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Posts from — agosto 2010

Dez anos de Scream & Yell

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O Scream & Yell já foi assim (clique na imagem para navegar no site antigo). Alguns anos antes, nos primórdios (risos), ele era muito mais tosco (veja aqui). As imagens deste último já até estão fora do ar (culpa provável do HPG, que foi a casa do site por quase três anos), mas se você clicar em qualquer manchete da capa vai encontrar o texto como eu o editava nove anos atrás, HTML puro. Tudo o que foi feito no Scream & Yell continua no ar. O menu, inclusive, pode ser acessado por este link aqui, e dá acesso as editorias antigas do site com tudo que foi publicado desde novembro de 2000 (até os poemas e contos). O arquivo de textos (aqui), mais organizado, junta (quase) tudo entre 2003 e 2009. Comecei a rever tudo isso quando um amigo me passou o link do web.arquive.org. E deu saudade… (risos). Bons tempos. Essa capa acima foi de uma época em que eu acreditava que o Scream & Yell poderia ser um portal, e não linkar apenas as coisas que faziamos, mas sim tudo que de mais legal a gente encontrasse na web. Meio utópico, mas esse sonho utópico deu na @confrariapop. Até que não estávamos tão errados…

Ps. O aniversário do site é 02 de novembro, ok. Até lá vamos tentar armar uns shows especiais. Só estamos dependendo de uma casa legal para shows…

agosto 30, 2010   No Comments

Cabaret e convidados tocam Nick Cave

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Na próxima sexta, 10 de setembro, no Rio (e dia 30 de outubro,  na Livraria Cultura do Bourboun Shopping), o Cabaret, em parceria com a editora Record, reúne convidados para uma jornada musical e literária sobre a obra do cantor, compositor e escritor australiano Nick Cave. O grupo estreou o repertório especial no dia 26 de agosto Espaço Cultural Sérgio Porto (veja os registros em vídeo das canções “Henry Lee“, “Straight To You” e “The Ship Song“).

O show marca o lançamento brasileiro do livro “A Morte de Bunny Munro”, segundo romance de um dos artistas mais instigantes do rock, atualmente vocalista das bandas Nick Cave & the Bad Seeds e Grinderman. A obra conta a história de um vendedor de cosméticos viciado em sexo numa jornada sem rumo após a morte de sua mulher, acompanhado apenas de seu filho pequeno, Bunny Junior.

Além disso, são comemorados os 20 anos de “The Good Son”, disco dos Bad Seeds gravado no Brasil, à época em que o cantor morou em São Paulo. Por isso, o Cabaret se debruça sobre o repertório da banda Nick Cave & the Bad Seeds, ativa há 26 anos, selecionando 15 canções sobre amor, desespero e transcendência, na melhor tradição de um herdeiro de Bob Dylan, Johnny Cash e Leonard Cohen.

De clássicos como “Deanna”, “The Ship Song” e “Red Right Hand” a produções recentes como “Get Ready for Love” e “Today’s Lesson”, a mais dramática banda do rock nacional reúne convidados do quilate de Dado Villa-Lobos (Legião Urbana), Toni Platão, Amora Pêra (Chicas), Leticia Novaes (Letuce) e o escritor João Paulo Cuenca (em participação nas guitarras) no Espaço Sergio Porto para uma noite inesquecível.

Aproveitamos para enviar cinco perguntas para o queridíssimo Márvio, vocalista do Cabaret, que além de preparar esse show especial com canções de Nick Cave (que, esperamos, também passe por São Paulo e outras capitais) está dando os retoques finais em “A Paixão segundo Cabaret”, segundo álbum do grupo que tem produção de Iuri Freiberger (que contou várias coisas sobre o disco aqui) e participação de Ney Matogrosso em uma das canções. Fala Márvio!

