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Posts from — outubro 2010

Boa sorte, indústria brasileira

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Chegou via release: os seis primeiros álbuns da Legião Urbana (lançados entre 84 e 93), editados originalmente em vinil, voltam ao formato em edições de capa dupla, com fotos e textos inéditos. Já “Tempestade” e “Uma Outra Estação”, editados originalmente em CD, foram adaptados ao formato vinil, ambos com dois LPs cada e capas duplas. Todos remasterizados em Abbey Road.

Preços sugeridos (sujeitos a variações determinadas pelas lojas)
Vinis simples – R$ 120 (“Quatro Estações” e “Descobrimento Do Brasil”)
Vinis simples – R$ 140 (“Legião Urbana”, “Dois”, “Que País é Este” e “V”)
Vinis duplos – R$ 190 (“A Tempestade” e “Uma Outra Estação”)

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Enquanto isso, um dos discos mais clássicos da carreira de Paul McCartney (aquele cara que um dia integrou uma banda chamada Beatles e que daqui alguns dias estará entre nós) ao lado do Wings, “Band on The Run”, ganha uma reedição luxuosa também em vinil (além de CDs com material raro) que conta com as nove faixas do álbum distribuídas em dois discos de 12” de 180 gramas. Além, quem comprar o vinil duplo pelo site do Paul ganha “9 bonus audio tracks” em MP3, que são as músicas que integram um dos CDs extras (o tracking list você pode conferir aqui). O disco também foi remasterizado em Abbey Road.

Preço: US$: 29,99 (cotação de hoje: R$ 51,10 26/10)

Ou seja: Paul duplo, R$ 50. Legião duplo, R$ 190.

Assim, eu adoraria comprar vinis nacionais, e até trocar os vinis originais da Legião que tenho por essas novas reedições, mas não dá para acreditar nestes preços. Comprei a coleção do Wilco, via Amazon, 20 dólares cada vinil (todos com o CD de bônus incluso). Não dá para pagar os cento e tantos reais num vinil nacional. Boa sorte, indústria.

outubro 26, 2010   No Comments

A menina, o mamute e o liquidificador

“A Menina Santa”, Lucrecia Martel (2004)

Considerada por muitos o grande nome do cinema argentino nos últimos dez anos, Lucrecia Martel mostra (por a + c) com “A Menina Santa” o motivo de tanta admiração. Todos os elementos de um filme são tratados com extremo cuidado e personalidade. O roteiro, por exemplo, conduz o espectador na trama delicada sem o tornar cúmplice (o público idealiza mais do que o filme realmente entrega). A fotografia, por sua vez, procura os ângulos pouco comuns, o que passa certo aspecto de voyeurismo e também de intimidade sem, no entanto, desvendar a história através das imagens. Na verdade, nada é desvendado. E este é o grande mérito de “A Menina Santa” (e do cinema de Martel): deixar a idéia flutuando na mente do espectador. O que não se mostra é o que interessa. Uma pequena aula de cinema.

“Soy Cuba, O Mamute Siberiano”, Vicente Ferraz (2004)

Vicente Ferraz estudou cinema na Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba, e foi lá que conheceu a obra que o cineasta russo Mikhail Kalatozov filmou no início da revolução cubana, em 1960 (logo após ter conquistado uma Palma de Ouro em Cannes, em 1958). “Soy Cuba” necessitou de quase três anos para ficar pronto, e não agradou ao povo cubano (que não aprovou o olhar dos russos sobre o país) nem tampouco teve sobrevida no Velho Mundo. Foi engavetado logo após a estréia e redescoberto 30 anos depois por Martin Scorsese e Francis Coppola, que o relançaram nos EUA. Ferraz conta a história da produção de “Soy Cuba” e conversa com atores e pessoas que trabalharam na realização do filme – algumas passagens são comoventes. Nos extras ele explica o mais belo plano seqüência do filme (quiça da história do cinema), obra do fotógrafo Serguey Urusevsky.

