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Posts from — março 2011

EUA: duas cervejas da Brooklyn (parte 2)

brooklyn_monster_ale.jpg

Eis mais duas belíssimas surpresas da cervejaria que ousa enfrentar o imperialismo american lager que assola os Estados Unidos (chegando a ecoar no Brasil). As versões Vienna Lager, Índia Pale Ale e Ale já passaram por aqui (links no fim do post), mas as duas cervejas abaixo são coisa de gente grande, com graduação alcoólica altíssima e uma confusão de sabores para paladar nenhum colocar defeito.

A Brooklyn Monster Ale nasceu em 2009 e é uma cerveja sazonal disponível apenas de dezembro a março. Os norte-americanos capricharam nessa versão Barley Wine (de cervejas tão fortes quanto vinho) da casa. O malte escocês fica curtindo durante quatro meses resultando numa cerveja encorpada, quase licorosa, mas de aroma conquistador (madeira, nozes, vinho) e sabor lupulado, meio doce, que desaparece no final seco.

O amargo do lúpulo disfarça a alta graduação alcoólica, mas é bom não brincar com esse monstrinho. É pra ir devagar e beber como acompanhamento de pratos. O site oficial a recomenda com “queijos, sorvetes, crème brûlée e bons charutos”. Uma das vantagens do estilo é sua durabilidade: é possível guardá-la por bastante tempo. Essa da foto tinha validade para dezembro de 2013. Ou seja, podia ficar ainda melhor. Você teria paciência com ela na geladeira?

Já a Black Chocolate Stout tem tudo para se tornar a stout mais forte que você irá provar na vida. Não só porque a graduação alcoólica é uma cacetada de 10%, mas porque tudo nela é muito mais intenso. Inspirada no estilo Imperial Stout (nascido das cervejas inglesas feitas no século XVIII para a corte de Catarina II, da Rússia, que precisavam de alto teor alcoólico para não congelar no transporte pelo Mar Báltico) a Brooklyn preparou uma cerveja especialíssima.

Seu aroma, naturalmente, é carregado por notas de café impregnadas por chocolate amargo e álcool, este último bastante perceptível. O paladar é invadido por algo que lembra demais chocolate amargo (intensamente), e também café, ameixas e malte torrado. O amargor intenso marca o céu da boca e preenche toda a garganta, com final inicialmente adocicado (mas muito levemente) para terminar amargo (com gosto forte de café, ou o meio termo: cappucino). Uma maravilha.

– Brooklyn Monster Ale
– Produto: Barley Wine
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 10,1%
– Nota: 4,17/5

– Brooklyn Black Chocolate Stout
– Produto: Imperial Stout
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 10,1%
– Nota: 4,09/5

As duas foram compradas diretamente na distribuidora, a Casa da Cerveja, ao preço de R$ 18 a garrafa de 330 ml. Assim com a Monster Ale, a versão Black Chocolate Stout também é sazonal, sendo feita apenas de outubro a março.

Leia também:
– Brooklyn na contra-mão do imperialismo american lager (aqui)

março 18, 2011   No Comments

Friozinho na barriga

Faltam 20 dias para a viagem aos Estados Unidos, e só hoje a ficha começou a cair. Terminei o livro do Buñuel (que me fez esmigalhar conceitos) e até cheguei a pensar no livro da Patti Smith, mas optei por me preparar para os 20 dias que vão incluir Nova York, São Francisco, Los Angeles e Chicago lendo o Guia Estados Unidos da Folha (também comprei o Guia 10+ de São Francisco e de Nova York. As versões européias foram muito úteis nas viagens anteriores).

Fato é que, incrivelmente, nunca dei muita bola para os Estados Unidos, apesar de sua imensa influência musical, cinematográfica e literária sobre mim. Sempre fui atraído pela Europa, e renunciei para mim mesmo o prazer dessa viagem aos Estados Unidos até… agora. A ficha começou a cair e um friozinho percorreu o estômago assim que comecei a desbravar no guia as ruas e atrações de Nova York. Já anotei alguns museus (Whitney, Frick, Metropolitan e Guggenheim) e vários lugares (cervejaria Brooklyn incluso).

