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SWU – Dia 3

Texto: Marcelo Costa
Fotos: Liliane Callegari

A saída do segundo dia foi sossegada (ao contrário do drama do primeiro dia). Optamos por cabular o pop Vila Olímpia da Dave Matthews Band e o rock fracote do Kings of Leon para chegarmos à Pousada antes do sol nascer. Funcionou. Praticamente com o estacionamento lotado (e 70% do público ainda no festival), deixamos o local sem traumas. Antes da meia-noite estávamos em Itu assistindo ao Kings of Leon na barraquinha King Lanches (um local perguntou: “Isso é rock?”. Diz muito).

Frente às reclamações e histórias da noite assustadora do dia anterior, a organização conseguiu que a polícia liberasse uma via antes fechada para melhor escoamento do trânsito, colocou mais pessoas informando os locais corretos de embarque para cada destino e 40 ônibus a mais do que na noite anterior (eram 80 e passaram a 120). Como optamos por ir de carro e saímos antes do batalhão de público ao termino do último show, não podemos afirmar se funcionou ou não, mas fica registrada a tentativa da produção em evitar repetir os erros do primeiro dia.

Para o terceiro dia não alteramos o modus operandi do dia anterior. Fomos novamente de carro, estacionamos no local e saímos antes do último show. Chegamos em tempo de pegar metade do belíssimo show de microfonia do Yo La Tengo. Teve “Sugarcube”, “Tom Courtenay”, “Autumn Sweater” e “Pass the Hatchet, I Think I’m Godkind”, 15 minutos de barulho para fã nenhum de rock botar defeito (com exceção dos fãs do Linkin Park, que vamos combinar, não entendem de rock).

Na sequencia, Max e Iggor promoveram a maior, melhor e mais bonita roda de pogo do festival ao tocar hinos do Sepultura como “Refuse/Resist” e “Roots Bloody Roots”, que levantou poeira (ainda rolaram “Atittude” e “Troops of Doom”), com o Cavalera Conspirancy. Tocaram também canções do álbum “Inflikted”, como a faixa título mais “Sanctuary”, “Terrorize”, “Hex”, “Ultra-Violent” e um número inédito, “Warlords”. Do meio do pista normal, os ex-parceiros Paulo Jr. e Andréas Kisser assistiam ao show. Reunião do Sepultura à vista?

 No palco Oi, acompanhado apenas de baixolão e violão, Josh Rouse fez um show intimista e bonito, mas sofreu com um problema comum nesta primeira dia edição do SWU: o mau posicionamento dos palcos (estrutura é um erro grave em um evento deste porte) fazia com que o som vazasse para os outros. O público que ouvia o Yo La Tengo, em momentos mais calmos, percebia o som do Autoramas chegar ao palco principal. E Josh, em show acústico, lamentou: “Vocês conseguem nos ouvir com essa música eletrônica?” Canções delicadas como “Come Back”, “Valencia”, “My Love has Gone”, “Carolina”, “Sunshine”, “Streetlights” e “Love Vibrations” mereciam mais respeito.

Com um atraso inaceitável de 50 minutos, o Queens of The Stone Age subiu ao palco para tocar para uma área Premium tomada por fãs do Linkin Park. O show demorou a engrenar – com problemas visíveis na iluminação, nos telões e na superlotação da área – mas Josh Homme encontrou o caminho para fazer o melhor show do festival. Dois clássicos modernos logo de cara (“Feel Good Hit of the Summer” e “The Lost Art of Keeping a Secret”) mais um punhado de números matadores (“3’s & 7’s”, “Sick, Sick, Sick”, “Monsters in the Parasol”, “Little Sister”, “Go With The Flow”) que culminaram numa versão majestosa de “No One Knows”, a melhor música do melhor disco do QOTSA. Levou a medalha de ouro.

 Entre jornalistas, o comentário era de que o Pixies iria ter que suar para bater o Queens. Mas suar pelo Pixies é um verbo que Frank Black não conjuga mais. A banda ícone enfileirou hits (“Debaser”, “Wave of Mutilation”, “Velouria”, “Monkey Gone to Heaven”, “Planet of Sound”, “Where Is My Mind?” e “Gigantic”) e tocou o álbum “Doolittle” praticamente inteiro (faltaram apenas quatro das 15 faixas: “Silver”, “Dead”, “There Goes My Gun” e, ausência mais sentida, “I Bleed”), mas sofreu com um som embolado e, em momentos mais calmos, parecia tocar em marcha lenta (“Here Comes Your Man”, por exemplo).

Frank Black estampava uma vontade de tocar tão contagiante que se um boneco estivesse em seu lugar não faria diferença, mas são tantos hinos, tantas canções boas, que ele merece o dinheiro que ganha (hoje em dia). Ele é a mente doentia por trás de uma das grandes bandas da história, mas não à toa, o grande momento do show foi ouvir Kim Deal mandá-lo se foder (mesmo brincando) no único espaço em que a baixista pode chamar de seu no show, “Gigantic”. Bonito. Cortinas cerradas. Ainda tinha Linkin Park e Tiesto, mas a festa já tinha terminado – para nós.

Há muito ainda o que falar do SWU, um evento que ofereceu um punhado de shows legais, mas que teve uma porção de problemas na produção. Apesar de Eduardo Fischer, em pequena coletiva na sala de imprensa, colocar o festival entre os cinco melhores do mundo, falta muito para o SWU entrar num top 100. Qualquer festival minúsculo da Bélgica (o país mais pródigo em realizar bons festivais – é só consultar o Prêmio Arthur para conferir) deixa o SWU para trás.

Reconhecer os erros é um mérito que pode melhorar o planejamento para a edição de 2011. O bom número do público reforça a idéia de sucesso do evento, mas não basta (ou não deveria bastar) levar 160 mil almas para uma fazenda no interior do Estado de São Paulo e considerar isso como uma vitória: é preciso tratar essas pessoas com respeito, dar-lhes formas de se alimentar e assistir aos shows de forma prazerosa (entretenimento deveria ser prazer), e condições para que cada uma voltasse para sua casa, barraca ou hotel de forma decente, sem riscos.

Por outro lado é preciso saudar o surgimento de um festival que pode vir a ser o melhor festival sul-americano em quatro, cinco anos. Houve sim problemas (até relatados neste espaço) e serão necessários muitos ajustes para as edições vindouras, mas o Brasil sentia falta de um grande festival anual no formato dos melhores eventos europeus e norte-americanos. Acontece que Europa e Estados Unidos estão 10, 20, 30 anos à frente do SWU no quesito produção. A equipe de Eduardo Fischer precisa aprender com os erros e mirar um futuro em que o show, a música, o fórum sejam notícia, não os problemas. Retuitar apenas os elogios soa cinismo. O público, no entanto, fica no aguardo.

Todas as fotos por Liliane Callegari com exceção da 1, 2 e 11 (por Marcelo Costa) e do Yo La Tengo (Divulgação SWU)

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