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Posts from — março 2010

Eu queria falar sobre dez discos…

Você ouve a música que você quer ouvir, certo? Espero que sim. Já eu, nem sempre. Uma das coisas fodas de escrever de música é que quanto mais tempo você passa ouvindo um disco, mais os demais se acumulam. Tenho por regra pessoal escrever sobre um disco que eu esteja viciado exatamente para esgotá-lo na resenha. E só então partir para o próximo. Ou os próximos. Sempre são muitos.

As coisas aqui em casa funcionam mais ou menos assim: eu tenho uns 7 mil CDs em estantes (faz muito tempo que parei de contar, e esse número é um chute). Todo dia escolho uns dois ou três para me acompanhar no trabalho, algo que vá ser a minha trilha sonora naquele dia. Completam o pacote alguns CDs que comprei recentemente ou então recebi (da gravadora ou do próprio artista) e os MP3 do momento.

Os CDs que ganho ou compro vão diretamente para uma pilha a esquerda do meu computador. Eles só vão para a estante assim que eu ouvi-los, senão se perderiam no limbo do esquecimento. Alguns eu ouço duas, três vezes, e já tenho idéia de que eles podem voltar a me acompanhar em determinados dias. O problema (e não deveria ser um problema, mas é) são aqueles que tenho vontade de escrever sobre.

Esses se amontoam na prateleira e ficam aguardando um gancho, uma pauta, um espaço na correria do dia a dia para que eu consiga traduzir em palavras aquilo que me conquistou a audição. Eles vão ficando, ficando, ficando, e quando vejo o tempo passou, e não consegui escrever. Continuo ouvindo, mas me recuso a colocar na estante pois… eu queria escrever sobre eles. O dia, porém, é curto demais.

Como as três torres de CDs para “ouvir” estão enormes, lotadas de coisas de 2008 e 2009, decidi usar o blog para esgotá-los em frases curtas. Assim, volto a tentar me dedicar à safra 2010. O que passou, passou. A vida continua. Dessa forma, seguem abaixo dez de CDs que eu gostaria de ter escrito de 500 toques a 5 mil, mas que devido a velocidade do tempo, ficaram esperando por um momento livre… que não veio.

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“Iê Iê Iê”, Arnaldo Antunes (Rosa Celeste)
Falei que não gostei do show aqui, mas o disco foi chegando devagarinho e me pegou de jeito. Arnaldo é, de longe, o ex-titã com melhor carreira solo. A produção de Fernando Catatau e a estética do álbum fizeram o resultado soar particular. E tem uma penca de músicas boas: “A Casa é Sua”, “Aonde Você For”, “Vem Cá“, a baladaça “Longe” e o grande hit “Invejoso”. Os titãs remanescentes deveriam ter vergonha de lançar “Sacos Plásticos” (falei mal dele aqui) no mesmo ano. Discaço.

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“Rock’n’Roll”, Erasmo Carlos (Coqueiro Verde)
Aos 68 anos, o Tremendão mostra força em um álbum cheio de superlativos que nem Liminha conseguiu atrapalhar. A tiração de sarro de “Cover” conquistou um bocado de gente, mas, para mim, a provocação da balada de guitarras sujas (que, aliás, soam bem em quase todas as faixas) “Olhos de Mangá” surpreendeu mais (e me embalou por semanas). Vale citar as parcerias de Erasmo com Chico Amaral (letrista do Skank) em “A Guitarra é Uma Mulher” e com Nando Reis em “Um Beijo é um Tiro”.

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“Banda Gentileza”, Banda Gentileza (Independente)
Melhor álbum de estréia do 2009 pela enquete de melhores do ano do Scream & Yell, o disco dos curitibanos tocou muito aqui em casa nos últimos meses. Os caras vieram aqui beber uma cerveja (entrevistão aqui), e não consegui me concentrar para falar do disco. Sinceramente, não tem muito que falar. Basta baixar o álbum gratuitamente aqui e ouvir, ouvir e ouvir coisas como a empolgante “Coracion”, a baladinha caipira “Teu Capricho, Meu Despacho”, o sambinha “Preguiça” e a nonsense “Sempre Quase”.

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“All Right Penoso!!!”, La Pupuña (Ná Music)
O disco é de 2008, mas só apareceu aqui em casa no ano passado, e desde a primeira vez que o ouvi fiquei com vontade de traçar grandes teorizações sobre esse redescobrimento da música brasileira que aconteceu na segunda metade dos anos 00. Não consegui escrever, mas toda vez que coloquei “All Right Penoso!!!” para receber a luz do laser, o clima da casa pareceu ser de festa. Tem guitarrada, surf music e melodias caribenhas que aproximam o mar da gente num disco alto astral.

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“Graveola e o Lixo Polifônico”, Graveola e o Lixo Polifônico (Independente)
Eles até já lançaram um novo EP para download gratuito (baixe aqui), mas eu namorei esse disco alguns dias do ano passado, e pensei que valeria muito falar mais. Não consegui, mas aproveito agora para dizer que Minas tem surpreendido com bandas que fogem do arquétipo do pop radiofônico (Jota Quest, Skank) abraçando o samba, o jazz e o rock. É o caso dos Gardenais (falei deles aqui) e deste excelente álbum da Graveola e o Lixo Polifônico. Baixe aqui e corra o risco de ficar cantando as canções por meses.

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“Vou com Gás”, Falcatrua (Independente)
Na primeira vez que ouvi este álbum (já tinha falado do disco anterior deles aqui), não teve como não pensar: se as rádios descobrirem isso, vai tocar até dizer chega. Os mineiros pegaram o repertório de Tim Maia, turbinaram as guitarras e fizeram um puta álbum dançante (com produção de John, do Pato Fu, e direção de Nelson Motta). Difícil resistir ao apelo de “Festa do Santo Reis”, “Não Vou Ficar”, “Réu Confesso” e “Azul da Cor do Mar” e até “Vale Tudo”.

