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Posts from — setembro 2008

Master Chopp Brasil 2008

Aconteceu na manhã desta terça-feira o 1º Campeonato de Tirador de Chopp para Jornalistas e… bem, não vou falar da posição que eu fiquei, mas adianto que nove participantes brigavam pelo lugar mais alto do podium… (risos). Nosso torneio café com leite aconteceu poucas horas do torneio profissional, que vai levar o vencedor para disputar a finalissima do concurso mundial em Leuven, na Bélgica, terra da Stella Artois.

Assim, vou te dizer: tirar o chopp perfeito é uma arte. Mesmo. Só para você ter uma idéia, o tirador tem que se atentar para nove passos fundamentais que são avaliados no campeonato mundial, e que vão desde lavar o copo (na foto acima, o presidente da Real Academia de Chopp me explica isso), passar pelo sacrifício (que é quando o tirador abre a torneira e deixa escorrer um pouco do líquido precioso – que estava quente na ponta da torneira) até entregar a taça para o jurado (na foto final percebo que pulei uma das nove etapas).

Além de sair com o título de Tirador de Chopp concedido pela Real Academia, a manhã foi uma aula de cultura cervejeira, que vou dividindo aos poucos com vocês conforme os próximos posts sobre o assunto foram pintando por aqui. Por isso, inclusive, dei uma segurada no Top Ten Europa 2008, afinal cerveja é coisa séria.

Assim que sairem os vencedores do Master Chopp Brasil 2008 publico uma nota no Bebidinhas e linko aqui, ok. Em tempo: Ligilena explica os nove passos para o chopp perfeito com direito a vídeo. Assista.

setembro 16, 2008   No Comments

Música: “Japan Pop Show”, Curumin

É muito interessante observar o cambalear bêbado do mundo ziguezagueando conforme o futuro torna-se presente. “Japan Pop Show”, segundo disco do multi-instrumentista Curumin, seria aclamado por toda a MPB e ignorado completamente pela ala rock caso fosse lançado vinte anos atrás. Hoje em dia a MPB como a conhecíamos – conceitualmente – não existe, e quem gostava de rock começou a abrir os ouvidos e expandir os horizontes musicais valorizando o samba e nossas raízes afro-americanas.

Dentro desse contexto, ontem ou hoje, “Japan Pop Show” é Samba com S maiúsculo. Sim, há aqui apropriações de sonoridades diversas que vão fazer você se lembrar do reggae, do funk, da soul music, do rap, do hip, do hop, do baião, do dancehall, do r&b e por ai vai, mas a essência, o cerne do negócio todo é o samba malaco, esperto e provocativo que conhecemos tão bem e aprendemos a admirar, mas revestidos de uma modernidade natural que conquista na primeira audição.

“Japan Pop Show” sucede “Achados e Perdidos”, estréia de Curumin em 2003 que lhe rendeu uma turnê por mais de vinte cidades dos Estados Unidos e a indicação da música “Tudo Bem, Malandro” para uma coletânea do iTunes idealizada pela atriz Natalie Portman e um show no badalado South By Southwest, no Texas. Neste segundo disco, Curumin olha com nostalgia para seu passado ao mesmo tempo em que exerce critica social e dá um salto (no vácuo com joelhada) em termos de produção.

A nostalgia surge no título do álbum, que remete a infância do músico, neto de japoneses que assistia ao programa de TV exibido nas manhãs de domingo nos anos de 1980, e também acompanhava as instigantes lutas de Savamú, lutador cujo golpe decisivo – “Salto no Vácuo com Joelhada” – dá titulo a faixa instrumental que abre o álbum suavemente como se um jazzista fizesse pequenos solos dentro de uma caixinha de bailarina, isso até os graves das programações baterem pesadas no estéreo.

