novamente, mas sem tanto vento, o que de certa forma não fez com que o frio assustasse como nos primeiros dias. Café de manhã (francês) no hotel e bora para a rua. Primeiro destino, Museu Guggenheim, o prédio fantástico de Frank Llyod Wright que fica na quinta avenida de frente para o Central Park e que abriga uma coleção de arrancar lágrimas dos olhos.

O prédio em espiral é uma obra de arte, com os quadros sendo expostos nos corredores do segundo ao sexto andar (vale a dica:comece a ver a exposição de cima para baixo: seu joelho agradecerá). Diz a lenda que quando reclamaram com Wright sobre a altura das paredes, ele teria dito: “Tirem as pinturas”, num claro exercício de egocentrismo consciente. Wright sabia que tinha desenhado uma maravilha do mundo moderno. Porém, talves não soubesse quantas maravilhas seu prédio iria abrigar.

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Se fosse para falar sobre tudo que anotei eu ficaria horas contando de Gauguin, Picasso, Degas, Braque, Monet, Manet, Modigliani, Matisse, Gris, Malevich, Duchamp, Chagall e Cezanne, todos expostos nos corredores do museu (para desespero da alma: como decifrar tanto sentimento ao mesmo tempo?), mas melhor se concentrar em Kandisky (há váááárias obras dele na casa, mas as que me emocionaram foram duas: “Black Lines” e “Blue Mountain), Delaunay (há quatro quadro dele de tirar o fôlego) e Van Gogh.

Van Gogh estava se recuperando de uma crise de distúrbio mental quando pintou “Montanhas em San Remy”, em 1889, um ano antes de seu suicídio. O pintor observava as montanhas do hospital em que se tratava, e há algo em “Montanhas em San Remy” que me lembrou muito o clássico “A Noite Estrelada”. Mais do que a lembrança, porém, uma angústia, uma dor no peito, algo dificil de explicar. Outro quadro de Van Gogh, “Landscape if Snow”, também se destaca no Guggenheim, Para ver e não esquecer.

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Com o coração leve, nada melhor que uma caminhada no Central Park para espairecer as ideias. O parque carrega as marcas do inverno rigoroso passado com todas as árvores totalmente desfolhadas, mas algumas flores aqui e ali anunciam a primavera (embora o céu cinza e o frio insistam em dizer o contrário). Patrimônio público novaiorquino, o parque projetado em 1858 é tomado por pessoas de todas as idades. Não deixa de ser curioso, por exemplo, um senhor que chega de terno e gravata, bengala em punho e começa uma série de exercícios (veja os passos 1, 2 e 3) preparando-se para correr.

O próprio Central Park abriga o maior museu da cidade, o Metropolitan, mas dois grandes museus no mesmo dia é tarefa hercúlea. Aprovamos o Jumbo Hot-Dog da frente da escadaria do Met e partimos para um museu menor e mais aconchegante, sete quadras antes. Erguido na mansão do milionário industrial Henry Clay Frick, a Frick Collection exibe uma bonita coleção que destaca Vermeer (são três quadros, o mais interessante: “Mister and Maid”), Renoir (“Mother and Children”), muitos retratos pintados por Goya e um belíssimo Monet (“Vetheuil in Winter”).

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O cavalo de batalha da casa é um extensão coleção de gravuras de Rembrandt além de alguns daqueles retratos escuros do pintor neerlandês, mas o que realmente chama a minha atenção são cinco inspirados quadros de Turner, dois deles um em frente ao outro na sala mais impressionante da casa (dividindo espaço com Veronese, Ticiano e Velazquez): “The Harbor of Dieppe” e “Cologne: The Arrival of a Packet-Boat: Evening” – além de “Antwerp: Van Goyen Looking Out for a Subject”. Um museu não obrigatório, mas agradável.