“Reflexões de um Liquidificador”, André Klotzel (2010)

Eis um dos filmes nacionais mais bacanas deste ano. Não que seja perfeito, mas a originalidade do tema e a esperteza do roteiro transformam o drama de um velho liquidificador em uma história interessante. E Selton Mello agora pode dizer que é um ator pau (ops) pra toda obra. É ele quem dá voz e alma para o liquidificador que, de uma hora para outra, começa a ter sentimentos e conversar com Dona Elvira, uma dona de casa que passa apuros com o sumiço repentino do marido. Klotzel brinca muito bem com os clichês (o policial, a gostosona, o thriller), mas apesar de sua curta duração (80 minutos), “Reflexões” cansa um bocadinho no meio, quando o eletrodoméstico começa a pensar em sua própria vida. Faltou uma história secundária forte para tirar o liquidificador da tomada. Mesmo assim, um filme a ser visto e admirado.

outubro 18, 2010   No Comments

“Eu acampei no SWU”, por Elson Barbosa

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Foto: Divulgação

À convite do Scream & Yell, Elson Barbosa (Herod Layne, Sinewave) conta como foi o camping no primeiro SWU. Divirta-se:

“Acampamento, como se sabe, é para aventureiros. Gente que se dispõe a dormir mal, comer mal, se sujeitar a diversos tipos de privações. Mas até aí megafestival também é, e a quantidade de perrengues em um pode ser tão grande quanto no outro. Quando recebi a ligação de um grande amigo me chamando para o camping do SWU, a primeira reação foi o proverbial “não tenho mais idade pra isso”. Mas tem aquele lance que idade é estado de espírito, etc, e certamente não seria pior do que um músico enfrenta durante uma turnê. Topei.

O camping do SWU até teve seus problemas. Mas estes não foram nada perto do caos que muita gente enfrentou nas saídas dos shows. No geral estávamos em um ambiente tão legal (e offline) que não sabíamos de problema nenhum acontecendo no mundo além das catracas.

Passamos por um primeiro perrengue na entrada, quando levamos quatro horas para conseguir acesso para a área de camping devido à falta de informação do evento. Informação é primordial em qualquer tipo de processo. Alguns avisos espalhados pela área teriam um custo quase zero e evitariam uma situação que custou quatro horas de centenas de pessoas. Mas ok, esse tipo de problema não é exclusividade do SWU e muito menos do Brasil – já passei por problemas bem maiores em festivais em outros países. Faz parte. Chegamos na área de camping, montamos a barraca, e partimos para o festival, já com vários bons shows perdidos.

Vale descrever a área de camping. Oficialmente um kartódromo, ficava ao lado de uma área de lazer e pescaria. A área de lazer, aberta 24h, tinha diversas lanchonetes, um restaurante, lojinhas, banheiros. A comida por lá era melhor, mais variada e mais barata que na arena de shows. Fazendo um bom planejamento de horários, era possível ir para o restaurante durante um show mais concorrido e comer sem enfrentar fila nenhuma. A área de pescaria, com seus diversos lagos artificiais, dava um ar bastante bucólico para o lugar. Ambiente perfeito para uma brisa longe da arena de shows.

Durante o dia, mais um perrengue, talvez o mais problemático. Cada pessoa tinha direito a quatro banhos controlados de sete minutos, em horários específicos. Os chuveiros foram muito mal projetados pela organização – havia vinte para homens e dez para mulheres. Isso num camping para milhares de pessoas. A fila era de em média duas horas, embaixo de um sol escaldante (ou, para quem se aventurasse a tomar banho de madrugada, embaixo de um frio congelante). Houve várias reclamações, e até um princípio de tumulto na fila das mulheres, que passava das duas horas de espera. E eis um ponto positivo para a organização – as reclamações eram ouvidas. No dia seguinte ao tumulto, aumentaram o horário para banhos, e puseram várias pessoas do staff para divulgar a informação. Apesar das filas grandes, estávamos sendo bem tratados.

A noite no camping, depois dos shows, era bem tranquila, segura e policiada. Não soube de nenhum problema de roubo ou violência por lá. Pelo contrário – a boa vibe aproximava pessoas que nem se conheciam. Em uma sala com tomadas elétricas para carregar celulares era comum formar rodas de grandes amigos que acabavam de se conhecer. Um festival não é formado só de bons shows afinal. O camping ali era parte da festa.”

Leia também:
– “Três dias de shows e polêmicas em Itu”, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 13, 2010   No Comments

SWU – Dia 3

Texto: Marcelo Costa
Fotos: Liliane Callegari

A saída do segundo dia foi sossegada (ao contrário do drama do primeiro dia). Optamos por cabular o pop Vila Olímpia da Dave Matthews Band e o rock fracote do Kings of Leon para chegarmos à Pousada antes do sol nascer. Funcionou. Praticamente com o estacionamento lotado (e 70% do público ainda no festival), deixamos o local sem traumas. Antes da meia-noite estávamos em Itu assistindo ao Kings of Leon na barraquinha King Lanches (um local perguntou: “Isso é rock?”. Diz muito).