Como surgiu a idéia de um show com canções de Nick Cave?
Desde 1998, posso dizer que Nick Cave é o artista que mais me impressiona, com quem eu mais me identifico e, por isso, sigo os passos dele fielmente. Você já foi lá em casa e viu minha caixa de B-Sides e DVDs, então já sabe. (risos) Quando eu soube que a editora Record havia comprado os direitos de tradução do livro, tentei de todas as formas me envolver no processo. Até que pensei que talvez fosse uma grande oportunidade de fazer um show de covers sem ares de banda cover. Combinei com o restante do Cabaret, que também tem fãs de Cave, que poderíamos selecionar canções, ensaiar um show e depois apresentar à editora, como um happening para marcar o lançamento do romance no Brasil. Quando os ensaios já estavam bem adiantados, apresentei a ideia aos diretores da Record, que se empolgaram conosco e viabilizaram um show na escala merecida, num bom espaço para banda e público, como o Sergio Porto aqui do Rio.

O show terá várias participações especiais. Como vocês escolheram os convidados?
Por afinidade com a carreira do cara, como Toni Platão e Dado Villa-Lobos, que são admiradores dele, e pela força expressiva para determinadas canções. Quando você tem uma canção dramáticas como “Henry Lee” (que Nick Cave canta com a PJ Harvey) ou “Where the Wild Roses Grow” (com Kylie Minogue), você precisa dividir isso com cantoras que tenham um certo senso de teatralidade, além de vozes espetaculares. Tudo isso a gente tinha aqui do lado, com a Amora Pêra, que é uma artista completa: tanto na música brasileira que faz com as Chicas quanto nas versões do pop dos anos 60 e 70 com a Cia Velha, e com a Leticia Novaes, que é uma figura de uma banda novíssima chamada Letuce. E como o evento é musical e literário, nada melhor que contar com um amigo como o escritor consagrado João Paulo Cuenca, que hoje tira onda de guitarrista bissexto, mas já foi de finadas bandas como Glamourama e Netunos.

A noite marca o lançamento do segundo romance do Cave, “A Morte do Bunny Munro”. Você já teve oportunidade de ler?
Estou lendo, até o show terei terminado. Sabe como é, tive que decorar letras enormes (risos). O que é fantástico no romance do escritor Nick Cave é que ele traduz um momento muito atual na carreira do compositor Nick Cave. Tanto no “Dig Lazarus Dig”, que ele lançou em 2009 com os Bad Seeds quanto no projeto paralelo Grinderman, de 2008, as letras giram em torno de uma feroz pulsão sexual masculina, muito diferente das baladas melancólicas que o marcaram os anos 90 e o início dos 00. Como o personagem Bunny Munro é um homem que só pensa em sexo e o consegue com certa facilidade, passa a impressão que você está lendo um roteiro de um filme cuja trilha sonora já foi composta. Para honrar o livro, tínhamos que dar à plateia feminina um clima de iminente assédio sexual.

A apresentação é única ou outras cidades vão ter a oportunidade de receber essa apresentação?
Estaremos em São Paulo em breve, ainda não sabemos onde, exatamente. Mas é parada obrigatória, uma vez que ele morou aí e existe um grande interesse sobre ele, até mais do que no Rio. Como o Cabaret se apresenta reforçado uma banda grande, são nove pessoas no palco (duas guitarras, baixo, bateria, teclado e três backing vocals femininas além de mim), não é um show fácil de se levar para lá e para cá. Mas estamos dispostos a aceitar convites para sair e testes do sofá.

De Nick Cave para Cabaret: como está o planejamento do disco novo? Ouvi algumas canções e fiquei com a impressão que vem um discaço….
Pois é. O capricho levou a alguns atrasos, e dois dos nossos integrantes (o guitarrista Felipe Aranha e o baterista Marcos Hermes) vão se tornar papais por estes meses. Por isso, preferimos dar tempo para que eles aprendam a trocar as fraldas e vamos deixar o lançamento de “A Paixão segundo Cabaret” para 2011. O álbum conta em 13 canções a história de um homem que sempre tentou fugir do amor, mas que de repente se vê diante de uma mulher da qual ele não poderá escapar. Estamos orgulhosos dele: tem a já lendária participação de Ney Matogrosso em uma canção, a produção do Iuri Freiberger, que entendeu nosso som com carinho, e já masterizamos em Abbey Road com Alex Wharton, que trabalho em discos de Björk, Chemical Brothers e Babyshambles.

