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SWU: cenário de festa ou de caos?

Não foi uma tragédia, mas quase. A saída do público do primeiro dia do SWU poderia facilmente ter entrado para as páginas negras da história do festivais de música ao redor do mundo. Um total de 47 mil pessoas (público informado pela produção) vagava sem nenhuma informação, perdidas entre pessoas da organização despreparadas, nenhuma placa de informação e a escuridão das ruas de terra batida da Fazenda Maeda.

O caos começou logo após ao término do show do Rage Against The Machine. A maioria do público partiu em direção aos bolsões de ônibus para pegar um translado para os bolsões de estacionamento, em Itu. Porém, não haviam ônibus. As filas imensas davam voltas e ninguém sabia informar a qual destinava cada uma. Algumas pessoas já esperavam os veículos antes do show do Rage Against The Machine terminar, mas nada de condução.

Grande parte do público decidiu fazer o caminho à pé, o que transformou a rua de terra batida da Fazenda Maeda em terra de ninguém, um pequeno espaço ocupado por carros, ônibus e milhares de transeuntes. Um grupo de pessoas, ao ver um ônibus vazio partindo em direção à saída, conseguiu “convencer” o motorista a abrir a porta, e o veículo lotou em aproximadamente três minutos. Ninguém mais entrava, não havia espaço.

Assim que o motorista fechou a porta, dezenas de outras pessoas começaram a bater nos vidros do ônibus pedindo uma vaga na condução. Um rapaz, com o tiquete da passagem na mão, batia violentamente no vidro do motorista gritando e chorando: “Eu paguei o ônibus. Eu quero ir embora”. Um amigo, na janela ao lado, provocava o piloto: “O ônibus não está saindo do lugar e o motor está ligado. Esse é um evento de sustentabilidade”.

Uma cena de stress era protagonizada a cada cem metros que o ônibus conseguia se locomover. Alguém parava ao lado do motorista, pedia “pelo amor de Deus” para que ele abrisse a porta, e o piloto alegava que não cabia mais ninguém no veículo. Um rapaz, deitado no painel e com a cabeça embaixo do volante, era o retrato da lotação, mas ninguém queria saber. Geralmente esmurrava o vidro do carro enquanto os ocupantes do ônibus diziam que o motorista não tinha culpa e estava apenas trabalhando (ou tentando).

Os dois pontos de maior risco foram próximos a saída para a Rodovia Castelo Branco. No primeiro, rapazes em uma Meriva tentaram cortar o ônibus pela direita. Impossibilitado de ver o veículo ao lado, o motorista acelerou e deu no meio do carro dos rapazes, que desceram no mesmo momento e tentaram partir para a violência, cobrando do motorista do ônibus uma atitude. Seis carros da polícia passaram ao lado, e não pararam para resolver o imbróglio, que terminou em um bate boca (e em um quase racha na Castelo Branco: isso mesmo, um racha com quase 100 pessoas num ônibus).

Assim que o ônibus passou pela área de congestionamento (causada pela junção da saída do estacionamento simples – em quatro faixas – com a estrada que trazia os ônibus da entrada principal), um grupo de pessoas com pedras tentava quebrar os vidros do ônibus ante a negativa do embarque. Junto, o rapaz da Meriva incitava o quebra quebra. A polícia, a 100 metros, só dispersou o público quando o motorista, após alguns minutos de tensão, sinalizou com os faróis que havia algo errado.

Assim que entrou na Rodovia Castelo Branco, após alguns metros emparelhado com a Meriva detonada, o ônibus seguiu seu trajeto até o Bolsão do Kartódromo. O trajeto que custou 25 minutos na vinda, às 16h, demorou 3h30 durante a madrugada. Segundo tweets, como o do Fabricio Vianna (@fabriciovianna), “teve uma galera que colocou fogo na passagem pra não descer mais de ônibus”. Já o Alexandre Pera (@alexandrepera), “as fichas de alimentação acabaram. A cerveja que era tabelada, aumentou”.