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“Something Stupid”, Trash Pour 4 (MCD)
Terceiro disco do Trash Pour 4 (os outros dois passaram desapercebidos por mim), “Something Stupid” soa como um fantasma do lado maluco e divertido do Pato Fu, o que é uma grande referência. “Babalu” (do repertório de Bola de Nieve, Ângela Maria e outros) tem um sotaque latino. “Ci Riprova la Bossa Nova” é bossa noise em italiano. “Manhã Seguinte” vai direto a fonte: Os Mutantes. Uma banda (e um disco) a se descobrir.

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“Simplesmente”. Os The Darma Lovers (Dubas)
Algum amigo definiu este disco numa mesa de bar como “o álbum de maconheiro de 2009”. Pode ser, embora o clima bucólico do álbum convide mais a contemplação do que a viagem. A primeira coisa que me lembrou na primeira audição foi o rock rural de Zé Rodrix, Sá e Guarabira. Um disco calmo, suave, que ousa enfrentar a correria do dia a dia estirado numa rede e ganha belos contornos com o cello de Moreno Veloso em “Canção Para Minha Morte”, “Srta Saudade da Silva”, entre outras.

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“Orquestra Contemporânea de Olinda”, Orquestra Contemporânea de Olinda (Som Livre)
Esse álbum me namorou umas quatro semanas em 2009, e lamento muito não ter visto a banda ao vivo em alguns dos shows deles em São Paulo . Fiquei assoviando a metaleira de “Canto da Sereia” dias a fio assim que ouvi o disco pela primeira vez. Há um bom gosto na sonoridade do comboio pernambucano que bate direito no peito, e leva o cidadão a bailar. Talvez sejam os metais, talvez seja a percussão, talvez seja a rabeca de Maciel Salú, não dá para precisar, mas mexe muito com o lado latino da gente.

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“Deus e os Loucos”, Anacrônica (Independente)
Um dos destaques da atual cena curitibana (agora residindo em São Paulo e cumprindo bem a responsa de abrir o show de bandas gringas, no caso o Franz Ferdinand), o Anacrônica colocou nas lojas em 2009 um álbum de sonoridade forte (cortesia da boa produção de Tomaz Magno) e dançante. O bom vocal de Sandra valoriza canções como “Eles Me Querem Assim” enquanto a banda se mostra afiada e credencia a batida pop de “O Que Será?”, a porrada “Delorean” e a ótima faixa título.

março 29, 2010   No Comments

Festa Scream & Yell #1 na Casa Dissenso

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Ok, me desculpem, estava devendo um relato sobre a primeira edição da Festa Scream & Yell, na Casa Dissenso, com show do Charme Chulo, mas foi tudo tão corrido nos últimos dez dias que fui adiando, adiando e adiando, mas estou aqui. O embalo da festa começou na quinta-feira, quando a Casa Dissenso abriu às portas para convidados que presenciaram um show excelente do Soundscapes (foto abaixo) e discotecagem minha e do Agostini.

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Na sexta, novamente djset screamyell. Abri os trabalhos, e o Agostini assumiu as pick-ups entre o show competente do Soundscapes (ainda melhor que na quinta) e o inferno do Herod Layne (foto abaixo). Tudo nos trilhos para a estréia da festa no sábado: a casa é extremamente aconchegante, a variedade de cervejas impressiona e o som é simplesmente foda. Foda. E ainda teríamos link ao vivo. Bacana.

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No sábado, uma chuvinha, uma chuvinha. Na passagem de som, o pessoal do Charme Chulo brincou com uma versão divertidíssima de “Tic Tic Nervoso”, de Kid Vinil, e deixou o som ajeitado elogiando a casa. “Esse é um dos melhores sons que a gente já tocou”, comentavam. A lista amiga estava extensa, mais de 170 nomes para um lugar que cabe 80. No fim da noite, aproximadamente 60 pessoas passaram pelo local.

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Agostini abriu os trabalhos com uma discotecagem mais suingada, com muita coisa nacional, mas teve que acelerar a pista pois fomos obrigados a atrasar o show. Batemos o martelo que o show deveria começar às 23h, mas pouca gente tinha chego ao lugar nesse horário.  Uma pena. Começamos meia noite em ponto, e o Charme Chulo fez um show emocionante, daqueles bastante especiais, que eu fiz questão de apresentar, nos moldes de Bill Graham apresenta…

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Uma turma acompanhou o show online, no link ao vivo da Casa Dissenso. Fiquei aqui e ali resolvendo pendengas, cumprimentando umas três dezenas de amigos que marcaram presença no lugar enquanto o Charme Chulo encavalava uma grande canção atrás da outra no show. Assumi as pick-ups assim que a banda deu o último acorde, e ainda não lembro de quase nada.

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Fiz um set bem pop, para a galera dançar, dançar e dançar. Passei vontade umas três ou quatro vezes de enfiar um sambinha ali no meio, mas abortei a idéia por acreditar na paixão pelas guitarras de quem estava na pista. Ali pelas duas da manhã chegou mais uma galera e a festa seguiu até umas três e meia da manhã. Alma lavada: as comemorações dos dez anos do Scream & Yell começaram.

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Fazer uma primeira festa ajudou a gente a entender a mecânica de produzir um show, se preocupar com a qualidade da discotecagem, do som da casa, com a proposta do lance todo (aliás, no telão deixamos passando “Stardust Memories”, o “8 ½” de Woody Allen enquanto a discotecagem rolava). Demos nosso primeiro passo, tomamos prejuízo (faz parte, né), mas vamos repetir a história nos próximos meses. Torce pela gente. A gente ainda sonha em mudar o mundo, ou, no mínimo, colocar música boa pra tocar. Aguarde.

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Fotos do Charme Chulo e Mac: Liliane Callegari (mais aqui)
Fotos do Soundscapes, Herod Layne e Casa Dissenso: Joaquim Prado

março 28, 2010   No Comments

Dicas de passagens para a Europa

Eu e Lili já decidimos o nosso roteiro de viagem. Compramos passagens diretamente pelo site da Ibéria (http://iberia.com.br/br/) dividindo o roteiro. Na ida faremos São Paulo / Budapeste (com escala em Madri) e na volta faremos Londres / São Paulo (com escala em Madri novamente). Cada vôo saiu por R$ 2.041,00 (divididos em cinco vezes, com as taxas vindo no primeiro pagamento).

