São João Del Rey e o inesquecível Inhotim
Em São Paulo. Vou te dizer, estou um bagaço. E olha que dormi aproximadamente doze horas de sábado para domingo, mas não adiantou muito. Esse post deveria ter sido escrito no sábado se houvesse cartão para usar internet no Formule 1 de Belo Horizonte (a internet está lá, mas você não pode usar), se não tivesse batido uma preguiça de esticar até o Pátio Savassi, ou mesmo se a internet no aeroporto de Confins não custasse o roubo de R$ 10 cada meia-hora. Vamos lá, a noite é uma criança… chorando. (hehe)
Recapitulando: na sexta saímos de Tiradentes. A idéia era fazer a viagem de Maria Fumaça até São João Del Rey, mas não tivemos paciência para esperar duas horas e fomos de ônibus mesmo (pela Estrada Real novamente). Na Rodoviária de São João compramos passagens para BH, 16h. Eram 12h e a idéia era aproveitar essas quatro horas para bater perna no centro histórico de São João Del Rey, almoçar e voltar com uma nova visão da cidade no lugar da que tivemos inicialmente. Nada mudou.
Após observar algumas belas igrejas (mas para quem já havia passado por Ouro Preto, Diamantina, Tiradentes e Congonhas, belas igrejas já não impressionavam mais) e almoçar, saímos correndo da cidade. Pegamos um táxi e o taxista comentou: “Indo embora já? Não tem muita coisa pra se ver na cidade, né. Vai melhorar. O secretário de Turismo que acabou de assumir é o mesmo que levantou Tiradentes. Antes as pessoas vinham até São João e, se sobrasse um tempo, passavam em Tiradentes. Agora inverteu”. Inverteu mesmo.
A viagem para Belo Horizonte foi cansativa, três horas e meia de ônibus com várias paradas em cidadezinhas, inclusive uma de 15 minutos em Congonhas. Quase fomos dar um olá para o Profeta Daniel. Chegamos na capital mineira sem chance de jogar o segundo tempo com os amigos. Optamos por um filmezinho no Pátio Savassi com pipoca do Cinemark encharcada de manteiga. Até derramei umas lágrimas em “Marley e Eu”, mas isso não conta muito. Voltamos para o hotel a pé desbravando as ruas belohorizontinas.
Acordamos no sábado com a missão de conhecer Inhotim, dica esperta do concunhado. Não tem como explicar em poucas palavras. É o tipo de coisa que você não acredita que possa existir, mas existe. Segundo a apresentação do site, o lance todo é o seguinte: “o Instituto Cultural Inhotim é um complexo museológico original, constituído por uma seqüência não linear de pavilhões em meio a um parque ambiental. Suas ações incluem, além da arte contemporânea e do meio ambiente, iniciativas nas áreas de pesquisa e de educação. É um lugar de produção de conhecimento, gerado a partir do acervo artístico e botânico (leia mais)”.
Bonito, né. Então saiba que o lance todo é muito mais bonito do que esse parágrafo. O parque (ou museu ou seja lá o que ele for) fica em Brumadinho, 60 km de BH. A viagem cansa, ainda mais quando se está viajando faz quase 15 dias de lá pra cá, de cá pra lá. Eu até já tinha começado a praguejar, mas só foi entrar no complexo cultural para deixar o queixo cair dez vezes. Assim que entramos avistamos uma belíssima borboleta azul, que nos acompanhou num trecho. Depois avistamos várias outras que tentei fotografar, em vão. Porém, não faltaram bichos para fotografar.
As galerias de arte (dez no total) vão se intercalando com o parque belíssimo, um oásis no meio das Gerais, e algumas obras espalhadas no meio do verde, ao ar livre. Sobre arte moderna eu comentei quando visitei a Tate Modern, em Londres: “Não sou conhecedor nem pesquisador do lance todo, mas preciso dizer que a arte moderna, principalmente as instalações e muitas esculturas, não me convencem (leia mais)”. Mesmo assim fiz várias anotações sobre coisas que gostei no Inhotim, no entanto, o lugar chama muito mais a atenção do que o que está lá.
E não só ele. O atendimento é de primeiríssima qualidade. A organização do parque é irrepreensível e até o restaurante impressiona. Foi lá que uma das cozinheiras nos falou que o Inhotim já é o segundo ponto mais visitado em Minas Gerais, perdendo apenas para Ouro Preto. Vou te dizer: é impossível não almoçar e desejar tirar uma soneca depois. Bancos e lugares feitos especialmente para isso existem aos montes no percurso. Não tem como resistir.
Das obras que mais gostei destacam-se “Forty Part Motet”, de Janet Cardiff (veja aqui), em que a artista gravou cada integrante do coral da Catedral de Salisbury, trabalhando com vozes masculinas – baixo, barítono e tenor – assim como uma soprano infantil e as dispôs em quarenta caixas acústicas individuais em uma sala para alcançar o resultado de um moteto, um tipo de composição polifônica medieval para oito coros de cinco vozes, que trata de humildade e transcendência. É de chorar.