SERVIÇO
Cabaret e convidados tocam Nick Cave – Pocket Show Gratuito

Sexta, 10 de setembro, 19h30
Fnac da Barra, no Rio de Janeiro

Nesta noite, o Cabaret será:
Márvio dos Anjos, voz
Felipe Aranha, guitarra
Marcelo Caldas, baixo
Gustavo Matos, bateria (substituindo Marcos Hermes em licença-paternidade)
Geovanni Andrade, piano

E as backing vocals convidadas:
Cris Fernandes
Tatiana Fake (Private Dancers)
Natasha Nunes

Leia também:
– Marco Antônio Bart preparou um mixtape Nick Cave. Baixe aqui.

agosto 24, 2010   No Comments

Opinião do Consumidor: Köstritzer

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Na minha primeira viagem para a Europa, em 2008, a única cerveja alemã a freqüentar o top 10 (lotado de marcas belgas e algumas espanholas) foi esta belíssima Köstritzer, a cerveja escura mais famosa da Alemanha, fabricada pela cervejaria de mesmo nome desde 1593 (seguindo o acordo da Lei da Pureza Alemã de 1516).

Segundo consta, um dos mais famosos bebedores da Köstritzer foi Goethe, que se sustentou da famosa cerveja preta quando era incapaz de comer durante um período de sua doença. Essa foi para você, caro leitor, que sempre brinca que vai jantar pão liquido. Goethe jantou e almoçou Köstritzer durante um bom tempo.

A Köstritzer é moderadamente amarga e muito leve. Sua produção é baseada no estilo Pilsner, mas ela é bem mais saborosa culpa do malte especial que as nossas expoentes nacionais do estilo, tanto claras quanto escuras. Embora não tenha nada de adocicado, pode surpreender e conquistar os fãs da docinha Malzbier nacional.

Outro paralelo possível é com as Stouts (brinde ao malte torrado), porém a Köstritzer se destaca por ser mais leve e ter um aroma de café menos intenso que as possíveis rivais (Guiness inclusa). Carro chefe das schwazerbier (cervejas pretas), é uma cerveja deliciosa que pode salvar alguns almoços. Goethe que o diga.

Teste de Qualidade: Köstritzer
– Produto: Cerveja Pilsner
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3,5/5

Leia também:
– Top Ten de Cervejas Européias – 2008 (aqui)
– Top 68 de Cervejas Européias – 2010 (aqui)

agosto 19, 2010   No Comments

Roger and me

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Umas semanas atrás me chamaram para bater papo com o Roger sobre música e tal. Alguns stills do vídeo em que eu e Roger trocamos de função: ele foi o jornalista, eu o entrevistado. Cool (hehe).

agosto 16, 2010   No Comments

Opinião do Consumidor: La Brunette

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E não é que a cervejaria gaúcha Schmitt chegou ao empate técnico aqui em casa! Após sair perdendo por 2 a 0 (a Schmitt Ale e a Schmitt Sparkling foram tiros n’agua – leia sobre elas nos links no final do texto), e diminuir com a ótima Barley Wine, agora é a vez da boa Stout da cervejaria conquistar o paladar (e o olhar pelo rótulo bonito): La Brunette.

A Stout é originária da Irlanda (não à toa, a Stout mais famosa do mundo é a Guiness) e feita a partir de cevada torrada, que produz um malte especial escuro, que deixa um sabor amargo conferido pelo lúpulo associado ao adocicado do malte. As Stouts tradicionais eram carregadas de álcool (por volta de 7% a 8%), e a exemplar da Schmitt deixa a desejar nesse ponto ficando nos 4,5% tradicionais do mercado nacional.