Porém, escolhemos a Ibéria devido a nossa agenda apertada de viagem. Eu queria sair na sexta de São Paulo (até toparia sair no domingo – se compensasse), mas sobretudo precisaria voltar numa segunda ou terça de Londres, já que Paul McCartney sobe ao palco do festival da Ilha de Wight num domingo. Assim, não pudemos aproveitar as promoções da Air China, a saber.

Um vôo da Air China para Madri até julho sai pela bagatela de R$ 1.159,79 (R$ 948,01 a passagem, R$ 211,78 de taxas), mas não consegui descobrir se eles dividem. Ou seja, para quem quiser ir apenas ver o Pixies, Wilco e Pavement (mais uns 50 bandas) no Primavera Sound, em Barcelona, o preço está ótimo (valores de 27/03/2010). Vale muito dar uma olhada no site dos caras: http://br.fly-airchina.com.

Ai alguém pergunta: mas tem que descer em Madri? Bem, esse é o trecho mais barato da Air China. Descendo ali tem trem (para Barcelona, Valência ou mesmo Paris) e várias companhias barateiras como a Easyjet (http://www.easyjet.com/asp/PT/), que voa para Londres (30 euros), Lisboa (20 euros), Berlin (60 euros), Roma (30 euros), Paris (30 euros) e Liverpool (80 euros), entre muitas outras cidades.

Só não fui de Air China desta vez pois eles só voam de quinta e domingo. Até toparia sair de São Paulo num domingo (ao invés da sexta, como decidimos), mas voltar no domingo seria riscar o show do Paul da agenda. Difícil, né. E também não teria como esperar a quinta seguinte para voltar, pois terei que estar numa quarta-feira de volta a redação do iG para pagar as contas de viagem. Numa próxima, porém, quem sabe…

Leia também:
– Quanto custa uma viagem para a Europa, por Marcelo Costa (aqui)
– Madri 2009: o dia já vem raiando meu bem, por Marcelo Costa (aqui)
– Madri 2009: sangria e pinturas negras, por Marcelo Costa (aqui)
– Madri 2008: Plaza Mayor e Museu do Prado, por Marcelo Costa (aqui)
– Madri 2008: Reina Sofia e Thyssen, por Marcelo Costa (aqui)

março 27, 2010   No Comments

Entrevista ao Blog do Bracin

Entrevista concedida a Vinicius Felix

Se você é leitor deste blog há algum tempo provavelmente sabe quem ele é. Se não sabe eu deixo que ele se apresente:

“Marcelo Costa é um leonino do segundo decanato com ascendente em touro apaixonado por cervejas belgas, cachaças mineiras, picanha ao ponto, mixto quente com salada e bacon, pipoca do Cinemark e tortinhas de morango. Editor do Scream & Yell, coordenador de capa do iG, DJ eventual, cozinheiro de fim de semana e centroavante nos moldes do grande Geraldão. Escreve sobre romances e cultura pop.” (retirado do seu perfil no blog “Calmantes com Champagne”)

Foi a pouco mais de três anos que conheci o Scream & Yell e seu editor, Marcelo Costa, via Comunidade da Bizz no Orkut.

Gostei logo do site e dos textos do Marcelo pela boa escrita e identificação com as opiniões e gostos. Estava no terceiro ano do ensino médio e já tinha certeza em prestar jornalismo. Veio em boa parte dali o incentivo para começar a rabiscar um blog para treinar.

A influência era tanta que na minha cabeça tinha certeza que quando entrasse na faculdade e tivesse que fazer uma entrevista falaria com o Marcelo.

Tanto tempo depois e esta aí a entrevista com ele, feita por e-mail, resultado de um trabalho para faculdade onde foi necessário entrevistar algum profissional da área de comunicação e conseguir um perfil de sua rotina, carreira e outros detalhes profissionais, acadêmicos e pessoais.

Minhas perguntas são simples, até pelo limite do tema – e pela falta de manha (primeira vez é foda) –, mas o Marcelo foi incrível e deu respostas que você tem que ler. Aliás agradeço muito ele por ter cedido a entrevista e também pela sua atenção em concordar com o prazo curtíssimo para a entrega do trabalho e depois ainda mandar um “versão melhorada” para ser publicada aqui.

Não sei ainda se rendeu um dez, mas o que eu aprendi nesta entrevista vale muito mais que qualquer nota.

Vamos lá

Você não é formado em jornalismo, certo? Faz alguma falta isso ou você acha que a experiência já deu conta de suprir qualquer ensinamento da faculdade?

Eu me formei em Publicidade e Propaganda e, a rigor, qualquer faculdade é importante. A minha abriu meu olhar para uma série de coisas que me ajudaram bastante profissionalmente. E acho que isso também deve acontecer com a Faculdade de Jornalismo, mas é preciso lembrar que faculdade é apenas a ponta do iceberg no quesito estudo. Vai soar piegas, mas a vida é que a escola. A faculdade te dá possibilidades e certos direcionamentos, mas o jornalista aprende mesmo na redação, escrevendo, lendo, prestando atenção no mundo que o cerca. Eu gosto do jornalista que eu sou hoje em dia, mas precisei camelar para isso. Numa de minhas saídas do iG, expliquei para minha superiora que eu precisava ir pois o outro emprego iria me dar oportunidades de fazer pauta na rua, entrevistar com microfone, fazer links ao vivo, coisas que naquela época não iria rolar no iG. E eu precisava crescer como profissional. Ou seja, acabei aprendendo o oficio em redação. Acho que a faculdade tem o seu valor, mas muitas vezes ela acaba podando a liberdade textual do jornalista na cegueira das regras. Não a toa, alguns dos jornalistas que mais admiro não fizeram jornalismo.

Como foi basicamente sua vida universitária?

