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Posts from — outubro 2008

Curumin e Nina Becker

 

 Curumin na Galeria Olido

A Galeria Olido é um dos vários espaços bacanas do centro de São Paulo. Quando soube do show do Curumin, achei que ele seria num dos anfiteatros do local (em que vi um dos melhores shows do CSS alguns anos atrás), mas a produção “adotou” o espaço de aulas de dança de salão, com a Avenida São João ao fundo, numa imagem bonita e com um q de poesia.

Curumin encerrava sua temporada no local, e aproveitou para abrir o microfone para MCs, que improvisaram e mandaram o verbo para um bom público que se espalhava no local. Divulgando seu mais recente álbum, o excelente “Japan Pop Show”, o “Curumin Trio” (o próprio na bateria, mais um baixista e um programador) apresentou algumas canções do disco e nos intervalos abria espaço para a intervenção de DJs.

Os intervalos entre uma canção e outra quebraram o ritmo do show, que parecia mais um ensaio aberto com amigos – amplificado pelo clima descontraído do local – do que uma dita apresentação. As versões ao vivo das ótimas “Mal Estar Card”, “Compacto” e “Magrela Fever” credenciam um show completo de Curumin, que se apresenta no Planeta Terra 2008. Fique de olho.

Nina Becker no Studio SP

A responsabilidade não era pouca. Acompanhada pelo grupo DoAmor, a cantora Nina Becker iria cantar as canções do álbum “Build Up”, de Rita Lee – seguindo o tracking list original do álbum. Lançado em 1970, com orquestrações do maestro Rogério Duprat e produção do então marido Arnaldo Baptista, a estréia solo de Rita Lee – ela ainda fazia parte do’s Mutantes – é um clássico do rock brasileiro.

Com um Studio SP recebendo um púbico excelente para o horário, a noite começou com Nina se desculpando pela falta de voz devido a uma gripe repentina, que chegou a atrapalhar a interpretação de algumas canções que exigiam mais do vocal (como “Hulla-Hulla”, “Calma” e “Viagem Ao Fundo de Mim”), mas a experiência funcionou bastante, com o grupo DoAmor surpreendendo nos arranjos e o público cantando boa parte das canções.

“Sucesso, Aqui Vou Eu (Build Up)”, “Eu Vou Me Salvar” e, principalmente, a dobradinha “Macarrão Com Linguiça E Pimentão” e “And I Love Him” foram os grandes momentos da noite, que pelo sucesso de público merece novas exibições (até que para grupo e cantora sintam-se mais à vontade com o repertório e a apresentação cresça em qualidade e profundidade). Que venham outras noites como essa.

Fotos: S&Y/Marcelo Costa (http://flickr.com/people/maccosta)

Leia mais:
– “Japan Pop Show”, de Curumin, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 30, 2008   No Comments

Mostra SP: “Loki – Arnaldo Baptista”

“Loki”, de Paulo Henrique Fontenelle – Cotação 5/5

Nas ruas de Londres, um fã (aparentemente) britânico pára Arnaldo Baptista e começa um discurso emocionado que enaltece a grandiosidade do’s Mutantes, grupo que Arnaldo formou com seu irmão Sérgio e, aquela que viria a ser sua primeira namorada e mulher, Rita Lee. Na seqüência, um brasileiro passa por Arnaldo, caminha uns dez passos e volta gritando: “Mutantes, porra, você é foda demais”. A palavra é exatamente essa: Arnaldo Baptista é foda demais.

“Loki”, documentário emocional de Paulo Henrique Fontenelle, lança luz com devoção sobre a carreira do homem responsável por uma das maiores – se não a maior – e mais geniais formações de rock do lado debaixo do Equador. Fontenelle busca amigos, parceiros e produtores que abrem o coração para a câmera detalhando histórias e causos da vida de Arnaldo Baptista. Mais: resgata imagens raríssimas de época, trechos de entrevistas e aparições em TV que soam como pepitas de ouro visuais que dão um colorido especial ao passado.

O filme começa com um amigo de escola, Raphael Villardi, que lembra o momento em que Arnaldo comprou um baixo e decidiu formar um grupo de rock. Estava criado O’Seis, grupo que viria a ser um dos embriões do’s Mutantes. Daí em diante entra em cena a Tropicália, os grandes festivais da Record, raras entrevistas e a viagem para a Europa que rendeu a gravação do álbum “Technicolor”, gravado em 1970 e lançado apenas em 2000.