Passada a introdução, “Japan Pop Show” arremessa no colo do ouvinte um repertório de canções suingantes que não deixam ninguém parado. Começa com a suavidade de “Dançando no Escuro”, com o vocal charmoso de Marku Ribas discorrendo com suavidade a poesia caipiresca da letra: “De uma chuva que lavou / Muita poça se formou / E pra num moiá os pé / Andava oiando pro chão”. O suingue chama o ouvinte para a ginga em “Compacto”, outra faixa carregada de nostalgia que presta homenagem aos bons e velhos vinis.

A contagiante “Magrela Fever” faz uma ponte com a “Magrelinha” de Luiz Melodia não só no título, mas em um trecho de teclados antes da entrada do refrão que faz o coração se aninhar na melodia.  Já “Kyoto” conta com o pessoal do Blackalicious e espeta os EUA, que não aceitaram assinar o protocolo na época. A faixa título, cantada em inglês, lembra o samba de Jorge Ben com guitarras de surf. O violão direciona “Mistério Stereo” com seu refrão esperto enquanto a instrumental “Saída Bangu” cita Jards Macalé.

A sensacional “Mal Estar Card” foca na Daslu enquanto Christopher Lover discursa no meio da canção: “Nunca vi alguém ficar rico sem pisar na cabeça dos outros”. Um dos pontos altos do álbum é “Caixa Preta”, com participação de BNegão e Lucas Santtana, um funk poderoso que usa o acidente com o vôo 3054 da TAM que matou 199 pessoas para criticar a falta de transparência da imprensa e dos grandes meios de comunicação, muito mais dispostos a confundir do que explicar.

“Sambito” é cantada em japonês e o refrão, traduzido, é uma declaração de amizade: “Sambito, Sambito, meu único amigo, meu único amigo”. Já “Esperança”, penúltima música do álbum, é outra que lembra Jorge Ben – inclusive em sua temática paz e amor tão celebrada pelo Babulina – enquanto “Fumanchu”, instrumental que fecha o disco conta com a participação de Daniel Ganjaman, destaca a bateria marcada de Curumin e o grave das programações enquanto uma linha melódica serpenteia a canção.

“Japan Pop Show” é um disco adulto, classudo e extremamente bem produzido. Curumin inspira-se em nostalgia (melódica e temática) para criar música moderna atenta ao mundo que a cerca, algo raro em tempos de reciclagem, diluição e umbiguismo emo. É bem provável que seja descoberto – e valorizado – nos Estados Unidos antes do Brasil, atestado da situação critica que vive a música (que um dia foi popular ) brasileira. Não espere o referendo do New York Times. “Japan Pop Show” é um dos grandes discos do ano. Descubra você mesmo.

“Japan Pop Show”, Curumin (YB Music)
Nota: 9,5

setembro 15, 2008   No Comments

Abastecendo a adega

Pra você ver: até os 20 eu gostava muito de uísque. Passou. Comecei a me interessar por vodka. Passou. Tequila eu sempre amei desde sempre, mas não dá para beber tequila em toda esquina, né mesmo. Então veio a cerveja, um longo caso de amor que, aos poucos, foi perdendo terreno para a cachaça e para a caipirinha (principalmente de frutas vermelhas e abacaxi). Antes de passar quase quarenta dias na Europa, meu beber socialmente estava completamente para as cachaças, mas não é que a Europa balançou comigo.

Foram tantas cervejas deliciosas na viagem que resgatei o bom gosto pela cerveja. As britânicas não me impressionaram. As alemãs, fora a Kostritzer, também ficaram para trás numa lista que ficou recheada de cervejas espanholas, mas foi dominada realmente pelas belgas. Neste fim de semana aproveitei para encher a geladeira e desbravar o delicioso mundo das cervejas importadas. Peguei algumas (Hoegarden, Erdinger e Wacfteiner) no Carrefour, e completei a festa no Empório do Shopping Frei Caneca, que estava em promoção.