O Thiago, do Alto Falante, escreveu um texto bacana para o Scream & Yell – que publiquei aqui em janeiro do ano passado – sobre seu passeio pelo East Village. Farei. E preciso rever “Little Manhattan”, uma comediazinha romântica que adoro (e que no Brasil ganhou o nome ridículo de “ABC do Amor” – falei dela aqui) e alguns Woody Allen, mas tenho certeza de que vários lugares vão ser trazidos naturalmente pela memória assim que eu passar por eles.

Comecei a folhear as infos sobre Los Angeles, e muita coisa legal vem por ai. E tem Chicago! Será que vou encontrar o Yankee Hotel Foxtrot? Estou animadíssimo com o show do Decemberists em Ohio e, pela primeira vez, completamente arrependido de não dirigir (nunca tinha contado isso, tinha?) para poder alugar um carro e aproveitar melhor o tempo – e essa coisa tão american way of life.

De qualquer forma, a viagem está chegando. Preciso correr atrás de ingressos para o Coachella (não rolou credenciamento e estou vendo que vou morrer numa grana via eBay) e começar a organizar com calma tudo o que quero ver (e trazer – principalmente em discos e CDs). Vão ser 20 dias especiais em que vou tentar manter a rotina dos diários europeus dos anos anteriores (com histórias sobre as cidades, fotos e relatões dos shows). Dedos cruzados para essa primeira invasão norte-americana.

06/04 – São Paulo / Nova York
07/04 – Nova York
08/04 – Nova York (Aimee Mann)
09/04 – Nova York (Sebadoh)
10/04 – Nova York (Rush)
11/04 – Nova York
12/04 – Nova York / San Francisco
13/04 – San Francisco (Broken Social Scene)
14/04 – San Francisco (PJ Harvey)
15/04 – San Francisco/ Índio (Coachella)
16/04 – Índio (Coachella)
17/04 – Índio (Coachella)
18/04 – Los Angeles
19/04 – Los Angeles
20/04 – Los Angeles
21/04 – Los Angeles / Chicago
22/04 – Chicago (Arcade Fire + National)
23/04 – Chicago / Columbus (Decemberists)
24/04 – Columbus / Chicago / São Paulo

Outros shows possíveis
MEN, no Music Hall Of Williamsburg, 07/04 (New York)
Bright Eyes no Fox Theater, 12/04 (Oakland)
Klaxons no Fillmore, 12/04 (San Francisco)
CSS, na Glass House, 18/04 (Pomona)
The Go! Team, no Echoplex, 19/04 (Los Angeles)
Paul Simon, Pantages Theatre, 20/04 (Los Angeles)
Low, no Lincoln Hall, 21/04 (Chicago)

março 15, 2011   No Comments

Dia da Poesia

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Há uma caixa em algum lugar no “armário da bagunça” com mais ou menos três mil páginas datilografadas (em máquina de escrever) de poesias que escrevi entre os 13 e os 30 anos. Era pra ser mais. Aos 15 perdi um caderno que continha umas duzentas tentativas de poemas. Foi – felizmente. Naquele início, meus textos eram inocentemente piegas. Terríveis. Coro só de lembrar.

Não que os textos da caixa do “armário da bagunça” sejam lá relevantes, mas gosto de olhar o desenvolvimento da escrita e do pensamento. São todos poemas numerados, e os primeiros, terrivelmente ruins, só persistiram durante tanto tempo para servir de contraponto de amadurecimento (pessoal e literário) com alguns poemas ali pelo meio que, humildemente, ficaram razoavelmente bons.

Enviei alguns poucos para concursos (animado por leituras de Rainer Maria Rilke), e um deles ficou entre os dez finalistas de um em Ubatuba. É uma das noites inesquecíveis da minha vida. Era uma igreja antiga na orla da cidade, e todos os poemas estavam expostos para um bom público que comentava entre si. Li todos, e até achei que eu tivesse chance (e eu devia realmente ter – meu poema era bom).