Frente às reclamações e histórias da noite assustadora do dia anterior, a organização conseguiu que a polícia liberasse uma via antes fechada para melhor escoamento do trânsito, colocou mais pessoas informando os locais corretos de embarque para cada destino e 40 ônibus a mais do que na noite anterior (eram 80 e passaram a 120). Como optamos por ir de carro e saímos antes do batalhão de público ao termino do último show, não podemos afirmar se funcionou ou não, mas fica registrada a tentativa da produção em evitar repetir os erros do primeiro dia.

Para o terceiro dia não alteramos o modus operandi do dia anterior. Fomos novamente de carro, estacionamos no local e saímos antes do último show. Chegamos em tempo de pegar metade do belíssimo show de microfonia do Yo La Tengo. Teve “Sugarcube”, “Tom Courtenay”, “Autumn Sweater” e “Pass the Hatchet, I Think I’m Godkind”, 15 minutos de barulho para fã nenhum de rock botar defeito (com exceção dos fãs do Linkin Park, que vamos combinar, não entendem de rock).

Na sequencia, Max e Iggor promoveram a maior, melhor e mais bonita roda de pogo do festival ao tocar hinos do Sepultura como “Refuse/Resist” e “Roots Bloody Roots”, que levantou poeira (ainda rolaram “Atittude” e “Troops of Doom”), com o Cavalera Conspirancy. Tocaram também canções do álbum “Inflikted”, como a faixa título mais “Sanctuary”, “Terrorize”, “Hex”, “Ultra-Violent” e um número inédito, “Warlords”. Do meio do pista normal, os ex-parceiros Paulo Jr. e Andréas Kisser assistiam ao show. Reunião do Sepultura à vista?

 No palco Oi, acompanhado apenas de baixolão e violão, Josh Rouse fez um show intimista e bonito, mas sofreu com um problema comum nesta primeira dia edição do SWU: o mau posicionamento dos palcos (estrutura é um erro grave em um evento deste porte) fazia com que o som vazasse para os outros. O público que ouvia o Yo La Tengo, em momentos mais calmos, percebia o som do Autoramas chegar ao palco principal. E Josh, em show acústico, lamentou: “Vocês conseguem nos ouvir com essa música eletrônica?” Canções delicadas como “Come Back”, “Valencia”, “My Love has Gone”, “Carolina”, “Sunshine”, “Streetlights” e “Love Vibrations” mereciam mais respeito.

Com um atraso inaceitável de 50 minutos, o Queens of The Stone Age subiu ao palco para tocar para uma área Premium tomada por fãs do Linkin Park. O show demorou a engrenar – com problemas visíveis na iluminação, nos telões e na superlotação da área – mas Josh Homme encontrou o caminho para fazer o melhor show do festival. Dois clássicos modernos logo de cara (“Feel Good Hit of the Summer” e “The Lost Art of Keeping a Secret”) mais um punhado de números matadores (“3’s & 7’s”, “Sick, Sick, Sick”, “Monsters in the Parasol”, “Little Sister”, “Go With The Flow”) que culminaram numa versão majestosa de “No One Knows”, a melhor música do melhor disco do QOTSA. Levou a medalha de ouro.

 Entre jornalistas, o comentário era de que o Pixies iria ter que suar para bater o Queens. Mas suar pelo Pixies é um verbo que Frank Black não conjuga mais. A banda ícone enfileirou hits (“Debaser”, “Wave of Mutilation”, “Velouria”, “Monkey Gone to Heaven”, “Planet of Sound”, “Where Is My Mind?” e “Gigantic”) e tocou o álbum “Doolittle” praticamente inteiro (faltaram apenas quatro das 15 faixas: “Silver”, “Dead”, “There Goes My Gun” e, ausência mais sentida, “I Bleed”), mas sofreu com um som embolado e, em momentos mais calmos, parecia tocar em marcha lenta (“Here Comes Your Man”, por exemplo).

Frank Black estampava uma vontade de tocar tão contagiante que se um boneco estivesse em seu lugar não faria diferença, mas são tantos hinos, tantas canções boas, que ele merece o dinheiro que ganha (hoje em dia). Ele é a mente doentia por trás de uma das grandes bandas da história, mas não à toa, o grande momento do show foi ouvir Kim Deal mandá-lo se foder (mesmo brincando) no único espaço em que a baixista pode chamar de seu no show, “Gigantic”. Bonito. Cortinas cerradas. Ainda tinha Linkin Park e Tiesto, mas a festa já tinha terminado – para nós.

