Fred ZeroQuatro, a internet e o fim da indústria
Fred ZeroQuatro / Foto: Marcelo Costa
“No caso específico da música, por exemplo, eu não posso chegar numa feira livre e pegar quatro tomates e cinco pimentões e levar pra casa, porque eu vou ser acusado de ladrão – e olha que estou falando de coisas que brotam da terra. Primeiro porque estamos numa sociedade capitalista, e segundo porque ali houve trabalho, investimento…”
Fred ZeroQuatro em entrevista ao G1 (leia mais aqui)
Quem acompanha esse espaço sabe que admiro o líder do Mundo Livre S/A, porém acho que agora ele deu uma tremenda bola fora. Já falei sobre o fim da indústria da música em um artigo chamado “A Nova Idade Média” (leia aqui), e cada vez mais me vejo acreditando na morte da indústria e de um modelo de negócio que sobreviveu por mais de 50 anos, mas que começa a definhar.
A questão toda é que vivemos uma época de mudanças, e não dá para cravar verdades absolutas. Porém, o que fica nítido na reclamação de ZeroQuatro é que tanto a direita quanto a esquerda dos “partidos” envolvidos em música (trocadilho infame, eu sei, mas você entendeu) sentiram o baque, e estão completamente perdidos procurando uma forma de dar rédeas ao jogo.
Grande bobagem. Se Fred ZeroQuatro tivesse nascido 100 anos atrás, e quisesse ser músico, ele não estaria vendendo discos, afinal eles ainda não existiam (talvez ele vendesse tomates e pimentões, mas ai são outros quinhentos). A forma de propagar sua arte era, ao amanhecer, pegar a viola, colocar na sacola e ir trabalhar. Fazer show de cidade em cidade. Esse era o cenário.
Pois bem: estamos voltando a ele. E ainda com uma série de vantagens: você ainda pode vender seu disco (nos próximos 30, 40 anos ainda terá quem compre) e o show já não é mais um momento único. Ele pode ser reproduzido de diversas maneiras, e vai se dar bem quem aprender a lidar com elas. Provavelmente moleques de 10, 11 anos, gente com cabeça aberta pro futuro.
O cenário tal qual o conhecemos está com os dias contados. As gravadoras tiveram um papel importantíssimo na difusão da música ali pelas anos 40 e 50, mas agora precisam modificar o negócio. Não a toa, muitas já estão entrando no ramo de agenciamento de shows. O que resta a fazer para os artistas? Pé na estrada. Era fácil ficar em casa enquanto alojas faziam sua parte vendendo CDs.
Era. Agora vivemos a Nova Idade Média. Acostume-se.
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