Próxima parada: Madison Square Garden: aproximadamente 20 mil pessoas (18 mil, rushmaniacos) se amontoam organizadamente atrás de seus lugares para ver o trio canadense apresentar o repertório da turnê “Time Machine”. Uns sete ou oito tipos de cerveja podem ser encontrados no corredores da casa, que ainda vende pipoca, amendoim, uísque, tequila, vodka e outros destilados venenosos. Encontro meu lugar. Meu vizinho, Michael, que pesa uns 150 quilos, se desculpa: “Geralmente eu compro três lugares, o meu e os dois ao lado, para não atrapalhar, mas desta vez não rolou”, diz ele, que se impressiona com o fato de ser o meu primeiro show do Rush. “Já vi 14 vezes”, vangloria-se.

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Uma historinha chamada “Rash” em um vídeo de altíssima qualidade traz a banda para o palco, e eles atacam dois hinos de cara: “The Spirit of Radio” e “Time Stand Still” (com a voz de Aimee Mann no refrão disparada via teclado). O primeiro set reúne uma faixa inédita, aqueles números instrumentais que os fãs amam (e que exibem a qualidade musical do trio, mas enchem o saco) e mais alguns clássicos tocados com garra: “Freewill” e “Subdivisions”, que encerra o primeiro set dando uma pausa para que o público se abasteça de pipoca, cerveja e destilados.

O segundo set começa com três clássicos (“Tom Sawyer”, “Red Barchetta” e “YYZ”). A banda não se intimida frente ao público, e improvisa, e se diverte. O trabalho de edição de câmeras é de fazer o queixo cair e a apresentação segue noite adentro com direito a solos de bateria e outros clássicos do quilate de “Closer To The Heart”, “2112 Part I: Overture” e “2112 Part II: The Temples Of Syrinx” num set list para fã nenhum colocar defeito: 26 músicas (ok, bem que poderia ter rolado “The Trees”, mas tudo bem). Um show de profissionalismo.

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A parte Nova York da viagem está chegando ao fim. A empolgação inicial baixou, mas a cidade continua apaixonante. Chega a incomodar o nacionalismo enfiado goela abaixo. Na frente do Square Garden, em um trecho de 200 metros, é possível ver 17 enormes bandeiras dos Estados Unidos quase que uma lado da outra. Há ratos nos metrôs (vi mais ratos caminhando nos trilhos aqui do que nos últimos 20 anos no Brasil) e um cuidado com o outro que impressiona (parisienses deveriam fazer um curso de como relacionar-se com outras pessoas aqui).

Nova York, uma cidade para se apaixonar. E olha que vão ficar faltando vários lugares para se visitar (e se apaixonar mais ainda), mas Nova York entra naquele grupo de cidades que você não deve ir apenas uma vez na vida. Desta forma, a coleção do Metropolian, os pontos punks (embora eu vá tentar esticar até a St Marks Place nesta segunda), as casas noturnas do Harlem (Apollo, Cotton) e muitas outras coisas ficam para uma próxima visita. Big Apple, me aguarde.

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abril 11, 2011   No Comments

Sábado, Brooklyn e Sebadoh

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E o sol saiu, finalmente. Dia claro, lindo, decidimos continuar no tour turístico e esticar até South Ferry, para dar um passeio pelo Hudson e ver aquela mina que segura uma tocha nas mãos. Porém, não rolou. As visitas à Estátua da Liberdade precisam ser agendadas antes e a próxima data livre é só em agosto. Nada de lágrimas, afinal é só uma mina com uma tocha na mão. O tour continuou pela área que, um dia, abrigou o World Trade Center e seguiu por Wall Street, de cabo a rabo.

Ok, pontos turísticos recheados de ligações (juro que fiquei procurando um prédio em Wall Street que se parecesse com o edifício návio de “The Crimson Permanent Assurance”, da abertura de “O Sentido da Vida”, do Monty Python), mas dispensáveis (há um guia bacana chamado “Nova York: Not For Turists”, procure). O dia começou mesmo após uma caminhada pela belíssima Brooklyn Bridge (com direito a noivos e tudo mais) e, finalmente, uma visita ao distrito de mesmo nome, que apadrinha uma cervejaria.