Normal… acho. Fui campeão de truco na Semana da Comunicação (risos). Tive sorte em estudar na primeira turma grande matutina de PP da Unitau (Universidade de Taubaté). Eu trabalhava como auxiliar de biblioteca na Faculdade de Direito, passei no vestibular para Jornalismo, mas não havia jornalismo matutino, só noturno, e a pró-reitora não abria mão de eu abandonar a biblioteca à noite (e eu precisava do trabalho não só para pagar a faculdade, mas também porque ele me dava uma bolsa de 50% por ser funcionário concursado da universidade). PP foi minha segunda opção. Entrei e encontrei uma turma excepcional, inteligente, agitada. Imagina: éramos 70 calouros contra 15 veteranos (risos). Isso nos deu uma liberdade do tipo: “Podemos fazer o que quiser aqui nesse lugar”. E fizemos. De peças de teatro a números musicais. Nas aulas de rádio, apresentávamos programas em italianês (risos). Meu ponto alto foi o trabalho que apresentei para a cadeira de Estética de Cultura de Massa. A professora pediu uma leitura crítica da “Divina Comédia”, de Dante. Chamei um guitarrista amigo apaixonado por blues e metal e um DJ para fazer uma base pesada (pensando hoje, era puro Nine Inch Nails). Colocamos uns quinze latões com velas na frente da faculdade. Era noite do encerramento da Semana da Comunicação, com teatro lotado. Assim que acabou a cerimônia, começou o barulho. Eu declamava uma citação de Aldous Huxley, um poema meu em três partes, e fechava declamando “Os Provérbios do Inferno”, de William Blake, sob uma base de microfonia. Foram 10 minutos ensurdecedores com todo mundo saindo do teatro e atravessando aquele purgatório (risos). Uns cinco anos depois encontrei uma menina em uma balada. Ela fazia Arquitetura e tinha ido a Comunicação com uma amiga, e ficou chapada com o arranjo que fizemos. Valeu a pena (e também um 10).

Tem alguma pretensão em fazer doutorado, mestrado, caso não tenha ainda?

Eu cheguei a ter vontade de fazer, mas hoje em dia sem chance. Ao menos que alguém aumentasse o dia de 24 para 36 horas. E olhe lá. Talvez ainda não me sobrasse tempo. Não é a toa que estou respondendo isso a 1 da manhã.

A motivação para trabalhar com jornalismo veio antes ou depois de alguma necessidade profissional? Em que momento o Screm & Yell começou? Foi antes dessa necessidade, por paixão por escrever ou surgiu depois quando você já estava formado?

Meu pai sempre sonhou em ser jornalista. Ele era chefe da segurança da Volkswagen, mas escrevia no jornal da empresa, apresentava programa de rádio. E aquilo de alguma forma me impressionou. Então, desde que me conheço por gente penso em ser jornalista. Eu gostava daquilo, dele mostrando o jornal pra nós. Parecia… especial. Daí veio a paixão por música (também herdada dele) e a Bizz, e então já viu: lá estava eu, mais um moleque de 15 anos querendo escrever sobre música pop. Mas isso demorou a acontecer. Eu fazia o que todo moleque faz, que era escrever poesias. Eu explorava as formas (sonetos, baladas, redondilhas), e isso me fazia escrever melhor, mas só fui escrever algo sobre música quando uma namorada, a Maria Teresa, pediu um texto meu para ela mostrar para um amigo. Deve estar em algum lugar aqui em casa, e ficou uma porcaria. A idéia era boa, mas como assim, escrever um texto sem gancho? Eu quero pauta (risos). Escrever um texto do nada foi bastante desafiador. Mas ela queria me colocar em contato com algumas pessoas que escreviam, ela queria me colocar em um jornal. Depois disso só fui escrever à sério quando surgiu o Scream & Yell, na metade da faculdade. Dois amigos já tinham feito um fanzine na classe, o Gambiarra, e aquilo me deu idéias. Comentei a idéia com um amigo que fazia Direito, e um dia ele aparece em casa do nada. Era 25 de dezembro, natal, e ele surge com a proposta de fazermos um fanzine exatamente pela paixão de escrever. Nessa primeira fase, que durou uns três meses, nossa idéia era mapear a cena local. Fazer um fanzine de cultura sobre Taubaté. Entrevistamos banda de metal da cidade. Mas daí o João se acidentou, e morreu. Aposentei a idéia até um outro cara, que estudava com o João no Direito e tinha visto um rascunho do fanzine, fazer a proposta de tocarmos juntos o negócio. Foi um ano e pouco depois do acidente, eu já namorava outra garota, a Karina, que manjava de computação (PageMaker), e nos ajudou a formatar a idéia do que queríamos. Aqui já há uma necessidade de escrever devido aos veículos que eu acompanhava (Ilustrada, Bizz) não estarem trazendo nada de novo. Então foi algo: “Se eles não falam das bandas que deveriam ser faladas, a gente fala”. Nasceu o Scream & Yell…

Aliás, quais são foram suas influências para escrever? O que você lia, ouvia quando começou?

Jornalistas: Ana Maria Bahiana e André Forastieri. Eu lia muito eles. Lia, recortava, guardava, lia de novo. Não é a toa que tínhamos uma seção no fanzine chamada “Matérias Antológicas”. Eu queria ter escrito tudo aquilo, e queria que mais pessoas lessem. Eu lia muito Shakespeare, Oscar Wilde, Aldous Huxley, Vinicius de Moraes e Morris West na época. E ouvia muita música, traduzia letras com o dicionário na mão.

Que eu me lembre você trabalhou nos principais portais do país, ou seja, pelas minhas contas aqui seu trabalho com internet vem de uma época menos popular dela e até uma fase extremamente popular, a atual. Quais portais foram e em quando e quanto você trabalhou em cada um? Como são as diferenças desses períodos? E como é trabalhar com um material tão passageiro, incomoda?