Cada finalista deveria ler (ou indicar alguém) seu poema. Lembro que fiz uma encenaçãozinha para valorizar muito da ironia que aqueles versos continham, mas fui atropelado por uma senhora, uns 60 anos, que leu seu poema (que na parede parecia tão sem graça) de maneira tão desoladora que foi impossível não chorar. No entanto, o vencedor foi um português, que por algum motivo estava preso, e foi defender seu poema acompanhado de alguns policiais.

Não lembro palavras de seu poema, mas ele falava sobre as saudades que ele sentia de sua terra natal. Nunca vou esquecer que ele começou sua declamação assoviando o hino português. Naquela igreja, naquele silêncio, não precisou muito para fazer quase todo mundo chorar. Ele ganhou o primeiro prêmio. Eu fiquei em quinto (acho). Dormi na praia admirando o mar e o barulho das ondas.

Outra lembrança boa. Numa Semana da Comunicação, na Universidade de Taubaté, decidimos montar uma sala com varais de poesia, e quem quisesse poderia colocar textos seus ali. Para incentivar, eu e mais alguns estendemos poemas aqui e ali. Haviam cartolinas em branco presas pela sala, caso alguém quisesse deixar algum recado. Numa delas alguém que assinava apenas com as iniciais dizia que tinha “roubado” um poema meu do varal, porque… precisava dele. Tenho a cartolina em algum lugar…

Última. 1999 ou 2000 (a foto que abre o post). Mostra de Cultura Independente, em São Paulo, um evento grande que movimentou a Funarte. O pessoal do Cardosonline estava por aqui. O Thee Butchers’ Orchestra fez um show fodaço no teatro. Eu – ao lado da Alessandra (uma amiga com quem troquei poesias durante muuuito tempo) e do Davi (que, se não me falha a memória, estava dividido entre tocar violão e um copo) – declamei uma seleção de poemas meus intercalados com alguns da Ale e outros escolhidos a dedo (com “Atmosphere”, do Joy Division).

Para o trecho final, separei um cavalo de batalha que eu já tinha usado em um trabalho da faculdade: “Os Provérbios do Inferno”, de William Blake. Um amigo, Cezar Zanin, estava filmando, e ao final da declamação, quando ele veio me cumprimentar, seu filho pequeno, assustado e cabisbaixo, dizia ao pai: “Ele mata criancinhas” (em alusão ao verso de Blake que diz: “Melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos insatisfeitos”). Rimos e o acalmamos, mas ele ficou olhando suspeito para mim toda a tarde.

Não lembro ao certo qual foi a última vez que escrevi uma poesia. Deve fazer uns oito ou dez anos, e alguns textos sobre discos e filmes até se aproximaram de um verniz poético. Da mesma forma, parei de ler poesia. Amo Ana Cristina Cesar, os primeiros anos de Vinicius, Guilherme de Almeida, vários sonetos de Shakespeare, Rainer Maria Rilke, Drummond, Blake e Maiakovski. Tenho um Borges que comprei uns seis anos atrás, e nunca li. E tentei Gabriel García Márquez, mas faltava algo. Talvez sangue. Sei lá.

De qualquer forma, não me vejo escrevendo poesia hoje em dia. Talvez, um dia, quem sabe, eu invista minha loucura em um romance, mas é impossível garantir qualquer coisa sobre esse propósito. No entanto, vez em quando, volto aos meus poemas antigos, e eles me consolam. Há dias em que os odeio ferozmente. Detesto as citações, as rimas, tudo. Em outros aceito grande parte deles com carinho (e respeito por seus – e meus – prováveis defeitos). É quase certo que, um dia, eu faça um ritual e coloque fogo em cada página (acalanto esta idéia desde os 15 anos).

Por enquanto, meus mais terríveis escritos permanecem escondidos na caixa no armário aguardando o juízo final. Alguns sortudos – menos piores – foram publicados aqui. Outros circularam por diversos fanzines (não lembro quais e muitos vezes me surpreendo quando esbarro sem querer em um). E um deles virou música. Essa aqui. Indiferente aos seus destinos, todos eles tiveram uma função bastante importante em minha história: mantiveram-me vivo.