A noite para a Letícia Ribeiro (@anthems_antics) foi ainda mais traumática: “Cara, devolvemos nossos ingressos de hj pq fomos roubados por uns carecas em pleno show do RATM! Foi muito tenso! Nós reagimos ao roubo, mas não tinha segurança por perto! E a galera de fora balançava nosso ônibus”. Se musicalmente, a primeira noite tinha sido ok sem grandes destaques (talvez o coito interrompido do RATM), a desorganização na saída simplesmente transformou um cenário de festa em um caos, quase um campo de guerra.

outubro 10, 2010   No Comments

SWU – Dia 1

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Texto: Marcelo Costa
Fotos: Liliane Callegari

22h40, sala de imprensa. O Rage Against The Machine está fazendo uma barulheira tão braba que as paredes de compensado chacoalham cada vez que Tim Commerford toca uma corda do baixo. Bonito de ver o pique da galera cantando e urrando as letras das músicas (houve até dedicatória especial ao MST). Seria melhor que o grande público estivesse mais perto do palco (a vergonhosa área premium é extensa e os afasta dos artistas), mas mesmo assim a turma de Los Angeles se esforçou para chegar perto dos fãs com um bom show, mas aconteceu o contrário.

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Não rolou invasão, como Zack de la Rocha incentivou pelo twitter. Mas quase. Na segunda música, a muvuca era tão grande entre a galera da pista normal que Zack precisou dar um tempo e bancar o cobrador de ônibus: “um passinho pra trás, um passinho pra trás”. A barricada estava vindo para a frente, e isso aconteceu praticamente o show todo obrigando a produção a desligar o som três vezes. A banda começava a engranar, e o som parava para o público acalmar. Fácil promover o caos quando se tem um camarim caprichado e quando se está no palco, e não espremido entre milhares de pessoas. Se acontecesse alguma tragédia alguém diria: “Isso é o Brasil”. Mas não é bem assim. Bola fora do RATM (sobre um erro do SWU, a área premium).

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Voltando algumas horas atrás: Mallu Magalhães (toda linda) brigou com a microfonia no Palco Oi, mas foi o Cidadão Instigado que fez bonito. Fernando Catatau, inspiradíssimo, descontou a raiva dos problemas com o som em sua guitarra, e o público ganhou riffs fortes e empolgantes. No palco principal, Sérgio Dias enganava a plateia cantando hinos do Mutantes como “Vida de Cachorro”, “Virginia”, Fuga Nº 2″, “Top Top”, “Minha Menina”, “El Justiceiro”, “Balada do Louco” e “Ando Meio Desligado”. Bom momento: a boa versão de “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer”.

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Já o Los Hermanos começou com “Além do Que Se Vê”, engatou em “Todo Carnaval Tem Seu Fim” e “Retrato de Ia Ia” prometendo uma noite antológica. E, de certo modo, foi… até a dobradinha “O Vencedor”/”Cara Estranho”, está última em versão enfezada, barulhenta, roqueira (melhor que show inteiro que a banda fez em 2008 abrindo para o Radiohead em São Paulo). Porém, depois desse momento de beleza roqueira, a banda decidiu colocar o público para dormir e o show ficou chatão. Ninguém chegou a roncar, e a maioria acordou para cantar “Sentimental” e pular em “A Flor”, mas ficou no ar a sensação de “eles podem mais, só não querem”. Chatos.

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O saldo desse primeiro dia (não rolou de ver Superguidis, Curumin e Apples in Stereo – coisas de festival, mas Cidadão valeu) foi ok. Se musicalmente o festival está devendo (e deve continuar, mesmo com a promessa dos grandes shows da segunda-feira), a estrutura está funcionando dentro do possível. Ainda é preciso disponibilizar mais caixas (as filas estavam imensas) e encontrar uma saída para o problema “área premium” (segunda tem QOTSA, tenso), mas é melhor esperar até o terceiro dia para fazer uma análise completa, um balanço geral. É só o começo do fim de semana e o primeiro dia de um festival que tem tudo para dar certo, mas alguém precisa ir anotando os erros. Eles podem custar caro.

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Amanhã tem… Jota Quest.

outubro 10, 2010   No Comments