Em um dos trechos mais tocantes da película, Arnaldo comenta sobre a relação com Rita Lee, o casamento e a separação, pede desculpas e assume que não pôde dar a atenção que ela merecia naquele momento. Dinho (baterista) e Liminha (baixo) relembram – emocionados – o dia em que Rita avisou que estava pulando fora do barco. “Eu sai para fora da casa do Arnaldo e comecei a chorar”, conta Liminha. “Era o fim”, sentencia Dinho (de olhos marejados). Não foi ao menos por um tempo, enquanto Arnaldo segurou a formação ao lado de Sérgio.

O irmão é outro que dá a cara a bater no filme. “Ele saiu e eu fiquei com os Mutantes, e eu não sabia o que fazer. Eu estava perdido e segui com a banda porque era o que eu achava que tinha que fazer”, desabafa o guitarrista, que em um dos momentos mais intensos do documentário culpa a imprensa, os amigos e a si mesmo pela falta de tato com o irmão. “Ele é um gênio e a imprensa… e as pessoas ficavam falando coisas que confundiram e atrapalharam ele. São todos uns cretinos. E eu também sou um cretino por não conseguir entende-lo e quero pedir desculpas publicamente por isso”, diz Sérgio.

Após sua saída do’s Mutantes, Arnaldo lançou seu primeiro disco solo, “Loki”, que dá título ao filme e é considerado por muitos como um dos dez maiores álbuns da música popular brasileiro, um flagrante de sofrimento e dor que impressiona e comove por sua sinceridade. A partir daí, ele segue com projetos paralelos com a banda Patrulha do Espaço (registros lançados no ótimo álbum “O Elo Perdido”) até lançar o segundo álbum solo, “Singin Alone”, em 1980, e caminhar até a janela do Hospital do Servidor Publico, em São Paulo, quebrar o vidro e pular do terceiro andar atirando-se numa tentativa de suicídio.

O resultado do vôo: sete costelas fraturadas, várias lesões pelo corpo e dois edemas: um cerebral – seríssimo – e um pulmonar. O músico ficou quase dois meses em estado de coma, e quando retornou a si, precisou de mais dois meses para se recuperar (a traqueotomia a que fora submetido afetara suas cordas vocais alterando seu timbre de voz). Amparado por Lucinha Barbosa, Arnaldo renasceu e foi morar em Juiz de Fora, em Minas Gerais, afastado da mídia e do público em busca de paz. De lá pra cá aparições esporádicas em pequenos shows em São Paulo e no Free Jazz Festival, ao lado de Sean Lennon, fã confesso do’s Mutantes, até o álbum “Let It Bed” em 2004 e a reunião consagradora do grupo em 2007.

“Loki” é um dos daqueles documentários que vangloriam o cinebiografado, mas exibe uma sinceridade tão tocável que anula qualquer comentário contrário a sua imensa qualidade. Rita Lee não topou dar entrevistas para o filme, mas liberou o uso de suas imagens. Bancado pelo canal fechado TV Brasil, “Loki” terá raras e esparsas exibições nos cinemas (em sessões especiais e festivais ao redor do país) até estrear definitivamente na telinha. Uma pena. “Loki” é daqueles filmes que deveriam ficar semanas e semanas em cartaz com grande divulgação e grande público em uma telona. Fique atento e não perca a oportunidade de assisti-lo. 

outubro 29, 2008   No Comments

Mostra SP: “Segurando as Pontas”

“Segurando as Pontas”, de David Gordon Green – Cotação 3/5

Dale Denton é um funcionário do governo encarregado de entregar intimações. Não só. Denton também é maconheiro e namora uma das garotas mais bonitas da escola (embora seja bem mais velho e já tenha saído da escola). Em uma de suas visitas ao seu fornecedor de marijuana, Saul (James Franco), Denton sai da casa do traficante com um pacote da excelente Pineapple Express, fumo de altíssima qualidade que só Saul tem na cidade.

Porém, a sorte não está do lado dos nossos amigos chapados. Denton vai entregar uma intimação para um dos chefes do tráfico na cidade, e acaba presenciando um assassinato. Ao sair da cena do crime, deixa uma ponta do baseado para trás, o que basta para o chefão descobrir que aquele baseado é nada mais nada menos do que Pineapple Express. Dai pra frente, o óbvio. Os traficantes partem atrás de Denton e Saul que numa fuga tresloucada causam confusão atrás de confusão.

