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Um jarro de sangria e as pinturas negras

A ordem em Madri é nadar em cerveja

Tem como contrariar um pedido desses?

 7 da noite, 35 graus, Nine Inch Nails esgotado. O que nos resta? Beber.

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Penúltimo dia de viagem. Dorzinha no peito, viu. Por mais que eu esteja sentindo uma saudade enorme dos amigos, da casa, da música, de Sao Paulo e também da rotina, a vontade era estender um pouco mais esse passeio para passar por Viena, Praga, Budapeste, Amsterda e ainda ver o Manic Street Preachers no Lokerse Festival, semana que vem, perto de Antuérpia, na Bélgica. Sonhar nao custa nada, né mesmo.

Quinta-feira

Fachada do Museu Reina Sofia em Madri

Saímos de Barcelona cedinho na quinta-feira (aliás, recomendamos bastante o Hotel Condado, um três estrelas com preço de hostel) em direçao a Madri. Conseguimos um preço bom antecipado do trem AVE (alta velocidade) e a viagem de 6h30 em um trem normal ficou em 2h30. O dia começou com ABBA (viajamos assistindo ao filme “Mamma Mia”) e eu queria que terminasse com NIN, mas como você já viu, nao rolou.

Localizamos o Hostal Gonzalo em Madri (boa dica da Ligelena) com bastante facilidade. Ele fica na Calle Cervantes, rua em que nasceu, viveu e morreu o autor de “Don Quixote”. E está em excelente localizacao, pertinho do Paseo do Prado e dos três grandes museus da cidade (e da Europa). Foi desfazer as malas, respirar um poquito e sair para procurar uma cerveja (para mim) e um gazpacho (pra Lili). Eita calor dos infernos.

Como tinhamos três dias em Madri decidimos separar um dia para cada museu, e começamos desta forma a quinta-feira no Reina Sofia, casa de “Guernica”, de Picasso. Reclamei muito da organizacao deste museu no ano passado (leia aqui), mas a versao 2009 está beeem bacana. Colocaram os filmes do Buñuel algumas salas antes e há mais silêncio para se apreciar o “Guernica” (apesar dio barulho da multidao – hehe).

Uma multidão admira o “Guernica” de Pablo Picasso

Além daqueles quadros que eu já havia citado no ano passado, e que foi especial demais rever – “Muchacha en la Ventana” (aqui), “Autoretrato Cubista” (aqui) , “Gran Arlequín y Pequeña Botella de Ron” (aqui) , “El Gran Masturbador” (aqui), todos de Salvador Dali, “La Fabrica Dormida”, de Daniel Vazquez Dias (aqui), “La Chimenea”, de Diego Rivera, e “Valencia”, foto de Cartier-Bresson (aqui) – listei mais alguns no caderninho.

Dentre os novos listados estao dois Dali (”O Enigma de Hitler” e “La Velocidad Máxima de la Madonna de Rafael”) um Picabia (”Spanish Woman“), a série “Los Desastres da La Guerra”, de Goya, e algumas fotos do hungáro André Kertész (uma delas mais abaixo), um cara que influenciou Cartier Bresson. Isso tudo além de Miró e Ligia Clark (um dos “bichos” dela foi adquirido recentemente pelo Reina Sofia).

Aproveitei para conhecer o lado Jean Nouveau do Reino Sofia, que eu deixei passar batido no ano passado, e que Lili nao aprovou muito nao (ao contrário do Caixa Fórum de Madri, do escritório Herzog & De Meuron, que fez Lili vibrar). Para ela é muito tecnologia para pouca funcionalidade, e eu leigo concordo, mas tem uns ângulos bem bacanas no prédio (além de umas coisas meio Centre Pompidou).

Uma foto clássica de André Kertész

À noite, aproveitando o calor que fez o centro da cidade se abarrotar, fomos para a Plaza Mayor, a mais bela praça madrilenha (pelo espaço, pela farra, pela música, por tudo), e arranjamos uma mesinha para petiscar batatas bravas com pimenta e beber um jarro da sangria. Enquanto isso no La Rivera, Trent Reznor enlouquecia 25oo fas que haviam esgotado os ingressos da noite única dois meses antes.