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E não é qualquer cervejaria. A Brooklyn Brewery levanta o estandarte das cervejarias indies que lutam contra o império american lager da Ambev/Inbev. Como? Fazendo uma cerveja extremamente personal, saborosa e viciante. A fábrica fica no bairro de Williamsburgh, no Brooklyn, e abre suas portas para a visita do público às sextas, sábados e domingos, sendo que os dois últimos contam com um tour pela casa. Há, ainda, um boliche que merece uma visita.

O tour é concorridíssimo e extremamente low profile. A fila se forma a partir das 13h na rua da cervejaria e os interessados entram no bar improvisado da casa com direito a experimentar oito cervejas diretas do barril. Cada copo de cerveja de 500 ml custa 4 dólares, mas por 20 dolares você tem direito a seis cervejas. Se bater uma fome, as pizzarias da região fazem entregas no local. Ou seja, é melhor ir devagar. A pergunta que não quer se calar é: como?

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Das oito cervejas disponíveis em torneira (as edições especiais e sazonais Local 1, Local 2 e Black Ops podiam ser compradas engarrafadas) optei por experimentar as que não conhecia, abrindo o dia com a mais forte da tarde, a excepcional Blast, uma pale ale leve, cheirosa e com a marca da Brooklyn (um toque de melado que marca todas as cervejas da casa), Na seqüência, arrisquei uma Pennent Ale, maltada e enfraquecida pela força da anterior. Pra fechar a sessão uma Weisen encorpada e deliciosa. Apropriadíssima.

E o tour, questiona o leitor. Bem, o tour da Brooklyn é improvisado numa sala ao lado do boteco improvisado da casa (e esses improvisos dão o tom de despretensão da cervejaria). Um dos caras que serviam o chopp no outro lado é quem comanda o bate papo contando histórias impagáveis da cervejaria. Como, por exemplo, a da criação do logo, assinado pelo mesmo cara que fez o logo “I Love Nova York”.

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Consta que os donos da cervejaria queriam um logo que a aproximasse da cidade, e procuraram o cara que fez o “I Love Nova York” oferecendo 20 mil dólares pelo trabalho. O rapaz, esperto, aceitou o trabalho, mas não a grana. Pediu seu pagamento em um estoque vitalicio de Brooklyn na sua casa. Gênio. São quase meia hora em de bons causos cervejeiros que fazem quem já gostava da cerveja admirar ainda mais a cervejaria. Não tem como sair dali sem uma camiseta.

Alias, cabe aqui uma dica importantíssima. Metros antes da cervejaria há uma loja de discos excelente, a Sound Fix, comandada pelo James, que oferece CDs e vinis, novos e usados a bons preços. Tente passar na loja antes de ir pra cervejaria. Imagine-se bêbado e feliz com um monte de CDs fodas e raros na sua frente. Acontece. Aliás, aconteceu comigo e com o Renato, que deixamos uma boa grana no lugar (mas valeu a pena: peguei três CDs duplos e um triplo fodas).

Da Brooklyn Brewery, bêbados, partimos para o Bowery Ballroom, conferir o Sebadoh ao vivo. O bar do local carrega um climão barra pesada, mas as cervejas são boas (experimente a Sierra Nevada Pale Ale, ótima) e o local do show (que anteriormente abrigava um teatro de vaudeville) é perfeito para abrigar uma banda indie que tem fãs fieis, mas nunca virou mega a ponto do show não caber num lugar assim (falta um local com essa estrutura e tamanho em São Paulo).

De cara chama a atenção a qualidade do som do lugar. Assim que Lou Barlow ataca os primeiros acordes é possível ouvir com clareza absurda todos os detalhes. O show comemora o relançamento dos álbuns “Bakesale” (1994) e “Harmacy” (1996) e o repertório não economiza. De “Too Pure” a “Ocean”, de “On Fire” e “Skull” a “Magnet’s Coil” e “Rebund”. Loewenstein se alterna com Barlow no baixo/guitarra enquanto Bob D’Amico mantém a batida acelerada em um show com a adrenalina fervendo no ponto máximo. Foda.

abril 11, 2011   No Comments