“Segurando as Pontas” é mais uma comédia da grife Judd Apatow (“O Virgem de 40 Anos”, “Superbad”) e é impossível sair mal-humorado da sala de cinema. Beirando o cinema pastelão, “Segurando as Pontas” cria situações cômicas e surreais que fazem o espectador rir desesperadamente. O carisma da dupla Seth Rogen e James Franco brilha em um filme que se faz de idiota, mas levanta bandeira contra o uso de drogas culpando-a por todas as bobagens acontecidas na tela.

O filme estreou bem nos EUA, e apesar de toda maconha queimada na tela até a última ponta sugere carolice e valoriza a amizade de uma forma tão sutil que até espanta a manada de elefantes que passa pela tela a todo o momento arrancando gargalhadas do público. Há méritos no jovem cinema pipoca de Judd Apatow, que se sai bem ao enfrentar as armadilhas do tema permitindo a comparação ilícita: como filme, “Segurando as Pontas” faz você rir sem parar. Só não vicie!

Foto: Divulgação

outubro 26, 2008   No Comments

Tim Festival: Gogol Bordello, National e MGMT


Foto: Divulgação / Tim Festival

Na quarta noite do Tim Festival em São Paulo (sexta, 24), a Arena montada no Parque do Ibirapuera recebeu DJs para o palco Tim Festa. E foi mais ou menos isso que aconteceu em duas das apresentações. O norte-americano Dan Deacon chegou quebrando tudo e colocando todo o som do palco no último volume. Ouvidos foram desvirginados nas três primeiras músicas com o som alcançando decibéis mais altos dos que os que o My Bloody Valentine vem executando em sua recente turnê.

Como apenas barulho não basta para garantir uma boa apresentação, Dan Deacon abaixou o som, desceu para a pista e ali, no meio da galera, montou uma quadrilha eletrônica que alternava momentos que lembravam tanto Four Tet quanto Nine Inch Nails enquanto os presentes faziam brincadeiras, um perfeito aquecimento para o que viria a seguir. O punk cigano de Gogol Bordello foi recebido com histeria – merecidissima – pela platéia paulistana.

Liderados pelo vocalista e ator Eugene Hutz (foto), o grupo promoveu um baile punk com dançarinas vestidas com top do Santos Futebol Clube, guitarras metalizadas, bateria hardcore, acordeon, violino e muito vinho. O som parece uma porrada de carros entre o pessoal do Pogues com a turma de Henry Rollins. Em vários momentos é possível reconhecer passagens do Clash, mas a grande referência é o Mano Negra, que por sinal foi homenageado na última canção do show, “Mala Vida”, simplesmente sensacional. Um dos shows do ano.

  

Fotos: S&Y/Marcelo Costa (http://www.flickr.com/photos/maccosta/)

No sábado de manhã, a provável última oportunidade para ver a lenda Sonny Rollins ao vivo no Brasil. Após o elogiado desempenho no Auditório do Ibirapuera, na terça-feira, um dos últimos remanescentes da época de ouro do jazz retornou ao local, mas desta vez para se apresentar virado para o parque, ao ar livre. Um sol forte castigava a pele paulistana enquanto meninas tentavam pegar um bronzeado de biquíni e homens buscavam cerveja. O show foi arrebatador, mas a constante movimentação do público e as conversas paralelas atrapalharam a audição, principalmente em números mais lentos.

  

Fotos: S&Y/Liliane Callegari (http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/)

À noite, encerramento da edição paulista. Comandados por Matt Berninger, o National fez uma apresentação absolutamente perfeita na Arena. O show foi um repeteco das apresentações que vi no Rock Werchter 2008 e no FIB, com a vantagem de que no Brasil o grupo se apresentou à noite, e não no meio de uma tarde européia com sol a pino e tenda abafada. O som atmosférico, às vezes gélido e quase sempre épico, do grupo de Nova York pede a escuridão como complemento como se precisasse dela para dançar apaixonado entre sorrisos e lágrimas.

Não à toa, Matt trava durante todo o show um duelo contra o microfone. Ele agarra o objeto de uma forma que lembra muito Beth Gibbons, do Portishead, e solta sua voz forte que corta a atmosfera como se fosse um machado. Há resquícios de Joy Division, Leonard Cohen e Nick Cave, mas o parente mais próximo é a elegância do Tindersticks. O repertório alterna grandes momentos dos dois últimos álbuns como “Start a War” e os quase hinos “Secret Meeting”, “Baby, We’ll Be Fine”, “Squalor Victoria”, “Mistaken for Strangers”, “Apartment Story”, “Fake Empire” e “Mr. November”.