Eu cheguei em São Paulo em 2000 para trabalhar no recém criado iG. Cheguei em agosto para um trabalho como redator de nova economia (no iG.com – iG Economia), que nem eu e nem a editora sabíamos direito o que era (risos). Trabalhava de 6h às 12h, e em dezembro acumulei o Noticias Populares, cobrindo esportes. Passei a entrar no iG às 5h e sair às 11h. Ai eu almoçava e corria pro NP, às 14h, e ficava até a rodada do futebol acabar. Isso durou pouco mais de um mês. A diretoria da Folha da Manhã assassinou o NP e o iG.com foi engolido pela bolha da internet. Foram uns seis, sete meses de trabalho, mas eu dei sorte. No mesmo dia que o iG fechou o iG.com (e demitiu as 24 pessoas – imagina: 24 pessoas na editoria de apenas um canal???) tinha show do Mudhoney. Enchi a cara, e fui desabafar ao som de “Touch I’m Sick”. Na porta encontrei um cara que eu já conhecia por ele ter escrito algo para o Scream & Yell (o site entrou no ar em novembro de 2000), e ele me arranjou um frila para cobrir esportes em um site parceiro da Zip.Net, o Esportes-E (do Banco do Brasil). Eu só trabalhava aos sábados e domingos (e ganhava mais do que trabalhando o mês inteiro no iG), e cobria jogos do Gustavo Kuerten e da seleção de vôlei, esportes que o BB patrocinava. Então o UOL comprou a Zip.Net, e esmagou o portal. Foi mandando paulatinamente todo mundo embora. Desse site parceiro mandaram o jornalista, depois o editor, depois o webmaster. Sobrou eu. E o UOL teria que honrar a parceria assinada em contrato com o BB. Então me ofereceram um contrato de 15 meses para eu ser editor do site. E eu fui pro UOL. Os 15 meses se passaram, a parceria acabou, e eu fiquei mais cinco meses trabalhando em outros projetos. Chegou janeiro de 2003, meu chefe (que estava me pagando por borderô, já que meu contrato tinha acabado uns seis meses antes) falou que não iria sobrar grana naquele mês pra mim. Fui pra casa. Numa balada encontrei minha ex-chefe do iG, que me convidou pra voltar para ser redator de capa do portal. Fui. Seis meses depois recebi uma proposta do Terra. Era para uma vaga de editor de música, mas eles curtiram meu currículo e acabaram me dando a vaga de sub-editor de Diversão e Cultura. Foram três anos intensos. A chefia mudou, fui saído. Tirei um semestre sabático e, quando menos esperava, lá estava o iG de portas abertas para mim novamente. Voltei para ser editor de capa. E hoje faço parte da equipe que coordena a edição de capa do portal (junto a do BrTurbo, do iBest e da Oi).

E não existe tanta diferença entre esses períodos. Porque a internet ainda é um meio a ser desbravado. Ninguém pode dizer com toda a certeza do mundo o que é certo e o que é errado na internet. Não existe formula. As pessoas se surpreendem quando digo que publico entrevistas no Scream & Yell com 15, 16 laudas. E quem disse que não posso publicar? Se o material for relevante, o leitor acompanha, mas é o leitor de um grande portal é diferente do Scream, claro. Então, os grandes portais ainda estão tateando no escuro. Os grandes jornais do mundo também.

Quanto ao material passageiro, uma questão: qual a o veiculo que se perde mais? Os jornais, que vão embrulhar peixe, banana ou servirem de forro para gaiolas ou a internet? Uma das matérias mais lidas do site no mês passado foi uma reflexão que o Marco Antonio Barbosa, do Jornal do Brasil, escreveu sobre o “Apanhador no Campo de Centeio”… em 2000. Hoje (18/03/2010) linkei no twitter um texto do Marcelo Orozco (ex-NP, atual Vip) escreveu em 2000 sobre o Big Star. Será que é passageiro mesmo?

Fale um pouco sobre sua rotina de trabalho no portal. Como é sua função por lá, as coisas que você sempre faz, seus principais prazeres e o que é chato demais nessa rotina. Como é seu retorno do trabalho feito lá? Procurei muito, mas não encontrei, por exemplo, o nome do pessoal que edita o portal.

Estamos preparando uma página com o expediente do portal, mas ela ainda não está no ar. Bem, a minha rotina é escolher (junto com mais quatro pessoas, sendo dois superiores) as matérias que vão ser destacadas na capa, dentre as centenas que nos recebemos. Essa equipe escolhe não só a matéria, mas onde ela vai ficar na capa, e o tempo que ela vai ficar. Então a rotina é receber a pauta dos cadernos, analisar a validade jornalística e a qualidade editorial dela, e encaixar aquela pauta no quebra-cabeça de uma primeira página de portal. O prazeroso é que você acaba tendo contato com muita informação vinda de todos os lados. O chato é que você não escreve, apenas adéqua o conteúdo que as pessoas te mandam em manchetes e boxes temáticos. E, posso estar enganado, mas 90% das pessoas que escolhem o jornalismo o fazem porque querem escrever. Basta subir um pouquinho na carreira que você deixa de escrever.

Você também escreve para a Rolling Stone e para a Billboard, as únicas revistas de cultura pop que circulam da maneira tradicional ainda. Ainda acredita nesse velho formato ou mais na internet, ou em revistas virtuais, você também colabora bastante para algumas, certo?

Eu acredito no poder da palavra, mesmo. Seja na imprensa escrita, seja na internet. É bom lembrar que 60 milhões de brasileiros têm acesso à internet, e apesar de ser um número sensacional, e os outros 140 milhões? Alguns desses lêem revistas, apesar das tiragens estarem despencando. Acho que há espaço para ambos, assim como defendo que as revistas vão precisar se desdobrar para convencer o leitor que o preço de capa foi bem pago. Ninguém quer comprar uma revista para encontrar ali o que ele poderia encontrar de graça na internet. Porém, muita gente paga por opinião. Eu compro uma revista que tenha textos do André Forastieri, Lucio Ribeiro e Ana Maria Bahiana porque a opinião deles me interessa. A informação eu posso até saber, mas o modo como eles colocam as coisas me faz comprar a revista. Acontece o mesmo na web.