Apesar do ponto a menos no quesito gradução alcoólica, a La Brunette merece uma conferida. É uma cerveja escura e cremosa com malte tostado bastante presente no paladar (e que lembra muito café) e, um pouco, no aroma (que também tem uma leve presença de chocolate, mas bem leve). O forte amargor pode incomodar os incautos, e atrapalhar uma segunda dose, mas vale arriscar o paladar. Perde em comparação com as gringas, mas faz bonito para uma nacional.

Teste de Qualidade: La Brunette
– Produto: Cerveja Stout Gaúcha
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 2,2/5

Leia também:
– A dose tripla de malte da Schmitt Barley Wine (aqui)
– A Schmitt Ale se perde entre o azedo e o aguado (aqui)
– Sparkling Ale (sem bolhas) lembra demais a Schmitt Ale (aqui)

agosto 15, 2010   No Comments

Glamour e Boca do Lixo

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O Renan, um dos autores, já tinha me passado o livro ainda em versão piloto encomendada pro TCC do caras, e eu devorei. Quem quiser pode dar um fuçada no blog que deu origem ao projeto todo (aqui), mas o interessantíssimo “Glamour e Boca do Lixo – Histórias da Prostituição no Centro de São Paulo” acaba de ganhar edição oficial, via Editora Multifoco. O lançamento foi neste domingo, na Bienal do Livro, mas quem quiser ir atrás do livro é só falar com os caras no blog. Vale.

http://glamourebocadolixo.blogspot.com/

agosto 15, 2010   No Comments

Relembrando Belle and Sebastian

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Achei muito bonita a capa do novo álbum do Belle and Sebastian, “Write About Love”. E eles confirmaram show no Chile, dia 29/10 (veja aqui). O Planeta Terra acontece em São Paulo dia 20/10. Podemos considerar fechado, né, corrigindo 20/11. Para o Planeta Terra fica bem difícil, a não ser que eles façam mais de um show no Brasil e ainda passem na Argentina.

Fui ler o que escrevi sobre o show de 2001, pois a lembrança que tenho era do público abafando o som do grupo no Main Stage do Free Jazz, que perdi o show inteiro do Grandaddy (só consegui ver “Crystal Lake”) e de que Sigur Rós foi uma tortura (sete anos depois eu iria rever o Sigur Rós novamente, e eles iriam roubar a noite do Radiohead c0m um show magnífico – leia aqui).

No texto babão de 2001 (leia a integra aqui) eu falava da alegria de Stuart Murdoch, saltitando feliz no palco com sua camiseta dos Smiths, em Sarah exibindo seu fio de voz numa comovente versão de “Baby”, do Caetano, em português mesmo, e em “Minha Menina”, de Jorge Ben, mas versão Mutantes, cantada pelo guitarrista Stevie Jackson, num show de riffs de Bobby Kildea.

Era uma época especial.

O Belle and Sebastian era uma paixão recente do mundo pop. Tinha ilustrado uma página do segundo Scream & Yell On Paper e eu tinha escrito isto aqui para a Rock Press um tempo depois (se não me engano, foi o meu primeiro texto na revista). Os EPs eram maravilhosos, mas… a banda caiu na repetição. A última coisa boa, boa mesmo, para mim, foi “This is Just a Modern Rock Song”.

Há coisas bonitas dai pra frente (“I’m Waking Up to Us”, “Jonathan David”, “Legal Man”), mas já em 1999 eu tentava contemporizar sob a luz do lançamento de “Fold Your Hands Child, You Walk Like A Peasant”: “os escoceses voltam colocando a melancolia num pedestal e criando arranjos suntuosos para suas frágeis melodias. Certo, você já viu isso. E esse pode ser o problema” (leia a integra aqui).