Assim, além de sair com várias Leffe (Blonde and Brune), Becks e 8.6 Red Strong, ainda trouxe uma garrafa de Germana, uma das melhores cachaças que provei neste ano, e que estava saindo pela bagatela de R$ 22 (uma edição, especial, custava R$ 191). Para completar o pacote, um vinho chileno (um carmenere da Concha Y Toro) e um argentino (um malbec 2006 da San Umberto). A adega, que já tinha uma José Cuervo Especial, e outras marcas menos cotadas, está uma beleza.

Minha idéia pós-viagem era experimentar as dez melhores cervejas da viagem, para escrever sobre o sabor delas com muito mais detalhes, mas após uma longa pesquisa descobri que não vou conseguir fazer isso. É muito fácil achar as marcas belgas (mesmo as trapistas), holandesas, alemãs e britânicas em São Paulo, mas praticamente impossível encontrar uma cerveja espanhola, mesmo a Voll-Damm, que ganhou o prêmio de melhor cerveja strong lager do mundo em 2007 no World Beer Awards.

Devido a esta falha das importadoras de cerveja, o listão Top Ten virá com memórias saudosas da viagem. E viagem tem momentos particulares, tipo o Werchter ser patrocinado pela Stella Artois e o Festival de Benicassim pela Heineken, duas cervejas que dispenso no Brasil, mas que no velho mundo se mostraram deliciosas (o T In The Park é território da Tennents, escocesa fraquinha fraquinha, que em alguns pontos lembra a argentina Quilmes, que inclusive patrocina um festival em Buenos Aires). Vou terminar de beber o segundo da alemã Becks e, pra amanhã, preparo o listão. Aguarde.

Ps. Volto a jogar futebol nesta quarta em um confronto iG: “Editoria de Homes x Editoria de Esportes”. Melhor começar a cuidar do preparo físico se for começar a apostar assim na cevada…

Ps 2. A Budweiser na foto é uma dúvida pessoal: sempre adorei essa cerveja norte-americana, e tanta gente critica que fiquei curioso para voltar a experimentar. Vamos ver. Veredicto em alguns dias.

Ps 3. As fotos são da Lili (tem mais no flickr dela), que também me deu – no meu primeiro aniversário que passamos juntos – um conjunto de taças de cerveja (da Bohemia, que eu adoro). A taça de Guiness foi presente do queridissimo Fábio Shiraga, que a mandou por correio pra mim! Finalmente, esses copos vão “trabalhar”…

setembro 14, 2008   No Comments

The Good, The Bad and The Gaucho

Essa é a foto oficial do time Bebidinhas que defenderá o nome do blog no Campeonato de Tirador de Chopp para Jornalistas, na semana que vem. Essa etapa para jornalistas é um aperitivo do grande torneio, o Brasil Master Chopp, campeonato profissional de tiradores de chope promovido pela Real Academia do Chopp, da AmBev. A competição é uma pré-seleção do Campeonato Mundial da Categoria, o World Draught Master, que ocorre em Leuven, na Bélgica (lembra?). O time Bebidinhas é formado por Mac, Ligelena e Marco (também conhecidos como The Good, The Bad and The Gaucho).

setembro 12, 2008   No Comments

Intimidade

“Nunca me ensinaram a arte da solidão, tive de aprendê-la sozinho. Ela se tornou tão necessária para mim quanto Beatles, tanto quanto beijos na nuca e carinho”.

Intimidade, de Hanif Kureishi

setembro 9, 2008   No Comments

Música: “Intimacy”, Bloc Party

Kele Okereke está procurando arduamente, mas ainda não conseguiu traduzir fielmente em música aquilo que traz na alma. “Intimacy”, terceiro trabalho de sua banda lançado virtualmente em agosto (nas lojas só em outubro), é o típico álbum de transição, cuja indefinição de rumo atira para todos os lados. A culpa, neste caso, pode ser jogada sobre os produtores do disco: Paul Epworth moldou a estréia da banda, destacando riffs metalizados; Jacknife Lee produziu o segundo álbum injetando eletrônica na mistura. Juntos, os dois parecem não querer brigar por terreno, e o repertório cede aos dois lados.