Uma grande dúvida dos jovens alunos acho que é com o freelancer. Como conseguir, como administra-los. Lembro de uma verdadeira saga sua para receber certa vez um pagamento de freela, que você relatou cada enrolada da editora. Como funciona essa parte da profissão e quais são as dicas para um bom freelancer? Como mostrar o primeiro trabalho, fazer contatos, etc?

Para ser um bom frila você precisa ter uma idéia genial por semana. Sério. Pagar aluguel com frila é pra poucos. A maneira de conseguir é simples: é só meter o pé na porta do editor (risos), ou, menos violento, achar o email dele (que hoje em dia não é difícil) e oferecer uma pauta que só você tenha pensado. Nenhum editor recusa uma pauta boa… mas tem que ser boa.

Seu site musical já deu algum lucro ou não, é puramente, como já disse, paixão? E os nomes que você já revelou? Em 10 anos quantos já leram e escreveram por lá? É um número significativo, comparado até o de grandes veículos com objetivo diferentes, não?

Depende da forma que uma pessoa entende o lucro. Quem entende que lucro é ganhar dinheiro, bem, o Scream nunca deu lucro. Mas abriu portas. Muitas. Eu fui chamado para um teste no iG devido aos textos que eu mostrava no Scream & Yell em papel. Já fui chamado para palestras, debates, entrevistas e conheci as pessoas que mais admiro na profissão (e algumas na música) através do Scream. Isso pra mim é lucro. Quantos já leram? Não tenho um número preciso. Segundo as estatísticas do site, em 2009 foram 533 mil visitantes únicos. Em 2004 tinha sido 167 mil visitantes únicos. Em dois meses e meio de 2010 já temos 128 mil. Já a lista de pessoas que escreveram para o site é imensa, e muita gente boa. Quem sabe um dia eu não faço um listão.

Vou me render a um clichê, como você vê o jornalismo daqui alguns anos? Você pretende participar disso ou pensa em descansar ou mudar de carreira? Ou acha que esse fascínio em escrever será eterno?

O jornalismo vai existir. Sempre. Acho que a tendência é o mercado crescer, e exigir cada vez mais do profissional. Agora todo leitor tem acesso a informações de fontes oficiais. Se você der uma mancada, ele vem e pega no seu pé, e não volta. Quanto a mim, uma das boas coisas do jornalismo é que você pode (e deve) escrever sentado (risos). Enquanto o cérebro funcionar quero estar escrevendo, mas ainda não sei sobre o que nem quanto tempo vou conseguir enfrentar baladas de madrugada da rua Augusta para ver shows de gente sensacional. Já ando passando alguns…

Por fim, quais são suas dicas para os estudantes? Além de escrever e ler muito, qual outra qualidade você considera indispensável para o jornalista? Filmes e livros também indispensáveis, cite alguns?

Dica número 1: abra um blog, e comece a postar ali as coisas que você acha sobre o mundo. Escrever é exercício. Quanto mais você escreve, mais as palavras te procuram na hora em que você precisa fechar um parágrafo confuso. Ler é obrigatório. Nem que seja bula de remédio, mas dispense os livros de auto-ajuda. Você precisa ter a cabeça em ordem para escrever bem e não filosofar bobagem. Se quer filosofia vá atrás dos grandes. Devore entrevistas e resenhas como se toma café da manhã. Exercício: a coisa só começa a funcionar quando você pega um texto e no primeiro parágrafo já descobre quem o escreveu. Quando você passa a distinguir bem os textos você passa também a ter um leque de opções que pode ser usado na hora que você precisar. Escrever é filtrar nossas maiores influências através de nosso prisma pessoal. E, por fim, discuta muito. Veja um filme e analise. Discorde, concorde, mas argumente. Escrever (e principalmente resenhar, que é o que a maioria gosta de fazer) também é argumentação. E isso lhe prepara para a vida, porque ela também é feita de argumentação. E aquele que presta atenção aos detalhes e sabe discutir e argumentar está um passo à frente. Como diria Blake, “se os outros não fossem tolos, nós teríamos que ser”. E como diria Forastieri, “ter um pouco de caráter também nunca atrapalhou ninguém”. Por fim, como diria Tony Parsons, “fique perto das coisas que você ama. E leve um bastão de beisebol para o resto”. Basta.

Veja outras entrevistas aqui

março 25, 2010   No Comments

Europa 2010: Quarto rascunho de roteiro

A viagem deste ano está bem enrolada. Lili decidiu que vai. Perdemos de comprar passagens por R$ 1750 (divididas em cinco vezes) e elas já subiram para R$ 2 mil. Ainda não compramos os trechos intermediários nem reservamos nenhum hotel. Ou seja, perdemos de fazer uma enorme economia. :/ Mas parece que agora vai. Ainda precisamos bater o martelo do trecho após a Grécia e correr atrás de algum lugar para ficar no fim de semana na Ilha de Wight, que terá Strokes, Blondie e Vampire Weekend no sábado, e Suzanne Vega, Pink e Paul McCartney no domingo. Dedos cruzados. É quaaaase isso:

14/05 – São Paulo
15/05 – Budapeste
16/05 – Budapeste
17/05 – Viena – BRMC
18/05 – Viena
19/05 – Viena
20/05 – Viena
21/05 – Budapeste
22/05 – Budapeste
23/05 – Praga
24/05 – Praga
25/05 – Praga
26/05 – Bratislava
27/05 – Barcelona – Primavera Sound
28/05 – Barcelona – Primavera Sound
29/05 – Barcelona – Primavera Sound
30/05 – Roma – Wilco
31/05 – Atenas
01/06 – Atenas
02/06 – Atenas
03/06 – Ilhas Gregas
04/06 – Ilhas Gregas
05/06 – Ilhas Gregas
06/06 – Lisboa ou Istambul
07/06 – Lisboa ou Istambul
08/06 – Porto ou Istambul
09/06 – Lisboa ou Bilbao
10/06 – Londres
11/06 – Londres / Ilha de Wight
12/06 – Festival na Ilha de Wight
13/06 – Festival na Ilha de Wight
14/06 – Londres
15/06 – Londres
16/06 – São Paulo

março 23, 2010   No Comments

A defesa de uma brasilidade esquecida

charmechulo.jpg

por Tiago Agostini

“Não tenho mais vergonha em me passar por mim.” Formado em Curitiba, mas com a origem remontando à infância em Maringá, no norte do Paraná, o Charme Chulo parece ter atingido a certeza do seu papel dentro da nova cena de rock independente no Brasil: ser a voz do interior, do povo simples que sai de suas pequenas cidades em busca da tão sonhada e prometida vida melhor nos grandes centros.