O cenário não mudou muito desde então, mas quem sabe “Write About Love” balance o coração como no passado. E o show, bem, tem tudo para ser especial. Não acredito que eles consigam fazer em estúdio coisas mágicas como “This is Just a Modern Rock Song” (e adoraria ser desmentido pelas canções novas – risos), mas os sorrisos são garantidos ao vivo. A gente confere em outubro…

agosto 12, 2010   No Comments

Comprando vinis com Robert Crumb

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Fotos: Marcelo Costa

O celular avisa que chegou uma mensagem: “Deixa falar. O Crumb odeia tirar foto e jornalistas. Então aja que nem gente normal que gosta de música e só. risos”. Passam de 9h30 da manhã de uma terça-feira de sol e vento frio em São Paulo. Minha máquina digital está na mochila junto com meu exemplar de “Blues” (o qual escrevi sobre no Scream & Yell em 2005 – leia aqui), mas tietagem é a última coisa que me vem à cabeça quando penso em Robert Crumb. Em qualquer pessoa.

Seu amigo e também quadrinhista Gilbert Shelton é o primeiro a descer para o saguão do hotel. Folheia um exemplar da Folha de São Paulo enquanto conversa com um pessoal da HQ Mix que veio entregar um prêmio para Crumb, por “Gênesis”. Depois nos diz que o que ele gosta mesmo é de jazz (“O Crumb odeia”), cita Gilberto Gil quando perguntado sobre música brasileira e lembra que seu amigo, certa vez, ficou 11 horas em uma loja olhando vinis calmamente. O dia prometia.

Crumb desce logo depois acompanhado de Aline, sua esposa, de cabelos e meia arrastão vermelhos e muita, mas muita simpatia. Eu e um amigo (Guss, que conhece mais de Crumb que eu, e por isso foi escalado para essa missão) somos apresentados como “os caras que vão te levar para olhar as lojas de vinis de 78 rotações”. Crumb sorri para nós, mas logo é fisgado pelo pessoal da HQ Mix, que quer entregar-lhe o prêmio e conversar um pouco. “Vou guardar este troféu junto com os outros”, comenta o cartunista. Aline não se contém: “Você jogou todos os outros fora!”. Crumb olha de lado: “Sh-sh-sh-s-s-s”.

Num canto da sala, Aline conta que o marido ralou muito em “Gênesis”, adaptação para os quadrinhos do primeiro livro da Bíblia. Consta que foram quatro anos de trabalho. “Foi muito cansativo. Ele ficava dias e dias desenhando. Alugamos um chalé no alto de uma montanha, ele trabalhando como um condenado, e a coisa não terminava”. Em seguida, fotos com o troféu. Mesmo não curtindo o momento, Crumb trata a todos da melhor maneira possível, sem demonstrar impaciência.

Sônia, que traduziu diversos textos do autor para o português, conta que o Prêmio Astronauta é como se fosse o Oscar dos Quadrinhos no Brasil. Troféu em punho, Crumb sarreia: “Eu quero dedicar esse prêmio para a minha mãe, para a minha mulher, para o meu editor, para os rapazes que vão me levar para comprar discos de 78 rotações”. A conversa se estica. Sônia ganha um autógrafo desenho (veja aqui) e quase chora de emoção.

Já são quase 10h40 e ainda estamos todos no saguão, porém a última foto se aproxima. Na porta do hotel, Aline nos olha e gesticula com a mão: “Tirem ele daqui, tirem ele daqui”. Assim começa o nosso dia Crumb: eu, Guss e Robert atravessando a Rua Pedroso de Morais em direção a loja Eric Discos. Andamos duas quadras e ele explica o que quer: “Música brasileira dos anos 20 e 30”. O músico e dono do selo YB Mauricio Tagliari fez uma lista para ele, que destaca Pixinguinha como o tesouro maior.

A Eric Discos é um paraíso para quem gosta de vinis. Perto do caixa, no alto, um exemplar do álbum “Secos e Molhados Ao Vivo” custa apenas R$ 240. Porém, os vinis de 78 rotações estão nos caixotes mais próximos ao chão, todos sem capa. Os 78 rotações (que Crumb coleciona) surgiram em 1915 e foram retirados de circulação na década de 60, substituídos pelo vinil de 33 rotações, que reinou até o aparecimento dos CDs e do MP3 (mas que ensaia um retorno saudosista).

