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Coluna: Do vinil para o MP3

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Um rascunho de pensamento…

20 de outubro de 1986. Essa é a data do meu primeiro registro em carteira de trabalho. Não que eu não tivesse trabalhado antes. Ali pelos 12 anos eu peguei um bico de entregar pastel (muito bom por sinal) para diversos botecos da região para um japonês que morava perto de casa. O segundo trabalho foi em uma banca de jornal, que ficava na rodoviária de Taubaté, ao lado de uma loja de discos. Do outro lado da rua ficava a Hermes Macedo, a tal empresa que carimbou minha carteira pela primeira vez.

O primeiro salário de verdade a gente não esquece. Não que os 1300 cruzados fossem uma fortuna, mas assim que recebi o meu primeiro cheque, descontei e fui direto para a lojinha de discos que ficava ao lado da banca que eu tinha trabalhado meses antes. Sai de lá com seis vinis: “Dois”, do Legião Urbana; “O Rock Errou”, Lobão; “Selvagem?”, Os Paralamas do Sucesso; “Nós Vamos Invadir a Sua Praia”, do Ultraje a Rigor; “Mudança de Comportamento”, do Ira! e “Revoluções por Minuto”, do RPM.

Até então eu só tinha dois vinis em casa: “Radioatividade”, o segundo álbum da Blitz, e “Ballads”, uma coletânea com 20 baladinhas dos Beatles, o primeiro disco que ganhei na vida (já falei sobre ele aqui). De 1986 para cá muita coisa mudou. Os vinis sumiram das prateleiras brasileiras (eu devo ter uns 500 em casa), o CD surgiu, virou mania e então apareceu o MP3, e o modo das pessoas ouvirem música foi mudando e se adaptando conforme cada evento tecnológico surgia para animar as nossas vidas.

Nos anos 80 a gente gravava fitinhas K7 e ia pra escola ouvindo walkman. Também já escrevi sobre a arte de gravar fitinhas (aqui), mas isso também mudou com o tempo. Ali pelo meio dos anos 90, o discman veio com tudo para fazer com que o ouvinte levasse seus CDs prediletos para ouvir onde quisesse. E funcionou, mas daí chegou o século 21, e em 2001, a Apple lançou o iPod, pois o formato já não era mais CDs e nem vinil, e sim MP3 podendo transportar 5GB de músicas. A revolução se fez.

Agora estamos começando mais uma década, e a discussão sobre formatos (que começou uns dois, três anos atrás) parece esquentar. Muita gente boa defende que o MP3 vai morrer, e que o futuro da música será… 1, 2, 3: o streaming. Em streaming, as informações da mídia não são usualmente arquivadas pelo usuário que está recebendo a stream. Isso permite que um usuário reproduza mídia protegida por direitos autorais na Internet sem a violação dos direitos, similar ao que acontece em rádio e televisão aberta.

Por que streaming?, pergunta o leitor. Porque, defendem alguns, ninguém vai ter paciência de guardar milhares de gigas com MP3 a partir do momento que você poderá ouvir aquela mesma música de graça, na hora que você quiser, estando conectado. A idéia é que as gravadoras devem apostar nesses servidores, disponibilizando seus catálogos. Com uma simples busca você encontra o disco que queria ouvir, e o ouve sem precisa arquivar nada em seu HD. Clicou, ouviu, foi feliz.

Não sei, mas sou um pouco cético quanto a isso. Pra mim, o MP3 veio para ficar (espero nunca ter escrito a mesma coisa sobre o CD – risos – na verdade eu disse aqui que ele ia morrer). Espaço é algo cada vez mais irrelevante. Acredito que antes das gravadoras apostarem nos sites de streaming vão aparecer pendrives com capacidade enorme ocupando pouco espaço. O máximo até o momento são 128 GB naquele chaveirinho, um espaço em que você pode guardar mais de mil álbuns. Imagina quando isso chegar a 1T.

Além do mais, acho que o ser-humano é acostumado a comodidades. É muito fácil ouvir algo em streaming, mas para o modelo funcionar será preciso dar ao ouvinte o mínimo de chance de erro. Buscar uma música e não encontrá-la, e um ouvinte perdido. Talvez seja uma visão de apaixonado por música, de pessoas que querem ter o controle sobre o que ouvem, e não querem correr o risco de não poder ouvir aquele disco que tanto ama. No mais, se streaming funcionasse, o My Space não teria sido esquecido, certo.

De qualquer forma, não há como cravar nada. Vivemos um período interessantíssimo da história mundial, em que tudo pode ser possível, mas poucos podem prever o que vem por ai. Em três décadas passamos do vinil e do K7 para o CD e do CD para o MP3. Qual o próximo passo? Será que a música será guardada em um grande servidor online, e todo mundo vai acessar conforme suas preferências, ou vamos continuar lotando HDs com MP3? Como você acha que estará ouvindo música daqui dez anos?

fevereiro 1, 2010   No Comments