Discos de transição são estranhos por natureza. A banda está caminhando, mas ainda não ainda colocou os pés no chão, então o registro flagra o grupo no ar, flutuando sobre diversas nuvens e tempestades que os arrastam para cá e para lá. No caso do Bloc Party, a influência máxima parece ser “Kid A”, disco (forçado) de transição do Radiohead, um break necessário na escadaria que levava a banda ao céu – sem que os integrantes soubessem realmente se era isso mesmo que queriam. Kele parece ainda não saber o que quer, então mistura tudo. O resultado, apesar de esquizofrênico, surpreende.

“Intimacy” abre com “Ares”, uma porrada incendiária que ousa misturar Chemical Brothers com Prodigy (como ninguém nunca pensou nisso antes?). Guitarras no talo ameaçam deixar ouvintes desatentos surdos enquanto a bateria atropela e Kele dança ao som das sirenes e deseja declarar uma guerra. “Mercury”, o primeiro single de forte batida eletrônica, apóia-se em astrologia: quando Mercúrio está retrogrado, a natureza do planeta muda radicalmente, e aquilo que era para ser rápido pode sofrer atrasos devido a fatores diversos. “Este não é o momento para iniciar um novo amor”, avisa Kele.

“Halo”, terceira faixa, deixa a eletrônica de lado e remete às primeiras canções da banda, com bateria sincopada, guitarras cortantes no refrão e vocal gritado. “Biko” é uma desesperada canção de amor que abre com dedilhados de guitarra até receber pontadas de eletrônica que soam estranhas casadas com a letra dramática: “Meu amor era forte o suficiente para lhe trazer de volta dos mortos / Se eu pudesse comer seu câncer, mas eu não posso”. Em “Trojar Horse”, o Bloc Party de “Silent Alarm” volta a dar as caras. Clima nervoso que seduz com um riff circular de guitarra na entrada, que salta à frente no refrão.

A baladinha eletrônica sonhadora e ordinária “Signs” poderia ser um lado b de “Kid A” enquanto “One Months Off”, com guitarras metalizadas e alfinetas de eletrônica (o mais próximo que os produtores conseguem chegar de unir os dois lados da banda numa mesma canção), é mais uma das músicas do álbum que fariam bonito no disco de estréia do quarteto. Chega a ser engraçado como a banda alterna aquilo que acredita ser seu passado e futuro, um karma contra o qual não podem lutar, e se entregam quase que matematicamente. Desta forma, então, natural que a próxima faixa, “Zepherus”, com um coral vocal climático dispensável, seja arrastadamente eletrônica.

Em “Better Than Heaven”, os dois mundos novamente parecem querer se aproximar, mas a canção apenas sugere isso, não realizando o encontro, e sim repartindo a melodia em duas partes (como a banda fez com o próprio álbum). A letra cita uma passagem da Bíblia – Corinthians (15:22) – e crava: “Verdade é verdade”. “Ion Square”, faixa que encerra “Intimacy”, tem letra inspirada no poema “I Carry Your Heart with Me”, de EE Cummings, e uma batida eletrônica repetitiva que testa a paciência do ouvinte ultrapassando os seis minutos de duração (parabéns para quem conseguir chegar ao final).

Kele Okereke está procurando arduamente uma forma de se expressar no cenário pop, e entrega sua intimidade em um álbum que supera o tropeço de “A Weekend In The City”, mas não define rumos para a banda. “Intimacy” é meio guitarreiro, meio eletrônico e totalmente dolorido tematicamente. Suas letras narram paixões fracassadas em que a falsa felicidade dá as cartas (”Eu amo a minha mente quando estou fodendo você”, “Eu poderia dormir para sempre porque verei você em meus sonhos novamente”, “Em qualquer bar, em todo o mundo, você poderá escolher outro estranho e se apaixonar”, “Paralise-me com o seu beijo, limpe essas mãos sujas em mim, talvez estejamos procurando a mesma coisa”) num disco de transição que merece atenção.