Para o final da apresentação, valorizando o duo de metais que deu um colorido especial ao show, um presente para o público paulista (e brasileiro) que não foi dado aos belgas e espanhóis: “About Today”, do raro EP “Cherry Tree”, em versão jam session dedicada a um fã brasileiro. Extremamente soltos no palco, os músicos levaram a canção ao ápice instrumental para estilhaçá-la em barulho na frente de todos. Após entregar a garrafa de vinho que bebia (e set list, e autógrafos, e toalhas) para uma fã na frente do palco, Matt deixou o local aclamado pela audiência. Show inesquecível.

Foto: S&Y/Liliane Callegari (http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/)

O mesmo não pode ser dito do MGMT. Ao vivo, a veia eletrônica da dupla Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden foi trocada por psicodelia progressiva setentista em formato banda (acompanhados por James Richardson na guitarra, Matthew Asti no baixo e Will Berman na bateria). Longos solos de guitarra marcaram a apresentação, que poderia ter feito bonito no Monterey Festival 67. O timbre vocal de Ben Goldwasser lembra em alguns momentos o de Geddy Lee, do Rush, enquanto a tecladeira emulava ícones prog numa mistura estranha e cansativa.

Metade do público vibrava enquanto a outra bocejava. Nem o cirquinho armado no começo do show – que culminou no julgamento e enforcamento de três bichinhos de pelúcia – serviu para aproximar o quinteto do público. O cenário mudou radicalmente nas duas últimas canções, os hits “Time To Pretend” (tocado com banda, mas de forma econômica e muito parecida com a original) e “Kids” (sem banda, com playback instrumental, programação e um solo metaleiro no final). Serviu para mostrar que a banda poderia ter feito um bom show, mas não fez.

Amargando o descaso do público, que aumentou nesta última noite, mas faltou nas anteriores, o Tim 2008 mostra que preços altos e artistas pouco conhecidos não garantem um festival. Mais: bons shows como os de Klaxons, Gogol e National mereciam um público maior, mas após três anos de desorganização em São Paulo, a grife Tim viu o público abandonar o evento. Pena. A produção melhorou: a tenda montada no Ibirapuera funcionou (embora na última noite, com um público maior, houvesse filas imensas no banheiro) e o som estava ok. Resta à produção manter os acertos de 2008 e repensar a proposta para 2009 para voltar a ser o melhor festival do país. O público agradece.

Leia também:

– Tim 2008: Punk rave do Klaxon vs tristeza de Marcelo Camelo (aqui)
– Tim 2008: Kanye West faz “showzinho” (aqui)
– Tim 2007: Björk brilha no fraco Tim Festival SP 2007 (aqui)
– Tim 2006: Patti Smith, Devendra, Yeah Yeah Yeahs (aqui)
– Tim 2006: Beastie Boys são aclamados no Tim Curitiba (aqui)
– Tim 2005: Strokes, Costello e Television (Weezer e Mercury Rev) (aqui)
– Tim 2004: Libertines e Brian Wilson (PJ Harvey e Morrissey) (aqui)
– Tim 2003: White Stripes, Los Hermanos e Beth Gibbons (aqui)

outubro 26, 2008   No Comments

A song for you

Como você deve imaginar, eu recebo mais e-mails que dou conta de ler, e mais indicações de novas bandas e discos do que consigo ouvir no meu dia extremamente corrido. Gostaria de poder responder todos os e-mails e ouvir todos os links de My Space que me passam logo na primeira hora, mas infelizmente não consigo (e, se tentar, é bem provável que eu até os ouça, mas não consiga escrever, o que seria – ao menos para mim – muito pior).

O que acontece comigo também acontece com praticamente todo mundo do meio (não excluindo ninguém), e chamar a atenção dessas pessoas cujo tempo é algo raro (e dias de 36 horas são um sonho) é muito, mas muito difícil. Foi por isso que quando recebi via My Space o e-mail (spam?) da Kara, algo chamou a minha atenção. O e-mail é doce e delicado como nunca li em nenhum release em minha vida, que trata a música com a mesma paixão com que nós ouvimos. Foi assim:

Hi, my name is Kara, and I work at a little indie record label in Seattle, WA. I drink hot tea every day (even in the summer) and sit at a computer near a window that overlooks construction. My job is to help promote singer-songwriter Peter Bradley Adams. I’m not raking in the big bucks, but I love it because I really believe in his music.