Os primos Igor Filus (voz) e Leandro Delmonico (guitarra, violão e viola) eram fãs do rock britânico dos anos 80. Durante algum passeio pelo calçadão da rua XV de Novembro, em Curitiba, olharam as dezenas de mendigos, artistas de ruas simples e fizeram a conexão deles com a música das rádios AMs que embalaram sua criação no interior do estado. Foi um passo para Leandro aprender a tocar viola e o Charme Chulo surgir, com a inusitada mistura de Tonico e Tinoco e Smiths, Tião Carreiro e Pardinho e Violent Femmes. Tudo fazendo muito sentido.

Em tempos de valorização da cultura nacional, o Charme Chulo toma para si a defesa de uma brasilidade facilmente esquecida por boa parte da população. Com o discurso da metrópole sendo dominante, é fácil considerar o samba como linguagem universal do brasileiro. Mas, como diz a letra manifesto da música “Nova Onda Caipira”, “o carnaval é quatro dias, a viola é durante o ano inteiro”. Não poderiam estar mais certos esses curitibanos.

Tomando a bandeira dos caipiras, eles se alinham ao Cidadão Instigado como cronistas dos migrantes nos grandes centros. Mas, enquanto Fernando Catatau maneja com propriedade a sofisticação da mistura de Odair José com Pink Floyd para tratar de temas românticos e de questões mais pontuais desta vida, sempre de forma lírica, o Charme Chulo é mais direto na abordagem, resvalando na crítica política e social, quase um punk da roça – graças, muito, à bateria precisa de Rony Carvalheiro – completa a banda o recém-admitido baixista Luciano Assumpção.

Quantas pessoas vivem longe de suas famílias, seus lares? É só observar a lotação e o caos das grandes rodoviárias em feriados para perceber que somos muitos. O Charme Chulo funciona como uma lembrança doce de nossas raízes, resgatando o melhor do cancioneiro popular que acompanha as manhãs de domingo com o pai assando um churrasco ou a mãe fazendo o almoço. Nostalgia brega, charme chulo, mas sincero.

Espertamente dançante como poucas bandas no Brasil, o Charme Chulo une a bateria marcante com dedilhados suaves e riffs simples, que ora remetem ao pós-punk inglês ora ao melhor do cancioneiro country norte-americano. Apesar de ser uma banda de rock, é quando Leandro assume a viola que a banda consegue os melhores resultados de sua alquimia. Virtuose do instrumento, mesclando acordes cheios com solos minimalistas, ele cria diálogos cheios de emoção como um Johnny Marr do sertão. Ao vivo, a equação é amplificada. O vocalista Igor Filus parece ser possuído por alguma entidade no palco, fazendo as vezes de um Ian Curtis caipira.

“Eu nasci no Norte e fui pro Sul, deixei muita alma pra trás.” Charme Chulo faz rock para dialogar com as grandes massas. Não estariam deslocados tocando em alguma grande feira popular, como o a Festa do Peão de Barretos. O discurso é simples, a melodia é pegajosa. Sobra humildade e noção de contexto histórico, porém. “Certas coisas não se podem escolher, eu sei onde é o meu lugar.” É por sempre lembrar e valorizar suas raízes que o Charme Chulo consegue dosar corretamente o retrô e o contemporâneo. Soa universal com um pé no passado e nas tradições, mas sem deixar de mirar o futuro.

scream_yell_party_one_peque.jpg

Clique na imagem para ver o flyer numa versão maior

Festa Scream & Yell #1
Sábado: 20/03
Abertura da casa: 22h
Show: Charme Chulo às 23h (transmitido via web)
Discotecagem: DJ Set Scream & Yell (Marcelo Costa e Tiago Agostini)
$20 na porta $15 na lista (screamyell@gmail.com)
Local: Casa Dissenso, Rua dos Pinheiros, 747, São Paulo, SP

Leia também:
– Entrevista: Charme Chulo fala da moda caipira, por Murilo Basso (aqui)
– A caprichada carta de cervejas e mais seis coisas da Festa S&Y #1 (aqui)

março 17, 2010   No Comments

Mudanças no roteiro nos próximos dias

Eu tinha me planejado para comprar as passagens neste fim de semana, mas isso vai ficar pra segunda, provável terça. Lili não vai poder viajar comigo, então vou deixar a Escandinávia para uma outra viagem e me concentrar na parte debaixo da Europa agora, mais precisamente nas Ilhas Gregas. Eu já tinha colocado Atenas de brincadeira no último roteiro, e agora ela deve entrar realmente. A idéia é passar uns três dias na cidade, e depoir ir para Santorini e, de lá, para Istambul.

Também quero passar por Lisboa, afinal é um pecado eu ter ignorado Portugal nas duas últimas viagens. Por fim, eu havia pedido para sair de  férias no dia 13/05, uma quinta, mas vou tentar conversar para mudar para 17/05, uma segunda. Isso me dará mais dois dias (ao invés de voltar a trabalhar dia 14/06, voltaria 16/06) viajando, e me permitiria ver isso aqui. Sacumé, já que vou solo, vale colocar mais um festival na agenda. Acho que agora vai…

março 13, 2010   No Comments

Terceiro rascunho de roteiro da viagem

Agora com as datas de ida e volta definidas.