Em tempo: o Bloc Party disponibilizou no dia 10/09 em seu site oficial a música “Talons”, segundo single de “Intimacy” que não havia sido liberado quando do lançamento virtual do álbum, mas fará parte da versão fisica do disco.

“Intimacy”, Bloc Party (Wichita)
Preço: US$ 10 apenas em MP3; US$ 20 em CD e MP3 (blocparty.com)
Nota: 7,5

 

setembro 8, 2008   No Comments

Orloff Five Festival: para todos os gostos

Foi dada a largada na noite de sábado para o calendário de festivais de rock no segundo semestre na linha de baixo do Equador. Os brasileiros do Vanguart, os norte-americanos do Melvins, as francesinhas do Plasticines e os suecos do Hives (melhor excluir o DJ Ruim da lista) levaram um bom público ao Via Funchal, numa noite de som em excelente qualidade e shows para todos os públicos.

O Vanguart ficou encarregado de abrir os trabalhos às 19h. Na frente do Via Funchal, um pequeno público se movimentava e ainda era possível comprar meia-entrada a R$ 50 nas bilheterias da casa. Como já vi o Vanguart dezenas de vezes (embora estivesse curioso para ver como a banda iria se portar sobre um palco profissional), achei por bem forrar o estômago na compania de amigos para agüentar a noitada.

Assim que entrei no Via Funchal, King Buzzo já fazia flutuar no ar o barulho esganiçado de sua Gibson Les Paul. Duas baterias (uma delas com Dale Crover) massacravam no centro do palco, e Jared Warren, com roupa de marinheiro, arrastava o que sobrava com riffs envenenados de baixo. O show foi um massacre centrado em “Nude With Boots”, disco lançado em julho, com canções como “The Kicking Machine”, “Suicide In Progress” e “Dog Island”.

Músicas mais recentes e experimentais marcaram presença no show, o que não quer dizer que o nível de barulho diminuiu (nem que foi bom). Após a banda tocar “My Generation” (irreconhecível), entoar o hino norte-americano, ser vaiada por isso e apresentar um dos raros números antigos do repertório, “Boris” (1991), para finalizar a apresentação, alguém arremessou um copo de cerveja que acertou em cheio Buzzo, que deixou o palco na seqüência. Fim de um show só para fãs.

As meninas do Plasticines vieram em seguida. As francesas estão fazendo em 2008 o que o Donnas faz desde 1993 e o Runaways fazia nos anos setenta, sem acrescentar nada. O som continua apostando num rock com um pitadinha de Ramones em que o fato que mais chama a atenção não são as canções – razoáveis – mas sim o fato das integrantes serem todas garotas… e, neste caso, francesas e bonitas.

No meio do show, um rapaz na grade pediu para a vocalista Katty Besnard falar em francês, e não em inglês: “Parler dans Français? Ce que?”. A ala masculina foi ao delírio, e isso é o máximo que pode se esperar de um show das Plasticines: quatro garotas bonitas fazendo um rock básico sem sal, gostoso de olhar, dispensável de ouvir. Tipo: o melhor momento do show foi a cover de “These Boots Are Made for Walkin’”, de Nancy Sinatra, ou Katty tascando um beijo na bela baixista Louisie? Dúvida.

Com os homens sorrindo a toa, era a vez da ala feminina se encantar com os suecos do Hives. O agitado vocalista Pelle Almqvist partiu corações rebolando, distribuindo sorrisos, beijos e dizendo “eu te amo”. O show foi um repeteco do Werchter, com a vantagem de que em São Paulo era uma casa fechada, e não um mega-festival. E Pelle falando em português é uma comédia: “Eu, vocalista”, “Senhouras e senhouras”, “Batam palmas… Parem” e um inevitável “Tira o pé do chão”.