So here’s the part where I try to convince you to listen to this tune we’re giving away — The problem is there are a billion and one singer-songwriters out there. Heck! I’m one of them! With so much music all around us (and much of it sounding the same) what can I say that will interest you enough to check him out? Anything I say will sound cliche. I’m beat before I’ve even begun.

All I can do is honestly tell you that Peter’s song “Los Angeles” gives me goosebumps every time I hear it…. There’s something about the simple chord progression in the piano that touches me instantly, catching my full attention far before the lyrics enter. As for the lyrics, I was just saying to my coworker that they appeal to that sentimental part of me that likes to personify my surroundings and divine meaning from subtle movements in the world around me. For instance, lamps always turn off as I approach them. The logical conclusion: I must be part vampire.

Whatever my genetic makeup, Peter’s music truly reaches me:

http://www.myspace.com/peterbradleyadams
That’s his MySpace page. (His song “Los Angeles” is on my profile)

And here’s a link to that tune I promised to give you:
http://sarathan.Com/free/peterbradleyadams/

Anyway, thanks for your time!

-Kara @ Sarathan Records
http://www.sarathan.com

outubro 24, 2008   No Comments

Tim Festival: A punk rave do Klaxons e a tristeza de Marcelo Camelo

Marcada pelo cancelamento de dois headliners (Paul Weller e Gossip), a terceira noite da edição paulista do Tim Festival começou com o samba jeitoso de Roberta Sá no Auditório Ibirapuera. De vestidinho “Emília”, a cantora misturou canções de seus dois álbuns (“Braseiro” e “Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria no Show”) lembrando em alguns momentos Marisa Monte. Sai do Auditório cantando “Alo Fevereiro” (“Tamborim avisou, cuidado / Violão respondeu, me espera / Cavaquinho atacou, dobrado / Quando o apito chegou, já era”).

Do outro lado, na tenda Novas Raves, a responsabilidade de abrir os trabalhos ficou a cargo do Neon Neon, grupo que chama a atenção por ser um projeto paralelo do gente boa Gruff Rhys, vocalista do Super Furry Animals, em parceria com o produtor Boom Bip, que embarca em uma viagem estranha aos anos 80 temperada com momentos de hip-hop. Quem roubou a noite, no entanto, foi o artista performático Har Mar Superstar, baixinho, gordinho, cabeludo e careca, com uma camiseta do Menudo e muito pique para agitar a galera mais do que o Neon Neon. No mínimo, rendeu boas risadas.

De volta ao Auditório, a quantidade de espaços vazios impressionava. Quem apostava em uma invasão de fã dos Los Hermanos errou. Em sua primeira apresentação em São Paulo, Marcelo Camelo amplificou as qualidades e defeitos de “Sou”, sua estréia solo. As músicas tristes (e chatas) ficaram mais tristes (e muito mais chatas) e temas alegres como “Menina Bordada” ganharam com os bons improvisos do sexteto Hurtmold (acrescidos do trompetista Rob Manzurek, de Chicago).

A jovem cantora Mallu Magalhães, sentada na primeira fila, viu Marcelo Camelo tocar “Janta” (que conta com sua participação no álbum) e duas canções dos Hermanos surgiram (“Pois É” e “Morena”) numa apresentação marcada pela monotonia e com algumas boas intervenções do Hurtmold. O show ainda está cru, mas deve crescer conforme banda e artista se entrosarem, o que talvez melhore até as faixas mais fracas de “Sou”, o que dúvido. O próprio Marcelo Camelo percebeu o excesso de calma no palco ao dizer, em certo momento, que “falta um pouco de desordem” no show. Falta mesmo.

Novamente na tenda, o Klaxons baixou em São Paulo para fazer demônios dançarem com sua punk rave (muito mais punk que rave). Os ingleses baixaram em São Paulo para apresentar as grandes canções do ótimo álbum “Myths of the Near Future” em versões rápidas, pesadas e diretas de “Totem On The Timeline”, “Gravitys Rainbow”, “Its Not Over Yet”, “Atlantis To Interzone”, “Magick” e ainda duas inéditas (fraquinhas numa primeira audição): “Moonhead” e “Calm Trees”. Har Mar Superstar voltou para encoxar os músicos e botar fogo no final da apresentação, 55 minutos vigorosos que valeram a noite, mas o Tim Festival 2008 continua devendo.