Um bom motivo para brindar ao Dia da Poesia.

E para ler Manoel de Barros… afinal… “por pudor sou impuro

março 14, 2011   No Comments

Semana de Comunicação e Jornalismo Cultural

O pessoal da Livraria Cultura liberou o material de divulgação da 1ª Semana de Comunicação e Jornalismo Cultural, que será realizada de 21 a 24 de março na Livraria Cultura do Bourbon Shopping São Paulo, R. Turiassu, 2100, Perdizes, São Paulo. Vão ser quatro dias de debates, e estou na terceira mesa ao lado dos amigos André Forastieri, Pablo Miyazawa e da Letícia Zioni, da Agência Cartaz. A mesa terá mediação de Sérgio Miguez, da Revista da Cultura.

Muita gente boa irá passar pelo local nos quatro dias: Beatriz Monteiro (Catraca Livre), Ivan Finotti (Folha de S.Paulo), Michelle Franco (Comunicação da Secretaria de Cultura de São Paulo), Carola González (Yb Music), Fabiana Batistela (Agência Inker), Pamela Leme (Agência Alavanca), Christian Rôças (Grudaemmim), João Paulo Bueno (Coordenador de Compras de CDs e DVDs da Livraria Cultura) e Daniel Silveira (Diretor Artístico da Universal Music).

Boa oportunidade para discutir cultura e jornalismo. Apareça.

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Clique na imagem abaixo para conferir a programação

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Mais infos aqui

março 12, 2011   No Comments

Três canções: Manic Street Preachers


Some Kind Of Nothingness (23/09/2010)


If You Tolerate This Your Children Will Be Next (27/01/2011)


A Desing For Life (23/09/2010)

março 8, 2011   No Comments

Três filmes: 127 Hours, True Grit, Winter’s Bone

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“127 Horas” (“127 Hours”, 2010)
Se a história verídica do alpinista Aron Ralston tivesse caído nas mãos de 90% dos outros diretores, bem provável que estaríamos diante de um filme de auto-ajuda buscando valorizar a vida, pieguice pura. Mas, como escreveram certa vez, se o demônio quiser, todo Keith Richards irá encontrar o seu Mick Jagger. E assim, nas mãos do Danny Boyle e com a presença magnética de James Franco, “127 Horas” se transforma em um poderoso thriller que resiste aos ataques de pirotecnia do diretor (closes de dentro da garrafa de água, de raio x do braço sendo atravessado pela faca). Aliás, os momentos mais brilhantes do filme são todos méritos de Boyle: a garrafa de Gatorade esquecida, a chegada diária do sol e a ilusão da chuva. É preciso ter estômago forte para não tirar o olhar da tela, mas a certeza que fica é de que Boyle (que assina o roteiro com Simon Beaufoy) acertou novamente.

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“Bravura Indômita” (“True Grit”, 2010)
Após o fiasco do ótimo “Um Homem Sério” (2009) nas bilheterias (custou US$ 10 milhões, arrecadou ‘apenas’ R$ 27 milhões enquanto o ok “Queime Antes de Ler”, de 2008, somou US$ 164 milhões de bilheteria), os irmãos Coen resgatam um faroeste clássico e, vejam só, batem seu recorde próprio de arrecadação: US$ 170 milhões. Dinheiro não quer dizer muita coisa pra você, que ama cinema (a título de curiosidade, o maravilhoso “O Homem Que Não Estava Lá”, de 2001, não chegou nem a US$ 19 milhões), mas este remake de um faroeste clássico dos anos 60 até pode ter lá seus méritos (atuações brilhantes de Jeff Bridges, Matt Damon e de Hailee Steinfeld mais uma fotografia belíssima), mas é um filme menor dos irmãos Coen. A ironia da dupla surge aqui e ali em rompantes brilhantes, porém a impressão é que a reverência ao gênero matou a irreverência dos irmãos. Ainda assim, uma boa diversão.