Musicalmente o show é impecável. Ok, eles poderiam concentrar-se no filé do repertório (”Main Offender”, “Tick Tick Boom”, “Hate To Say I Told You So”) tocando tudo em apenas uma hora, economizando trinta minutos dispensáveis, mas mesmo assim o show convence com destaques para a mão pesada do batera Chris Dangerous, as mil e uma caras do guitarrista Nicholaus Arson e a entrega de Pelle. No final, com meninas no mezanino levantando a camisa e mostrando os sutiãs para a banda, era possível ouvir alguns “vocalista, eu te amo” na platéia.

O saldo final da noite foi positivo. A qualidade de som faz imaginar que se as coisas permanecerem assim, os shows do R.E.M. devem ser históricos no Via Funhal. O Orloff Five como festival? Foi ok. Alguém só devia dar umas bifas naquele DJ que adora cortar as músicas na metade, mas os grunges experimentais saíram felizes (apesar da quantidade de emos embasbacados com o Melvins no local) e os onanistas também (e vá lá, algumas meninas felizes com a visão do palco no show das Plasticines). Um festival para todos os gostos.

setembro 7, 2008   No Comments

Música: “Revolução! RPM 25 Anos”, RPM

Já faz mais de quinze anos que Paulo Ricardo de Medeiros batalha ferozmente para apagar da história o momento histórico que viveu ao lado de Luiz Schiavon (teclados), Fernando Deluqui (guitarra) e Paulo Pagni (bateria) nos anos 80, quando o quarteto conhecido como RPM viveu dias de beatlemania em terras brasileiras com direito a recordes de vendas, edição especial do Globo Repórter e até álbum de figurinhas inspirado no grupo.

Após o fim da banda, em 1988, Paulo Ricardo lançou dois bons álbuns solo, depois perdeu o rumo: em 1993, lançou “Paulo Ricardo e RPM”, sem o baterista e o tecladista, tentando pegar carona no nome da ex-banda. Na seqüência, tentou se transformar num novo Roberto Carlos entoando pífias canções românticas. Voltou a reunir o RPM para um MTV ao Vivo e, ponto mais baixo da carreira, entrou na onda dos Emmersons Nogueiras da vida com um álbum “Acoustic Live”.

Isso tudo do parágrafo anterior sem contar os momentos queima-filme recentes, como participar das gravações dos CDs de Roberto Justus e Padre Marcelo Rossi. Eu sei, é praticamente impossível defende-lo, mas o recém-lançado “Revolução! RPM 25 Anos” – box que reúne os três álbuns oficiais do grupo, mais uma coletânea de raridades e remixes, e um DVD com o show “Rádio Pirata” (e vários extras interessantes) – tenta colocar as coisas no seu devido lugar.

“Revoluções Por Minuto”, o álbum de estréia lançado em maio de 1985, é um dos grandes debutes do rock nacional em todos os tempos. Paulo e Luiz já haviam tido uma banda progressiva no início dos anos 80, que acabou depois que o vocalista vendeu tudo que tinha e se mandou para Londres, onde entrou em contato com toda cena pós-punk e new romantic britânica. Quando voltou ao Brasil, já trazia na cabeça o formato que queria explorar. Daí nasceu o RPM.

O debute reúne hits incontestes como “Rádio Pirata” (sobre a ditadura das rádios FM e a força da cena underground), “Olhar 43? (uma canção sem refrão, com guitarra em segundo plano e teclados no comando), a baladaça “A Cruz e a Espada”, a progressiva faixa título (proibida pela ainda ativa Censura Federal pela frase “aqui na esquina cheiram cola”) e o indiscutível single “Louras Geladas”, com poderosos riffs de guitarra, um refrão pegajoso e sua letra divertida de corno bêbado.

Porém, sob a sombra da luz dos grandes hits, “Revoluções Por Minuto” esconde canções brilhantes como as densas e darks “Liberdade/Guerra Fria”, “Sob a Luz do Sol”, “Pr’esse Vìcio” e, principalmente, “Juvenilia”, triste resumo da história de um povo e de um país cuja fé no futuro foram massacrados pelas mãos da ditadura e de políticos corruptos, muitos deles na espreita após a morte de Tancredo Neves, meses antes do disco ser lançado (e que permanece atualíssima em tempos de eleição de “mercenários sem direção” que você até sabe quem são – eu sei).