Fotos: Lili Callegari (http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari)

  

outubro 24, 2008   No Comments

Sobre a palestra na Sercom

Lembra que eu tinha dito que iria palestrar na segunda passada na Sercom da UniRadial? Bem, foi. O pessoal adorou, mas preciso melhorar muito com palestrante. Mesmo. A palestra que dei em Araraquara, ano passado, foi melhor. Nessa da Sercom eu tentei seguir por temas e acabei me confundindo um pouco, mas a própria turma me ajudou com ótimas perguntas que permitiram que eu voltasse a falar de coisas que eu tinha pulado durante o bate-papo. Meta pessoal agora: montar uma boa palestra para uma próxima oportunidade. Seguem links do site do evento e uma entrevistinha que fizeram comigo (“mestre” é um tremendo exagero, mas tudo bem – risos):

– Sercom 2008 (aqui)

– Entrevista (aqui)

outubro 24, 2008   No Comments

Tim Festival: Kanye West faz “showzinho”

O míni dicionário Houaiss define a palavra “show” da seguinte forma: “espetáculo de entretenimento apresentado para uma platéia”. Olhando por este prisma reducionista, Kanye West cumpriu todos os requisitos na apresentação que fez no Tim Festival: era um espetáculo e ele entreteve a platéia. Porém, foi tudo tão pobre (telão, palco, músicas, apresentação) que dizer que foi um show seria exagerado demais.

O público era formado por pessoas que pagaram o superfaturado preço de R$ 250 pelo ingresso e iriam cantar todas as músicas de qualquer jeito. Muitos fãs – pessoas que já saem de casa gostando do show – e curiosos também foram conferir o que revistas gringas apontaram como o espetáculo do ano, e juntos estes públicos deixaram metade da nova Arena do festival em São Paulo – agora no Ibirapuera – vazia.

Não dá para entender o motivo de tanta balbúrdia sobre a turnê Glow In The Dark. O palco tenta criar um território acidentado no espaço, mas não convence e fica parecendo mais uma pista de aeróbica. As imagens no telão em 80% do show são ridículas e lembram tanto telas de descanso do Windows quanto projeções distorcidas e em pior qualidade de um Planetário.

Kanye West passa todo o tempo do show contracenando com o telão enquanto corre de lá para cá na pista de aeróbica. Ele é, segundo a voz do telão, o maior astro pop do Planeta Terra, e talvez se convença disso, tanto que fica sozinho à frente do público enquanto uma banda (hipotética, já que 99,5% do público não a viu) de nove integrantes faz a cama sonora para seu passeio pelo Universo.

A impressão que fica, após o show, é que voltamos dez anos em termos de produção de espetáculos. O show de Kanye West consegue se adaptar ao Houaiss, mas está longe de ser algo que pudesse concorrer ao título de melhor do ano, quando mais ser apontado como tal. É entretenimento que atola os dois pés no piegas enquanto posa de inventivo deixando o mais importante em segundo plano: a música. Quer uma super-produção de verdade? Espere Madonna ou U2. Kanye West é pura enganação.

– Tim 2008: Punk rave do Klaxon vs tristeza de Marcelo Camelo (aqui)
– Tim 2008: Gogol Bordello, National e MGMT (aqui)
– Tim 2007: Björk brilha no fraco Tim Festival SP 2007 (aqui)
– Tim 2006: Patti Smith, Devendra, Yeah Yeah Yeahs (aqui)
– Tim 2006: Beastie Boys são aclamados no Tim Curitiba (aqui)
– Tim 2005: Strokes, Costello e Television (Weezer e Mercury Rev) (aqui)
– Tim 2004: Libertines e Brian Wilson (PJ Harvey e Morrissey) (aqui)
– Tim 2003: White Stripes, Los Hermanos e Beth Gibbons (aqui)

Crédito da foto: Divulgação/Tim Festival

outubro 23, 2008   No Comments

Mostra SP: “Monogamia para Principiantes”

“Monogamia para Principiantes”, Marc Malze – Cotação: 3/5

Felix tem 29 anos, é fotógrafo esportivo e namora Fabienne, 26, que trabalha numa galeria de arte. Eles namoram há seis anos, já tiveram vários contratempos (inclusive um rompimento em uma época em que Felix se apaixonou por uma modelo), mas vivem juntos uma vidinha feliz em Berlim até que, em férias em Paris, ele decide oficializar a relação e pede Fabi em casamento.