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“O Inverno da Alma” (“Winter’s Bone”, 2010)
Um dos bons filmes da (fraca) temporada passada, “O Inverno da Alma” pega a fórmula clássica de se contar uma história no cinema, e não inventa. Para a fórmula dar certo é preciso atenção aos detalhes que compõe o todo, e a diretora Debra Granik (que assina o bom roteiro a quatro mãos com Anne Rosellini) está bem assessorada num filme de fotografia delicada e grandes atuações do elenco, com destaque para os oscarizaveis John Hawkes e Jennifer Lawrence. Esqueça a musa que fez o tapete vermelho do Oscar entrar em transe. Jennifer sofre na pele de Ree Dolly, uma jovem condenada pela vida, responsável por cuidar de dois irmãos menores, uma mãe louca e um pai traficante em uma terra de ninguém, as montanhas Ozarks, no estado americano do Missouri (ambiente do romance de Daniel Woodrell, que deu origem ao filme). Para quem acha a vida bela, é bom lembrar do inverno.

Leia também:
– “Quem Quer Ser Um Milionário”, um Danny Boyle definitivo (aqui)
– O humor transforma ‘Um Homem Sério” em grande filme (aqui)

março 7, 2011   1 Comment

Uma estranha reunião de fantasmas

“Só voltei a Los Angeles em 1972, para a apresentação de ‘O Discreto Charme da Burguesia’ no festival. Reencontrei com prazer as calmas alamedas de Beverly Hills, a impressão de ordem e segurança, a amabilidade americana. Um dia, recebi o convite de George Cuckor para almoçar, convite inesperado, pois eu não o conhecia. (…) Também haveria, ele disse, ‘alguns amigos’.

Foi na realidade um almoço extraordinário. Primeiros a chegar à magnífica mansão de Cuckor, que nos recebeu calorosamente, vimos entrar, semicarregado por uma espécie de escravo negro com músculos consideráveis, um velho espectro cambaleante, venda no olho, que reconheci como John Ford. Eu nunca estivera com ele. Para minha grande surpresa, pois julgava que ele ignorava a minha existência, veio sentar ao meu lado num sofá e se disse feliz por me saber de volta a Hollywood. Contou inclusive que estava preparando um filme – ‘a big western’. Mas ele morreu alguns meses depois.

Nesse momento da conversa, ouvimos uns passinhos se arrastando no assoalho. Virei e vi Hitchcock, que entrava na sala, todo róseo e roliço, e se dirigia para mim com os braços estendidos. Eu tampouco o conhecia, mas sabia que por diversas vezes havia me tecido elogios publicamente. Veio sentar ao meu lado, depois exigiu ficar à minha esquerda durante o almoço. Com uma das mãos em volta do meu pescoço, meio deitado no meu ombro, não cessava de falar de sua adega, de seu regime (comia muito pouco) e sobretudo da perna cortada de ‘Tristana’: “Ah, aquela perna…’.

Em seguida chegaram William Wyler, Billy Wilder, George Stevens, Ruben Mamoulian, Robert Wise e um diretor muito mais novo, Robert Mulligan. Passamos à mesa após alguns aperitivos, na penumbra de uma grande sala de jantar iluminada por candelabros. Em minha homenagem realizava-se uma estranha reunião de fantasmas que nunca haviam se reunido antes, todos falando dos ‘good old days’, os bons e velhos tempos. De ‘Ben Hur’ a ‘Amor, Sublime Amor’, de ‘Quanto Mais Quente Melhor’ a ‘Interlúdio’, de ‘No Tempo das Diligências’ a ‘Assim Caminha a Humanidade’, quantos filmes ao redor daquela mesa…

Depois da refeição, alguém teve a idéia de mandar chamar um fotógrafo da imprensa para tirar o retrato da família. A fotografia devia ser o ‘collector’s items’ do ano. Infelizmente, John Ford não figura nela. Seu escravo negro voltara para pegá-lo no meio do almoço. Ele nos disse até logo debilmente e, esbarrando nas mesas, partiu para não mais nos ver. (…)