O disco lançado em maio bateu 300 mil cópias vendidas, e chamou a atenção de Ney Matogrosso, que assumiu a produção dos shows da banda após vê-los ao vivo no Rio de Janeiro. Em setembro estreou o show “Rádio Pirata ao Vivo”, cuja passagem em um festival no Sul do país fez com que uma gravação pirata de “London, London”, cover de Caetano Veloso, entrasse na programação das rádios – ainda com espaços livres do jabaculê – e batesse nos primeiros lugares de execução.

O público queria ouvir “London, London”, mas a canção não existia fonograficamente. A saída foi parir a fórceps um álbum ao vivo, que foi gravado durante dois shows em maio de 1986, em São Paulo. “Rádio Pirata ao Vivo” vendeu 500 mil cópias antes de chegar às lojas e levou o RPM para o topo do cenário nacional. De suas nove faixas, duas covers (”Flores Astrais”, dos Secos & Molhados, e claro “London, London”), duas faixas inéditas (”Alvorada Voraz” e a instrumental “Naja”) e cinco regravações, entre elas a faixa título com direito a citação de Doors.

A viagem ao estrelato – regada do trinômio sexo, drogas e rock and roll – deixou marcas profundas na banda. Pouco mais de um ano depois do lançamento de “Rádio Pirata ao Vivo” o grupo anunciava sua separação (deixando engavetado o projeto de um filme e a falência de um selo próprio). O retorno se deu meses depois, com “RPM”, o terceiro álbum, que bateu 250 mil cópias, um número que seria uma marca de sucesso para muitos, mas que para o RPM foi um grande fiasco.

Em “RPM”, também conhecido como “Quatro Coiotes”, a banda busca aproximação com o rock and roll clássico em faixas como “Partners”, “Um Caso de Amor Assim” e “Dália Negra”, mas o que comanda ainda são os arranjos que privilegiam os teclados de Schiavon, que brilham em “Sete Mares”, “Quarto Poder” e na boa faixa título. O berimbau marca o arranjo de “A Estratégia do Caos”, e Bezerra da Silva, em voz e alma, dueta com Paulo Ricardo na ótima “O Teu Futuro Espelha Essa Grandeza”.

A história do RPM – e de Paulo Ricardo – que deve ser lembrada está nestes três álbuns reunidos no box “Revolução! RPM 25 Anos”. Ok, há aqui ainda um disco de curiosidades com remixes (muito em voga nos anos 80) e raridades, que destacam o compacto duplo luxuoso lançado ao lado de Milton Nascimento entre o segundo e terceiro discos com as canções “Feito Nós” e “Homo Sapiens”, além de versões para “Gita”, de Raul Seixas, e “A Página do Relâmpago Elétrico”, de Ronaldo Bastos.

O DVD que acompanha o pacote tem função apenas de registro de época. As imagens do show lançado originalmente em VHS são de péssima qualidade, e perdem inclusive para várias bootlegs de outras bandas que circulam no mercado, mas servem para ilustrar um período importante do rock nacional. Os extras são ainda mais interessantes, com registros da banda no programa Mixto Quente e Cassino do Chacrinha, além da integra do programa Globo Repórter Especial dedicado ao grupo em 1986.

“Revolução! RPM 25 Anos” é um importante lançamento não só apenas por trazer o álbum “Quatro Coiotes”, esforço de sobrevida até então inédito em CD (e com versões em MP3 de péssima qualidade circulando pela web) ou por mostrar que Paulo Ricardo foi, um dia, um bom músico, mas sim por resgatar uma parte da história do rock nacional que parece ter sido perdida no mainstream, nos transportando novamente para 1985: no underground repousa o repúdio. E deve despertar.

“Revolução! RPM 25 Anos”, RPM (Sony & BMG)
Preço em média: R$ 89
Nota: 9

setembro 1, 2008   No Comments