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A menina, o mamute e o liquidificador

“A Menina Santa”, Lucrecia Martel (2004)

Considerada por muitos o grande nome do cinema argentino nos últimos dez anos, Lucrecia Martel mostra (por a + c) com “A Menina Santa” o motivo de tanta admiração. Todos os elementos de um filme são tratados com extremo cuidado e personalidade. O roteiro, por exemplo, conduz o espectador na trama delicada sem o tornar cúmplice (o público idealiza mais do que o filme realmente entrega). A fotografia, por sua vez, procura os ângulos pouco comuns, o que passa certo aspecto de voyeurismo e também de intimidade sem, no entanto, desvendar a história através das imagens. Na verdade, nada é desvendado. E este é o grande mérito de “A Menina Santa” (e do cinema de Martel): deixar a idéia flutuando na mente do espectador. O que não se mostra é o que interessa. Uma pequena aula de cinema.

“Soy Cuba, O Mamute Siberiano”, Vicente Ferraz (2004)

Vicente Ferraz estudou cinema na Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba, e foi lá que conheceu a obra que o cineasta russo Mikhail Kalatozov filmou no início da revolução cubana, em 1960 (logo após ter conquistado uma Palma de Ouro em Cannes, em 1958). “Soy Cuba” necessitou de quase três anos para ficar pronto, e não agradou ao povo cubano (que não aprovou o olhar dos russos sobre o país) nem tampouco teve sobrevida no Velho Mundo. Foi engavetado logo após a estréia e redescoberto 30 anos depois por Martin Scorsese e Francis Coppola, que o relançaram nos EUA. Ferraz conta a história da produção de “Soy Cuba” e conversa com atores e pessoas que trabalharam na realização do filme – algumas passagens são comoventes. Nos extras ele explica o mais belo plano seqüência do filme (quiça da história do cinema), obra do fotógrafo Serguey Urusevsky.

“Reflexões de um Liquidificador”, André Klotzel (2010)

Eis um dos filmes nacionais mais bacanas deste ano. Não que seja perfeito, mas a originalidade do tema e a esperteza do roteiro transformam o drama de um velho liquidificador em uma história interessante. E Selton Mello agora pode dizer que é um ator pau (ops) pra toda obra. É ele quem dá voz e alma para o liquidificador que, de uma hora para outra, começa a ter sentimentos e conversar com Dona Elvira, uma dona de casa que passa apuros com o sumiço repentino do marido. Klotzel brinca muito bem com os clichês (o policial, a gostosona, o thriller), mas apesar de sua curta duração (80 minutos), “Reflexões” cansa um bocadinho no meio, quando o eletrodoméstico começa a pensar em sua própria vida. Faltou uma história secundária forte para tirar o liquidificador da tomada. Mesmo assim, um filme a ser visto e admirado.

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