No dia seguinte, Fritz Lang me convidou para visitá-lo em sua casa. Muito cansado, ele não pudera comparecer ao almoço na casa de Cukor. Eu tinha 72 anos na época. Fritz Lang já passava dos oitenta. Nos encontrávamos pela primeira vez. Conversamos durante uma hora e tive tempo de lhe dizer o papel decisivo que todos os seus filmes haviam representado na escolha da minha vida. Depois, antes de me despedir – isso não está nos meus hábitos –, pedi que me dedicasse uma fotografia. Bastante surpreso, procurou uma e autografou para mim. (…) Uma dedicatória maravilhosa. Em seguida, me despedi e voltei para o hotel. Não sei direito o que fiz com essa fotografia”.

Luis Buñuel em “Meu Último Suspiro” (Cosac Naify)

A foto: Los Angeles, 1972 (from left to right standing) Robert Mulligan, William Wyler, George Cukor, Robert Wise, Jean-Claude Carrière, Serge Silberman; sentados) Billy Wilder, George Stevens, Buñuel, Alfred Hitchcock, Rouben Mamoulian.

março 6, 2011   No Comments

Cinco fotos: Madri

Clique na imagem se quiser vê-la maior

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Janela

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Quadro

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Os Irmãos

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Luzes para Gaudi

madri4.jpg
A Menina

Veja mais imagens de cidades no link “cinco fotos” (aqui)

março 4, 2011   No Comments

Roteiro: EUA e Europa 2011

sanmiguel2011.jpg

Estou endividado até não sei quando de 2011, mas bora para o Primavera Sound. A Lan Chile deu uma pirada e começou a vender passagens de São Paulo para Madri (conexão Santiago, 20 e tantas horas de viagem) por R$ 950, taxas inclusas. No site da Lan (e nas lojas) eles dividem em 10 vezes. O escritório da Lan, em São Paulo, fica na Rua da Consolação, 247 12° andar Conj. B.

Fato é que baixo em Barcelona dia 25/05 na compania de Marco Tomazzoni e Tiago Agostini para ver o Primavera Sound e, depois, esticar para Amsterdã e qualquer lugar do território europeu que James Dean Bradfield anunciar um show do Manic Street Preachers (ou que Dave Grohl aparecer com o Foo Fighters). Vão ser só 10 dias, mas tem pela frente Flaming Lips, Pulp, Sufjan Stevens, Belle & Sebastian, The National, Mogwai, Fleet Foxes e mais.

06/04 – São Paulo / Nova York
07/04 – Nova York
08/04 – Nova York (Aimee Mann)
09/04 – Nova York (Sebadoh)
10/04 – Nova York (Rush)
11/04 – Nova York
12/04 – Nova York / San Francisco
13/04 – San Francisco (Broken Social Scene)
14/04 – San Francisco (PJ Harvey)
15/04 – San Francisco/ Índio (Coachella)
16/04 – Índio (Coachella)
17/04 – Índio (Coachella)
18/04 – Los Angeles
19/04 – Los Angeles
20/04 – Los Angeles
21/04 – Los Angeles / Chicago
22/04 – Chicago (Arcade Fire + National)
23/04 – Chicago / Columbus (Decemberists)
24/04 – Columbus / Chicago / São Paulo

Outros shows possíveis
MEN, no Music Hall Of Williamsburg, 07/04 (New York)
Bright Eyes no Fox Theater, 12/04 (Oakland)
Klaxons no Fillmore, 12/04 (San Francisco)
CSS, na Glass House, 18/04 (Pomona)
The Go! Team, no Echoplex, 19/04 (Los Angeles)
Paul Simon, Pantages Theatre, 20/04 (Los Angeles)
Low, no Lincoln Hall, 21/04 (Chicago)