Ou seja, estamos falando de discos de, no mínimo, 50 anos, mas Robert quer coisas ainda mais antigas, ou em suas palavras, música brasileira tradicional. As pilhas de 78 rotações são enormes, os discos estão velhos e sujos, mas Crumb parece se divertir. Ele pega um vinil, lê o selo e explica para nós que pela borda do disco ele consegue identificar a época em que foi feito. “Esse é dos anos 20, italiano”, diz em certo momento. “Muito raro”, completa depois de jogar a bolacha preta de selo azul na pilha dos dispensados.

Cada Carlos Gardel que aparece (e são muitos) é saudado com um “bleargh”, e a maioria da pilha não interessa. A palavra mais usada é “Try”, que ele usa para explicar que não tem a mínima idéia do que seja aquele disco que ele acabou de separar para levar, mas vai tentar ouvir. Na pilha de discos que vão para a França com ele estão títulos de Heleninha Costa, Garoto, Quinteto Todamerica e Trio de Ouro com Dalva de Oliveira, além de alguns discos de samba com o selo em japonês.

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Uma parte de mim (o jornalista) pede para que eu encoste-se em algum canto da loja e faça uma foto de Crumb olhando atentamente os discos. A imagem é poética, bonita, mas a outra parte reluta, menos por medo de ser descoberta na hora do clic, mais por respeito de um momento tão particular de uma pessoa comum. Tento apenas uma vez, e desisto. Me sinto culpado, como se estivesse roubando a alma do fotografado (meu deus, como paparazzis conseguem dormir?).

Penso em mim (a pessoa normal), rato de lojas de CDs, que passa boa parte do tempo das viagens enfurnado em lojinhas  (em Berlim, Roma, Atenas, Londres, Barcelona, Bruxelas ou Glasgow). Já tenho uma lista mental de CDs que gostaria de encontrar, e na maioria das vezes não os encontro, mas saio sempre de uma dessas lojas com algo bacana que eu não sabia que existia. E fico feliz. Assim como Crumb, eu não ia querer gente me fotografando e/ou querendo conversar sobre a minha profissão na hora em que eu estivesse procurando por um disco. Entendo perfeitamente esse lado dele, e respeito.

Na Eric Discos ele não encontra nada entusiasmante, mesmo assim compra 17 discos que vão custar a fortuna de… R$ 7 (“Two euros”, explicamos pra ele, que sorri feliz, embora já deva estar acostumado com a pechincha). Da Eric Discos partimos em direção a lojas no centro de São Paulo acompanhados de Rogério de Campos, manda chuva da Conrad Editora. Não fui a Flip, mas pelos comentários de amigos posso garantir que os 40 minutos de conversa no taxi foram muito melhores que a palestra de Paraty. Fácil.

Crumb relembrou momentos da infância, detonou Frank Miller, Neil Gaiman e Alan Moore (“Eles já disseram que gostam de mim, mas não gosto do trabalho que eles fazem. Não são interessantes para mim”), explicou porque não vai a Comic-Con (“Não há nada lá que me interessa”), falou de “Gênesis”, comparou São Paulo com Nova York várias vezes e ficou completamente apaixonado pelas pichações que viu pelo caminho: “Isso é único no mundo”, comentou. No papo muita coisa sobre música, drogas e quadrinhos.

Na segunda loja, menos farta que a primeira, ele pegou mais dois discos. Ainda passamos em uma terceira, fraca, e partimos para o almoço em um restaurante da Vila Madalena. Na mesa, enquanto esperávamos o restante da comitiva, Guss pediu indicações de bluesmens pré-guerra para ir atrás. Famoso conhecedor do tema, Crumb foi didático. Listou uns dez nomes destacando Charlie Patton.