Ainda me surpreendi com a “Nave Deusa”, de Ernesto Neto (veja aqui); “Swoon”, de Janine Antoni (veja aqui); a ótima sala de Doris Salcedo (veja aqui); a impressionante sala de Tunga, valorizada ainda por estar quase no final do bosque e do lago (veja aqui), a também impressionante galeria de Adriana Varejão, em que obra e prédio se fundem de forma genial (veja aqui); a parceria de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida movida a Jimi Hendrix (veja aqui); e por fim Cildo Meirelles, que “me fez” caminhar sobre cacos de vidro em “Através” (veja aqui).
Há um ônibus que sai da rodoviária de Belo Horizonte às 9h para Brumadinho e deixa o visitante dentro do Inhotim às 11h. Esse mesmo ônibus busca o pessoal às 16h. O Instituto Cultural abre às 9h30 e fecha às 16h30, tempo mais do que suficiente para deixá-lo boquiaberto. O Inhotim foi criado em 2005 como entidade privada sem fins lucrativos e qualificado pelo Governo do Estado de Minas Gerais como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). É o tipo de coisa que eu adoraria ter criado se tivesse ganhado na Megasena na semana retrasada. Mas existe. Ou não. Você precisa descobri-lo.
A volta para o hotel foi sonífera. Antes, porém, passei na lojinha do Museu/Parque e comprei uma belíssima garrafa de Aguardente de Jabuticaba, produto artesanal fabricado em Brumadinho. Experimentei agora pouco e acho que gelada deve ficar irresistível. Voltando ao hotel, desmaiamos. Acho que foi às 19h de sábado. Acordamos às 7h de domingo. Uma caminhada de duas quadras e lá estávamos nós no Mercado Central novamente, uma de nossas primeiras paradas no início dessa viagem por cidades mineiras.
Fomos ao Mercado para comprar três queijos Minas da Serra da Canastra (dois eram presentes, tá), alguns badaluques que Lili queria, e observar mais um pouco este lugar bastante particular da cidade, visita obrigatória para qualquer pessoa que esteja por aqueles lados. Há, ali, inclusive, a melhor cachaçaria de toda Minas Gerais. Ok, não dá para ficar bêbado de experimentar cachaça como fizemos em Ouro Preto, mas AJR Vinhos, Licores e Cachaças de Minas, no Mercado Central de Belo Horizonte, tem a maior variedade e os melhores preços que encontramos. Anote.
Acho que é isso. Para matar o tempo entre a saída do hotel e a espera do vôo para São Paulo terminei a biografia do Nirvana escrita pelo Michael Azerrad enquanto Lili finalizou “Grande Sertão: Veredas”, o Guimarães Rosa que já feito aniversário de leitura com ela em casa. Vou tentar organizar as idéias e preparar um top de toda viagem para amanhã, mas não prometo nada, já que a semana estará atribulada. Tem Melhores do Ano do Scream & Yell para apurar, viagem bate e volta para Brasília na terça-feira e plantão na capa no próximo fim de semana. Descansar é bobagem, né mesmo.
Em tempo: o chef Carlos Eduardo, do Theatro da Villa, em Tiradentes, respondeu rapidamente nosso e-mail sobre a descrição dos pratos (do post anterior). Segue abaixo:
Prezados, Liliane e Marcelo
Fiquei feliz com o email de vcs ao saber que sairam satisfeitos daqui. Minha profissão não é mais nada além de dar prazer as pessoas e quando isto acontece vem a sensação de dever cumprido. Que bom!
Segue a descrição das entradas:
– Pecorino romano com mel de trufas brancas e amendoas
– Queijo de cabra empanado e gratinado ao forno servido com chutney de tomate e maçã com especiarias e pêsto de salsa orgânica com parmesão Grana Padano e pinolis, servido com torradas e banete.( pão especial da casa )
Pratos principais:
– Perdiz desossada recheada de vitelo e azeitonas pretas em molho reduzido de vinho do Porto, servida com polenta de fubá de moinho d’agua recheada de gorgonzola cremoso, acompanhada de mostarda de frutas com pinolis.
– Trança de mignon de cordeiro baby, marinada ao alecrim, grelhada, servida com ravioli artesanal recheado de pure de batata refogado na pimenta biquinho ao pêsto de manjericão com parmesão Grana Padano e castanha de caju xerem.
Sobremesa:
Terrine de chocolate meio amargo, servida com calda de frutas vermelhas ao cassis Dijon, com frutas vermelhas e amendoas.
Fotos: Marcelo Costa (http://www.flickr.com/photos/maccosta)
Exceto a do Jimi Hendrix: Divulgação Inhotim
1 comentário
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