25/05 – Barcelona – Primavera Sound
26/05 – Barcelona – Primavera Sound
27/05 – Barcelona – Primavera Sound
28/05 – Barcelona – Primavera Sound
29/05 – Barcelona – Primavera Sound
30/05 – Amsterdã
31/05 – Amsterdã – PJ Harvey
01/06 – ?
02/06 – ?
03/06 – ?
04/06 – Madri
05/06 – São Paulo

Outros shows possíveis: Londres
Art Brut, no The Lexington, 01, 02 e 03 de junho (Londres)
Fleet Foxes, HMV Hammersmith Apollo, 01, 02 de junho (Londres)
Two Door Cinema Club, O2 Academy Brixton, 03/06 (Londres)
Jerry Seinfeld, The O2, 03/06 (Londres)

Berlim
Caribou, no Astra, 01/06 (Berlim)
Roger Waters: The Wall Live no SAP Arena, 03/06 (Mannheim)
Rock am Ring 2001, 03/06 (Nürburgring)

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março 4, 2011   No Comments

Opinião do Consumidor: Theresianer

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O nascimento da cervejaria ítalo-austriaca Theresianer remonta ao período em que Trieste pertencia a Áustria. Mais precisamente em 1766, quando um austríaco obteve permissão de Maria Teresa da Áustria (arquiduquesa e soberana da Áustria, Hungria, Bohemia, Croácia, Mântua, Milão, Galícia, Lodomeria, Parma e Países Baixos Austríacos entre 1740 e 1780) para abrir a primeira cervejaria da cidade – seguindo o modo austríaco de fazer cerveja.

O nome da cervejaria homenageia o bairro Borgo Teresiano, em Trieste, próximo ao porto da cidade e ao Grande Canal, mas a cervejaria se encontra mais afastada do Mar Adriático, aos pés das Dolomitas, cadeia montanhosa dos Alpes orientais no norte da Itália, na cidade de Nervesa della Battaglia, província de Treviso (terra dos Callegari – pertinho, bem pertinho de Veneza). Ou seja, um local de água pura, ingrediente especial para qualquer boa cerveja.

A versão Premium Pils da Theresianer é uma pilsner que segue o padrão tcheco de qualidade: ela é bastante leve, muito mais loira e dourada que as novas pilsens, e mais lupulada também. O aroma destaca uma briga equilibrada entre malte e lúpulo (se alternando). Já o paladar, levíssimo, tem o lúpulo à frente do malte. O amargor característico persiste desde o primeiro toque na língua até o final duradouro, que marca a garganta. Uma pilsener belíssima e acima da média.

Se a pilsner dos italianos já é recomendável, a pale ale é ainda mais surpreendente. Assim como a loura da cervejaria, a Theresianer Pale Ale é levíssima e pouco amarga, ficando mais próxima das Pale Ale belgas do que das inglesas. O aroma carrega na intensidade do adocicado e do frutado (laranja, mel e caramelo) ao lado do malte e do lúpulo (ambos tímidos), que permanecem no sabor (com o álcool marcando presença discretamente) até o seu final extremamente suave. Para procurar em Roma e Veneza.

Além da Theresianer Premium Pils e da Theresianer Pale Ale, a Casa da Cerveja está trazendo para o Brasil a premiada Theresianer Vienna, que foi a que menos me conquistou do trio. As características estão todas ali: a cor acobreada, o aroma maltado e o sabor entre o caramelado e o amargo, mas ela não parece tão saborosa (a da Brooklyn, por exemplo, é maravilhosa, vá atrás), além de ser um pouquinho aguada e não tão amarga. É boa, mas perde para irmãs de estilo.

Teste de Qualidade: Theresianer

– Theresianer Premium Pils
– Produto: Pilsner
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,08/5

– Theresianer Pale Ale
– Produto: Pale Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,15/5

– Theresianer Vienna
– Produto: Vienna Lager
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 5,3%
– Nota: 3,03/5

A Theresianer pode ser encontrada no Empório do Shopping Frei Caneca ou mesmo na loja da Casa da Cerveja (Rua Lisboa, 502, Pinheiros, São Paulo), todas com preço girando entre R$ 12 e R$ 15 (a garrafa de 330 ml).

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março 3, 2011   No Comments