Há muito ainda o que falar do SWU, um evento que ofereceu um punhado de shows legais, mas que teve uma porção de problemas na produção. Apesar de Eduardo Fischer, em pequena coletiva na sala de imprensa, colocar o festival entre os cinco melhores do mundo, falta muito para o SWU entrar num top 100. Qualquer festival minúsculo da Bélgica (o país mais pródigo em realizar bons festivais – é só consultar o Prêmio Arthur para conferir) deixa o SWU para trás.

Reconhecer os erros é um mérito que pode melhorar o planejamento para a edição de 2011. O bom número do público reforça a idéia de sucesso do evento, mas não basta (ou não deveria bastar) levar 160 mil almas para uma fazenda no interior do Estado de São Paulo e considerar isso como uma vitória: é preciso tratar essas pessoas com respeito, dar-lhes formas de se alimentar e assistir aos shows de forma prazerosa (entretenimento deveria ser prazer), e condições para que cada uma voltasse para sua casa, barraca ou hotel de forma decente, sem riscos.

Por outro lado é preciso saudar o surgimento de um festival que pode vir a ser o melhor festival sul-americano em quatro, cinco anos. Houve sim problemas (até relatados neste espaço) e serão necessários muitos ajustes para as edições vindouras, mas o Brasil sentia falta de um grande festival anual no formato dos melhores eventos europeus e norte-americanos. Acontece que Europa e Estados Unidos estão 10, 20, 30 anos à frente do SWU no quesito produção. A equipe de Eduardo Fischer precisa aprender com os erros e mirar um futuro em que o show, a música, o fórum sejam notícia, não os problemas. Retuitar apenas os elogios soa cinismo. O público, no entanto, fica no aguardo.

Todas as fotos por Liliane Callegari com exceção da 1, 2 e 11 (por Marcelo Costa) e do Yo La Tengo (Divulgação SWU)

outubro 12, 2010   No Comments

SWU – Dia 2

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Texto: Marcelo Costa
Fotos: Liliane Callegari

Programação reduzida para o segundo dia do Festival SWU. Após o drama da volta na madrugada do primeiro dia, que terminou com o sol nascendo na estrada para Cabreúva, deixamos de lado shows que gostaríamos muito de ter visto (Tulipa Ruiz e Rubinho Jacobina) e nos concentramos nas apresentações que realmente valeriam a pena todo o esforço de chegar ao festival: Regina Spektor e Otto.

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Regina, como muita gente tinha previsto, pareceu pequena depois para o palco principal. O show foi bom, ela tem uma grande voz, mas na área premium ninguém estava entendendoo que estava acontecendo no palco. Pareciam estar assistindo a um DVD, e não a um show pop. Uma pena, pois Regina Spektor merecia mais. Se fizesse o show no Palco Oi, por exemplo, poderia sair consagrada.

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Otto, por sua vez, tocou no Palco Oi e lotou a tenda mostrando a excelente fase de seu trabalho solo ancorado no excelente disco “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos”. Mais de duas mil pessoas cantando, urrando e dançando canções como “Filha”, “Janaina”, “Dias de Janeiro”, “Tente Entender”, “Ciranda de Maluco” e uma inspirada versão de “Saudade”, parceria do cantor com Fernando Catatau e Julieta Venegas.

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A Jambroband, banda que acompanha Otto, vive sua fase mais inspirada no palco. A sequência de shows harmonizou o quinteto instrumental e os percussionistas e a mistura de sons está simplesmente chapante. Fernando Catatau e Junio Boca estão cada vez mais bem entrosados na guitarra, Ryan segura tudo no baixo, Bactéria coloca o molho nos teclados e Pupillo é um monstro na cadência e nas inflexões da bateria.

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Os dois cavalos de batalha (temático e musical) do último disco, “Crua” e “Seis Minutos”, surgiram em versões sublimes, eternas, consagrando Otto que, mais uma vez, entregou-se a discursos nonsense, elogiou o festival, a sua banda e perguntou ao público: “Vocês estão gostando do show?” Ante a resposta positiva, cravou: “Então contem para os amigos. É assim que funciona”. No boca a boca, Otto fez outra vez o show do ano.