A primeira perna da viagem está praticamente decidida. A idéia é descer em Milão no dia 13/05, aproveitar a cidade nos dias 14/05 e 15/05 e partir para o Leste Europeu. Brastilava? você deve estar se perguntando. Yep. E pelo jeito vai ter que ser via Ryanair. O trem está saindo por mais de 100 euros por pessoa. Na Ryanair, se não cometermos a bobagem que cometemos em Veneza no ano passado (aqui), sai 40 euros pra um, 30 euros pro outro. E a ideia de ficar em Bratislava o fim de semana é, também, para ficar mais perto de Viena, que recebe o BRMC na segunda, 17/05 (o convite custa 25 euros!).

O BRMC também toca em Praga, dia 21/05, mas enquanto Budapeste, Viena e Bratislava ficam coladas uma na outra (1h de Bratislava pra Viena, 2h de Viena pra Budapeste), Praga fica um pouco mais longe (só um pouco, quase 4h de viagem, um tempo precioso em uma viagem cansativa e cheia de paradas como essa). E nós ainda queriamos visitar nesta primeira perna uma cidade da Polônia, provavelmente Cracóvia, mas vamos precisar estudar muito o lance de trens, já que Ryanair não faz vôo pra lá e a Easyjet só tem vôo saindo de Dortmund, na Alemanha (pela pechincha de 19 euros!).

Ou seja, se o primeiro trecho, que “já está quase decidido”, está uma confusão, imagina o segundo, pós Primavera Sound. As últimas duas datas do Wilco na Europa antes das férias escolares dos filhos do Jeff Tweedy (é sério!) são 30/05 em Roma e 31/05 em Ferrara, perto de Veneza. O ideal seria pegar o show do dia 30 em Roma, e depois ir adiante. Atenas é uma sugestão. O vôo de Roma pra lá está saindo por 30 euros também, assim como o de Roma para Estocolmo. Já deu pra perceber que diminui dias na Escandinávia do segundo rascunho pra esse, né. A fama de região mais cara da Europa nos assustou, então melhor segurar o ímpeto, pois a grana está curta.

Enquanto o primeiro trecho, apesar das dúvidas, é quase o que vamos fazer mesmo, o segundo ainda é uma hipótese (apesar da forte tentação, Atenas deve ficar de fora). Vamos precisar sentar e conversar e calcular tudo na ponta do lápis. Até o fim de semana já devemos ter algumas coisas fechadas (espero), mas por enquanto ainda está tudo confuso.

13/05 – Milão
14/05 – Milão
15/05 – Bratislava
16/05 – Bratislava
17/05 – Viena – BRMC
18/05 – Viena
19/05 – Viena
20/05 – Viena
21/05 – Budapeste
22/05 – Budapeste
23/05 – Budapeste
24/05 – Praga
25/05 – Praga
26/05 – Praga
27/05 – Barcelona – Primavera Sound
28/05 – Barcelona – Primavera Sound
29/05 – Barcelona – Primavera Sound
30/05 – Roma – Wilco
31/05 – Atenas
01/06 – Atenas
02/06 – Atenas
03/06 – Roma
04/06 – Estocolmo
05/06 – Estocolmo
06/06 – Estocolmo
07/06 – Helsinque
08/06 – Helsinque
09/06 – Helsinque
10/06 – Amsterdã
11/06 – Amsterdã
12/06 – Amsterdã
13/06 – Bruxelas

março 9, 2010   No Comments

Opinião do Consumidor: Schmitt Ale

Schmitt Ale

Perfeito exemplo de cerveja caseira, a Schmitt Ale começou a ser produzida 20 anos atrás por Gustavo Dal Ri, sócio da cervejaria Schmitt, que dedicou-se a produção de cervejas especiais em sua própria casa em Porto Alegre, utilizando uma receita exclusiva de uma vizinha, descendente de alemães.

São seis os tipos de cerveja produzidos hoje em dia pela Schmitt, e esta Ale abre o leque da cervejaria (que ainda produz a stout La Brunette, a cerveja da guarda Magnum e a Sparking Ale) de forma interessante. Você pode conhecer o processo de produção das Schmitt, da moagem do malte até a refermentação, aqui.

Agora, direto ao ponto: sinceramente… não gostei tanto. A Schmitt Ale contém algumas características das cervejas de alta fermentação, como o aroma frutado (predominando o cítrico que lembra limão e laranja) que acompanha o sabor (levemente doce), mas que se perde entre o azedo e o aguado no final.

É uma cerveja bastante leve que parece cair bem na compania de um cigarro. Na mesma linha, acho a Hoegaarden, a Leffe e, mamma mia, a Duvel mais representativas, mas a leveza da Schmitt pode conquistar muitos adeptos. Vários amigos gaúchos são fãs. Vale experimentar.

Schmitt Ale
– Produto: Ale
– Nacionalidade: Brasileira
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 1,9/5

Veja outras cervejas aqui

março 8, 2010   No Comments

7 coisas sobre a Festa Scream & Yell #01

1) A banda que vai tocar na primeira festa está fechada. Para a segunda festa, em abril, estamos sondando dois nomes…

2) A festa vai começar às 22h, e o show está marcado pontualmente para às 23h, com áudio transmitido ao vivo pela “rede mundial de computadores”, como diz aquele grupo de televisão.

3)  Aproveitando o gancho da transmissão ao vivo, vamos selecionar os melhores momentos de cadaum dos shows para lançar o “Scream & Yell Sessions”, modelo John Peel.

4) A carta de cervejas da casa é grande. Nacionais: Skol, Brahma, Sol, Heineken, Stella, Eisenbahn e outras de fabricação artesanal. Importadas: Warsteiner, Erdinger, 1790, Guiness, Chimey e Isenbeck.

5) A loja da Casa Dissenso estará aberta, e vamos colocar à venda badulaques do site, de botons a camisetas.

6) O DJ Set Scream & Yell vai ser variado, mas de bom gosto. Música pra ser feliz na pista.

7) Essa primeira festa marca o início das comemorações de 10 anos do site. Muita coisa legal virá pela frente, mas o agito começa dia 20/03.

março 6, 2010   No Comments