Sexta-feira

Nem coloquei o celular para nos acordar. Lili pegou bastante no meu pé dizendo que eu havia desprezado Madri no ano anterior, e que a cidade era bonita, mas nao é isso. Madri é bela, tem três museus sensacionais e muito mais coisas, mas para mim cai diante de boa parte das cidades que visitei (principalmente a concorrente Barcelona). E nao lembro de outra cidade na viagem que tenha me permitido descansar sem dor na consciência.

A Ligelena é uma fa ardorosa de Madri, principalmente da noite madrilenha, e esse é um ponto que nao posso opinar muito (ela tem ótimas dicas – veja aqui). Tanto esta viagem quanto a do ano passado nao foram viagens de baladas, noitadas e bares (no máximo, alguns pubs, shows e festivais – hehe), entao minah visao é muito esta de cidade diurna. Gosto de Madri, mas mais de Barcelona (e Paris, Veneza, Londres e Roma – até Berlim).

O Paseo do Prado em Madri

Após um chocolate quente ligeiro partimos para o Museu do Prado, um dos melhores museus do mundo, para vermos as duas majas (vestida e desnuda) de Goya, e o estupendo “As Meninas”, de Velázquez, e muito mais. Esqueci de contar, mas compramos o Paseo del Arte, um pacote que reúne os três museus da cidade por apenas 14,40 euros (quase o mesmo preço da Galeria Degli Uffizi sozinha em Firenze).

No Top 3 do ano passado (releia o post todo aqui) eu tinha colocado a “Maja Desnuda” (veja aqui) em primeiro e “As Meninas” (veja aqui), mas me vejo obrigado a reconsiderar. Assim que entrei na grande sala em que está exposto “As Meninas” me arrepiei. Velázquez pula para o primeiro lugar do Museu do Prado, e entra de cabeça na briga pelo posto de um dos meus quadros favoritos de todos os tempos.

Além destes dois revi “O Cardeal”, de Rafael (veja), o polêmico “O Jardim das Delícias”, de El Bosco (veja), “Fábula”, de El Greco (veja) e o violento “O Triunfo da Morte”, de Pieter Bruegel “O Velho” (veja), em que centenas de caveiras descem à Terra para matar homens, muheres e crianças. Aproveitando o clima fechamos o Prado com a tenebrosa e inebriante sala das “Pinturas Negras” de Goya (algumas delas aqui).

“Dos viejos comiendo”, uma das pinturas negras de Goya

Goya pintou essa série de 14 quadros nas paredes de sua casa e as obras evocam sátiras da religiao, retratos de confrontos civis e uma visao crudelíssima da velhice. As 14 obras (uma possível décima-quinta encontra-se na coleção Stanley Moss, em Nova York) foram retiratas da parede e passadas para quadros, algumas sofrendo danos, mas ainda assim mantendo a aura de dor, revolta e incomodo que cercava o pintor. De tirar o fôlego.

Na parte tarde nos dividimos. Lili foi olhar lojas de roupas e eu fui procurar CDs. Quase pirei na Fnac madrilenha. Sai de lá com um box de François Truffaut em forma de rolo de filme com doze DVDs do cineasta francês (todos com legenda em castelhano) por apenas 15 euros (12 filmes por R$ 45). Além de CDs de Johnny Cash, Tom Waits e de um box com cinco filmes de… Glauber Rocha. Sai mais barato comprar aqui, acredite.

Agora à noite, para relaxar, vamos para um dos bares do roteiro da Ligelena, e nadar em cerveza e sangria (como aconselha o cartaz do post anterior). Amanha temos Thyssen Bornemisza, Palácio Real e mais um boteco, e entao é arrumar as malas para ir para casa. Saimos domingo de manha de Madri para Paris, e de lá para Sao Paulo chegando provavelmente no começo da noite em Guarulhos. Estamos indo de volta pra casa. 

“As Meninas”, de Diego Rodríguez Velázquez

Fotos da viagem:
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/

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