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 Ainda teve a “aparição” de Joss Stone no palco principal (um amigo jornalista definiu: “Até as axilas dela são bonitas”), mas o dia já estava ganho. Para fugir do trauma do dia anterior, deixamos a Fazenda Maeda antes de Kings of Leon pisar no palco (vimos parte do show em um carrinho de lanches em Itu. Fracote, você estava avisado – risos) e a saída foi tranquilíssima, sem nenhum problema. Até abriu o apetite rock and roll para hoje: Pixies e QOTSA, nos aguardem.

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outubro 11, 2010   No Comments

SWU: cenário de festa ou de caos?

Não foi uma tragédia, mas quase. A saída do público do primeiro dia do SWU poderia facilmente ter entrado para as páginas negras da história do festivais de música ao redor do mundo. Um total de 47 mil pessoas (público informado pela produção) vagava sem nenhuma informação, perdidas entre pessoas da organização despreparadas, nenhuma placa de informação e a escuridão das ruas de terra batida da Fazenda Maeda.

O caos começou logo após ao término do show do Rage Against The Machine. A maioria do público partiu em direção aos bolsões de ônibus para pegar um translado para os bolsões de estacionamento, em Itu. Porém, não haviam ônibus. As filas imensas davam voltas e ninguém sabia informar a qual destinava cada uma. Algumas pessoas já esperavam os veículos antes do show do Rage Against The Machine terminar, mas nada de condução.

Grande parte do público decidiu fazer o caminho à pé, o que transformou a rua de terra batida da Fazenda Maeda em terra de ninguém, um pequeno espaço ocupado por carros, ônibus e milhares de transeuntes. Um grupo de pessoas, ao ver um ônibus vazio partindo em direção à saída, conseguiu “convencer” o motorista a abrir a porta, e o veículo lotou em aproximadamente três minutos. Ninguém mais entrava, não havia espaço.

Assim que o motorista fechou a porta, dezenas de outras pessoas começaram a bater nos vidros do ônibus pedindo uma vaga na condução. Um rapaz, com o tiquete da passagem na mão, batia violentamente no vidro do motorista gritando e chorando: “Eu paguei o ônibus. Eu quero ir embora”. Um amigo, na janela ao lado, provocava o piloto: “O ônibus não está saindo do lugar e o motor está ligado. Esse é um evento de sustentabilidade”.

Uma cena de stress era protagonizada a cada cem metros que o ônibus conseguia se locomover. Alguém parava ao lado do motorista, pedia “pelo amor de Deus” para que ele abrisse a porta, e o piloto alegava que não cabia mais ninguém no veículo. Um rapaz, deitado no painel e com a cabeça embaixo do volante, era o retrato da lotação, mas ninguém queria saber. Geralmente esmurrava o vidro do carro enquanto os ocupantes do ônibus diziam que o motorista não tinha culpa e estava apenas trabalhando (ou tentando).

Os dois pontos de maior risco foram próximos a saída para a Rodovia Castelo Branco. No primeiro, rapazes em uma Meriva tentaram cortar o ônibus pela direita. Impossibilitado de ver o veículo ao lado, o motorista acelerou e deu no meio do carro dos rapazes, que desceram no mesmo momento e tentaram partir para a violência, cobrando do motorista do ônibus uma atitude. Seis carros da polícia passaram ao lado, e não pararam para resolver o imbróglio, que terminou em um bate boca (e em um quase racha na Castelo Branco: isso mesmo, um racha com quase 100 pessoas num ônibus).

Assim que o ônibus passou pela área de congestionamento (causada pela junção da saída do estacionamento simples – em quatro faixas – com a estrada que trazia os ônibus da entrada principal), um grupo de pessoas com pedras tentava quebrar os vidros do ônibus ante a negativa do embarque. Junto, o rapaz da Meriva incitava o quebra quebra. A polícia, a 100 metros, só dispersou o público quando o motorista, após alguns minutos de tensão, sinalizou com os faróis que havia algo errado.

Assim que entrou na Rodovia Castelo Branco, após alguns metros emparelhado com a Meriva detonada, o ônibus seguiu seu trajeto até o Bolsão do Kartódromo. O trajeto que custou 25 minutos na vinda, às 16h, demorou 3h30 durante a madrugada. Segundo tweets, como o do Fabricio Vianna (@fabriciovianna), “teve uma galera que colocou fogo na passagem pra não descer mais de ônibus”. Já o Alexandre Pera (@alexandrepera), “as fichas de alimentação acabaram. A cerveja que era tabelada, aumentou”.