Após o almoço, uma esticada até o Beco do Batman, na Vila Madalena, que deixou o casal impressionado (Aline de câmera em punho). Foi lá que consegui essa última foto que ilustra o post, ele olhando atentamente um grafite enquanto outro parece devorá-lo. Crumb parecia estar curtindo tanto o passeio, que não tive coragem de tirar meu “Blues” da mochila e pedir um autógrafo.

E autógrafo pra que? Para exibir aos amigos como se fosse um troféu? Grande bobagem. Nessas quase seis horas que saímos juntos caçando velhos vinis por São Paulo ele não foi Crumb, uma lenda dos quadrinhos, mas Robert, um apaixonado por música antiga. Alguns minutos após deixá-los em um taxi, felizes, meu celular mostrava uma nova mensagem recebida: “Eles adoraram vocês”. Para mim, basta.

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Leia também:
– Gênesis, de Crumb, vence HQ Mix de Edição especial estrangeira (aqui)

agosto 11, 2010   5 Comments

Joan Crawford, Mia Farrow e Forest Whitaker

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“Grand Hotel”, Edmund Goulding (1932)

Vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1932, aliás, única categoria que concorreu (por uma provável pressão de seu estúdio, o poderoso MGM), “Grande Hotel” faz parte de uma época em que os diretores iam aos estúdios para seguir a risca as anotações dos produtores, neste caso, Irving Thalberg, que cuidou do roteiro e escalou a seleção de estrelas (e egos) que dá um baile no filme (tanto Joan Crawford quanto John Barrymore mereciam, no mínimo, uma indicação ao prêmio da Academia). A história gira em torno do cotidiano de um grande hotel – no caso, em Berlim, centro cultural e nervoso do mundo entre guerras. Greta Garbo está ok como uma bailarina decadente, mas Joan a devora mostrando charme e sensualidade no papel de uma datilografa que acaba tendo que dormir com o patrão por dinheiro. Há discussões aqui que são atuais ainda hoje.

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“O Grande Gatsby”, Jack Clayton (1974)

Não li o livro, o que é uma grande falha de caráter (eu sei), mas ninguém é perfeito (como diria uma música do Fellini: “Eu quis ser”… – risos). Mesmo assim, pela fama universal do livro, eu esperava mais dessa adaptação que tem o senhor Francis Ford Coppola assinando o roteiro e Robert Redford e Mia Farrow nos papéis principais. Como filme, “O Grande Gatsby” é extremamente óbvio e pouco inspirado. Falta ritmo e desde o começo o espectador já sabe o que vai acontecer. Amores não correspondidos da juventude que a gente sempre vai carregar como uma cicatriz na alma rendem boas tramas, mas o diretor Jack Clayton e seu amigo Coppola não souberam usar o material que tinha nas mãos e o filme ficou capenga, arrastado, chato. Nem li o livro, mas arrisco sem medo de errar: fique com ele.

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“O Último Rei da Escócia”, Kevin Mcdonald (2006)

Perdi de ver no cinema, o que é uma pena, pois a história de Idi Amin Dada – o ditador cujo regime é acusado de ter matado entre 300 e 500 mil pessoas em Uganda – é impressionante (e devia impressionar ainda mais na telona). Forest Whitaker está ótimo no papel do ditador, e o roteiro tenta mostrar o lado humano do homem, e consegue até certo ponto, mas não adianta: no final o que prevalece é um forte gosto amargo cujo cerne é aterrorizante: histórias de canibalismo e de assassinatos brutais. O ator James McAvoy, que sempre decora bons papéis secundários (“Desejo e Reparação”, “Coisas Belas e Sujas”, “Wimbledon”), está muito bem no papel romanceado do médico que se torna braço direito do ditador. Para ver e pensar na África.

