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O que aconteceu com o surrealismo?

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Buñuel por Dali

“Volta e meia me perguntam o que aconteceu com o surrealismo. Não sei muito bem o que responder. Às vezes digo que o surrealismo triunfou no supérfluo e fracassou no essencial. André Breton, Éluard, Aragon estão entre os melhores escritores franceses do século XX, ocupando seu espaço em todas as bibliotecas. Max Ernst, Magritte, Dalí estão entre os pintores mais caros, reconhecidos, ocupando seu lugar em todos os museus. Reconhecimento artístico e sucesso cultural, justamente aquilo a que a maioria de nós não dava a mínima importância. A preocupação maior do movimento surrealista não era entrar gloriosamente na história da literatura e da pintura. O que ele deseja acima de tudo, desejo imperioso e irrealizável, era transformar o mundo e mudar a vida. Nesse aspecto – essencial –, um breve olhar ao redor mostra claramente o nosso fracasso.

Claro, não podia ser de outra forma. Hoje medimos o espaço intimo que o surrealismo ocupava no mundo em relação às forças incalculáveis e sempre renovadas da realidade histórica. Devorados por sonhos do tamanho da terra, não éramos nada – apenas um grupo de intelectuais insolentes que confabulavam num café e publicavam uma revista. Um punhado de idealistas instantaneamente divididos quando se tratava de participar de forma direta e violenta da ação.

Entretanto, conservei a minha vida inteira algo da minha passagem – pouco mais de três anos – pelas fileiras exaltadas e desorganizadas do surrealismo. Em primeiro lugar, esse livre acesso às profundezas do ser, reconhecido e almejado, esse apelo ao irracional, à obscuridade. Apelo que reverberava pela primeira vez com aquela força, aquela coragem, e que se aureolava de uma rara insolência, de um gosto pelo jogo, de uma perseverança tenaz no combate contra tudo o que nos parecia nefasto. Não reneguei nada disso”.

Luis Buñuel em “Meu Último Suspiro” (Cosac Naify)

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