Fabi, com muito mais pé no chão que o namorado, reluta, mas acaba cedendo e ambos seguem a rotina de se armar um casório (avisar as famílias, escolher as flores, conversar com o padre, pensar nos padrinhos, os nomes de casado, essas coisas), e tudo corre bem até que um ex-affair de Felix retorna de Nova York e a cabeça de nosso amigo gira em falso enquanto a data da cerimônia se aproxima.

Em seu primeiro longa, o cineasta alemão Marc Malze fotografa com perfeição aquele momento em que todo homem percebe que ao declarar amor eterno para uma mulher, estará abrindo mão de todas as outras, e o que esse simples gesto acarreta. Em um roteiro simples e bem resolvido (assinado por Lars Kraume), “Monogamia para Principiantes” reluz o brilho inocente das boas comédias românticas.

Felix não sabe direito o que quer da vida. Ama o trabalho de Sebastião Salgado, mas no primeiro momento em que se vê em um campo de guerra retorna correndo para as odiosas pautas de esporte. Ele ama Fabi, mas gostaria de poder se apaixonar por Johanna, embora descubra que a paixão fugaz não substitui um verdadeiro amor numa relação que lembra muito o obrigatório texto “Compromisso”, do livro do Tony Parsons.

Em certo trecho, Parsons diz que “encontros de uma noite nunca deveriam acontecer. Ou a experiência é boa o suficiente que deveria ser repetida. Ou é ruim e nunca deveria ter rolado”. Quando, em certo momento do filme, Felix encontra Johanna, o espectador torce para que ele não cometa o erro (óbvio e clichê), mas erros óbvios e clichês foram criados para serem cometidos, e vai de cada um lidar com as conseqüências.

No fim, o mundo acaba (e não acaba sempre?) para recomeçar um dia (e recomeça, você sabe). Entre as dúvidas eternas do amor eterno e a felicidade de se ver traduzido no olhar de uma outra pessoa, “Monogamia para Principiantes” funciona como um divertido dicionário de erros românticos. Quer saber uma coisa: enquanto você for principiante, você vai errar. Mas não tem problema, a gente nunca aprende mesmo. Amém.

Leia também:
– “Disparos do Front da Cultura Pop”, de Tony Parsons, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 22, 2008   No Comments

Mostra de SP: “Ninho Vazio”

“Ninho Vazio”, de Daniel Burman – Cotação: 2/5

Em seu sexto filme, o argentino Daniel Burman (de “Esperando o Messias” e “O Abraço Partido”) aproxima-se tematicamente do cinema do canadense Denys Arcand. Há muitas similaridades entre “Ninho Vazio”, do argentino, com “A Época da Inocência”, do canadense, sendo que os principais se apóiam no desagradável personagem principal dos dois filmes e na junção de ficção e sonho.

O texto de Burman é muita vezes corrosivo e diverte em várias passagens, mas o vai e vem da história não convence, embora o tema seja caro a todos nós. Leonardo, o personagem principal, é um dramaturgo famoso que percebe que seus três filhos deixando a casa para estudar no exterior, o ninho está ficando vazio e ele está se distanciando de sua mulher, a bela Martha.

Ao mesmo tempo em que percebe essas pequenas coisas que sinalizam sua crise de meia-idade, Leonardo passa um bom tempo no mundo ficcional dos sonhos apaixonado por um jovem dentista e filosofando coisas da vida com o marido de uma amiga de sua mulher. São essas passagens que rendem os melhores momentos da trama (com o tal amigo afiado no discurso) e também os mais constrangedores (os momentos de dança).

O mal-humor do personagem principal o distancia do público (o espectador chega, em certo momento, a esperar a traição da mulher como uma resposta justificável para as atitudes distantes do marido), embora sua natureza serena pareça pedir colo. O cinema humanista de Daniel Burman brinda o espectador com belos achados de texto e imagens, mas não se fecha em um grande filme. Nesse ponto, Arcand, se saiu melhor.

Leia também:
– “A Era da Inocência”, de Denys Arcand, por Marcelo Costa (aqui)
– “O Abraço Partido”, de Daniel Burman, por Marcelo Costa (aqui)

outubro 19, 2008   No Comments