agosto 9, 2010   No Comments

Karen O, Spiritualized, Snow Patrol e depressão

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Ando passando por uns dias depressivos, daqueles em que a tristeza surge sei lá de onde, se aloja no peito e tudo parece nublado, sem rumo e futuro. Passa. Tem que passar, né. Um bom acompanhamento para esse momento é a trilha sonora de “Onde Vivem os Monstros”, filme do Spike Jonze, que chamou Karen O (do Yeah Yeah Yeahs) para compor e cantar as canções de ninar do filme. Do jeito que estou poderia deixar a faixa que abre, “Igloo”, semanas no repeat. Não sei se já disse isso, mas adoro a Karen O…

Não gostei tanto do filme (falei dele um poquito aqui). Na verdade, não consegui absorver a história, mas tem coisas bonitas ali. Porém, o curta “I’m Here” – que o pessoal da Absolut apresentou para alguns convidados e que foi exibido dentro da programação do festival Rojo Nova, no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo (o Guto escreveu mais aqui) – me balançou bastante. São apenas 30 minutos… intensos. Você pode assistir aqui (assista, assista). Fiquei uns dias pensando em como o fato de se doar para alguém pode ser tão… especial. Não sei se conseguiria. Acho até que a depressão veio após o filme… ou estava antes. Dúvidas.

Ontem fiz aniversário. Cheguei enfim aos 40 anos (que ninguém venha com esse papo de que a depressão tem a ver com a idade, hein) e fui recebido no clube por amigos queridos como Sérgio Martins e Marcelo Orozco, que mandaram mensagens ótimas no Facebook. Aliás, a melhor coisa de se fazer aniversário é receber o carinho de um monte de pessoas praticamente ao mesmo tempo. Ajudou a colocar um solzinho timido em meio ao nublado destes dias cansativos. Ganhei o livro do Peter Biskind (“Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock-and-Roll salvou Hollywood”), presente do Tiago Agostini, e já comecei a ler.

Hoje à tarde, a partir das 15h, vai ao ar o quarto programa Scream & Yell na Rádio Levis. O convidado desta semana foi o chapa de todas as horas André Fiori, capo da Velvet CDs, que escolheu uma versão de uma canção de Bob Dylan para rolar no programa e contou várias histórias bacanas. Me pareceu o melhor dos quatro programas que fizemos até agora.

Como estou sem internet em casa (a Net promete nos conectar amanhã) após a mudança, não assisti ao show do Arcade Fire, mas pela comoção dos amigos a coisa foi bonita. Vou esperar mais alguns dias para procurar, afinal, o show lindo do Spiritualized no Radio Music Hall, em Nova York, que foi transmitido pela web no dia 30 do mês passado já está circulando por ai. Baixe via megaupload aqui. Eles tocam o “Ladies” inteirinho e terminam com “Oh Happy Day”. Bem que o SWU, o Planeta Terra ou o Natura About Us podiam se animar e trazer Jason Pierce para estes lados, hein.

Falando em festivais, o anúncio do Snow Patrol no Natura About Us (16/10 na Chacará do Jóquei junto com Air, Móveis Colonias de Acajú, Karina Buhr, Cidadão Instigado, Cèu e Jamiroquai. Mais infos aqui) foi o primeiro a me balançar de verdade entre os shows que baixam nesse segundo semestre no Brasil. Já vi coisas deles ao vivo em DVDs, e percebi que os caras não são bons de palco, mas bora conferir, né. Ainda não comprei meu ingresso pro Planeta Terra (Lili bateu o pé: quero ir) e estou cogitando o SWU. Mas posso dizer que o Echo tocando o “Ocean Rain” é imperdível…

Semana que vem (mais precisamente no dia 10) tem Billboard com Katy Perry em destaque (a capa está uns posts atrás) e um materião assinado por mim sobre festivais. Ficou bacana. E ontem entrou para download a edição deste mês da Revista Noize (baixe ou leia online aqui). Minha coluna fala sobre músicas que resumem a gente. No meu caso, claro, uma bela balada do Echo and The Bunnymen que diz que as cicatrizes do tempo fazem com que a gente enferruje. Como manter a alma inquieta e continuar sonhando se viver é acumular tristezas? Reticências…

agosto 6, 2010   No Comments