A noite para a Letícia Ribeiro (@anthems_antics) foi ainda mais traumática: “Cara, devolvemos nossos ingressos de hj pq fomos roubados por uns carecas em pleno show do RATM! Foi muito tenso! Nós reagimos ao roubo, mas não tinha segurança por perto! E a galera de fora balançava nosso ônibus”. Se musicalmente, a primeira noite tinha sido ok sem grandes destaques (talvez o coito interrompido do RATM), a desorganização na saída simplesmente transformou um cenário de festa em um caos, quase um campo de guerra.

outubro 10, 2010   No Comments

SWU – Dia 1

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Texto: Marcelo Costa
Fotos: Liliane Callegari

22h40, sala de imprensa. O Rage Against The Machine está fazendo uma barulheira tão braba que as paredes de compensado chacoalham cada vez que Tim Commerford toca uma corda do baixo. Bonito de ver o pique da galera cantando e urrando as letras das músicas (houve até dedicatória especial ao MST). Seria melhor que o grande público estivesse mais perto do palco (a vergonhosa área premium é extensa e os afasta dos artistas), mas mesmo assim a turma de Los Angeles se esforçou para chegar perto dos fãs com um bom show, mas aconteceu o contrário.

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Não rolou invasão, como Zack de la Rocha incentivou pelo twitter. Mas quase. Na segunda música, a muvuca era tão grande entre a galera da pista normal que Zack precisou dar um tempo e bancar o cobrador de ônibus: “um passinho pra trás, um passinho pra trás”. A barricada estava vindo para a frente, e isso aconteceu praticamente o show todo obrigando a produção a desligar o som três vezes. A banda começava a engranar, e o som parava para o público acalmar. Fácil promover o caos quando se tem um camarim caprichado e quando se está no palco, e não espremido entre milhares de pessoas. Se acontecesse alguma tragédia alguém diria: “Isso é o Brasil”. Mas não é bem assim. Bola fora do RATM (sobre um erro do SWU, a área premium).

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Voltando algumas horas atrás: Mallu Magalhães (toda linda) brigou com a microfonia no Palco Oi, mas foi o Cidadão Instigado que fez bonito. Fernando Catatau, inspiradíssimo, descontou a raiva dos problemas com o som em sua guitarra, e o público ganhou riffs fortes e empolgantes. No palco principal, Sérgio Dias enganava a plateia cantando hinos do Mutantes como “Vida de Cachorro”, “Virginia”, Fuga Nº 2″, “Top Top”, “Minha Menina”, “El Justiceiro”, “Balada do Louco” e “Ando Meio Desligado”. Bom momento: a boa versão de “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer”.

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Já o Los Hermanos começou com “Além do Que Se Vê”, engatou em “Todo Carnaval Tem Seu Fim” e “Retrato de Ia Ia” prometendo uma noite antológica. E, de certo modo, foi… até a dobradinha “O Vencedor”/”Cara Estranho”, está última em versão enfezada, barulhenta, roqueira (melhor que show inteiro que a banda fez em 2008 abrindo para o Radiohead em São Paulo). Porém, depois desse momento de beleza roqueira, a banda decidiu colocar o público para dormir e o show ficou chatão. Ninguém chegou a roncar, e a maioria acordou para cantar “Sentimental” e pular em “A Flor”, mas ficou no ar a sensação de “eles podem mais, só não querem”. Chatos.

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O saldo desse primeiro dia (não rolou de ver Superguidis, Curumin e Apples in Stereo – coisas de festival, mas Cidadão valeu) foi ok. Se musicalmente o festival está devendo (e deve continuar, mesmo com a promessa dos grandes shows da segunda-feira), a estrutura está funcionando dentro do possível. Ainda é preciso disponibilizar mais caixas (as filas estavam imensas) e encontrar uma saída para o problema “área premium” (segunda tem QOTSA, tenso), mas é melhor esperar até o terceiro dia para fazer uma análise completa, um balanço geral. É só o começo do fim de semana e o primeiro dia de um festival que tem tudo para dar certo, mas alguém precisa ir anotando os erros. Eles podem custar caro.

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Amanhã tem… Jota Quest.

outubro 10, 2010   No Comments

Playlist: Marcelo Costa na Rock ‘n’ Beats

“Na seção Playlist desta semana, nosso convidado faz uma viagem pelo seu passado e revela a influência do seu pai, da adolescência e é claro, de um coração partido, na sua formação musical. Ele ainda revela as bandas que mais ama, destaca os melhores discos nacionais do ano e conta a música que (essa é imperdível) o faz dançar! Confira aqui.”

outubro 8, 2010   No Comments