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As duas faces do Autoramas

Texto: Marcelo Costa
Fotos: Liliane Callegari

Cinco anos atrás entrevistei Gabriel Thomas na época do lançamento de seu terceiro álbum e abri o papo questionando (tomando como mote o título do disco): “Nada pode parar os Autoramas?”. Gabriel foi incisivo: “Nada nem ninguém! Só nós mesmos!”. O disco estava sendo lançado com tiragem de 3 mil cópias pela principal gravadora independente do país, a Monstro, trazia alguns hits, mas deixava um elefante atrás das orelhas: Será que o Autoramas alcançou o seu máximo?

De lá para cá a banda perdeu, primeiro, a baixista Simone (ícone da primeira fase do trio) e depois Selma, gravou mais um disco (e também uma coletânea de raridades), excursionou mundo afora e ganhou do chefão da Rough Trade a definição de “the most important independent band in Brazil”. Sem contar que Gabriel se aventurou no projeto Lafayette e os Tremendões, que trouxe alguns bons frutos para o quarto disco do trio, “Teletransporte”, ampliando o alcance da musicalidade do grupo.

Porém, elogios e aventuras a parte, dois fatores definem a nova fase do grupo: a entrada de Flávia, a nova baixista, que trouxe musicalidade e desempenho de palco para a banda. E Gabriel parece estar vivendo o seu melhor momento como músico e entertainment. Juntos, esses dois fatores fizeram com que as duas apresentações que a banda fez em São Paulo às vésperas do aniversário da cidade fossem as melhores do Autoramas na capital paulista. E isso é algo raro e extremamente positivo.

Imagina uma banda que está na estrada faz nove anos, poderia ter conquistado o sucesso de massa com seu segundo álbum, mas não recebeu ajuda da gravadora e então criou uma reputação inatacável no cenário independente. Não sei a conta de quantos shows do Autoramas já vi, mas estes dois com certeza foram os melhores. Poucos nomes da música conseguem ampliar o alcance de seu trabalho – de forma positiva – após dez anos de carreira, e o Autoramas adentra este seleto grupo.

A apresentação de sexta à noite, no CB, marcou a estréia em palcos paulistanos do projeto acústico do trio. Nada de metais, violinos, músicos de apoio e banquinhos. Apenas Gabriel no violão, Flávia no baixo acústico e Bacalhau na bateria. E um repertório impecável que homenageava Erasmo (“Minha Superstar”), Elvis (“Love Me”), Carl Perkins (“Blue Suede Shoes”) e Reginaldo Rossi (“No Claro e No Escuro”), resgatava Little Quail (“Galera do Fundão”) e apresentava pela primeira vez na cidade um grande hit de Gabriel na voz de amigos seus: “I Saw You Saying”, cantada em coro pelo público.

Isso tudo sem contar o bom repertório próprio do grupo, mais romântico, com destaques para “Música de Amor”, “Copersucar”, “A História da Vida de Cada Um”, “Agora Minha Sorte Mudou”, “O Bom Veneno” e “A 300 Km”. Gabriel não economiza elogios para a nova baixista em entrevistas dizendo que sem ela o acústico não aconteceria, e a versatilidade de Flávia fica evidente no palco. São só os três músicos, um violão, e a sonoridade preenche o ambiente com classe e elegância. Para fechar a noite, uma versão sacolejante e instrumental de “Blue Monday”, do New Order.

No dia seguinte, a parada era outra. No projeto Pares, do Sesc Pompéia, o Autoramas divida o palco com o Cachorro Grande em uma noite de guitarras em alto volume. Abriram com “Motocross” e seguiram-se hits do quilate de “Paciência”, “Mundo Moderno”, “Nada a Ver”, “Rei da Implicância”, “Você Sabe”, “Fale Mal de Mim” e “Carinha Triste”. Uma das poucas canções que marcou nos dois shows, “A 300 Km/H” foi um dos grandes momentos da noite ao lado de “Surtei”, um blues do álbum “Teletransporte” dedicado, neste show, para Beto Bruno, vocalista do Cachorro Grande. Flavia cantou “Send Me a PostCard”, do Shoking Blue, e Gabriel resgatou “1,2,3,4”, do Little Quail.

Na seqüência, o Cachorro Grande entrou no palco disposto a satisfazer uma horda de jovens fãs que aguardava os gaúchos em São Paulo com ansiedade. A banda abriu com “Roda Gigante”, hit do último álbum, “Todos os Tempos”, e depois fez um passeio pelo repertório destacando “Hey, Amigo”, “Lunático” e “Você Não Sabe o Que Perdeu” em uma apresentação bem mais comportada e polida do que o usual do quinteto. Para o final, as duas bandas subiram juntas ao palco para homenagear Beatles com uma cover de “I Saw Her Standing There” e encerrar um ótimo fim de semana de rock and roll.

Mais fotos dos shows do Autoramas e do Cachorro Grande aqui

Leia também:
– “Teletransporte”, do Autoramas, por Marcelo Costa (aqui)
– André Azenha entrevista o Autoramas (aqui)

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